E de repente... escrita por Amanda


Capítulo 32
Capítulo trinta e um




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Depois de longos minutos que passaram unidos somente pelas mãos, no mais completo silêncio, Hermione desvencilhou-se e o deixou para trás. Era o suficiente.

Harry a esperava escorado numa mureta de tijolos, encolhera-se de tal modo que seu nariz estava coberto pelo cachecol preto, o frio fizera com que enterrasse as mãos nos bolsos do casaco.

— Podemos ir, Harry. — Tocou o ombro do amigo delicadamente, assim como sua voz tranquila e relaxada.

— Você está bem? — Perguntou.

A resposta demorou a vir, e somente quando o carro entrou em movimento foi que murmurou:

— Vou ficar...

Ter os amigos ali era tudo que precisava, principalmente Rony que não media esforços para fazê-la rir. Harry voltou para Londres com Blásio, que faria sua inscrição no curso de autor imediatamente.

Draco e Theodore pareciam competir por espaço, travavam discussões sem fundamento a todo o momento e estavam a ponto de sacar as varinhas.

— Qual o problema de vocês dois? — Hermione perguntou durante o olhar fuzilador que os rapazes trocavam. — De verdade, não preciso que fiquem comigo.

Nesse momento Rony entrou na sala.

— Como se fossemos te deixar.

Virou-se para Rony, nada satisfeita com o comentário.

— Sou adulta, não preciso e nem quero três babás para cuidar do que faço ou deixo de fazer. — Olhou para o ruivo de soslaio. — Façam o favor de entender isso.

— Farei quando voltar para Londres!

— Onde poderão me vigiar mais facilmente? Não, obrigada. — Respondeu a Draco, o qual batia impaciente o pé no assoalho.

— Não é seguro, Hermione. Nott pode lhe achar facilmente aqui, lá temos o Ministério e todo um departamento...

— Nott não vai me encontrar, até então só quem conhecia esse lugar era Draco. E sei bem que ele manteve segredo! — Sorriu brevemente para o rapaz.

Draco sempre soube daquele endereço. Havia ganhado a confiança de Hermione depois daquela fatídica tarde no Ministério, a noite de bebedeira fizera com que se tornassem grandes amigos e dormissem escorados um no outro, num canto qualquer da taverna. Ambos estavam destruídos por conta da guerra, e conseguiram superar todas as mágoas juntos.

— Não temos notícia nenhuma sobre Nott, Hermione. Ele pode estar na casa ao lado torturando seus vizinhos! — Rony comentou. — Sem ofensas, Theodore!

— Precisamos voltar para Londres, lá podemos te proteger. — Theodore insistiu. — Aqui somos apenas dois...

— Lutarei se for preciso, Theodore. Não pense que vou ignorá-la como fez durante o resgate! — Draco o interrompeu. Era um médi-bruxo, mas lutaria se fosse necessário.

No momento em que Theodore entrou naquela casa a única coisa que importava era seu pai, prendê-lo e puni-lo por tudo que fez durante todos seus anos como Comensal da morte. Havia sangue em seus olhos, nada mais importava. E quando Nott expôs o segredo que tanto esperava guardar, lembrou-se da razão de tudo. Hermione estava assustada, suas bochechas marcadas pelos rastros de lágrimas e a expressão que tinha no rosto lhe fez sentir vergonha. Sacudiu a cabeça e empurrou-o para fora.

Hermione se colocou entre os dois, movimentou-se rapidamente e segurou o pulso de Theodore que como auror treinado, já segurava a varinha. O toque da garota fez com que se acalmasse lenta e gradativamente. Já não sentia-se tão irritado e desviou o olhar para Hermione.

— Vocês precisam parar com isso, já! — Elevou a voz, e mesmo de costas sabia que Draco havia entendido. Fez um movimento com a cabeça, indicando Theo. — Será que poderiam nos dar um minuto?

Rony saiu pela porta da frente e deixou-a aberta, sinal silencioso para que Draco o seguisse, e foi o que fez. Deixando-os a sós.

Hermione soltou o pulso de Theodore e caminhou pela sala.

— Por que não quer voltar à Londres?

Theodore cruzou os braços sobre o peito e escorou-se na poltrona estampada com delicadas flores. Desde o resgate não entrara numa conversa com Hermione, trocaram algumas palavras apenas, e nada mais.

— Eu quero voltar... Para Londres, mas não agora. — Respondeu com a voz baixa. — Preciso criar uma boa estratégia de ataque, não podemos perder Nott novamente. Já perdemos uma chance, e não vai acontecer de novo!

— Você tem noção de que não vamos deixar você lutar, não é? Já se sacrificou o bastante por essa missão!

Com o orgulho ferido, virou-se e lançou seu olhar gélido.

