Between. escrita por Lana


Capítulo 1
Cannoball.


Notas iniciais do capítulo

There's still a little bit of your ghost your witness, there's still a little bit of your face I haven't kissed, you step a little closer each day, still I can't see what's going on. - Cannoball, Damien Rice.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/629605/chapter/1

A primeira coisa que ela se deu conta foi que estava em um hospital. Confusa, sem saber como chegara ali, ela foi até o balcão da recepção e chamou a mulher atrás dele. Quando foi ignorada pela mulher, ela a chamou novamente, mais alto. Novamente, ela não obteve resposta; na verdade, a mulher nem mesmo desviara o olhar das fichas que preenchia. Rosalie a chamou novamente, colocando sua mão sobre os papeis, mas a recepcionista ainda parecia não a notar.

Ainda mais confusa, e agora começando a ficar desesperada, ela tentou pedir ajuda às outras pessoas naquele cômodo, mas não parecia que elas podiam ouvi-la também. Era como se ela nem sequer estivesse lá, como se fosse invisível. Sua respiração ficou mais rápida e ela começou a adentrar o hospital, atravessando portas e vendo pessoas que aparentemente não a viam.

– Ei! – ela gritou. – Alguém! – as pessoas continuavam passando sem sequer olhar em sua direção. – Que diabos?! O que está acontecendo aqui? – ela viu um homem em um jaleco branco passando a seu lado e começou a segui-lo, tentando conseguir sua atenção. – Ei! Eu preciso de ajuda! Por favor, pare! Eu estou falando com você! Pare! – ela gritou vendo-o passar pelo corredor e seguir adiante, deixando-a para trás.

– Ele não pode ouvir você. – ela ouviu alguém dizer. Automaticamente ela se virou, vendo um homem sentado no chão, suas costas recostadas na parede e as longas pernas estendidas no meio do caminho. Ele tinha braços musculosos que eram marcados pela camisa de tecido fino que usava, cabelos pretos e os olhos mais azuis que ela já vira.

– Você pode me ver? – ela checou, numa mistura de surpresa e alívio, andando em sua direção.

– Eu estou falando com você, então é provável. – ele deu um sorriso, para que ela não interpretasse sua frase de modo rude.

– Quem é você? O que está acontecendo? Por que ninguém está falando comigo? – ela o bombardeou com as perguntas enquanto o alcançava.

– Eles não podem. Eles não podem vê-la e não podem ouvi-la. – ele explicou.

– O que você está querendo dizer? O que diabos está acontecendo aqui? – ela perguntou exasperada enquanto se movia de um lado para o outro. Ele cruzou as mãos.

– Como eu posso explicar isso... Você sabe o que aconteceu com você?

– Eu... Eu estava no mercado e então eu estava voltando para casa... E então a próxima coisa que me lembro é de estar aqui. – ela disse confusa, franzindo os lábios.

– Tudo bem, eu preciso que você se acalme e não perca a cabeça, certo? – ele pediu. Ela o olhou, a expressão alarmada.

– O que você quer dizer? O que aconteceu?

– Você sofreu um acidente. – ele disse lentamente, avaliando sua reação. As sobrancelhas da loura se ergueram, a expressão incrédula.

– O que? Não, eu não sofri. – ela disse como se ele estivesse louco.

– Sim, você sofreu. – ele discordou. – Você acabou de sair de uma cirurgia, na verdade, algum tempo atrás.

– Eu não sofri! – ela falou irritada. – Eu estou aqui! Eu estou bem, não está vendo?! – ela disse estendendo os braços em sua frente. Ele levantou-se do chão e começou a mover-se. – Ei! – ela disse seguindo-o.

Finalmente achara alguém que a via, não mesmo que o deixaria se afastar assim. Mas não era o que ele pretendia. Ele parou depois de uma curta caminhada que os levou à UTI.

– Na verdade, você está aqui. – ela viu quando ele parou ao lado de uma cama e olhou a pessoa lá. Ela se aproximou também, e ao olhar o corpo que estava deitado, sentiu como se um balde de água gelado tivesse sido jogado sobre ela. Era ela. Uma versão dela muito machucada, repleta de pontos e ataduras, entubada, mas ainda assim, ela.

