Capítulo 4

Se você olhar de perto, o olho pode dizer mais do que você pensa
Um simples borrão pode se tornar algo
Uma luz vira uma sombra
O mundo fica colorido
Olhe nos meus olhos

Jessie J – Nobody's Perfect

Acordei exausta no dia seguinte, não havia dormido bem na noite anterior. Estava no segundo dia oficial como Katherine Pierce e já me sentia cansada como se um caminhão houvesse passado por cima de mim.

Eu já estava morrendo de saudades da minha família e amigos. Se eu ainda fosse Elena Gilbert, hoje seria o tipo de dia que Caroline aparecia na porta da minha casa fazendo o maior escândalo por nada. Ri com nossas lembranças de anos de amizade, eu queria poder contar para ela sobre tudo isso, mas ela surtaria e era muito possível que ela contasse para os outros.

Logo depois de escovar os dentes, meu celular tocou, era Isobel, “minha mãe”.

– Oi mãe – Era estranho chama-la assim, mas por hora era necessário.

– Hoje você vai para casa do Damon – Ela disse.

– Bom dia para você também – Revirei os olhos enquanto ia para o closet – Fazer o que lá?

– Katherine! – Ela me repreendeu com a voz autoritária – Eu já disse para você: você tem que conquista-lo ou esse casamento não vai acontecer, você sabe que precisamos do dinheiro dele.

– Ele é horrível – Respondi – Ele foi super ignorante comigo ontem.

– Não responda para ele, mostre que você é uma garota de classe. A família dele está te esperando para almoçar com eles hoje, não se atrase.

Logo depois ela desligou. O que Katherine era para Isobel, uma marionete? Como uma mãe não se importa com o jeito que a filha é tratada? Ah mas se aquele estupido pensa que vai ficar por isso mesmo, está muito enganado.

Eu estava disposta a fazer a boa moça, mas eu também me preocupava com o futuro de Katherine, não que ela merecesse, já que parecia ser tão egoísta e interesseira quanto a mãe, mas porque era involuntário da minha parte. Umas das coisas que eu havia aprendido com a minha mãe era ser solidária. Eu espero que “solidaria” se encaixe nesse quesito.

No meio do enorme closet, eu tentava escolher alguma roupa, eram tantas que eu ficava indecisa. Era um almoço em família, mas eu pretendia ir para o show de Stefan depois e tirar a limpo tudo isso.

Escolhi uma blusa rosa bem claro um pouco soltinha de tecido fino, e uma saia de pregas preta. Entre tantas sandálias, escolhi uma rosa com detalhe de asas na frente. Fiz uma trança pequena em cada lado da cabeça e amarrei atrás com um elástico. Passei uma maquiagem simples, apenas delineador e gloss.

O frio ainda não havia passado, então eu peguei um casaco e o vesti. Com o celular e a chave do carro nas mãos eu sai. A casa de Damon não era longe – havia um papel no carro com todos os endereços importantes –, então em menos de vinte minutos eu havia chegado. Era uma mansão, com arvores altas a cercando e um lindo jardim bem cuidado.

– Senhorita – A porta foi aberta por um empregado e novamente eu entreguei a chave para ele ser estacionado.

O portão já estava aberto, então eu entrei e segui por um lindo e longo caminho de flores e grama até a casa. Na entrada, Elizabete me esperava com um sorriso amistoso.

– Katherine, que bom que chegou.

– Olá, Srª. Salvatore – Eu disse, aceitando seu abraço.

– Ora, me chame de Elizabete, por favor. Daqui a pouco tempo seremos como mãe e filha, certo? – Ela sorriu, guiando-me para dentro da casa – Damon ainda não está, mas Stefan chegou essa manhã, ele disse que queria lhe ver, ele está no jardim de trás da casa. Ah, e se quiser pode esperar Damon no quarto dele, ele não vai se importar.

– OK, obrigada.

Ela assentiu e se afastou, indo para outro lugar. Eu não conhecia nada daquela casa, então peguei um corredor aleatório, tentando chegar ao tal jardim. Depois de me perder várias vezes, achei o lugar.

Como na frente da casa, ali havia muitas arvores, e havia um caminho de concreto até uma fonte, ao lado havia uma espécie de cabana, alguns bancos e o telhado de palha, havia também a parte de dentro, que parecia ser bem grande, e eu imaginava o que tinha dentro. Stefan estava ali, sentado sobre um dos bancos de madeira.

– Olá – Eu disse ao me aproximar, com certa dificuldade por causa do salto.

– Oi – Ele se levantou sorridente – Você está... linda!

– Obrigada – Sorri – Sua mãe me disse que você estava querendo falar comigo.

– Eu estava – Ele se aproximou. Mesmo com apenas dezoito anos, Stefan era bem mais alto que eu, e possuía tantos músculos quanto o irmão, apesar da cara de bebê – Eu estava morrendo de saudades de você.

Ele segurou minha cintura e inclinou a cabeça como se fosse me beijar, mas antes que isso acontecesse, eu o empurrei.

– O que está fazendo, Stefan? – Indaguei perplexa. Não sei se ficava indignada com Stefan ou com Katherine.

– Katherine, você me disse que quando eu voltasse nós aproveitaríamos – Ele respondeu, parecendo confuso.