— Não me importo com o que vocês querem, estarei lá. Aceite isso! — Esbravejou, nitidamente magoada. — Quando voltei para Londres foi apenas para desempenhar meu trabalho no Ministério, mas isso tudo começou... E eu vou terminar!

Deu as costas a Theodore, tirou o casaco do gancho ao lado da porta e saiu.

Janeiro chegava ao fim, mas ainda carregava o frio e uma fina camada de neve. Hermione ajeitou as lapelas do sobretudo cinza para cima, de modo que diminuíssem o frio que sentia no pescoço por conta do vento gélido.

Nunca foi adepta de se embebedar quando tinha problemas, mas naquele momento sua cabeça pedia por algo mais forte que café ou chá. Havia um bar no final daquela quadra, já havia ido lá algumas vezes, beber com algum conhecido ou apenas se divertir com a sua avó. Tocou na maçaneta, mas um grito lhe fez parar:

— Quer companhia? — Draco aproximava-se, tão encolhido sob o casaco quanto Hermione.

— Onde está Rony? — Perguntou, movimentando a cabeça enquanto abria a porta.

O sino preso à porta soou baixo.

— Voltou para sua casa, ou qualquer coisa assim. — Deu de ombros.

Sentaram-se no balcão, mesmo que sobrassem mesas vazias pelo estabelecimento. O atendente cumprimentou Hermione e ofereceu as bebidas, servindo-os em seguida.

— Obrigada. — Murmurou para o rapaz que se afastava para atender outros clientes.

— Conversou com Theodore? — Draco perguntou, servindo a bebida.

Hermione virou o copo, deixando que o álcool arranhasse sua garganta com vivacidade e lhe aquecesse de dentro pra fora. Ah, realmente precisava daquilo.

Serviu-se novamente.

— Conversei.

Draco a viu esvaziar outro copo e limpar os lábios com a ponta da língua.

— E...? — Quis saber.

— Theodore, e acredito que todos vocês, têm a falsa impressão de que vou ficar quieta sendo vigiado por aurores. Não farei isso, Draco! — Serviu-se novamente.

O rapaz bebeu todo o líquido, tamborilou os dedos na mesa e raptou alguns petiscos do potinho vermelho.

— Nós queremos te proteger, mas sei tão bem quanto qualquer um deles que você vai estuporar quem for necessário para estar junto nessa missão. — Encheu o copo novamente. — Sou realista!

Hermione disfarçou, cobrindo o rosto com o copo, mas sorriu. Não era assim tão frágil, e seus amigos sabiam disso muito bem.

As horas foram passando, os ponteiros do relógio já haviam dado três voltas completas e se aproximavam da quarta. Hermione já sorria com mais frequência e Draco acompanhava-a nas gargalhadas alegres e livres de censura.

— O que eu perdi enquanto estava aqui? — Hermione perguntou, abraçada ao potinho vermelho.

— Você ficou um dia fora, não tinha muita coisa para “perder”. — Deu de ombros.

— Não, Draco. Nos sete anos que fiquei aqui. — Explicou, a voz já não parecia mais tão animada, mas seus olhos suplicavam por uma resposta.

— Nunca perguntou isso para Potter ou Weasley, não é? — Hermione negou com a cabeça, mastigando o salgadinho laranja. — Para ser sincero foi tudo tão calmo que realmente não tem relevância alguma. Claro que ninguém admitiria isso, até porque a calmaria fez bem para todos, mas seus amigos principalmente pareciam entediados!

Um sorriso breve prendeu-se nos lábios de Draco, e Hermione pôde apenas imitá-lo. A coragem de perguntar sobre aqueles sete anos nunca aparecera, ao menos não com os amigos. Havia os abandonado por egoísmo, era o que pensava ao menos, queria se afastar de tudo aquilo e nem pensou duas vezes. Arrependera-se no segundo em que pisara na França, a saudade lhe consumia um pouco todos os dias, só não arranjara a desculpa perfeita para voltar.

— Aqui não foi muito diferente. Sete anos enfrentando Voldemort, e sete anos assinando documentos Ministeriais... Entende o motivo de eu querer estar na linha frente agora?

Draco apoiou a mão no ombro da garota e sorriu.

— Precisa parar de beber, Granger. Está ficando sentimental! — Resmungou e jogou algumas notas sobre o balcão. — Vamos voltar antes que Weasley e Theodore resolvam nos procurar.

Hermione levantou-se com dificuldade e cambaleou ao lado do amigo para fora do estabelecimento. As noites de bebedeiras eram muito melhores com Draco.


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Notas finais do capítulo

Olá, comentem o que acharam desse capítulo. Sua opinião é realmente muito importante!
O que será que vem por aí???



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