– O que é isso? – ela sussurrou, a voz mal saindo. – Que droga está acontecendo aqui? Eu estou sonhando? – ela não conseguia desviar o olhar de si mesma.

– Não, você não está. – ele falou devagar. – Você sofreu um acidente e eles te trouxeram para cá. Você esteve em cirurgia pelas últimas horas. – ele explicou. Ele a observara desde que os paramédicos entraram com ela. Ele estava bem ciente de sua situação.

– Eu... Eu não me lembro de nada disso. – ela sussurrou, se afastando a passos lentos e curtos da cama.

– Eu sei, está tudo bem, as coisas vão voltar. – ele garantiu enquanto se afastava com ela. – Eu acho.

– Por que eu estou aqui? Aqui, tipo, com você. – ela perguntou, parando ao ver um médico entrar e se dirigir até onde seu corpo machucado estava.

– Eu não sei. Eu não sei como ou porque isso acontece. Ou o que é esse lugar. Tudo que sei é que tenho estado aqui por um tempo agora e você é a primeira pessoa que eu vi que é como eu, que pode interagir comigo. – ele explicou e ela se afastou, novamente tentando falar com o médico, e novamente sendo ignorada.

Com um suspiro, ela tocou seu rosto, mas não conseguiu sentir nada, em nenhuma de suas versões – nem na real, nem naquela assustadora que ninguém via. Angustiada, Rosalie se sentou no chão ao lado de sua cama, colocando as mãos no cabelo e respirando longamente seguidas vezes. O homem se sentou a seu lado.

– Eu tenho uma teoria, de qualquer forma. – ele continuou a falar. – Eu estou em coma há quatro meses, desde então, eu tenho estado aqui, vendo tudo, mas invisível. Ouvindo tudo, mas mudo. Eu não estou morto, mas é como se eu não estivesse vivo também. Como se estivesse no limbo, entre essas duas linhas. Eu posso ver tudo, mas não interagir. Eu não sinto nada que as pessoas fazem com o meu corpo. É como se minha alma estivesse separada do meu corpo, minha consciência estivesse fora dele.

– Como nós saímos daqui? – ela perguntou desesperada. Ele ergueu uma sobrancelha.

– Você realmente acha que eu estaria aqui se eu soubesse?

– O que você está dizendo, então? Que ficaremos aqui pra sempre? – ela virou-se para encará-lo, seus olhos temerosos.

– Para sempre? Não. – ele franziu o cenho. – Mas eu não sei como isso funciona.

– O que você tem feito aqui durante todo esse tempo? – sua voz saiu fraca enquanto ela tentava se acalmar e pensar em alguma maneira de consertar aquilo.

– Observado. Tem muita coisa para se ver aqui. – ele deu de ombros.

– Eu não posso ficar aqui, eu tenho que voltar. – ela sussurrou enquanto encarava firmemente o chão branco.

– Não é simples assim. – ele franziu os lábios.

– Eu quero voltar! – ela falou com mais firmeza.

– Você não tem uma escolha. – ele disse com um suspiro.

Rosalie então viu sua família entrar, seu pai, sua mãe e seu noivo. Ela levantou-se num pulo enquanto eles se aproximavam da cama, todos com a expressão preocupada.

– Papai! – ela falou se colocando em sua frente, do lado oposto da cama, mas todos eles olhavam para seu corpo machucado. – Papai! Olhe para mim, por favor, olhe para mim.

– Eleazer disse que fez o melhor que podia na cirurgia, e que não houve complicações, mas ainda é um caso complicado, ela sofreu traumatismo craniano. – Carlisle falou com a voz baixa. – Ela vai ficar na UTI e ser continuamente monitorada e observada de perto. – ele passou as mãos pelo cabelo da filha, que era tão louro quanto o seu. – Mas ninguém poderá acompanha-la aqui, apenas visitas são permitidas e nos horários certos. Eu virei checa-la entre esses horários, claro, mas de toda forma...

