Corbeau escrita por Owl KodS


Capítulo 1
Capítulo 1




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Era um fim de tarde chuvosa aquele 29 de abrile poucas pessoas se encontravam nas ruas apesar de já passar das seis, também conhecida como "hora do rush". Não havia tido sol o dia inteiro, mesmo assim sabia que ninguém se atrasaria para sair da escola ou do trabalho, afinal era sexta-feira.

Vaguei mais um pouco pelas ruas isoladas e alagadas da minha nebulosa capital, ao longe avistei uma criança voltando de mãos dadas com o pai apressado. Ela insistia em me olhar, talvez por conta da minha esfarrapada capa azul, me distrai por um momento ajeitando a lã escura e pesada sobre meus cabelos e acabei por tropeçar em algo.

A criança desviou o olhar no mesmo momento em que me abaixei para pegar a coisa meio escondida pela água empoçada que refletia as luzes de neon de algum bar pé sujo. Era um medalhão de ônix, nada muito chamativo na verdade, algo semelhante a um presente que algum namorado me daria, se gostasse de joias ou tivesse um namorado, claro! Olhei em volta, na esperança de encontrar o dono de dada preciosidade, mas, fora a criança insistente com o pai, não havia viva alma ali, então guardei-a em um dos bolsos da minha capa, em segurança.

~~ ~~

Já fazia pouco mais de uma semana que mantinha aquele pequeno objeto reluzente e negro comigo e nada de muito especial me acontecera, até aquele dia.
Estava eu sentada em meu sofá azul já meio encardido e rasgado, tomando o meu café preto quando dei de cara com a joia estranha sobre a mesa, não me lembrara dela até aquele dia, quando o dono do meu JK alugado viria me cobrar a divida. Não era um homem que gostasse, muito antes pelo contrário, era um velho seboso que mal cabia em suas calças com alguns fios de cabelo cobrindo a careca oleosa, algo como um Homer Simpsons asqueroso com suor escorrendo pelo colarinho e manchas de gordura sobre a barriga.

Agarrei a joia e só conseguia pensar em duas coisas: Ou apelava para a prostituição para pagar minha divida, ou lhe entregava aquele objeto. No mesmo momento a porta se abriu com um estalo, "a chave reserva" pensei.

– Vim buscar meu pagamento, Senhorita Sanders – disse ele brincando com as tiras do suspensório gasto. – Mas se não tiver dinheiro, tenho certeza que poderemos contornar isso – respondeu pousando uma das mãos sobre a mesa de madeira enquanto, com a outra, afastava os negros fios de meu rosto.

–Não toque em mim – respondi apertando com força a joia, sem pensar em mais nada. Ele que me colocasse para fora, não aceitaria aquele tipo de tratamento.

– O que você está fazendo comigo? – perguntou ele entre os dentes cerrados enquanto tentava mover os braços em minha direção, sem sucesso. – Sua bruxa! – ele gritou e a verdade é que nem eu sabia o que estava fazendo – BRUXA! Você irá pagar por isso. – eu soltei a pedra, assustada, e ele se aproveitou para agarrar meus braços com força descomunal.

– E será caro. – disse me puxando ainda mais perto até sentir o cheiro de queijo velho que soltava de sua pele.

– QUE VÁ PARA O INFERNO! – gritei, segurando a pedra novamente, não sabia o que aconteceria, mas talvez eu conseguisse algum resultado mágico – MORRA! – ordenei esperando nada em troca, mas, como um zumbi, o homem se aproximou da janela e saltou.

~~ ~~

Depois de ver o velho se atirar da minha janela eu tive a certeza de que estava em sérios problemas, mesmo assim não pude me mover, me mantive em estado catatônico ao lado da janela enquanto o corpo fazia um suave som de gordura batendo no chão. Depois eu ouvi gritos e por fim voltei a mim, corri para pegar minha esfarrapada capa azul e voei pelas escadas com os pés fazendo um barulho incessante contra o piso de granito até me encontrar no refrescando ar noturno. Menos de vinte minutos depois eu já não sentia as minhas pernas e tão pouco tinha certeza se respirava, mas sabia que estava em um local seguro.

