Capítulo 3

Eu fico olhando para meu reflexo no espelho
Porque estou fazendo isso comigo mesma?
Perdendo minha cabeça em um pequeno erro
Eu estava perto de deixar meu verdadeiro eu na prateleira

Jessie J – Who Are You

Ok, sem pânico, Elena!

Caroline estava no salão principal e conversava com alguém, eu precisava passar por lá para chegar ao banheiro, mas como fazer isso sem ela me notar?

Corri – mesmo de saltos – até um dos pilares e me escondi atrás dele, observando-a de longe. Quando ela estava de costas para mim, aproveitei e fui para o banheiro. Me apoiei na pia e suspirei, olhando minha imagem no espelho.

O que ela estava fazendo aqui, droga? Qualquer deslize e ela me descobriria, até porque ela nunca acreditaria se eu lhe dissesse que eu sou Katherine Pierce e não conheço nenhuma Elena Gilbert. Somos amigas desde crianças, Caroline era aquela pessoa que me conhecia melhor que eu mesma.

Lavei o rosto tentando me acalmar. Após alguns minutos sai do banheiro. Avistei de longe Caroline, ela ainda estava aqui. Com cuidado, caminhei para longe dela, mas parece que algo a fez olhar em minha direção. Assustada, corri para algum dos sofás que havia por ali. Praticamente deitei nele, tentando me esconder dela. Espiei e percebi que ela já estava com a atenção voltada para outra coisa, felizmente ela não me viu.

– Só pode ser brincadeira – ouvi uma voz irônica e incrivelmente sexy e olhei para cima. A primeira coisa que eu vi foram os olhos azuis como o céu no seu melhor e mais belo dia, a segunda foi o olhar incrédulo e a expressão fechada. Era Damon.

Só então percebi como eu estava: completamente desengonçada naquele sofá, o que certamente não era o esperado de uma dama. Me levantei na hora e ajeitei o vestido, sentindo-me envergonhada demais para encara-lo.

– O que foi? Não vai mais falar com o seu noivo? – Ele indagou, arrogante.

– O que? Por que está falando assim comigo? – Perguntei, indignada. Katherine deixava ele a tratar daquela forma?

– Eu deveria trata-la diferente?

Minha vontade era esfolar o lindo rostinho do meu noivo, mas apenas o ignorei e empinei o nariz, passando em sua frente em direção a sala onde seria o almoço. Era apenas a primeira vez que eu o via, e já conseguia entender o porquê de Katherine não querer casar com ele.

Ouvi ele bufar atrás de mim e correr para andar ao meu lado. Olhei feio para ele vendo-o revirar os olhos.

Não demorou para chegarmos na sala. Todos o cumprimentaram, mas percebi que Elijah se obrigava a isso, como se não gostasse dele. Eu que não julgaria!

– Damon, onde está Stefan? – perguntou Elizabete. Eu não conseguia imaginar ela como mãe, ela tinha uma aparência tão jovem e ao mesmo tempo parecia tão passiva.

– Eu não sei – ele disse após se sentar ao lado da mãe, na minha frente – Ele me disse que viria.

Não demorou para o almoço chegar. Eu não saberia dizer o que era aquilo, mas a quantidade que havia no prato não daria nem pro buraco do dente.

Nessas horas eu agradeceria minha mãe por ter me colocado para fazer aulas de boas maneiras quando eu era adolescente, digamos que eu não era a melhor garota com quinze anos.

– Katherine, eu soube que você toca piano – Disse Giuseppe após um longo tempo de silencio.

– Sim –Eu sorri – Eu adoro tocar piano.

O assunto durante aquele tempo todo foi sobre as habilidades de Katherine e seus gostos. Tudo que eu falava era tirado do livro que Katherine havia me dado, como uma cópia. Às duas da tardes eles resolveram que era hora de ir embora.

– Eu adoraria ficar mais, mas tenho tanta coisa para fazer ­– Disse Elizabete – Foi um prazer passar esse tempo com você, Katherine, espero que possamos marcar um encontro apenas nós duas.

– Claro, será um prazer – Eu disse, a abraçando.

– Damon, por que você não a leva para casa? – Disse Isobel de repente – Katherine, vou precisar do seu carro – Mas enquanto ela falava, ela piscou discretamente um olho e sorriu. Só podia ser brincadeira.

