Capítulo 14

O que quero dizer é que preciso de um final definitivo
Continuar imaginando encontros, vidas inteiras desejadas
É injusto não estarmos em algum lugar
Comportando-nos mal há dias
Grande fuga, perdi noção do tempo e do espaço
Ela é um fio de esperança, escalando o meu desejo

Arctic Monkeys - R U Mine

Tinha lá suas vantagens de Elijah saber que na verdade sou Elena, assim logo que eu contei do jantar ele passou o endereço. A casa da família Pierce não era longe do apartamento de Katherine, então não demorou para eu estacionar o carro em frente a linda e imensa mansão. Eles não estavam com dificuldades? Como mantinham uma casa daquela? Deixei minhas perguntas bobas de lado e sai do carro.

Elijah me esperava encostado na parede, ao lado do interfone. Quando me viu ele sorriu e veio até mim.

– Comprei as coisas para você – Ele disse – Estão na cozinha.

– Obrigada, Elijah – Eu sorri após cumprimenta-lo com um abraço.

– É incrível as diferenças entre vocês duas – Ele disse pensativo, mas parecia não falar comigo.

– Quanto mais eu vivo como Katherine, mais eu percebo as diferenças – Eu sorri para ele, e passei a mão em suas costas.

Elijah abriu o portão e passamos pelo jardim bem cuidado e andamos para a entrada da casa. Subimos duas pequenas e longas escadinhas e Elijah abriu as portas duplas e altas. A primeira coisa que eu vi foi a sala bem arrumada e de aparência rustica.

Passei os olhos por toda a extensão que eu pude, dali conseguia ver um pouco da cozinha e de um corredor, a sala também dava acesso a uma escada que levava ao segundo andar.

– É uma bela casa – Sussurrei à Elijah, para não correr o risco de alguém ouvir, afinal eu já havia estado ali muitas vezes, tecnicamente.

– Katherine – Isobel desceu as escadas com elegância, como sempre ela fazia, mesmo em casa, pelo visto. Mas em seus lábios havia um pequeno sorriso de contentamento – Fiquei muito animada quando me ligou e me contou sobre o jantar – Ele arrumou o robi que vestia e foi até a sala, onde se sentou e encheu uma taça de agua.

– Olá mãe – Sorri, disfarçando o desconforto que era estar com ela.

– Adoro ver você e Damon se aproximando, afinal logo, logo vocês serão uma família. A mãe dele é uma mulherzinha impertinente, mas pelo bem da nossa família, você deve suporta-la.

– Eu gosto da mãe do Damon – Eu disse, estranhando a forma como Isobel falava de Elizabete, que foi uma mulher muito boa e educada comigo.

– Você é uma garota jovem, Katherine – Isobel pareceu debochar.

– Bom... Mãe, Katherine irá cozinhar hoje – Elijah identificou meu desconforto e mudou rapidamente de assunto, despertando a curiosidade de Isobel, me olhou para mim com uma sobrancelha arqueada, como se não acreditasse, ou duvidasse.

– Katherine cozinhando? – Isobel riu – Essa eu definitivamente quero ver. Katherine, querida, você sabe que temos uma cozinheira não é?

– Eu vou me casar com o Damon, mãe, ele tem que saber o gosto da minha comida, ué – Me defendi, louca para arrastar Elijah dali e irmos para a cozinha.

– Não quando sua comida é tão ruim, não é querida? – Disse Isobel. Da mesma forma como chegou, ela se foi, tornando a subir as escadas.

– Sua mãe me sufoca, Elijah – Suspirei. Ele sorriu como se entendesse e juntos fomos para a cozinha.

A cozinha era enorme e toda equipada com eletrodomésticos de ultima geração. Era o sonho de qualquer pessoa apaixonada por cozinhar, como eu!

– Elijah, esse lugar é o paraíso! – Eu disse, rindo animada. Seria maravilhoso cozinhar ali.

– Eu sabia que ia gostar, mas não fale muito alto. Katherine costuma dizer que uma cozinha grande demais é desperdício de espaço – Ele riu, negando com a cabeça.

– Bobagem.

Eu tinha decidido fazer um macarrão expresso. Elijah me ajudou com os legumes, mesmo que ele não soubesse fazer direito, eu o ensinei bem. Eu fiquei com a parte e temperar tudo e montar os pratos.