O apartamento numero 4 do sexto andar do prédio Petrópolis não era o mais luxuoso, tão pouco o maior, mas havia uma escada de incêndio na lateral que dava acesso fácil e discreto para quem quisesse e o mais importante: Alguém de confiança.

Guilhem LesBains não era exatamente a pessoa mais cuidadosa da terra, mas tinha o sono bem leve quando dormia na sala, o que, por sorte, fora o caso naquela noite, e o simples bater de meus dedos contra a janela foi o suficiente para fazê-lo acordar.

Passei dois dias e quatro noites na casa de LesBains: duas no sofá e duas na cama, três sozinha e uma acompanhada.

Eu sempre soube que não deveria dormir com Guilhem e isso realmente pesou em minha consciência, de tal modo que acordei às três horas da manhã e deixei a casa sem pensar duas vezes, vestindo apenas a roupa que usara para fugir do meu pequeno “apertamento” e com nem um centavo nos bolsos, exceto pela joia que ainda se encontrava guardada.

É engraçado como quase todas as minhas memórias parecem estar associadas a tempestades. O dia que deixei Guilhem, o dia que "matei" um homem, o dia em que achei a pedra, a morte de meu pai... Todas! Mesmo a mais antiga delas segue essa pequena regra: uma mulher vestida completamente de negro com o rosto coberto por um manto que lhe cobria os olhos acastanhados. "o dever me chama Ray, você ficara bem". Ela prometera antes de passar pela porta de um azul claro que ela mesma pintara para receber o bebê, sua única filha.

Passaram-se quase 13 anos antes que eu pudesse ter essa conversa com meu pai, ele sempre a idolatrara e por algum motivo me sentia estranha por não fazer o mesmo. Minha mãe sempre fora uma força sobre nós, algo como o Grande Irmão de George Orwell, nunca a víamos, mas sabíamos que ela estava sempre observando, espreitando nas sombras como um velho corvo nas sombras.

Eu me lembro desse dia. Era tão chuvoso quanto qualquer outro, eu me lembro do olhar do meu pai quando lhe disse que não queria nada que viesse dela, mesmo assim agarrei a capa azul que um dia pertenceu a ela e fugi pelas ruas até que encontrei os LesBans, eles me abrigaram por algum tempo e o patriarca ligou para o meu pai, um velho amigo de orfanato, foi como ele explicou.

“Órfãos sempre cuidam uns dos outros” ele iria me dizer mais tarde, no velório de meu pai (outro dia incrivelmente chuvoso e cinza), quando me acolheu, mais uma vez em sua casa.

Agora eu fugia de seu filho como um diabo foge da cruz, um ato um pouco ingrato, eu admito, mas não saberia reagir quando Guilhem descobrisse que, possivelmente, foi manipulado.

Caminhei incerta pelas ruas de paralelepípedo, com nada mais do que minha gola alta negra e o capuz azul marinho da capa para me proteger contra a chuva que caia sem cessar e, como se não bastasse a água gelada e as gotas finas, o vento fazia-a se chocar com violência contra meu rosto, no segundo dia mantive a minha perambulação, no terceiro o mesmo e no quarto isso já era mais do que rotina, já começava a me sentir mais livre agora que meus cabelos começavam a juntar toda a poeira e poluição da cidade, sem contar a gripe que começava a se acomodar em meu corpo por conta da roupa molhada com que dormia todas as noites, pelo menos conseguia me manter alimentada, graças a minha preciosa pedra, bem como pude manter algumas pessoas seguras. Lembro-me de salvar uma pobre adolescente que, em muito, lembrava a mim mesma apenas alguns dias antes; ajudei uma senhorinha que quase tivera sua sacola roubada.

Só no quinto dia que cometi o meu primeiro verdadeiro furto.

Era um pequeno cortiço com as roupas estendidas na varanda, nenhuma delas realmente me agradou, mas peguei o que precisava para me trocar, o que acabou em um combinação não muito bonita de rosa, roxo e azul.

