Capítulo 35

Você está esperando pela melhor desculpa?
Você está esperando por um sinal para escolher?
Enquanto espera, é o tempo que você está perdendo
O que você está esperando?
Você não quer abrir suas asas e voar?
Você não quer realmente viver a sua vida?
Você não quer amar antes de morrer?
O que você está esperando?

Nickelback - What Are You Waiting For

Tudo estava desmoronando, essa era uma certeza, mas ao mesmo tempo, uma parte começava a se erguer e lhe trazer esperança de um futuro melhor.

Isobel lhe sorriu na porta vestida com as típicas roupas chiques e o cabelo em um coque, seu sorriso era amável, como uma mãe que reencontra sua filha perdida. Estendeu os braços recebendo Elena em um abraço apertado. Essa era parte que começava a se erguer.

Havia se passado uma semana, Isobel havia recebido alta e Elena também, que como a mãe, teve uma simples queda de pressão. Elas estavam em casa. Era estranho para Elena pensar naquela casa como sua casa, mas era um fato que ela levaria consigo, aquele era o lugar que ela poderia voltar sempre que fosse embora.

Isso a fazia lembrar de Jeremy que estava aceitando toda aquela história maluca muito bem. Como ele disse antes, ele resolveu deixar o passado no passado e focava agora em dar atenção à irmã e a sua nova família que havia praticamente o adotado. Era bom! Era uma atmosfera boa que Elena gostaria de permanecer para sempre.

E claro, havia a irmã gêmea. Aos poucos, Elena e Katherine iam construindo uma relação, elas não forçavam, mas vez ou outra davam sorrisos cúmplices uma para outra, um aperto de mão significativo ou até mesmo um simples olhar. Com as personalidades e corações se moldando a tantas novas descobertas, elas não precisavam de muito.

E como não era de se espantar, a notícia logo se espalhou pelo mundo. O término do noivado de Katherine e Damon foi a bomba jogada no meio dos internautas malucos por eles, depois a notícia de que a família Pierce tinha uma filha perdida e que voltara para casa depois de anos. Isso foi o suficiente para o nome Pierce subir e conseguir seu posto novamente, eles não precisavam mais dos Salvatore, ou seja, Katherine estava salva do casamento e podia seguir sua vida. Elena todo dia se perguntava como a internet descobriu sobre ela, mas claro, eles não sabiam nem um terço da história.

Voltando a família Salvatore, todos souberam pelas notícias espalhadas pela internet e fizeram a conexão de que a Katherine com quem eles conviveram no último mês era na verdade a irmã gêmea perdida de Katherine, Elena.

E com essa bomba, Stefan acabou voltando para casa antes que sua turnê acabasse, chocado, abismado e completamente confuso. Ele se sentia no direito de receber uma explicação das gêmeas Pierce, e a primeira coisa que fez quando chegou foi busca-la.

Ele dirigiu até o prédio de Katherine, e passou o dia lá, esperando ela aparecer. Às oito da noite ele viu a cabelereira cacheada e os saltos entrarem no prédio em direção ao elevador, ele correu para alcança-la. Com os sentimentos confusos, ele puxou seu braço, fazendo-a vê-lo.

– Stefan! ­– Ela arregalou os olhos, surpresa pela presença do mais jovem.

– Você é a Katherine, certo? – Naquele momento, Stefan lembrava uma criança completamente perdida.

– Você viu as noticias ­– Ela suspirou, encarando o chão.

– Vi, e eu sei que não foi você que terminou comigo e sim Elena, então nós....

– Nós acabamos, Stefan, sinto muito – Katherine respondeu.

Por mais que o momento fosse triste, aquela foi a primeira vez que Katherine enxergou Stefan como alguém a sua altura. Todas as promessas que ela fez para ele eram sem fundamentos, mentiras, mas agora, pela primeira vez, ela se sentia verdadeiramente feliz ao falar com ele, porque pela primeira vez ela não estava mentindo.

– Mas você me disse... – Stefan não se importava que agora parecesse uma criança ao deixar as lágrimas caírem na frente da mulher que amava e tanto almejou como sua.

– Eram mentiras, eu nunca te amei – Por mais que doesse, Katherine tinha que lhe dizer a verdade. Por muito tempo a mentira tomou conta de seu ser, agora ela queria deixar ela ir, queria se redimir e se tornar uma pessoa melhor – Me desculpe por tudo, Stefan, e eu espero que me perdoe.

Stefan a soltou de seu aperto, sentindo seu coração doer no peito, como se mil facas o atravessassem. Ele fez muito por Katherine, mentiu e traiu a confiança do irmão. No fim, do que adiantou? Levar um pé na bunda? Foi tudo que valeu?

Katherine o olhou, suas mãos foram para os cabelos quase loiros do ex-amante e fez uma caricia suave, sorrindo para ele. Aquilo deu a certeza para ambos: estavam acabados, não havia futuro para eles.

E pela última vez, Stefan viu Katherine lhe dar as costas.

Aquilo foi dolorido, mas não era como se ele nunca houvesse imaginado aquele destino para ambos, ele não era uma criança por mais que muitos pensassem assim. Stefan estava disposta a deixar a imaturidade de um garoto de dezoito anos para trás no momento que Katherine lhe deu as costas e entrou no elevador. Ele limpou as lágrimas e ergueu a cabeça, deixando o prédio que tantas vezes foi palco para o romance deles.