– Já está quase no horário combinado para o Damon chegar – Olhei para o relógio pendurado na parede – Vou me arrumar. Desliga o fogo depois de três minutos que a pressão pegar, ok?

– Entendido, chefe – Ele brincou, concordando.

Eu assenti sorrindo, e corri para o segundo andar. O antigo quarto de Katherine era o terceiro da esquerda no extenso corredor. Entrei no quarto e não me surpreendi ao dar de cara com um quarto tão lindo quanto o de uma princesa. Suspirei, e caminhei até a cama fofinha.

Tirei o vestido e o sapato da bolsa e os coloquei em cima da cama. Eu havia vindo com uma calça jeans simples e sapatilha, afinal eu não poderia arriscar me sujar ao preparar o jantar. Tomei um banho rápido, apenas para tirar o cheiro de cozinha de mim, nem lavei o cabelo.

Vesti o vestido e calcei os sapatos pretos. Me sentei em frente ao espelho e comecei a me arrumar. Refiz meus cachos com a babyliss, e fiz pequenas tranças, uma de cada lado da cabeça e as prendi atrás com uma presilhinha. Fiz uma maquiagem simples, com cores neutras e um delineado fino rente aos cílios, mas caprichei no rímel. Passei um batom rosa claro, apenas para não deixar os lábios sem nada.Por fim, passei o perfume.

De frente ao espelho grande de corpo inteiro, eu me vi. Sempre me surpreendia em como eu ficava diferente quando eu me arrumava como Katherine, como os cachos me mudavam.

Desci as escadas com cautela, prestando atenção nos degraus. Fui até a cozinha e verifiquei a panela. Elijah havia feito o que eu pedi, então só coloquei o creme de leite e a mussarela como a receita pedia. Estava pronto!

– Katherine?

Meu coração parou. Como na cena de um filme, eu me virei lentamente, pregando o olhar em Damon. Ele estava impecável, como sempre. Seus olhos azuis estavam pregados em mim, e eu senti a mesma urgência da ultima vez em que nos vimos. Minha vontade era me jogar em seus braços e que se dane o jantar! Não precisávamos estar mais juntos, eu só queria aproveitar meu curto tempo com ele!

Eu dei dois passos para frente, assim como ele, que tinha as mãos nos bolsos da calça e um sorriso sedutor.

– Oi! – Eu disse, me sentindo boba por falar algo tão simples e sem noção. Ele riu.

– Eu soube que você mesma fez o jantar. Isso é seguro, senhorita Katherine? – Ele disse, em um deboche divertido.

– Muito seguro, senhor Damon – Entrei na brincadeira, apontando o dedo em seu peito. Ele segurou minha mão ali e beijou as costas dela, sem desgrudar os olhos do meu.

– Você está linda.

– Obrigada – Eu sorri tímida, mas contente por ele estar ali, daquele jeito comigo – Eu achei que você... Bem, estaria chateado... Por causa da última vez – Eu abaixei o olhar, constrangida, mas ele segurou meu queixo e me forçou a encara-lo novamente.

– Katherine, temos todo tempo do mundo, eu não me importo – Não, não temos! Eu quis gritar isso para ele, mas invés disso eu sorri e assenti.

– Ah, vejo que você já a encontrou – Me separei na mesma hora de Damon, assustada com a repentina aparição de Elijah, me forçando a separar o olhar daquela imensidão azul.

– Elijah abriu o portão para mim, Katherine – Disse Damon. Mesmo comigo praticamente voando para longe dele, ele me puxou de volta, pousando sua mão em minha cintura.

– Obrigada, Elijah – Eu disse, sorrindo.

– Não foi nada – Ele piscou um olho, cúmplice – Onde está nossa mãe?

– Não sei. Deve estar no quarto. Você pode chama-la?

Elijah assentiu, sumindo da cozinha. Pude ouvir seus passos ao subir as escadas de madeira.

– Você quer ir para a sala? – Indaguei.

– Eu nunca tinha vindo aqui – Nem eu! – É uma bela casa.

– Concordo – Sorri, o acompanhando até a sala – Você não estava ocupado?