Nessa noite, quando me acolhi sozinha junto a uma marquise, lembrei de como meu pai costumava falar de minha mãe, ela era... solitária. E então, envolvida na capa da pessoa que mais odiei e, ainda assim, amei mais que ninguém, eu rezei para qualquer ser que pudesse me dar uma resposta.

– Porque me deu isso? – perguntou para o nada e o nada me respondeu com seu silencio sepulcral até que um crocitar seco cortou o ar, me forçando a abrir os olhos para observar um grande corvo quase camuflado no meio da escuridão da noite.

Ele me olhou com os olhos inteligentes e ergueu voo. Eu o segui, talvez fosse uma resposta, afinal sempre li livros enquanto feiticeiras podiam se transformar em animais para algum motivo e, por mais que negasse, eu desejava que aquele animal negro fosse minha mãe.

Sempre me considerei um paradoxo ambulante, não sei como por em palavras: Sempre procurei a solidão, mas nunca quis ficar sozinha. Sempre quis ser livre, mas nunca consegui deixar ir e quando parti... Eu quis ficar.

E como sempre, seguia um estranho animal selvagem, desejando como uma criança que ainda crê em contos de fada, que este fosse a minha mãe, a mesma que odiei por 23 anos, a mesma que idolatrei pelos mesmos 23 e anos. Chegando ao fim da rua, já era possível ouvir o som das sirenes de caminhões de bombeiro e havia uma ou outra viatura espalhada, piscando suas luzes azuis e vermelhas em meio a multidão massiva que ocupava a praça e consistia em senhoras e senhores às vésperas de entrar na terceira idade com seus robes de lã bem amarrados na cintura e os pés calçados em chinelos sobre as meias ou jovens com seus jeans rasgados e casacos grossos, todos, sem exceção, olhavam para cima e não era possível ver nada além das três primeiras fileiras ou a cabeça de algum mais alto no meio da multidão.

– Não! – eu ouvi uma voz feminina gritar claramente aos prantos em meio a multidão alvoroçada – Não! Se isso acontecer eu me mato também. – ela brada aos quatro ventos – É isso o que deseja homem, perder seu único filho e sua esposa na mesma noite?

O corvo então virou seus olhos negros para mim e continuou sua jornada até passar pela porta de entrada do prédio, onde alguns guardas montavam segurança, mas nem ao menos mexeram as cabeças para ver o animal, porém, quando eu me aproximei, fui barrada no mesmo instante.

– Não pode entrar, senhorita – respondeu o homem com a mão no cassetete enquanto a outra apoiava sobre meus ombros.

– Eu preciso subir – respondi – Minha avó está lá dentro – menti, acreditando que seria ouvida, mas isso não funcionou.

– O prédio já foi evacuado e não há mais ninguém lá, exceto o rapaz – respondeu ele impassível – Sua desculpa não irá funcionar.

– Eu vou passar! – ordenei ao ver que o animal continuava parado em um dos degraus, me esperando. Agarrei a pedra com os dedos tremulas e, como um passe de mágica, os dois se afastaram, permitindo a minha passagem.

Corri novamente, sem me importar quantos andares teria de subir, o cansaço apenas não existia ou não podia me atingir enquanto o animal estivesse em minha frente. Ele, então fez uma curva fechada e desapareceu em uma porta, lá dentro havia apenas um homem e uma mulher, ele possuía uma espécie de walk-talk e pareceu bastante irritado quando me viu entrar.

– Como vocês deixam uma civil qualquer entrar aqui? – bradou, logo antes de soltar o botão para ouvir como resposta um: “Não sei senhor, eu não lembro de nada muito bem”.

Ele tentou barrar meu caminho até a mulher que se encontrava com o braço esticado para fora, era uma mulher jovem, talvez oito ou nove anos a mais do que eu, mas não muito mais, com os cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo baixo.

– Você não deveria estar aqui senhorita – dessa vez eu não precisei pensar duas vezes antes de usar minha arma secreta.

