Capítulo 2

Toda noite você chora até dormir
Pensando "Por que isso acontece comigo?
Por que todo momento tem que ser tão difícil? "
Difícil acreditar nisso

Maroon 5 – Won't Go Home Without You

Eu havia feito minha escolha, uma escolha louca feita em uma hora desesperada, mas que agora eu não poderia voltar atrás.

Minha família e amigos achavam que eu havia viajado a trabalho, mas eu estava mais próxima deles do que eles imaginavam.

Eu não saberia dizer o quão difícil seria viver como Katherine Pierce durante um mês, éramos tão diferentes.

Estávamos em seu apartamento, ela me explicava tudo sobre sua vida. Ela possuía apenas a mãe, Isobel, e um irmão adotivo, Elijah. Como eu, ela tinha vinte e um anos. Sabia falar três idiomas: inglês, francês e espanhol, era formada em direito pela Universidade de Nova York, mas não exercia a profissão, já que era seu irmão que comandava a empresa da família, de advocacia.

– Eu odeio peixe, e comida japonesa, em hipótese alguma entre em um restaurante japonês – Ela dizia coisas desse tipo enquanto andava pelo quarto que agora era meu, pelo menos por um tempo.

Enquanto ela falava as coisas sobre ela, mais eu me sentia perdida. Eu amava peixe e comida japonesa, como poderia se passar por ela quando éramos completamente o oposto?

No fim de tudo isso, ela ainda me passou todas as informações por escrito, como se fosse uma prova que eu deveria estudar. Depois ela me mostrou o closet dela, e os tipos de roupas que ela usava.

– Ok, Elena, a partir de hoje, você é Katherine Pierce. Nas ultimas folhas tem fotos e nomes de todas as pessoas próximas a mim – Ela disse – Você tem que ficar com o meu celular – Ela me passou o celular enorme que possuía uma capinha de proteção rosa cheia de detalhes. Necessário? Não – Ah e eu quase me esqueci, amanhã você tem que se encontrar com o seu noivo, sua família e a família dele também estarão lá!

E depois disso ela saiu do apartamento arrastando uma mala. Seu disfarce era: cabelos lisos, roupas comuns – comuns que para mim seriam chiques –, óculos e um boné. Para onde ela iria? Não fazia a menor ideia. Bom, no fim das contas não éramos nada para ela me compartilhar isso.

O quarto de Katherine equivalia ao meu apartamento inteiro, era tudo de última geração e bem arrumado, mas parecia sem vida, como se ninguém morasse ali.

Após andar pelo apartamento inteiro pela quarta vez, comecei a me perguntar onde eu estava com a cabeça quando aceitei essa loucura.

Eu não tinha mais emprego, nem conhecia ninguém que Katherine convivia. O que eu faria daqui para frente? Isso! Eu deveria me esforçar para ninguém descobrir que na verdade eu sou Elena Gilbert.

Por um mês, Elena Gilbert não existe mais. Apenas um mês!

Às oito da noite, eu resolvi preparar algo para comer, mas os armários e geladeiras estavam vazios. Sério, como essa garota sobrevivia?

Katherine havia me deixado uma boa quantia de dinheiro para “viver como ela vivia”. Peguei uma pequena quantia e sai à procura de algum supermercado. Meus cabelos estavam amarrados por causa do vento terrível que fazia do lado de fora, e eu imaginava a bagunça que ele estaria quando eu soltasse, já que agora eu teria que usá-lo diariamente cacheado, como Katherine.

Encontrei um mercado não muito longe. Percebi logo que Katherine não costumava fazer compras, já que quando eu entrei todos me olharam um pouco – talvez muito – impressionados.

O lugar onde Katherine vivia era um bairro chique, onde apenas pessoas de classe alta moravam, por isso não me surpreendi com os preços absurdos dos produtos.

Quando terminei com as compras, agradeci aos céus por ter vindo de carro – o carro de Katherine –, já que o carrinho estava cheio. Fui até o caixa e fiquei esperando até chegar minha vez.

