“Nee, é ela?”, diziam, “Não olhe, ela pode fazer algo!”

Eu sempre ouvia os cochichos sobre mim, sobre o monstro que eu era. “Não chegue perto dela!”, alguém dizia ao filho. Por que eu? Ficar confusa apenas por um momento é normal, mas e quando se é confusa desde que se lembra? Eu nem sei quem eu sou direito. Sou Uchiha ou Hyuuga?

Sempre morei sozinha, minha mãe morreu logo que eu nasci. Hiashi-sama cuidou de mim até eu conseguir me cuidar sozinha, então ele me abandonou também. Eu era uma vergonha por causa da minha mãe, mas ninguém fora do clã sabia. Anos antes do massacre do clã Uchiha ela apareceu grávida, mas não contou quem era o pai. A vergonha já começou ali e o medo logo quando eu nasci. Eu era a vergonha do clã e para eles não pertencia completamente a ele, então quando o Terceiro Hokage precisou, me ofereceram para ele selar o onze caudas em mim, um Bijuu. O Ookami no Akuma.

Ele chegou um tempo depois que a nove caudas foi selada. Foi então que minha mãe morreu. Enquanto aquilo era selado em mim, ela tentou deter o Terceiro, mas aquele lobo gigante a atingiu tentando escapar. O Terceiro não pôde fazer nada se não ele se soltaria e mataria a todos. Hiashi-sama viu tudo e correu até ela, que havia sido jogada longe. Ela estava com os olhos meios abertos, mas já havia ido.

Nem eu sabia quem era meu pai. Apenas sabia que possivelmente não era um Hyuuga, pois eu tinha apenas um dos olhos com o Byakugan. O outro era preto assim como meu cabelo. Porém isso mudou quando aconteceu o massacre dos Uchihas. Havia uma carta endereçada à minha mãe na casa de um deles, era antiga e já estava um pouco amarelada. Como continha o nome do clã dela, deram-na à Hiashi-sama, que descobriu tudo. O nome dele era Uchiha Arisha. Cabelos negros, assim como seus olhos. Um excelente ninja. Ele dizia na carta que queria ficar com ela, que os clãs não poderiam impedir e que ele queria ser um pai de verdade pra mim. Aquilo deixou claro que o clã dele sabia sobre mim. Eles também tinham vergonha.

Decidi entrar na academia ninja um pouco antes do massacre, eu queria ser alguém. Queria mudar meu destino de alguma forma. Mas depois do massacre, Hiashi-sama foi à minha casa e me contou sobre a carta, indo embora em seguida sem dizer mais nada depois de dá-la a mim. Descobrir quem era meu pai, que os clãs não queriam que eles ficassem juntos e que minha mãe sofreu aquela vergonha por causa deles me deixou tão furiosa, com tanto ódio, que acabei despertando meu Sharingan enquanto amassava a carta, segurando-a e encarando-a. Eu tinha apenas 7 anos e chorei até dormir depois disso. Depois daquele dia, comecei a usar um tapa-olho no meu olho direito, o preto. Não sentia raiva do meu pai, mas não aceitava que os outros soubessem. E, claro, ninguém soube. Oficialmente, o último Uchiha que restou foi Sasuke.

Não sabia mais quem eu era e comecei a faltar às aulas. Uma vez no parque, eu estava sentada no balanço olhando para os pés. Me perguntando o porque de tudo aquilo. Era pra eu ser mesmo uma miscigenação vergonhosa e ainda por cima um monstro? Por um momento comecei a odiar todos. O clã e as pessoas que tinham medo de mim. Todas as pessoas em si.

Suspirei e meus olhos marejaram.

— Nande...

— Hum? Por que o que? – Alguém disse.

Arregalei os olhos e levantei assustada. O balanço de mexia enquanto eu via quem era. O garoto loiro da minha turma.

— O que você quer? – Perguntei desconfiada.

— Etto... Saber por que você tem faltado às aulas! – Ele disse animado.

Eu o olhava, por que ele queria saber?

— Nande? – Disse séria, franzindo a testa.

— Hum? – Ele pareceu não entender – Acho que porque... Você é como eu, eu acho...

— Como?

Ele sentou no balanço e deu um leve impulso.

— Ninguém parece gostar de você. Eles têm medo de você.

Abaixei o olhar, aquilo por acaso era pra me ajudar?!

— E muita gente também tem medo de mim. – Ele deu um sorriso largo.

O olhei surpresa.

— Nani...

— Uzumaki Naruto.

— Hum...

Arregalei os olhos. Era o garoto que todos tinham medo. Eu não sabia que era ele! Ele parecia tão animado, tão... Normal!

— Ne, ne. Por que você quer ser shinobi?

— Etto... – Pensava com as mãos cerradas contra o peito – Eu queria... Ser alguém. Mudar meu destino.

Não sabia por que eu estava contando pra ele, mas apenas por ele ser como eu, acho que confiava nele um pouco.

— Soka. Então é isso! – Ele deu mais um sorriso largo – Ne, ne?

— Hum?

— Não pare de ir para a academia. – Ele sorriu gentilmente olhando pra mim.

Abaixei o olhar, corando levemente.

— Nee? – Perguntei – Por que está fazendo isso?

— Hum, eu já disse! – Ele sorriu de novo – Você é igual a mim e não podemos ficar sozinhos.

O olhei surpresa e abaixei o olhar novamente. Estava um pouco envergonhada por alguém querer me ajudar. Ninguém nunca quis! Em sua maioria, me ignoravam. Ele levantou e veio até mim, pondo o braço em volta do meu pescoço do nada. O olhei confusa e me encolhi.

— Ne, pra que o tapa-olho? – Ele perguntou.

— Hum. – Corei – Pra esconder algo.

— Hum? Kshi! – Ele deu um sorriso largo – Hai, hai.

Ele deu um peteleco de leve no meu nariz e pulou no balanço, dando um salto e se distanciando.

— Ne, não falte mais. Se esforce! – Ele deu mais um sorriso largo e um aceno – Ja ne.

— Hum... – O via ir embora – Hai...

Fiquei até feliz por ele se importar comigo e tentar me ajudar. Se ele for realmente como eu, concordo com o que ele disse. Não podemos ficar sozinhos. Comecei a pensar que talvez nem todos fossem iguais. No dia seguinte, voltei a frequentar as aulas. Com certeza eu mudaria meu destino!