E de repente... escrita por Amanda


Capítulo 31
Capítulo trinta




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Foi difícil pegar no sono, bem mais do que Hermione um dia imaginou. Depois da guerra passou alguns dias evitando dormir, não se sentia segura e quando foi obrigada a deitar-se, levou a varinha junto. Mas agora não era a falta de segurança que lhe atormentava, mas a incerteza que afundava-a na tristeza.

O que fazer? Como fazer?

Rolou na cama por algumas horas, mas desistiu e sentou-se na janela. Uma de suas pernas pendia para fora, balançando com o vento gelado. Observou a noite entrar, passar e dar espaço ao sol fraco que nascia por trás da casa.

Sua barriga manifestou-se, mas ignorou. Não queria descer e ter de encarar Harry, sempre sentiu-se forte, mas desmoronou como um castelo de areia no dia anterior.

Por baixo da porta pôde ver uma sombra, a qual parecia hesitar.

— Vou descer em alguns minutos, Harry!

— Certo. — A sombra desapareceu, assim como o som dos passos se afastando.

Podia ter ficado quieta, fingindo que ainda dormia, mas o amigo jamais acreditaria naquilo. E não queria preocupa-lo, tampouco. Passou a perna para dentro do quarto, e esperou o formigamento passar, com certeza ficara muito tempo parada.

Vestiu-se apropriadamente, tirando a roupa suja e manchada por algumas lágrimas. Ajeitou a meia listrada nos pés e desceu descalça, gostava de andar assim, sua vó lhe dava broncas, mas foi quem lhe deu de presente as meias coloridas e infantis.

Estava chagando ao fim da escada quando viu Draco no meio da sala, conversava com Harry, e carregava aquela expressão de indiferença. Os rapazes, como se fosse combinado, movimentaram as cabeças e lançaram os olhares para Hermione parada no meio do trajeto.

— Vou terminar o café. — Harry disse baixinho e seguiu para a cozinha.

Hermione desceu e parou na frente de Draco.

— Sinto muito pela sua avó!

Encolhe-se contra o rapaz, juntando seus corpos até doer. Desde a tarde anterior buscava por algo que a confortasse, um abraço, nenhum que recebera lhe satisfizera, porém. Draco chegou perto de ser a solução para preencher o vazio que sentia, mas ainda não era o suficiente.

— Precisamos conversar, Hermione. — Disse com seriedade. — Mas quero que se alimente antes.

Negaria. A comida não lhe atraía, por mais que sua barriga gritasse o contrário. Mas Draco insistiria e se necessário usaria seus poderes de persuasão até que colocasse qualquer pedacinho de comida na boca.

Harry fizera um bom trabalho cozinhando, o café estava forte o suficiente para despertar um Inferi, se fosse o caso. E durante algum tempo o único som que se fazia presente era ruído das torradas crocantes sendo mastigadas.

— O que queria falar? — Perguntou sem cerimônia, deixando de lado a xícara vazia.

— Depois, Hermione!

Sacudiu a cabeça e levantou-se, arrastando a cadeira que rangeu com vivacidade, lançou o guardanapo de tecido sobre o prato e saiu da cozinha.

Voltou para o quarto e esticou-se sobre a janela novamente, o frio cortante lhe deixava aliviada do aperto em seu peito. Dali algumas horas veria sua avó novamente, seria breve, mas memorável — mas com certeza não positivamente.

Três quartos de hora se passaram, para só então começar a se trocar. Calçou as botas sem ânimo algum, forçando-se a parecer ao menos apresentável. Acariciava o cachecol vermelho quando as vozes exaltadas lhe assustaram. Com certeza havia algo de errado.

— ...Ela precisa saber! — Ouviu, a voz era familiar e por um momento seu coração saltitou.

Saiu do quarto, em direção às escadas em passos apressados. Prendeu a varinha no cós da calça, mesmo sabendo que aquele lugar não era apropriado, podendo causar algum acidente qualquer.

Assim que chegou ao fim da escada seus pés pararam, como se estivesse grudada ao chão, não queria dar nenhum passo e suas pernas não obedeceriam, tampouco.

