Sweet And Sour escrita por Nyuu D


Capítulo 1
único




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– Seu idiota! – Esbravejou Zoro para Luffy, arrancando da mão dele um saco de farinha. – A receita diz que não se coloca a farinha antes de bater a laranja com essas outras coisas aqui – ele indicou como se fosse óbvio.

O capitão fez um bico astronômico enquanto olhava chateado para a terceira tentativa de Zoro de fazer aquele bolo de laranja com pelo menos um sucesso razoável. Havia colhido algumas laranjas do pomar de Nami – claro que, para isso, ele ficou devendo alguns berries para ela –, e ficar desperdiçando-as com tentativas frustradas era muito irritante.

Sem falar que, apesar de o espadachim ter muita habilidade com suas katanas, era difícil para ele descascar as laranjas e tirar todo o bagaço, quebrar os ovos sem deixar a casca cair dentro da mistura, dentre outros detalhes importantes que à cozinha fazem toda a diferença. Sem falar que ele estava fazendo um bolo para um chef, não um cara qualquer.

Luffy havia declarado a Sanji um dia de folga e, por isso, ele estava passeando com as meninas, Usopp, Franky e Brook na ilha onde estavam ancorados. Chopper, Luffy e Zoro haviam ficado para trás; Chopper e Luffy teoricamente deveriam cuidar de outras coisas, como o saquê, a louça, e o chá preto que Sanji tanto gostava... Mas não, Luffy ficava dando pitaco na receita do bolo de laranja.

Ninguém havia entendido porque Zoro decidiu fazer o bolo.

Exceto Sanji.

O espadachim se mexeu diante daquela meleca todo de ovos, óleo e laranja e suas sobrancelhas franziram bastante. Ele precisava vencer aquele desafio, caramba – sempre achou que cozinhar não podia ser um trabalho tão difícil assim, mas agora chegava à conclusão que Sanji tinha realmente uma enorme habilidade que jamais deveria ser desprezada.

Chopper finalmente convenceu o capitão para que fossem cuidar do que haviam se responsabilizado a fazer, e Zoro teve paz para continuar sua receita.

Claro que deu um trabalho infinito, mas logo a massa de bolo estava assando no forno e um cheiro quentinho de laranja inundava toda a cozinha. O espadachim estava todo sujo de farinha e açúcar, sem falar que seus braços estavam babados de óleo, mas tudo bem, ele poderia tomar um banho.

Ele parou diante do fogão, curvou-se e apontou o dedo para a massa de bolo. – Falei que eu posso fazer isso! – Confirmou com vigor e cerrou os punhos, vitorioso.

Nunca que um bolo ia ganhar de Zoro. Jamais!

O rapaz aspirou o cheiro do ar, contente, e logo Luffy e Chopper entravam na cozinha. O capitão veio aos saltos e agarrou-se às costas de Zoro. O médico aproximou-se correndo, e parou diante do fogão, os olhos brilhando para aquela massa.

– Wooo Zoro, você caprichou, o cheiro tá muito gostoso – disse Luffy com um grande sorriso. – Acho que vou te dar a vaga de cozinheiro do Sunny!

– Nem pense nisso – o espadachim sacudiu a cabeça. Até porque, ninguém poderia tirar a vaga de cozinheiro do cook, completou em pensamento. – Essa foi provavelmente a primeira e única vez que eu tentei cozinhar desse jeito. De agora em diante, só comida pré-preparada. – Agitou as mãos. Os outros dois riram e Luffy foi ao chão, ficando de frente para o fogão com Chopper, babando diante do bolo que assava. – Vou tomar banho. Luffy! – Exclamou. – Nem pense em tocar nesse bolo antes do cook chegar! Entendeu?!

O garoto bateu continência.

Zoro achou que o bolo estaria seguro porque Chopper o protegeria, e então foi tomar seu banho.

Enquanto fazia isso, perguntou-se se seria capaz de fazer algo por ele que não fosse tão somente aquele bolo de laranja. Embora tenha dado muito trabalho, ainda assim era algo simples.

E Zoro sabia como se sentia a respeito do cozinheiro. Era muito mais complexo do que aquela receita (pelo menos para ele).

“Eu odeio você porque eu não consigo te odiar de verdade. Isso faz sentido?”, lembrava-se de ter dito a ele. Fazia sentido sim, agora que pensava melhor. Por mais que brigassem, se batessem e discutissem o tempo inteiro, Zoro simplesmente se divertia com ele. E amava a comida que ele fazia.

Só agora pretendia falar algo mais claro do que aquilo. O problema é: o quê? E como falar? Zoro nunca foi bom com essas coisas, desde criança. Agora não parecia que iria mudar.