Stefan foi em busca do irmão mais velho, e sabia que ele estava na empresa ainda. Sua mãe mantinha contato consigo sempre, deixando-o saber de tudo que acontecia na família, e um dos assuntos era o confinamento de Damon na empresa. Ele se jogou no trabalho tentando esquecer as últimas semanas de sua vida, tentando esquecer Elena, na verdade.

O shopping estava cheio apesar do horário. Stefan seguiu seu caminho, sendo parado algumas vezes por fãs pedindo fotos e autógrafos que com um sorriso no rosto ele atendia. Ele pegou o elevador até a sala do irmão e entrou sem bater, vendo o homem de vinte e nove anos, dono de olhos azuis que antes costumava se cuidar e ser bem vaidoso, mas que agora deixava uma barba rala crescer e os cabelos bagunçados.

– Nunca imaginei te encontrar nessa situação – Disse Stefan cruzando os braços e sentando no sofá que havia ali. Damon largou a caneta e o encarou.

– Alguém tem que trabalhar nessa família – Ele respondeu em um murmuro.

– Você ainda acha que cantar não é profissão – Stefan sorriu, brincando com a caneta que estava sobre a mesinha de centro – Você realmente está velho, está parecendo um idoso.

– Obrigado pela parte que me toca. Você passa um tempo longe e isso é tudo que tem a me dizer? – Por mais que conversassem, Damon não encarava o irmão e continuava focado no trabalho.

– Não, eu vim aqui para te contar uma coisa.

Ao deixar a imaturidade para trás, Stefan estava disposto a deixar as mentiras também, isso incluía contar para Damon o quão idiota ele vinha sendo e o quanto ele não merecia ser seu irmão.

– O que acha de darmos uma volta?

– Suas fãs te deixarão em paz? – Damon debochou, largando mais uma vez a caneta e encarando Stefan.

– Então... – Stefan pareceu pensar – Que tal o terraço?

Damon assentiu, se levantando da cadeira e seguiu Stefan para o elevador. O terraço era um espaço proibido para os clientes e apenas Damon tinha acesso a ele. Ele colocou a chave no elevador, dando-lhes acesso ao terraço. Não demorou para começarem a subir.

Era um espaço grande e vazio.

– Você se lembra que vínhamos sempre aqui com o nosso pai quando éramos pequenos? – Stefan lhe perguntou, lembrando-se da infância.

– Você era pequeno, eu já era um adolescente – Damon disse, lembrando-se dos onze anos de diferença.

– Naquela época não havia mentiras – Stefan suspirou, caminhando até a ponta. Dali ele podia ver toda a cidade e seu movimento – Não havia malicia, segundas intenções.

– Onde quer chegar? – Sem se importar com o terno caro, Damon se sentou sobre um banquinho velho que estava ali.

– Eu tinha um relacionamento com Katherine – Ele respondeu de uma vez, afastando-se da borda do prédio, finalmente encarando o irmão que possuía uma expressão indecifrável.

– Eu sei – Damon suspirou, vendo que Stefan ficara chocado.

– Sabe? ­

– Sei – Damon encarou o céu, percebendo que ele estava estrelado, por algum motivo, as estrelas lhe lembraram Elena e sua doçura – Desconfiei no dia em que fomos para a fazenda, e agora eu tenho a certeza.

– E não está com raiva de mim? – Stefan o olhava preocupado.

– Por que terminaram? – Damon ignorou a pergunta do irmão fazendo outra.

– Um dia ela simplesmente terminou comigo – Stefan sorriu parecendo nostálgico – Agora eu sei que na verdade foi Elena que terminou comigo.

– Então você voltou com Katherine?

– Isso te incomodaria?

– Você é dono do próprio nariz agora, Stefan.

– Não voltamos – Stefan revirou os olhos com a indiferença do irmão – Ela não me ama, eu era só um capricho para ela.

Os dois irmãos se encararam por vários minutos sem dizer uma única palavra e sorriram cumplices um para o outro, era uma forma de dizer que estava tudo bem, a relação deles não seria abalada por uma mulher, como seu pai sempre lhes disse que nunca deveria acontecer. “Há várias mulheres espalhadas pelo mundo, mas você só tem um irmão para contar”, essas eram suas sábias palavras sempre que os três faziam algum programa juntos.

– O que você vai fazer agora? – Stefan perguntou – Vai mesmo se distanciar de Elena?

– Nosso relacionamento não tem fundamento – Damon respondeu sentindo sua cabeça doer – Fomos bons juntos, mas é só isso, ambos nos magoamos.

– Por que não tenta saber a verdade? Elena não parece o tipo de pessoa que usaria outra, se ela fosse, não teria terminado comigo na primeira oportunidade.

Damon ergueu uma sobrancelha para o irmão, ponderando sobre suas palavras.

Durante todo esse tempo ele havia apenas pensado em si mesmo, em sua dor, em como ele foi humilhado, usado, descartado como um papel de bala inútil, mas e sobre Elena? Por que ela, alguém que parecia tão humilde e correta, tomou a atitude de se passar por outra pessoa?

Ele estava indo conseguir suas respostas.

Stefan tentou chama-lo enquanto via o irmão correr para o elevador e apertar o botão desesperado, mas não tentou impedi-lo, invés disso, ele sorriu, vendo pela primeira vez Damon esboçar uma reação de alguém normal.

Seria tarde demais para Damon conseguir seu amor de volta?