— Hermione...

Harry até então apenas observava a discussão, os braços cruzados e a coluna ereta lhe faziam parecer mais alto e forte do que era. Quando viu a amiga, soltou os braços e chamou atenção dos outros rapazes.

— O que está acontecendo? O que faz aqui? — Sua voz pareceu mais fria do que realmente esperava, a pergunta soara rude.

Theodore empertigou-se e Draco resmungou qualquer coisa antes de olhar para Hermione.

— Nos precisamos ir e...

— O que eu preciso saber?

Harry sorriu. A garota ouvira parte da conversa e merecia saber, não contara ainda porque Draco prometera o fazer, mas o rapaz fora buscar Theodore e agora se encontravam naquele impasse.

— Estou esperando! — Disse, cruzando os braços na altura dos seios.

— Meu pai fugiu. — Theodore respondeu rapidamente, não parecia gostar da notícia.

Nos segundos que seguiram Hermione não soube dizer o que acontecia com seu corpo. De repente não sabia de onde vinha o equilíbrio que a mantinha de pé, o ar ao seu redor pareceu faltar, mas foi o mesmo que lhe fez estremecer de frio. Lembrou-se de tudo o que passou durante as sessões de tortura metal e quase imperceptivelmente apoiou-se no corrimão de madeira.

— E o q-que estão fazendo aqui? Nós pre-precisamos encontra-lo! — Murmurou, evidentemente abalada.

Draco olhou para Theodore, não parecia satisfeito com o modo que contara aquilo.

— Um grupo de aurores já está atrás dele, não se preocupe. — Blásio entrou, sorria comedidamente. Acenou para a garota. — Está pronta? Temos que ir, já está na hora.

Hermione buscou o olhar de Harry, estava confusa.

— Ele tem razão, temos que ir. — Passou o braço pelos ombros da amiga e levou-a para fora, onde Rony os aguardava dentro de um carro. Alugado, provavelmente.

O trajeto foi silencioso e incomodo.

— Gina estava com dores, mandou condolências! — Rony disse, mas por falta de resposta, voltou a focar na estrada.

Hermione se perguntava quando o amigo tirara a carta de motorista.

...O...

O momento de despedir-se foi pior do que imaginava, as lágrimas pareciam não ter fim e quanto mais tentava segurá-las, mais escorriam por seu rosto. As mangas de sua blusa já estavam umedecidas o bastante, e então desistiu de limpar o rosto.

Os rapazes mantinham uma distância segura, nenhum deles sabia exatamente o que fazer ou dizer. Era um momento que somente ela compreendia. Mas quis gritar de alívio quando Harry segurou-lhe a mão direita e o Rony a esquerda, afinal, agora eram a sua família — sempre foram.

Draco posicionou-se ao lado de Harry e Blásio o acompanhou. Theodore, porém, preferiu ficar afastado, não parecia certo naquele momento. Hermione não passava de uma colega de trabalho agora, o olhar que recebera naquele dia esclarecera a situação.

Aos poucos começaram a se afastar, mas Hermione permaneceu firme em seu lugar, as lágrimas já não desciam mais, mas a tristeza estampava seu rosto. O último a se afastar foi Harry, que passou por Theodore e sinalizou a amiga com a cabeça, um aviso.

Sem jeito, esperou que estivesse sozinho com Hermione e aproximou-se silenciosamente. Doía vê-la chorar daquele jeito, e logo depois que passara por tudo aquilo.

Parou ao seu lado e imitou-a, observando a lápide de pedra polida com a inscrição feita com precisão. Esticou a mão até alcançar os dedos de Hermione, os quais depois de ter certeza de que não seria rejeitado, entrelaçou entre os seus.

Não sabia o que dizer, pois não havia nada a ser dito. O momento pedia apenas o silêncio. Hermione estava magoada, triste e ainda abalada com todos os acontecimentos, não queria falar, queria ficar em silêncio.

E Theodore confortou-a perfeitamente.


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Notas finais do capítulo

Demorei-me? Eu sei que sim! Espero que tenham gostado. Me digam o que acham, gostarei de saber!
Até breve



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