Terminou de tomar banho, vestiu-se e retornou para a cozinha; assim que pôs os pés lá, o contador de tempo do fogão apitou e ele correu para tirar o bolo lá de dentro. Luffy e Chopper já não estavam mais lá. De certo estavam pelo navio fazendo qualquer coisa, não importava.

Enfim, o espadachim olhou o bolo que havia engordado um bom tanto no meio tempo e tirou-o lá de dentro. Virou-o num prato de vidro e cheirou o ar fumegante sobre ele. Zoro não gostava de coisas doces, mas aquele cheiro era muito bom. Coçou a cabeça e olhou orgulhoso para o bolo. Em seguida, pegou a laranja que havia sobrado, descascou-a e espremeu numa panela junto com açúcar e pôs pra ferver; era a receita da calda quente.

Assim que ficou pronta, Zoro despejou a calda sobre o bolo, que escorreu pelos lados e umedeceu tanto o bolo quanto o prato, dando um efeito bem saboroso.

Isso é um toque artístico pra ele.

Ele deixou a casca de lado. Pegou o bolo e pôs no centro da mesa.

Claro que não era um bolo cheio de cobertura confeitada e tal, como ele via nas panificadoras, mas foi feito com todo o esforço e carinho, pode acreditar.

Luffy e Chopper correram cozinha adentro e Usopp veio logo atrás. – Ele está vindo! – Cantarolou o capitão. – Ponha as velas no bolo, Zoro! – Continuou, indo até a mesa já previamente posta para estar pronta quando o cozinheiro chegasse. Zoro furou o bolo com as velinhas azuis e Luffy acendeu-as com um fósforo.

Franky e Brook entraram e logo depois, Sanji entrou na cozinha, acompanhado de Nami e Robin. O bando fez barulho e festa, mas Zoro não se manifestou ruidosamente; apenas manteve os lábios curvados num sorriso vitorioso, de quem ganhou uma árdua batalha, a mais difícil de sua vida.

Talvez tenha sido, de alguma forma.

– Seus idiotas, isso era completamente desnecessário – disse o cozinheiro, mexendo a cabeça de forma negativa.

– Pare de ser ingrato e apague as velas, Sanji! – Usopp ignorou a grosseria do nakama. – Faça um pedido!

O loiro curvou-se diante da mesa e ficou olhando para o bolo. Ele sorriu. Zoro abriu um largo sorriso também, sabendo que ele provavelmente havia ficado pelo menos um pouco satisfeito com o resultado da bagunça em seu santuário – ou seja, a cozinha. E então, Sanji assoprou as velas, mas uma delas permaneceu acesa.

– Falhou! – Caçoou Luffy com uma risada.

– Sabe, cook-san, dizem que quando alguém não consegue apagar todas as velas do bolo, outra pessoa pode fazer um pedido. – Robin sorriu suavemente para o loiro, e Sanji apertou as sobrancelhas na direção da morena. Zoro piscou os olhos, esperando que tipo de reação ele teria.

Credo, nunca foi tão nervoso com uma bobagem como essas antes. Era ridículo!

– Assopre a vela de novo, cook-san – insistiu a morena e Sanji assentiu com a cabeça, assoprando diretamente naquela pequena chama e ela se extinguiu.

Zoro fez seu pedido.

Certamente todos os outros fariam, mas o que importava para ele, era ter feito o seu.

Sanji pegou a faca para cortar o bolo. – São as laranjas da Nami-san – ele observou com um grande sorriso no rosto. – Cheira bem, será que o marimo não deixou cair um pedaço de casca de ovo no meio?

– Na dúvida, mastigue com cuidado – brincou Luffy com uma gargalhada, e Zoro trincou os dentes.

– Se tiver alguma pedra aí dentro, tenha certeza que é culpa do nosso capitão burro! – Defendeu-se o espadachim, irritado, enquanto os outros riam divertidos do aborrecimento dele. Zoro cruzou os braços e ficou olhando para Sanji, que cortava o bolo de baixo para cima. Foi-se um gordo pedaço para um dos pratos e ele ergueu junto com um garfo.

Entregou na mão de Zoro, mas diferente do rapaz em seu aniversário, em Novembro, Sanji o encarava diretamente nos olhos, e sorria de uma maneira que o mais alto jamais havia visto.

Era de fazer as bochechas corarem.

– Pra você, marimo. Você experimenta antes, se cair duro, sabemos que não podemos comer.

Ah... Sei.

Sanji é o mestre do disfarce.

– Seu ingrato maldito – o rapaz arrancou o prato da mão de Sanji, irritado, e baixou os olhos porque estava começando a ficar realmente constrangido. Claro— sabia do tipo de pessoa que era o loiro e imaginava que aquilo era uma desculpa esfarrapada, e das ruins.