– Minha menininha. – ela ouviu sua mãe murmurar, os olhos repletos de lágrimas enquanto enterrava o rosto no peitoral do marido. Aquela não era uma visão a qual era habituada – sua filha tão machucada, tão vulnerável.

– Mamãe...

– Posso... – ela virou-se ao ouvir a voz do noivo. Ele estava com a aparência mais cansada que ela já vira. – Eu posso ficar sozinho com ela por alguns minutos? – ele pediu com a voz incerta. Os pais da loura olharam para ele e sua mãe assentiu, limpando as lágrimas que estavam em seu rosto e respirando fundo.

– Claro, querido. – ela tentou sorrir, sem sucesso, e pegou na mão do marido.

– Receio que não poderá demorar, entretanto. – Carlisle advertiu. – Eu virei daqui a alguns minutos. – Edward assentiu antes de agradecer a eles.

– Edward... – ela sussurrou enquanto ele se aproximava mais da cama, e levava a mão ao seu rosto, deixando-a a milímetros acima da pele, sem de fato tocá-la.

– Seu pai é médico? – ela virou ao ouvir a voz do estranho que a acolhera, tinha praticamente se esquecido dele.

– É. – respondeu sem emoção e virou-se novamente para o homem que estava em pé. Os olhos dele estavam repletos de água e ela observou, sem poder fazer absolutamente nada, enquanto elas escorriam por seu belo rosto. – Edward, eu estou aqui. – ela sussurrou. – Por favor, eu estou aqui. – ele segurou uma de suas mãos entre as dele e ajoelhou-se ao lado da cama, levando a mão dela à boca e depositando um beijo ali enquanto fechava os olhos com força. Ela ergueu sua mão, olhando-a no ar. – Eu não sinto... nada.

– Eu te avisei. – a voz atrás de si avisou. Ela ignorou-o.

Edward permaneceu em silêncio, chorando, segurando sua mão. Ela viu o corpo dele tremer devido ao choro e moveu-se, abaixando-se a seu lado e envolvendo seus braços ao redor dele, mas ela não sentiu nada – nem ele.

– Eu amo você. – ele sussurrou tão baixo que ela mal pôde ouvir, ainda na mesma posição. – Por favor, eu amo você. Não me deixe. – ele pediu.

– Eu não vou! Eu estou aqui! Eu estou aqui! – lágrimas escorrendo pelo seu rosto. – Eu te amo! Eu estou bem aqui! – ela continuava a dizer, mas ele não a ouvia. Ele levantou-se, então, mas uma vez em pé, tomou sua mão novamente e começou a acaricia-la.

– Rose, amor, os médicos disseram que talvez você possa escutar. Então, se você estiver escutando, por favor, não me deixe. – ele disse com a voz mais alta dessa vez, os olhos repletos de lágrimas enquanto observava a mulher que amava na cama. – Por favor, fique comigo, Rosalie. Eu te amo. Fique aqui.

– Eu estou aqui! – ela gritou. – Edward, eu estou aqui!

– Ele não pode te ouvir... – o grandão falou de novo. Quantas vezes ela já ouvira aquilo?

– Cale a boca! – ela mandou virando-se para ele, mas rapidamente voltando seu olhar para o noivo. – Edward, eu não vou te deixar, eu estou aqui! Droga, eu estou bem aqui! Eu te amo, eu estou aqui! – ela repetia incansavelmente.

– Eu estava bebendo com o Jasper quando isso aconteceu, dá pra acreditar? – ele deu um riso curto sem humor – Era pra eu estar com você, mas eu saí e olhe só o que aconteceu. – ele se interrompeu, sua voz presa na garganta. Depois de um suspiro longo, tentando recuperar o ar, ele continuou. – Me desculpe, amor. Eu sinto tanto. – ele pediu, erguendo a mão dela envolta nas suas até seus lábios. – Isso não deveria ter acontecido com você. Você não deveria estar sozinha. Eu sinto tanto... – ela o ouviu soluçar, as lágrimas descendo por seus olhos.