Segurei a pedra com força e falei em tom seguro – Eu tenho tudo sob controle, me deixe falar com ela – ele se afastou e me permitiu tocar o ombro da jovem de olhos muito claros que se virou para mim com um olhar inquisidor.

– Quem é você? – perguntou ela. Eu também não a conhecia – A um jovem querendo se matar e você permite que uma garota entre aqui? – perguntou ao colega, ainda meio sob meu controle.

– Eu posso falar com ele – respondi, sem mexer com a mente da mulher dessa vez.

– Eu desisto – respondeu ela jogando os dois braços ao ar e se afastando da janela – Essa cidade está louca.

Ao vê-la me dar seu lugar, não pensei antes de jogar as pernas para fora e me sentar junto ao jovem que parecia assustado, mas determinado.

– Oi! – disse com simplicidade enquanto todos me olhavam com espanto lá em baixo.

– Você não pode me impedir – ele disse se impulsionando um pouco para frente, mas sem coragem para efetuar o salto, voltou a se sentar no parapeito.

– Minha mãe me abandonou quando eu era criança – comecei, sem entender ao certo o que estava fazendo, mas sabia que precisava fazer – Fui criada a vida inteira pelo meu pai solteiro. – suspirei, sentindo que o corvo pousara em algum lugar sobre a minha cabeça.

– Porque está me contando isso? – perguntou o jovem incerto.

– Não tenho certeza – contei sem me importar de mentir, afinal não poderia dizer que um corvo me levara até lá – Só achei que você precisasse saber que não está sozinho. Eu também tive vontade de saltar de prédios algumas vezes, mas porque está fazendo isso?

– Meu pai não me aceita – respondeu o jovem encarando um senhor muito robusto lá embaixo – Ele prefere ter um filho morto do que um filho gay.

– Não é fácil se sentir um pária, não é? – perguntei sabendo que ele não entenderia meu ponto de primeira – Eu passei vinte e três malditos anos da minha vida, pensando que minha mãe nunca me amou e talvez ela nunca tenha amado mesmo – disse dando de ombros – Eu perdi meu pai e ela nem ao menos me deu uma palavra de carinho, nem compareceu ao velório do homem que se dedicou a cuidar da criança que ela deixou para trás. – suspirei e me levantei – Eu sobrevivi a isso e espero continuar sobrevivendo. – dei um sorriso amigo a ele e sai pela janela – Não posso garantir que será aceito se vier comigo, mas posso garantir que será amado, há alguém lá embaixo que vai te amar – respondi apontando para a mãe e um rapaz muito alto tentando consola-la, muitos andares em baixo. – Você vai descer comigo(!)?

~~ ~~

– Você conseguiu garota – parabenizou a policial assim que o colega levou o menino embora – Um dia vou entender como fez isso?

– Só precisei falar a verdade – respondi descendo as escadas enquanto acariciava a pedra que me transformara em uma super heroína, mas algo mais me chamou atenção.

O corvo

Lá estava ele novamente, sentado graciosamente sobre um dos apoios da escada e novamente sumiu em um dos quartos quando me aproximei.

– Pensei que éramos amigos agora – respondi colocando as mãos no bolso da capa e recomeçando a descer as escadas, mas o animal crocitou, um som que foi quase um chamado e o segui.

Não era mais um corvo que ocupava o espaço do quarto escurecido e sim uma mulher, não muito mais velha do que eu aparentemente, mas que eu conhecia de minhas lembranças.

– Mãe – chamei, sem saber ao certo o que sentir.

– Ray – ela respondeu com simplicidade e sem demonstrar qualquer emoção – Sinto muito – respondeu após uma pausa.

– Porque agora? – perguntei tão incerta como antes, mas sentindo as lágrimas encherem os olhos.

– Era necessário – ela falou com a voz rouca, ainda sem qualquer sentimento.

– O garoto...?

– Não. – ela respondeu e pela primeira vez eu vi seus olhos se encherem de água – Você? Você precisava desse encontro.

– Por quê? – perguntei incerta.

– Você entendeu – ela disse com um tom de voz suave – Entendeu que você não está sozinha, outras pessoas dependem de você.