Então, ele cutucou o bolo com o garfo e tirou um pedaço, levando à boca em seguida. Mastigou devagar.

Os outros olharam para ele com expressões inquietas, como que esperando que ele caísse morto de repente. Zoro acertou a cabeça de Usopp com força e o atirador choramingou, chamando-o de monstro, dentre outras coisas.

– Está ótimo – ele anunciou com um sorriso e Nami teve que impedir Luffy de atacar o bolo.

Sanji serviu todos os outros e só depois é que se sentou para comer o bolo, acompanhado do chá preto feito por Chopper. A rena aguardava ansiosa pela aprovação do cozinheiro, olhando-o com seus olhos brilhantes. Como o cozinheiro disse que estava ótimo, o médico ficou feliz e então foi festejar junto com Luffy, Franky e Usopp, que dançavam animados à música de Brook.

Nami e Robin elogiaram o bolo de Zoro – cada qual do seu jeitinho particular, é claro, sendo que Nami o insultou por tabela, mas depois acabou dando risada.

O espadachim, entretanto, estava apenas ocupado em ver se Sanji gostaria do bolo que havia feito.

Ele cruzou os braços e ficou observando o cozinheiro, que cautelosamente cortava o doce como se ele fosse explodir bem na sua cara. Em seguida, ele ergueu o garfo até a boca, apertou os olhos e colocou o bolo na boca, mastigando lentamente.

Zoro ficou bem irritado, mas sabia que ele estava apenas o atentando.

A expressão do loiro relaxou e ele sorriu. Olhou para o espadachim.

– Obrigado, Zoro – agradeceu por fim, com um sorriso, e voltou a comer o bolo com o chá.

O espadachim apoiou a cabeça na mão e sorriu.

A comemoração continuou, como eles sempre faziam. Dançando, bebendo e comendo feito loucos.

Foram-se horas até que Nami levasse Chopper no colo para colocá-lo para dormir, e por fim, sobrassem Zoro e Sanji na cozinha.

Mais uma vez – foi como no aniversário de Zoro. Eles estavam sozinhos no mesmo lugar, as mesmas circunstâncias. Mas o aniversário era de Sanji dessa vez. Eles não haviam trocado sequer uma palavra sobre o que houve no dia 11 de Novembro do ano anterior. A rotina persistiu como se nada tivesse acontecido naquela noite.

Nenhuma troca de palavras ou promessa— nada. Mas Zoro obviamente não havia esquecido que faria o tal doce para ele. E que havia dito que naquela noite tentaria dar-lhe algo mais que palavras (e um bolo, é claro!)

Sanji estava sentado no canto direito do sofá, e Zoro no canto esquerdo. O loiro fumava e o espadachim tinha uma garrafa de saquê nas mãos.

– Me conte uma coisa – começou Zoro com um tom de falsa curiosidade, virando o rosto. Sua expressão era bastante esperta. – Me deu o primeiro pedaço só para não pôr sua vida em risco, mesmo, é?

Sanji bufou, corando ligeiramente nas bochechas. – Que acha que foi além disso, marimo idiota?

– Sei... – Ele virou o rosto para frente novamente e sentiu o cheiro de cigarro ficar mais forte quando o cozinheiro assoprou-a em sua direção antes de atirar o cigarro dentro de um copo na mesa. Olhou de esguelha e reparou que o rapaz o olhava.

– Estava muito bom, o seu bolo.

– Obrigado, eu lutei bravamente contra aqueles malditos ovos – disse num tom de exaustão e Sanji riu divertido.

– Não sei se estava bom realmente, ou se estava bom apenas porque foi você que fez. – Concluiu o loiro, voltando a olhar para frente de forma pensativa no exato momento que Zoro virou a cabeça para ele. – Dizem que os melhores pratos são aqueles feitos com o coração.

Zoro corou.

– Por isso sua comida sempre tem um gosto ótimo – Zoro disse, obviamente esforçando-se para concluir a ideia. Não porque estava mentindo ou pensando nisso somente agora, mas sim porque sempre era um desafio para ele expressar-se sobre tais sentimentos através de palavras.

– Obrigado – Sanji sorriu e virou o rosto para ele. – Eu já sei como você se sente, Zoro, porque eu sinto da mesma maneira. Então para mim não vai ser um presente se me contar que está loucamente apaixonado por mim – riu-se como o bom convencido que era, e Zoro revirou os olhos, mas acabou sorrindo.

Era o dia dele – naquele dia, e somente naquele, Sanji poderia ser prepotente.

– O que quer, então? – Questionou o espadachim.

