Capítulo 15

Há um tempo para recordar, um tempo para esquecer
Não há tempo para se arrepender
Está tudo bem, está ok
Você pode fazer o que você quiser
Não tenha pressa, vá embora
Você pode voltar se tiver de fazê-lo

It's Alright, It's OK - Primal Scream

Eu não sei o que me chocou mais. Se era os quatro estarem juntos, ou se era Miranda não aparecer grávida na foto, como Isobel, afinal eu possuía a mesma idade de Katherine. Mas eu não sabia sua data de aniversário, então com certeza deve haver alguns meses de diferença, essa era a única explicação para minha mãe aparecer magrinha naquela foto, como sempre foi.

– Katherine? – Virei o olhar assustada para Damon, que me chamava com o cenho franzido – Está tudo bem?

– Está... Tudo ótimo. Eu vou... Eu já volto.

Sem mais explicações, eu peguei o quadro e entrei naquele corredor que eu nem ao menos sabia na onde dava. Ele era escuro, mas uma luz vinha de um quartinho, permitindo-me observar melhor aquela foto.

Por que os quatro estavam juntos? Como eles se conheciam? O que significava Isobel estar grávida e minha mãe não? Será que eu sabia a verdade e não queria admitir? Porque se eu admitisse o que minha mente me dizia, eu estaria perdida, acabada, vivendo mais mentiras do que eu imaginei.

Mas como era possível? Eu não conseguia simplesmente aceitar aquela foto como algo possível.

Antes que eu entrasse em colapse de vez, ouvi passos e olhei para o inicio do corredor. A silhueta de Elijah apareceu, e ele caminhou até mim, seu olhar mostrava sua preocupação. Ele se aproximou, e antes que eu pedisse, ele me abraçou, com as mãos nas minhas costas, acariciando ali. Mesmo com o rosto enterrado em seu peito, eu não chorei, não havia o que chorar, eu acho.

– O que houve? Você saiu correndo e parecia nervosa. Nos deixou preocupados. Damon queria ir atrás de você, mas acho que ele não entenderia o que quer que fosse – Ele disse.

Eu não respondi, mas me afastei e lhe estendi o quadro. Ele olhou para foto e me olhou confuso, como se me perguntasse o por que.

– Essas duas pessoas – Apontei na foto – são meus pais, Elijah – E com o coração na mão, eu admiti, sentindo que finalmente as lágrimas estavam caindo.

– Mas... Como seus pais podem ser essas pessoas? – Ele me perguntou, parecendo tão perplexo quanto eu.

– O que quer dizer? – Indaguei.

– Essas duas pessoas, Elena, são os melhores amigos de Isobel e John, e desapareceram de suas vidas de uma hora para outra.

Eu quis chorar, quis gritar para o mundo, e perguntar para quem quer que fosse por que diabos aquilo estava acontecendo. Foi como se uma faca atravessasse meu coração. Tudo que eu conhecia, tudo o que eu vivia e acreditava... Tudo isso, de uma hora para outra se transformou em um grande nada. Minha vida inteira foi uma mentira, uma mentira que eu participei e fui a protagonista nela.

– Elena? – Elijah me chamou, tendo novamente minha atenção.

– Por que isso está acontecendo? Por que tudo tem que ser assim? – Perguntei, não para ele, talvez para o universo, mas eu sabia que Elijah não possuía a resposta – Me diga que nessa foto Isobel não está grávida de Katherine. Me diga que ela teve outro bebê antes dela! – Eu me agarrei a Elijah e a essa hipótese, como se ela acalmasse meu coração e me desse esperança.

Ele apenas me olhou tristemente e antes que eu caísse aos prantos no chão, ele me segurou pela cintura e amparou meu corpo como se eu fosse um bebê e chorasse por uma cólica terrível.

– Sinto muito, Elena – Ele disse, a voz baixa rente ao meu ouvido – Pare de chorar, você tem que voltar antes que Damon venha correndo aqui.

– Como? Minha vida está se despedaçando e eu não posso fazer nada para segura-la de pé.

– Sim, você pode. Pode manter a cabeça erguida e suportar por mais alguns dias, eu sei que é difícil, mas logo, logo tudo vai se revolver.