– Isso foi antes...

– Antes do que?

– Olha... – Procurei as palavras – Não podemos mais fazer isso ok? É errado!

– E desde quando você se importa?

Ele se aproximou e novamente tentou me beijar. Stefan segurou minha cintura com uma mão e com a outra minha nuca, me impossibilitando de fugir de seu beijo. Ele colou seus lábios no meu e tentou ter algo mais, mas eu fechei a boca e tentei o empurrar. Após perceber que ele não teria o que queria, me soltou. Seu olhar parecia o de um cachorro que acabara de ser abandonado pelo dono.

O que Katherine fizera com aquele garoto?

– Não podemos mais.

Após dizer isso, eu me virei e fiz o caminho de volta para casa, não olhando para trás. Katherine estava traindo seu noivo com o cunhado, o quão errado isso era? Cada ação que eu descobria dela, mais nojo eu sentia. Como alguém assim poderia ter o mesmo rosto que eu?

Perguntei para alguma funcionária que passava onde era o quarto de Damon, e ela me levou até lá. Agradeci e entrei.

O quarto, como o resto da casa, era bem rustico. O chão era de madeira, e no centro havia uma cama de casal com dossel. Possuía uma cômoda de cada lado, e um recamier no pé da cama revestido em couro. No outro lado do quarto, havia um sofá e ao lado uma estante com a TV e outros aparelhos eletrônicos. Do outro lado, uma varanda fechada com portas de vidro e madeira, com uma longa cortina a escondendo.

Dentro do quarto havia o closet e um banheiro, o que não era de se espantar. O banheiro era tão grande quanto o quarto. Havia um espelho do tamanho da parede e ao lado a pia que possuía um suporte em baixo com tolhas e afins, em cima dela havia até dois vasinhos de flores. No meio do banheiro estava a banheira, grande e marrom. Em outra parte estava o vaso sanitário com outra pia mais simples.

Todo o ambiente parecia ter saído do século passado, eu nunca imaginaria que Damon vivesse em um lugar como aquele, parecia tão diferente dele.

Voltei para o quarto, e comecei a olhar suas coisas. O quarto estava um pouco bagunçado, e possuía várias coisas jogadas, desde roupas a livros e carregadores. Ri com sua “bagunça organizada”. Pendurado em uma parede, estava um violão simples. Ver aquilo me trouxe lembranças de quando eu era menor e todos íamos para a casa na praia que a família da Caroline possuía. Todos nos juntavam em uma roda na areia, acendia uma fogueira e começávamos a cantar e tocar.

Tirei o violão do suporte e sentei na cama. Foi automático começar a tocar, dedilhar as notas que já estavam gravadas na minha mente, era como reviver todas aquelas lembranças. Enquanto eu tocava, eu me sentia Elena Gilbert novamente.

– Ótimo, nem nos casamos e já está usando minhas coisas.

Dei um pulo na cama de susto, e o violão só não caiu no chão porque Damon o segurou e devolveu-o para seu lugar. O olhei enfurecida.

– Você me assustou, seu idiota – Eu disse, levantando-me da cama para poder encara-lo de frente, claro que não ajudava muito já que ele era centímetros mais alto que eu e bem mais musculoso.

– Idiota? – Ele repetiu irônico – Eu sou idiota?

– Idiota e estupido. Não há porque você tratar como se eu fosse qualquer uma, eu sou a sua noiva, e como você, isso não me agrada – Respondi, tentando me controlar para não gritar – Estou cansada desse seu jeito arrogante.

– Não sou eu que estou casando por dinheiro – Damon retrucou.

– Oras, seu... – E quando eu percebi minha mão já havia alcançado seu rosto em um tapa que fez ele virar o rosto. Ele me olhava chocado com minha atitude.

– Então eu sou idiota e estupido? – Ele riu irônico, ameaçador, alisando a bochecha atingida, e começou a se aproximar de mim enquanto eu dava passos vacilantes para trás.

– H-hey... ­– Gaguejei – Por que você... Fique ai.

– Você não acha que eu sou lindo e sexy também? – Perguntou retórico e quando eu vi, eu já havia caído na caído e ele por cima de mim, se apoiando em seus cotovelos para não cair sobre mim – Peça desculpas.

– Pedir desculpas? Para você? – Ri irônica – Nem morta – Sussurrei provocante em seu ouvido, sorrindo vitoriosa.

– Não? – Neguei – Ótimo.

Eu pensava que ele ia se afastar já esperava por isso, mas invés disso ele se aproximou ainda mais e me beijou. Não foi um beijo, apenas um roçar de lábios, mas de tão chocada que eu fiquei nem consegui piscar, enquanto ele se mantinha sobre mim. Depois de longos segundos ele se afastou. Em pé, ele ajeitou a gravata e me olhou vitorioso.

– Seu... Seu... – Minha vontade era de tacar aquele violão nele, para ele aprender a me respeitar.

– Vai me xingar novamente, Katherine? Eu pensaria duas vezes antes de fazer isso – Ele piscou um olho e saiu do quarto, me deixando lá com cara de tacho.

Ah, mas se ele achava que ia ficar por isso mesmo, estava muito enganado! Ou eu não me chamava Elena Gilbert!