– Katherine Pierce fazendo compras que não seja de roupas e bolsas? Estou impressionada – Virei-me surpresa pelo tom de voz prepotente da garota atrás de mim.

Eu não havia reparado nela até então, mas com certeza ela não era alguém que passava despercebida. Ela era um pouco alta e possuía cabelos loiros e ondulados até o meio das costas, pele branca e olhos azuis. Bom, ela conhecia Katherine, mas quem era ela? De repente, comecei a achar que não tinha sido uma boa ideia sair sem antes ler o “livro de relacionamentos e hábitos de Katherine Pierce”.

– ... – Tentei pensar em algo para falar – Sempre tem a primeira vez, não é? – Eu tentei usar a mesma voz irritante de Katherine, e parece que funcionou, já que a moça revirou os olhos e depois sorriu, tão falsa quanto a própria Katherine.

Guiei o carrinho até o estacionamento do mercado, colocando as coisas no porta-malas. O momento com a loira tinha sido terrível, imagine encontrar sua família e a família do noivo, inclusive o noivo?

Enquanto voltava para a casa de Katherine... Não, minha casa, eu pensava se a família dela sabia sobre mim. Seria impossível esconder deles, e eu rezava para que eles soubessem, ou então que eu fosse uma ótima atriz.

Guardei todas as coisas no armário da cozinha, e preparei algo simples como jantar. Eu amava cozinhar, e imaginava que agora eu teria tempo... bom, pelo menos um mês.

Tomei um banho e coloquei um pijama de lã, já que fazia frio. Sobre a cômoda ao lado da cama de casal, estava o “Livro de relacionamentos e hábitos de Katherine Pierce”, era um nome idiota, mas bem real. O abri e procurei pela foto da loira, a encontrei nas ultimas páginas. Seu nome era Rebekah, e no tópico “tipo de relacionamento”, estava escrito “amiga”, mas Katherine a descrevia como uma megera.

Sua mãe, Isobel, era descrita como uma mulher calma, inteligente e firme. Embaixo, havia algumas coisas que elas costumavam fazer juntas, como todos os dias almoçarem em um restaurante diferente. Ela não sabia cozinhar, e era péssima com trabalhos manuais.

Já Elijah, seu irmão adotivo, ela descrito como um amor de pessoa, seu melhor amigo. Ele era alguém bem-educado e passivo. Era ele quem cozinhava em casa, e ainda morava com sua mãe.

Enquanto eu li sobre Elijah e Isobel, percebi que Katherine realmente os amavam. Ela anotou cada pequeno detalhe. Datas de aniversário, comidas preferidas, hábitos e etc.

Não havia nada sobre seu pai. E sobre a família do noivo dela havia apenas nome e foto. Só então havia percebido que eu não sabia o nome do noivo de Katherine. Depois de falar sobre seus futuros sogros, Giuseppe e Elizabete Salvatore, estava Damon Salvatore.

Damon Salvatore. Noivo. Ele era... Lindo, se essa palavra poderia descreve-lo. Possuía cabelos negros curtos e olhos azuis, lindos olhos azuis, por sinal.

Após ler e reler aquelas fichas, a coloquei na cômoda e deitei. Eu tentei dormir, mas parecia impossível, cada vez que eu fechava os olhos vinha na minha mente a burrada que eu havia feito.

xxXxx

Você vai conhecer sua família e o seu noivo, o que você veste? Saia comportada, ou vestido? Sandália ou sapato? Cabelo solto ou preso?

O maior problema não era pensar no que vestir, e sim no que Katherine vestiria, ela não havia me deixado nenhum tutorial sobre isso e eu estava perdida em meio ao seu closet.

Colocava e tirava várias roupas e sapatos. Havia uma hora que eu estava ali dentro e parecia que um furacão havia passado.

No fim acabei escolhendo um vestido verde, mas não era um vestido simples. Ele era um pouco colado, mas nada vulgar, ia até o meio das minhas coxas. Ele era decorado com lantejoulas, e possuía mangas longas com o ombro um pouco bufante. Ele era elegante e parecia ideal para ocasião. Coloquei uma sandália de salto alto, e deixei meus cabelos soltos.