– Não é sua culpa. Edward, me escute, não é sua culpa. – ela olhava para ele, inutilmente tentando fazer com ele a ouvisse. – Me escute!

– Você vai melhorar, eu sei que você vai. – ele disse com a voz fervorosa. Parecia tentar convencer a si mesmo. – Leve o seu tempo. Só se certifique de voltar para mim.

– Eu vou. – ela prometeu, lágrimas ainda escorrendo por seu rosto branco enquanto ele limpava as do seu.

Edward continuou segurando sua mão e olhando para seu rosto, até que seu pai estivesse de volta e ele levasse Edward dali. Rosalie continuou olhando-os enquanto se distanciavam, lágrimas ainda descendo de seus olhos, desesperada.

– Eu preciso voltar. – ela falou entre as lágrimas. – Eu preciso dar o fora daqui, não posso ficar nesse lugar.

– Eu queria que fosse simples assim, mas como eu já falei, você não tem uma escolha. – ele disse com a voz séria.

– Quem é você, de toda forma? – ela perguntou depois de um longo silêncio que provavelmente durara horas. – Eu nem perguntei o seu nome.

– Emmett McCarty. – ele sorriu.

– Como você veio parar aqui? – ela quis saber.

– Eu fui baleado. Três balas, perdi muito sangue e levei uma pancada na cabeça. – deu de ombros.

– Como isso aconteceu?

– Alguém tentou me roubar, eu reagi, então ele ficou irritado, assustado, eu não sei, e me baleou. Acho que me bateu na cabeça antes de eu cair, eu não sei, não me lembro dessa parte, mas ouvi alguém daqui dizendo que aconteceu. – Rosalie o encarou, estupefata.

– Que coisa mais estúpida de se fazer. – ela disse com a voz incrédula. Ele sorriu.

– Atirar em mim? Eu sei, certo?! – ele disse com a voz brincalhona e Rosalie revirou os olhos.

– Reagir.

– E sobre você, quem é você, estranha? – ele perguntou, mudando de assunto.

– Rosalie. Por que você não acordou ainda?

– Como eu saberia? Eu tentei tudo em que eu consegui pensar, até aquelas coisas estúpidas, tipo se deitar em cima do corpo, mas ainda estou aqui. – ele deu de ombros. Emmett estava tão feliz de poder falar de novo, que ele não se importava com o que saía de sua boca, tudo o que queria era ser ouvido.

– Você não está com medo de ficar aqui, tipo, pra sempre? – ela disse de forma hesitante.

– Como eu disse, não vai durar pra sempre. Eu acho que não. – ele encolheu os ombros. – Eu te disse que acho que isso é o meio. Ou meu corpo vai se curar ou desistir. Em qualquer das opções, ou eu acordo e saio daqui, ou eu morro e saio daqui. Ou eu volto pra lá ou eu desapareço e vou pra onde quer que as almas terminem. Ao menos, eu acho que é assim que acontece. – ele explicou.

– Como você pode encarar isso tão calmamente? – a voz dela soava agitada. Ele sorriu.

– Eu estou aqui há bastante tempo. Tive muito tempo para pensar. – ele deu de ombros.

– Completamente sozinho? – ela checou.

– Sim.

– Como você faz isso? Você não fica louco? – ela mordeu os lábios, olhando para os lados. Ele sorriu de forma resignada.

– Eu não tenho uma escolha.

– Eu estou entediada. – ela reclamou. Ela se perguntava há quanto tempo estava ali. Horas? Dias? Ela não conseguira dormir, era como se seu corpo não pudesse mais fazer isso. Ela ficara muito tempo calada, sentada sozinha, absorvendo a situação, procurando algo ou alguém para culpar. Ficara ao lado de seu corpo, perambulara pelo hospital, seguira seu pai – que a checava constantemente. Parecia um pesadelo interminável. Então ela resolveu se render e procurar por Emmett.

– Isso acontece bastante por aqui. – Emmett avisou.