Aquilo não me confortou, mas me acalmou. Eu fui até o banheiro que havia naquele mesmo corredor e ajeitei minha cara da melhor forma que eu pude. Quando eu estava saindo, uma figura alta encostada na parede me chamou a atenção. Abri mais a porta do banheiro, para que a luz vinda de lá iluminasse seu rosto, ele estava de braços cruzados e possuía uma expressão estranha.

– O que houve? Você parece abalada – Ele disse, se aproximando. Ele tocou meu rosto e colocou uma mexa do meu cabelo atrás da orelha, e sorriu gentil.

– Não houve nada, eu estou bem – Menti o melhor que eu pude, mas eu não sabia o quanto Damon me conhecia mesmo nesse pouco tempo de convivência. Ele não pareceu acreditar.

– Deve ser algo realmente importante – Ele suspirou – Tudo bem, não vou te pressionar, na hora certa você me contará, certo?

Meu coração se aqueceu como se eu estivesse de frente a uma lareira, mas em minha frente havia apenas Damon, Damon e seu sorriso caloroso e suas palavras doces. Eu não deveria me aproximar ainda mais dele, e me deixar sentir aquela avalanche de sentimentos puros por ele, mas eu não conseguia evitar, e no segundo seguinte eu estava em seus braços, o abraçando.

Ele não disse mais nada, muito menos eu, apenas demos as mãos e voltamos para a sala. Isobel não estava mais lá, mas Elijah sim, ele lia um livro de capa dura sentado sobre o sofá elegantemente. Quando nos viu, ele sorriu e fechou o livro, o colocando na mesinha de centro.

– Nossa mãe já foi se deitar, pediu desculpas pelo infortuno, Damon, mas ela estava com dor de cabeça – Disse Elijah cordial, acho que apenas o chamava pelo primeiro nome por serem quase cunhados.

– Claro, não foi nada, espero que ela melhora.

– Ah sim, essas dores de cabeças são frequentes para ela que tem pressão alta, ela apenas tem que tomar os remédios corretamente, mas se eu não a lembro, ela esquece e tem as dores – Explicou Elijah. Mais uma coisa que eu não sabia sobre Isobel! – Bom, se me permitem, eu irei me deitar, acredito que você irá leva-la em segurança para casa, não é Damon?

– Sim, fique tranquilo, Elijah.

Elijah subiu as escadas em passos lentos, e não desgrudava os olhos de Damon no caminho. Quando ele finalmente virou o corredor e sumiu de nossas vistas, Damon se voltou a mim.

– Você já quer ir? – Perguntou.

– Se eu for, significa ficar longe de você? – Indaguei, tocando seu rosto como se quisesse decorar cada pequeno detalhe.

– Já está com saudades, Katherine? – A forma como ele dizia Katherine era maravilhosa, banhada em carinho e... talvez amor, mas me deixava um pouco triste saber que era por Katherine que ele clamava, e não por mim, Elena. Imaginei como seria incrível se ele dissesse Elena.

– Não está sendo um pouco metido, Sr. Salvatore? – Zombei, rindo, e também riu, pondo suas mãos em minha cintura.

– Apenas sincero – Damon sorriu. Quando ele pararia de ser tão perfeito? Esse era o número um do topo da minha lista de dúvidas sobre Damon Salvatore.

– OK, Sr. Sincero, vamos? – Me soltei de seus braços, pegando minha bolsa. Fui até a porta e deixei que ele passasse primeiro para depois eu sair. Só quando estava já no caminho para o carro que senti a brisa gelada e tremi inteira.

Ouvi uma risadinha conhecida e me virei. Damon tirava seu próprio casaco, e para minha total surpresa ele o colocou sobre meus ombros, beijando minha bochecha logo em seguida. Eu tenho certeza que corei da cabeça aos pés naquele momento. Me agarrei a seu casaco que possuía seu cheiro e o encarei, ele também me olhava. Intenso....

– Você, pequena Pierce, será minha perdição nesse mundo.

Ele me beijou! E novamente, eu não saberia explicar o que senti, como meu coração bateu rápido e como minhas mãos soaram, como eu sentia que dependia dele para me manter em pé naquele instante. Damon não sabia o quanto ele era a minha perdição, ele era meu mundo, ele era tudo o que eu precisava para respirar. Como podia, eu, Elena Gilbert, me apaixonar tão rapidamente por alguém, ainda mais um homem como Damon? Era correto? Era errado? Mas afinal, isso importava? Porque no momento, Damon era a única razão para eu não despencar de vez no abismo que minha vida se tornava a casa minuto que se passava.