O loiro ergueu um dos pés para cima do sofá, apoiou o cotovelo no joelho e segurou a cabeça com a mão. Ficou olhando para Zoro por uns instantes, o olho visível de pálpebras ligeiramente pesadas, talvez pelo saquê, ou apenas porque estava bastante tranquilo naquele momento.

Zoro não sabia, só conseguia enxergar o quão bonito ele era.

Sanji ergueu a mão livre e fez um sinal para que o outro desse a mão para ele. Ele espalmou a mão e Zoro tocou a palma da própria na dele. Ficaram um instante assim antes de entrelaçarem os dedos e o cozinheiro fazer um pouquinho de força para que ele se aproximasse. O espadachim arrastou-se no sofá e se aproximou.

Por algum motivo, seu coração estava batendo rápido, mas ele sentia-se mais tranquilo e feliz do que nunca.

Sanji mexeu-se, baixou a perna de volta ao chão e o abraçou pelo pescoço. Zoro o segurou pela cintura com um dos braços, e o outro, ele passou por baixo dos joelhos do cozinheiro e o subiu em seu colo.

Sentou-o de lado em suas coxas e Sanji se segurou nos ombros dele.

– Você é um grande idiota, cook – Zoro disse baixinho.

– E você é o quê, marimo burro? – Retrucou o outro, visivelmente irritado enquanto apertava a cabeça do espadachim com força contra seu peito. O mais alto reclamou da falta de ar e Sanji deu uma risada.

O loiro o olhou meio de cima por causa da posição que estavam e acarinhou-o na parte de trás da cabeça. – Já beijou alguém, Zoro? – Questionou com um ar espertinho demais, e o outro simplesmente não respondeu.

Isso não importava, droga.

O que importava era que agora, ele queria beijar Sanji e tão somente ele que seria capaz de mentir sobre o assunto apenas para que ele ficasse mais feliz.

Mas ao invés disso, preferiu manter o mistério e apertou as sobrancelhas, mostrando irritação. Sanji sorriu, deslizou a mão pela lateral do rosto marcado de Zoro e o beijou no canto dos lábios uma, duas vezes... E então o espadachim projetou a cabeça um pouquinho para o lado e as bocas se tocaram num beijo ainda fechado.

Zoro apertou Sanji pela cintura e o loiro apertou os braços em torno do pescoço do outro. Então os lábios abriram, dando um passagem ao outro para que pudessem se beijar de forma mais liberta, e apesar de toda a ânsia que dominava o corpo do espadachim, ele conseguiu manter-se firme e conservar aquela calmaria gostosa que acalmava o nervosismo em seu coração.

Eles partiram o toque naturalmente, mas os narizes permaneceram juntos enquanto ambos tomavam coragem para abrir os olhos e se verem tão de perto.

Zoro parecia achar que Sanji ia desaparecer no ar de uma hora para outra.

– Aqui está o que eu queria. – Observou o loiro de repente.

– O quê?

– Confirmações.

O espadachim ergueu as sobrancelhas já naturalmente enviesadas.

– Sua boca está com gosto de saquê e bolo de laranja.

– Você queria confirmar isso?

– Não – o loiro riu. – Só queria confirmar que você realmente gosta de mim.

– Achei que fosse todo cheio das certezas sobre isso.

– Foi apenas um blefe – admitiu com um falso suspiro. – E além do mais, é bom que você saiba o que eu sinto também, mesmo que o correto fosse você ser romântico e babão, já que o aniversário é meu.

– Sabe que eu não sei fazer isso. – Zoro fechou a cara e Sanji riu.

– Tudo bem. Eu já estou muito mais feliz do que imaginei que ia ficar.

O loiro sorriu e beijou os lábios do outro novamente, não se demorando muito. Saltou do colo dele após livrar-se dos braços alheios e ficou de pé na frente de Zoro, uns cinco passos distante. – O que você tá fazendo, cook?

– Pensando em como te convencer a me chamar pelo nome.

– Eu tenho uma ideia – observou o rapaz. – Mas é melhor irmos para outro lugar, aqui está muito perto dos outros.

– Seu marimo pervertido, eu não faço nada antes de você ser romântico e babão comigo!

Zoro ficou de pé. – Eu faço isso, não se preocupe. Vamos aproveitar nossa juventude.

Sanji bufou, mas acabou deixando-se levar.

O espadachim não estava necessariamente buscando alguma coisa em específico. Ou insinuando algo. Não é como se não soubesse o nome do cozinheiro ou algo assim – era apenas costume. Quase um instinto. Sanji era o cook. O cozinheiro.

Seu cozinheiro.

E ele amava a comida que ele fazia. E o amava.


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