– Não há nada para fazer aqui?

– Não. Apenas assistir. – negou.

– A gente pode sair desse lugar? – perguntou.

– Não. – repetiu.

– Nós podemos andar por aqui, ver tudo, ouvir tudo, mas ninguém nos vê ou nos escuta. – ela enumerou.

– Como um fantasma. – Emmett concordou.

– Eu não quero viver dessa forma, Emmett. – ela gemeu.

– Eu não chamaria isso de viver. – ele ponderou. – Isso é como um limbo, o meio, é nada. Você não está morta, ainda assim, você não está viva. Você é apenas... uma sombra.

– Eu não quero ser uma sombra!

– Fique calma, talvez você acorde logo. – ele a reconfortou.

– Bom, e se eu não acordar? – ela rebateu.

– Olha, você deveria ficar feliz que eu estou aqui com você, porque de outra forma você estaria completamente sozinha, pirando que nem uma criança que se perde no supermercado. – ele disse revirando os olhos.

– Provavelmente. – ela concordou.

– Eu estava brincando. – ele sorriu e balançou a cabeça de forma negativa.

– Bem, eu não estava. – ela franziu os lábios.

– Do que você sente falta? – ela perguntou em outro momento. Ela passava a maior parte do tempo com Emmett agora, quando não estava seguindo seu pai ou ao lado de seu corpo, vendo sua mãe e Edward a visitarem e conversarem com ela. – Sem contar pessoas.

– De incontáveis coisas. – ele revirou os olhos. – Estou aqui há meses.

– Eu sinto falta do calor do sol. – ela falou suspirando. – E você?

– Eu sinto falta de sexo. – ela o encarou com uma sobrancelha erguida.

– Sério? – ele se encolheu.

– Eu estou aqui há meses! – ele repetiu, frisando a palavra meses, para se defender.

– Eu sinto falta de babata frita. Eu amo babata frita. – ela seguiu adiante, ignorando o último comentário dele.

– Cerveja.

– A sensação de seda contra minha pele.

– Meu cachorro.

– Eu sempre quis um cachorro, mas meus pais nunca me deixaram ter um quando era criança. – ela franziu o cenho.

– Por que você não tem um agora?

– Edward é alérgico a cachorros. – ela suspirou. – Livros.

– Sentir qualquer coisa. – ele suspirou. – Eu mataria para ter qualquer sensação. Não sentir é uma droga.

– Eu não posso deixar de concordar. – ela franziu os lábios. – Qual sua bebida favorita?

– Você é estranha. – ele disse a olhando e falando lentamente.

– Eu estou entediada. – ela respondeu no mesmo tom, estendendo a última palavra. – Vou te bombardear com esse tipo de pergunta sempre que tiver vontade. Agora, me fala, qual sua bebida favorita?

– Cerveja. E a sua?

– Hmm... Eu gosto muito de vinho, mas também adoro cerveja. Mas eu não bebo muito nenhum dos dois, então eu diria café. Eu amo café. É aquela bebida indispensável no meu dia. Agora me pergunta você alguma coisa.

– Tipo o que? – ele ergueu a sobrancelha.

– Qualquer coisa. – ela deu de ombros.

– Deixe me ver... Já que você gosta de livros, qual seu tipo preferido?

– Suspense! – ela respondeu animada. – São incríveis, é claro. Crio mil teorias sobre tudo durante o livro e é maravilhoso me distrair assim. E o seu?

– Biografias, eu acho. – ele disse depois de pensar por algum tempo. Rosalie o encarou.

– E você fala que eu sou a estranha. – ela balançou a cabeça enquanto ele sorria.

– E esse sou eu. – ele disse parando ao lado de um leito. Rosalie observou o homem deitado lá, parecendo dormir calmamente.

– Você não parece mal. – ela inclinou a cabeça um pouco e continuou a encarar o homem na cama. Emmett cerrou os olhos.