– Eu sou sozinha, meu pai morreu e você me abandonou – respondi no ímpeto da raiva, deixando as lágrimas escorrerem – Eu perdi meu emprego e perdi a minha casa e você me diz que dependem de mim? – fiz uma pausa e logo recomecei quando percebi que ela não responderia – ME DIZ? QUEM PENSA QUE É PARA ME DIZER QUE “PRECISAM DE MIM”? EU PRECISAVA DE VOCÊ! – mais uma vez fez fiz uma pausa, virando-lhe as costas e secando as lágrimas que teimavam em traçar seu caminho – Onde estava quando eu precisei de você?

– Estava onde era mais necessária – respondeu ela – Você tinha seu pai e com a morte de minha madrinha as meninas não tinham ninguém. – ela não deixou a voz falar, mas sabia que não estava bem – Eu nunca quis deixar você ou seu pai, eu apenas era mais necessária lá. Era o meu dever. – ela respondeu deixando o silencio tomar o seu espaço na sala vazia.

– Mesmo assim, eu não sou mais necessária aqui? – respondi, sem saber o que faria depois.

– Não? Guilhem e os LesBans não pensam assim – ele respondeu – Aquele rapaz que você salvou, não pensa assim. Aquela senhora, aquela menina, todos eles.

– Todos eles? – perguntei em tom de ironia – Eles só pensam assim por causa disso – respondi estendendo a pedra para que ela pudesse ver.

– Não é isso – respondeu a mulher fechando meus dedos sobre a pedra – Quando selamos a magia, nem mesmo um pouco dela foi capaz de ficar, apenas o que restava em mim permaneceu na terra, você é parte de mim, parte da minha magia – ela fez uma pausa, segurando o objeto reluzente – Só serve para canalizar sua habilidade natural, foi meu quando voltei há... Tantos anos – ela suspirou parecendo se perder em lembranças, mas não durou mais que alguns segundos e retornou a coloca-la em minha mão – Antes de partir, eu não sei o que fará daqui para frente, mas quero que fique com ele, pode ser útil para o que decidir ou apenas um recordação, para lembrar que sim...eu me importo com você e te amo como nunca vou amar outra pessoa pelo tempo que viver – ela se aproximou e me beijou a testa, antes de dar as costas e se transformar num majestoso corvo negro novamente, voando, livre contra a noite estrelada.

~~ ~~

Não sei ao certo quanto tempo caminhei antes de dar impulso na escada de incêndio do prédio Petrópolis, mas já caia uma garoa fina. O apartamento número 4 do sexto andar não era exatamente luxuoso, tão pouco possuía duas camas, mas a luz da televisão estava ligada e um rosto descansava sobre as mãos apoiadas nos joelhos de um jovem de cabelos negros como a noite.

Um toque foi o suficiente para chamar-lhe a atenção.

– Não conhece escada? – perguntou ao abrir a janela e me dar espaço para entrar. A brincadeira foi meio instintiva, mas os olhos não tinha o brilho típico da alegria, mas sim uma preocupação e solidão constante, quase igual aos meus próprios quando olhava no espelho.

– Quem deixaria uma mendiga entrar? – perguntei tentando entender aquela estranha mudança, logo eu que sempre fora tão boa em ler os outros.

– Porque foi embora? – perguntou mantendo meu olhar.

– Eu precisava encontrar uma coisa.

– E encontrou? – ele rebateu com a mesma intensidade.

– Quase tudo – respondi com sinceridade – Só uma coisa que não.

– E o que foi? – ele manteve o tom frio da conversa, mas já não aguentava mais aquilo, tanto que não senti quando cai em seus braços, num abraço tão cheio de sentimentos que nunca tinha pensado que existissem de verdade entre nós.

Ficamos assim por um tempo incalculável, enquanto a pedra em meu bolso parecia vibrar em concordância, ele cariciou os fios negros e então sussurrou em meu ouvido.

– É bom tê-la de volta, Corbeau – e ainda meio impregnada pelo cheiro de banho recém-tomado dele respondi.

– É bom ter para onde voltar.


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