Ele não me soltou, quando apartamos no beijo, ele ainda me segurava firme em seus braços, me encarando nossos olhos, olhares novos para mim. Será que esses olhares, motivos e razões, seriam suficientes quando nos separássemos? Será que ele saberia que Katherine era uma pessoa, e eu outra? Que a mulher por quem ele se apaixonou não foi Katherine? Meu coração tinha o desejo misto, ele queria que Damon viesse correndo até mim quando descobrisse a verdade, mas ele também queria que Katherine fosse feliz e conquistasse seus objetivos.

Eu sorri para ele, e selei nossos lábios novamente, como se respondesse tudo que estava em seu olhar. Ele sorriu de volta e finalmente entramos no carro.

Não demorou para chegarmos na minha casa. Uma musica calma tocava no rádio, ela não nos fez sentir falta de uma conversa, pelo contrário, foi agradável. De minuto em minutos, nós nos olhávamos e sorriamos, como dois adolescentes saindo no primeiro encontro. Seria assim para ele também, ou eu estava sendo idiota por pensar nessas coisas bobas?

– Muito bem, Katherine, está entregue – Ele disse após parar o carro em frente ao meu prédio.

Eu o encarei, ele se virou para mim e se aproximou me olhando nos olhos. Eu realmente achei que íamos ter mais um daqueles beijos que me deixavam rodando nas nuvens, então fechei os olhos e esperei, mas nada veio, apenas o som do cinto sendo libertado e uma risadinha. Abri um olho e vi Damon rindo, quase se dobrando com a mão na barriga. O olhei emburrada.

– Damon! Seu idiota – Abri a porta do carro para sair, mas antes que eu o fizesse, ele me puxou pelo braço e selou nossos lábios em um beijo apressado e quente.

– Você é hilária, minha adorável noiva – Ele disse, acariciando minhas bochechas com nossas testas coladas. Foi impossível não rir.

– Bobo!

Foi realmente difícil me despedir, cada segundo mais ao lado dele eu me sentia mais apegada, o que não era bom. Enquanto eu estava na sua presença eu sentia que eu podia tudo, que eu conseguiria suportar tudo, mas após me separar dele, finalmente o peso caiu sobre minhas costas, e eu me vi repassando cada descoberta do dia, cada hipótese. Quando aquilo acabaria? Seria meu relacionamento com essas duas famílias o carrasco da minha vida? Eu não queria ter que passar por tanta coisa. Talvez, se eu nunca tivesse ido àquela boate isso não estaria acontecendo e a única atrocidade da minha vida seria ter que ver minha vó cada vez pior.

Quando eu finalmente cheguei no quarto, meu celular tocou. Atendi sem nem ao menos ver quem era.

– Alô? – Minha voz era desanimada.

– Katherine, oh meu Deus, você está bem? Parece tão abalada – Era Elizabeth, carinhosa como sempre. Me deitei na cama após tirar os sapatos e sorri.

– Eu estou bem, apenas um pouco cansada.

– Damon não foi ruim para você, foi? – Ela perguntou, desconfiada.

– Ele não poderia ser melhor, Elizabeth – Respondi.

– Ah que bom ouvir isso, minha querida. Acho que Damon pensa a mesma coisa de você, ele anda tão animado esses dias. Essa é a única coisa que eu sempre almejei para meu filho: que ele fosse feliz ao lado de uma mulher incrível como você.

– Obrigada, Elizabeth – Eu sorri forçado, imaginando que Damon nunca se casaria comigo, e sim com a verdadeira Katherine.

– Ah sim, eu quase ia me esquecendo a verdadeira intenção da minha ligação – Ela riu – Este final de semana, todos nós vamos para a fazenda da minha família. É um lugar maravilhoso, eu gostaria muito que você fosse, sua companhia é muito boa, e acredito que você indo seja a única forma de fazer Damon aceitar ir conosco.

Minha única opção foi aceitar o convite, e seja o que Deus quiser!