– Obrigado... eu acho. Você é estranha, aliás. – ele reafirmou e ela riu. Ambos se viraram ao ouvir a voz de duas pessoas entrando no quarto. – Esses são meus pais. – ele falou quando viu Carmen e Garret. Carmen se aproximou da cama, deu um beijo na testa do filho e o observou por alguns segundos antes de se virar e sentar em uma cadeira, Garret ao lado dela. Eles continuaram conversando.

– Você sempre os vê? Quero dizer, você sempre vem aqui pra vê-los? – ela quis saber.

– Bastante. Eu fico aqui os ouvindo conversar, às vezes eu escuto alguma novidade. – ele deu de ombros. – Minha mãe vem todos os dias, acho que ela sente que se não vir seria como me abandonar aqui.

– Ela parece ser uma ótima pessoa.

– Ela é. – ele sorriu. – Quer ir dar uma olhada nas coisas do seu lado?

– Vamos. – ela concordou. – Eu tenho passado muito tempo do lado do meu leito. – ela falou enquanto eles caminhavam. – Eu fico observando eles e conversando, como se eles fossem me escutar se eu falar o suficiente ou me ver se eu me concentrar o bastante. – ela suspirou.

– Eu queria poder ajudar, mas acho que não é possível.

– Eu sei. É só que é tão frustrante... Ver tudo e não poder fazer nada, sabe? Ver as lágrimas da minha mãe e do Edward... é tudo tão angustiante. Mas acho que o pior ainda são as do papai.

– Por quê? – ele perguntou quando chegaram ao leito dela.

Edward estava sentado ao lado dela, um livro grosso em mãos, lendo em voz alta, às vezes desviando o olhar para o rosto dela. Ela sorriu de forma triste ao ver a cena. Ele odiava aquele livro, mas era um dos preferidos da loura. Seu coração se apertou. Ela queria ter alguma forma de mostrar a ele que ela estava vendo aquilo, que ela apreciava, que ela o amava, que ela iria voltar.

– Meu pai faz o papel de durão na frente de todos. Ele não chorou na frente de ninguém e bancou o forte pra todo mundo, ele sempre faz isso. Eu só vi meu pai chorar duas vezes na vida. A primeira foi quando meu irmão mais novo nasceu. E a segunda foi no terceiro dia em que eu estava aqui. Todos já tinham ido embora, era madrugada e ele entrou e ficou olhando pra mim e eu nunca o vi com a expressão mais devastada. E então ele começou a chorar, um choro tão intenso que eu quis poder tirar aquilo dele porque me partiu o coração saber que era culpa minha.

– Não é sua culpa. – Emmett discordou. Ela encolheu os ombros.

– Mas é. Diretamente ou indiretamente, não importa. Foi por mim. Eu nunca o havia visto naquele estado. Partiu o meu coração.

– Não se sinta assim, Rose. – Emmett disse colocando uma mão sobre o ombro dela. – Você não fez - espera, você tá sentindo isso? – ele olhou pra própria mão, ela também olhou pra lá.

– Estou. – ela respondeu lentamente e o encarou. – Eu achei que a gente não podia sentir nada. – ele deu uma risada surpresa.

– Eu também achei. Mas eu nunca tinha tocado em outra pessoa na mesma situação que eu. – ele apertou levemente o ombro dela antes de descer a mão pelo braço. – Eu estou sentindo. Meu Deus, como eu senti falta de ter sensações! – ele parecia incrédulo e feliz. Rosalie riu.

– Você parece um desesperado. – ela comentou sarcasticamente.

– Experimente passar quatro meses sem sentir absolutamente nada. – ele resmungou ainda sorrindo.

– Rose... – ambos se viraram, e Emmett puxou a mão rapidamente, ao ouvirem a voz de Edward. Era como se tivessem se esquecido do homem no quarto. Como se tivessem sido pegos no flagra pelo noivo dela em uma situação que não deveria ocorrer. Rosalie aproximou-se de Edward, que estava agora sentado na ponta da cama, segurando a mão dela. – Eu estou preocupado, amor. Você já deveria ter acordado. Eu... Eu estou com tantas saudades. Tudo o que eu queria hoje quando acordei era ver você sorrindo. Eu não queria nenhum outro presente.