Elijah havia me passado o endereço pelo celular. Só naquela manhã havia lido aquelas informações sobre a vida de Katherine cinco vezes, eu já tinha decorado cada palavra, e parecia não ser suficiente.

Engoli o nervosismo, e fui para o carro. Coloquei o endereço no GPS e dirigi até o restaurante. Quando cheguei, percebi que era mais um shopping do que restaurante. Um chofer abriu a porta do carro para mim e estendeu a mão para eu sair, agradeci e lhe entreguei a chave do carro para ele estacionar.

Minhas pernas já tremiam logo quando eu entrei, e temi cair de cara no chão naquele momento – ou em qualquer outro daquele dia.

– Katherine – Virei assustada e com o coração na mão – O que houve? Você está pálida.

Era Elijah, ele parecia muito mais bonito pessoalmente do que na foto, e como Katherine havia descrito, ele parecia realmente bem calmo e passivo. Pelo jeito, Katherine não havia contado a sua família sobre mim.

– Ahh – Sorri, tentando espantar o terror que eu sentia – Não é nada, apenas um pouco ansiosa.

– Você está bem mesmo? – Ele indagou. Elijah segurou meu rosto entre suas mãos e me olhou preocupado. Preocupado com Katherine, não comigo.

– Sim, perfeitamente bem. Onde está a nossa... Mãe? – Imagino o quão difícil seria chamar Isobel de mãe.

– Ela está lá dentro, a família de Damon já chegou, mas ele não.

– Então eu estou atrasada? – Perguntei preocupada. Acho que não seria bom deixar uma má impressão sobre Katherine.

– Não – Ele riu, guiando-me com uma mão nas minhas costas – Eles que chegaram cedo, na verdade.

A sala onde almoçaríamos era privada e ampla, com janelas altas de vidro, e decoração rustica. Quando entramos, todos se levantaram.

– Katherine, que saudade, querida – Elizabete foi a primeira a se aproximar de mim, logo de cara percebi o quanto ela era parecida com o filho mais velho, possuía cabelos escuros e cacheados, e olhos azuis. Em sua voz percebi que na verdade ela não sentia tantas saudades assim da futura nora, estava apenas sendo educada.

– Claro, eu também estava – sorri e retribui o abraço.

– Katherine, é um prazer revê-la – o sogro de Katherine... bom, temporariamente meu sogro, se aproximou de mim e estendeu a mão em cumprimento. Ele possuía um sorriso caloroso. Giuseppe era mais parecido com o filho mais novo, seus cabelos eram castanhos e possuíam alguns fios brancos por causa da idade, e seus olhos verdes.

– O prazer é todo meu – Sorri de volta e apertei sua mão. Fui me sentar ao lado da minha mãe, ela sorriu e me abraçou, percebi que ela não tinha muito jeito para isso, mas mesmo assim retribui.

– Que bom que desistiu daquela ideia maluca e resolveu vir – Ela sussurrou em meu ouvido.

Ideia maluca? Imaginava o que era. Seria colocar outra em seu lugar para casar com Damon Salvatore? Se fosse, sinto muito mamãe Pierce.

– Onde está Damon e Stefan? Eles já deveriam estar aqui – disse Elijah, cordial.

– Peço desculpas pelos meus filhos, eles acabam sempre se atrasando – Elizabete disse, realmente envergonhada pela demora dos filhos.

– Sem problemas, Lizzie. O que acha de fazermos o pedido? – indagou Isobel, sorridente e educada.

– Claro, creio que eles não se importarão.

Arg, tantos sorrisos e olhares falsos estavam me enjoando!

– Se me dão licença, eu já volto – Sorri em desculpas e com a maior elegância que eu possuía, sai daquela sala que estava me sufocando.

Eu procurava o banheiro, mas parecia impossível encontra-lo naquele lugar enorme. Foi quando eu a vi. O que diabos Caroline fazia ali?