No fim das contas, eu estava no carro de Damon. Não conversamos nada e o silencio era constrangedor.

– Incrível como você ganhou o coração deles rápido. Quanto tempo será que você manterá essa máscara? – Ele perguntou, Damon estava concentrado na estrada, e parecia bem sério. Qual era o problema dele com Katherine?

– Máscara? – retruquei sarcástica, cansada daquele gênio dele – Você nem ao menos tenta ter uma conversa saudável comigo, imagino então como será quando estivermos casados.

– Não é como se isso importasse para você, já que você está interessada no meu dinheiro – Ele sorriu irônico, me olhando cínico por três segundos até voltar a atenção para a pista.

– Sério... – Bufei de raiva e me encostei no banco. Ele tinha razão, Katherine estava casando com ele por dinheiro, mas vê-lo me tratar assim, como se eu fosse um cachorro, desculpe mundo, eu não deixaria por isso mesmo.

Felizmente o caminho não era longo, e logo chegamos no prédio – meu prédio. Ele saiu do carro e abiu a porta para mim, apenas por educação, porque a cara de entediado dele dizia que ele não queria estar ali tanto quanto eu.

– Volte bem – Eu lhe disse após sair do carro. Ele assentiu e entrou, dando partida e sumindo das minhas vistas.

Ahh, isso havia sido cansativo!

Passei pela portaria e cumprimentei o porteiro, ele me olhou surpreso e me cumprimentou de volta gaguejando, os olhos esbugalhados como se tivesse visto um fantasma. Cada vez mais eu me surpreendia com o tipo de pessoa que Katherine era. Antes de eu entrar no elevador, meu celular – celular de Katherine – tocou na bolsa.

– Alô?

– Não olha mais o identificador de mensagens? – Era uma voz animada. Desencostei o celular da orelha para ver quem era. Stefan, meu cunhado.

– Oi Stefan – Nessa hora as portas do elevador se abriram e eu entrei – Você não apareceu hoje.

– Eu te disse que não ia – Respondeu – Você vai ir para o show amanhã?

– Show? – Indaguei confusa, Katherine não havia me falado sobre isso.

– É, minha banda vai se apresentar. Você havia dito que não ia, mas eu queria muito que você estivesse lá. Você sabe como apenas sua presença me acalma – A voz de Stefan estava sensual, como se tentasse me seduzir, não parecia a mesma que eu ouvi ao atender o celular.

– Stefan... – Seria mesmo o que eu estava pensando? – Hã... Eu vou ver.

– Aee! Era isso que eu precisava ouvir – Ele riu – Katherine?

– Oi?

– Eu te...

– Stefan, preciso desligar. Beijos.

Desliguei a chamada na hora, assustada demais para conseguir dizer algo para Stefan. Ele tinha dezoito anos, e era irmão do noivo dela! Como ela pode fazer isso? E como ele conseguia? Era o irmão dele, droga! Primeiramente, por que eu fui me meter nessa confusão? Parabéns Elena.

Sai do elevador e fui para o meu apartamento, ainda não havia me acostumado a chama-lo de meu, e ele ainda me parecia vazio demais.

– Katherine?

Pulei de susto e soltei um grito, meu coração indo pra boca. Era Elijah que me chamava da cozinha.

– Oi – Entrei e me sentei em um banco do balcão, na frente dele. Ele sorriu para mim, beijando o topo da minha cabeça – Você me assustou.

– Me desculpe – Ele disse – Você está bem?

– Estou – Respondi, levantando-me para pegar um copo d’agua.

– Eu estava falando com a mãe – Ele começou, me encarando – Ela está aliviada que você desistiu da ideia de fugir. Eu também estou.

Naquele momento eu senti muita pena de Elijah. O olhar que ele me lançou era de puro amor, aquele amor genuíno que dizia que poderia fazer qualquer coisa pela pessoa... por Katherine.

Eu sorri para ele, me aproximando. Coloquei minhas mãos em seu rosto, e nas pontas dos pés beijei suas bochechas.

– Eu estou bem aqui – Eu disse.

Ele me abraçou pela cintura, apoiando a cabeça em meu ombro.

– Ainda bem – Ele respondeu, soltando uma leve risada.