Rosalie sentiu o coração se afundar. Hoje era o aniversário dele. E ela sequer se dera conta disso. Era o aniversário dele e ela não estava lá. Todos os planos que fizeram não iam ser realizados. Ela queria chorar. Ela soluçou, um nó se formando na garganta.

– Rosalie, você está bem? – Emmett perguntou preocupado pela reação dela.

– Você poderia sair... por favor? – ela pediu com a voz fraca, sem tirar os olhos de Edward. – Só, por favor... me deixe sozinha com ele.

Emmett a encarou por alguns segundos, ainda mais preocupado, antes de por fim se virar e caminhar na direção oposta.

– Oh, Ed... me desculpe. – ela soluçou novamente enquanto envolvia seus braços nele por trás. Ela não sentiu nada. Ela soluçou com mais força. – Eu sinto tanto.

– Meus pais queriam fazer um jantar. – ele revirou os olhos e continuou a conversar como se ela pudesse ouvir, sem se dar conta que ela de fato ouvia. – Como se alguém tivesse algo para comemorar nesse momento ou estivesse no clima de comemorações. A baixinha queria vir da universidade pra te ver, mas eu não deixei que ela viesse. – ele acariciou o rosto dela, os dedos descendo até a ponta do queixo e subindo novamente. – Já que não posso ficar perto de cachorros, eu adotei o gato que você queria. Eu sei que eu fui contra porque gatos são animais egoístas e indiferentes, mas eu sei que você vai gostar de tê-lo em casa quando voltar pra lá. Ele me odeia, mas com certeza vai se enroscar facilmente nas suas pernas. E ele já vai ter se acostumado com o lugar. Eu o nomeei Gato, como naquele filme que você gosta. – ele deu um sorriso pequeno. – Eu o traria pra te conhecer, mas eu não acho que possa fazer isso.

Ele suspirou e ficou em silêncio novamente, ainda acariciando seu rosto. Rosalie continuava a ouvir, agarrada a Edward como um porto seguro, finas lágrimas descendo por suas bochechas.

– Eu não vou te pedir algo que você não pode fazer, então tudo que eu te peço é isso: volte pra mim. Eu sei que você pode fazer isso. Abra seus olhos e grite comigo sobre como eu sempre deixo a toalha molhada em cima da nossa cama. Volte pra casa e reclame por eu te interromper enquanto você estuda um processo. Acorde e deixe eu te dizer como você é tudo o que eu sempre quis e que eu sou muito mais feliz porque tenho você a meu lado. Por favor... acorde.

Ele fungou e levou uma das mãos aos olhos, limpando algumas lágrimas que haviam escorrido. Ao olhar no relógio, ele se inclinou e deu um beijo em sua testa, se levantando em seguida, pegando o livro e indo na direção da porta. Ele deu uma ultima olhada nela antes de sair. Rosalie soluçou novamente, e saiu do quarto às pressas, correndo pelos corredores do hospital até encontrar o que procurava.

Ao vê-la, Emmett ficou confuso. Antes que pudesse perguntar qualquer coisa, ela correu em sua direção e se jogou contra ele, os braços ao redor de seu torso e soluçando com força, sem dizer palavra alguma, enterrando o rosto em seu pescoço. Ele lentamente envolveu-a em seus braços, apertando-a contra si e mergulhou o rosto nos fios louros, dando a única coisa que poderia lhe oferecer ali: um pequeno gesto de conforto.

– Quantos dias já se passaram? – ela perguntou suspirando, as costas em uma maca no meio de um corredor agitado do hospital, as pernas contra a parede e a cabeça pendendo para fora da parte acolchoada. Emmett estava sentado no chão, de frente para ela.

– Quinze. – Emmett respondeu de forma lenta.

– Meu Deus, parece que foram décadas! – ela lamentou.

– É, isso é meio que uma droga aqui. Talvez os dias pareçam diferentes para nós, mais longos. – ele deu de ombros.

– Como você conta isso, de toda forma? – ela franziu o cenho.

– O médico no meu quarto. – ele respondeu.

– Eleazer? – ela perguntou. Ela já havia o notado lá — além dele também ser seu médico, ela já o conhecia por causa do pai.

– Sim. Ele me checa uma vez por dia, todos os dias, desde que eu dei entrada aqui. – ele explicou.

– Ele é seu médico também?

– Não. – ela o encarou, esperando por mais.

– Por que então...

– Ele é meu pai. – ele interrompeu antes que ela tivesse que perguntar.

– O que? – ela soou surpresa e levantou-se, sentando direito na maca. – Eu achei que Garret era seu pai.

– Eu também pensava. – ele deu um riso sem humor.

– Como então...

– Eu descobri quando estava aqui. – ele interrompeu novamente. – Eu o vi conversando com minha mãe. Meu pai não sabe sobre isso. Eles tiveram um caso.

– Oh, eu sinto muito, Emmett. – Rosalie franziu os lábios enquanto o olhava.

– Pelo que? – ele sorriu. Rosalie parecia confusa.

– Bem... Por isso, você sabe... Seu pai e o caso e essas coisas. – ela disse meio incomodada e Emmett sorriu mais.

– Está tudo bem, não é como se alguém tivesse morrido. Além do mais, foi há muito tempo atrás e agora meus pais tem um casamento bom e feliz. Eu prefiro não pensar sobre isso. Garret é o meu pai, foi ele quem esteve comigo durante toda a minha vida.

– Isso é doce. – Rosalie deu um sorriso de lado. Emmett deu de ombros.

– Não, é apenas a verdade.

– Eu não sei se conseguiria receber isso tão bem quanto você. – ela ponderou. Ele deu um riso curto.

– Baby, eu estou aqui há quatro meses. Eu tive mais que bastante tempo para digerir a situação.

– Como foi seu último relacionamento?

– O que?

– Seu último relacionamento, ué. Você casou, vocês se separaram, vocês se divorciaram, você a matou... O que aconteceu?

– Se eu a matei? Qual o seu problema? – ele a encarou franzindo a testa e ela deu de ombros.

– Tédio. De toda forma, o que aconteceu?

– Eu estava prestes a me casar. – ele murmurou.

– E...?

– E aí fui assaltado e vim parar aqui.

– Quem é sua noiva? Eu não me lembro de ver ninguém além de sua mãe do sexo feminino te visitando.

– Ela... Ela terminou comigo. Não sei se esse é o termo certo. – ele encolheu os ombros e Rosalie o encarou.

– O que você quer dizer? – ela soou confusa.

– Depois de mais ou menos três meses, ela disse que não podia mais suportar isso. Falou à minha mãe que não voltaria aqui e assim o fez. Ela foi embora do hospital em uma terça feira e eu nunca mais a vi.

– Emm, eu sinto muito. – ela franziu os lábios.

– Tudo bem, ela seria uma esposa terrível de todo jeito. – ele disse com a voz firme e deu de ombros, forçando um sorriso. Rosalie colocou a mão sobre a dele e a apertou fracamente.

– Eu tenho certeza que você vai encontrar alguém melhor, assim que a gente sair daqui. – ela prometeu.

Se a gente sair. – ele murmurou baixo o suficiente para que ela não entendesse.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi gente!Eu sei, eu sei... Falei que não ia mais escrever por um tempo. Mas essa one (sim, é uma one que acabou grande demais, aí tive que dividir porque né... otherwise, daria muita perguiça pra ler) tava praticamente pronta e me assombrando há muito tempo. Daí como a faculdade tá de greve e tô com tempo livre resolvi terminar ela e postar, porque eu tava morrendo de saudade de escrever e de voces.Enfim, e aí, gostaram? O resto da one vem rapidinho, rapidinho mesmo, tipo, amanhã ou depois, nem vai parecer eu pela rapidez com a qual vai ser postada heheh. Anyway, reviews? Espero que vocês leitoras queridas ainda estejam por aí! Um beijo enorme!