– Eu abri uma exceção – Ele disse, com aquele mesmo sorriso de sempre que me derretia.

Fomos interrompidos pelo barulho do salto de Isobel que descia as escadas com um sorriso imenso no rosto, esculpido com um batom vermelho.

– Damon, meu querido, que honra recebe-lo em minha casa – Ela disse indo até ele. Damon se levantou e a abraçou em cumprimento.

– É um prazer estar aqui, Isobel.

– Claro – Ela assentiu – O jantar está pronto?

– Sim, mãe – Respondi.

– Ótimo, vou pedir para a Ana colocar a mesa para podermos jantar – Ana era a emprega e cozinheira da casa, claro que não era a única, afinal uma só pessoa não daria conta daquela casa imensa, mas hoje havia apenas ela.

Isobel sumiu para a sala de jantar, e um silencio tenso se formou entre nós três. Elijah encarava Damon com uma sobrancelha arqueada, como se não confiasse nele ou algo do tipo, o que eu estranhei. Damon parecia alheio a isso, ou simplesmente não se importava. Ele se levantou do sofá e andou pela sala, observando os quadros de fotos que até então eu mesma não havia reparado.

– Esta é você?

Ele perguntou, erguendo um quadro. Me levantei e fui até ele, olhando para a foto. Era uma garotinha de aproximadamente cinco anos, sentadinha no sofá com um vestido de boneca e um sorriso. Ela possuía os cabelos castanhos e cacheados, e olhos caramelos. Eu nunca havia tirado aquela foto, mas aquele rosto era definitivamente o meu, ou o de Katherine. Aquela era Katherine! Mas mesmo quando crianças, éramos idênticas. Eu achei que fosse apenas hoje em dia.

– Sim, sou eu – Eu disse, tentando disfarçar na voz meu tom chocado.

Reparei em outras fotos ali. Havia uma em que Isobel estava ao lado de um homem muito bonito, de olhos azuis, ambos sorriam felizes e estavam abraços em cima de uma ponte. Outra foto estavam os três, Isobel, Katherine, e aquele mesmo homem, que deveria ser seu pai, John. Isobel estava ao lado dele, que segurava uma tímida Katherine nos braços. Era lindo de se olhar a família linda que eles formavam.

Haviam muitos outros quadros. Eu nunca imaginei que Isobel era do tipo de pessoa que gostasse de registrar momentos com fotos. Nas fotos em que John aparecia, ela possuía um sorriso sincero e meigo, que lembrava muito... Eu mesma! Falo de mim pois conheço meu sorriso, mas nunca vi Katherine sorrir verdadeiramente. Mas o que eu conhecia da minha sócia, afinal?

Mas antes que eu pudesse voltar a observar os outros quadros, Isobel nos chamou, parecendo uma mulher completamente diferente daquela da foto. Nós fomos até a sala de jantar e nos sentamos. Isobel se sentou na ponto, e Elijah nas extremidades, um de cada lado, Damon ficou ao meu lado.

Ana se aproximou e nos serviu com o macarrão novamente quente. Isobel tinha uma sobrancelha arqueada para a comida, como se perguntasse se aquilo realmente era algo comestível. Era incrível Katherine ser tão ruim assim, e quase impossível.

– Bom, acho que devemos provar, não é mesmo? – Isobel sorriu, e deu a primeira garfada.

Todos nós esperávamos com expectativa, até que sua carranca se transformou em surpresa e admiração. Ela me olhou chocada.

– Katherine! – Ela pausou, comendo mais uma vez – Isso está incrível!

Como se incentivasse os outros, eles começaram a comer, e fizeram a mesma expressão de Isobel, mas minha maior expectativa era Damon. Ele deu sua primeira garfada e após engolir, ele me olhou, com aquele olhar especial que dizia “parabéns, não esperava menos de você”, eu sorri e comecei a comer, satisfeita.

Damon e Isobel conversavam animadamente sobre um assunto que não me interessava. Damon parecia empenhado em conquistar a futura sogra, sendo gentil e bem atencioso com ela. Elijah me lançava olhares de tempos em tempos, parecia pensativo, e eu me perguntei sobre o que ele devaneava tanto.

Logo quando acabamos, Ana tirou os pratos e nos trouxe a sobremesa, uma torta de babana, Babana Pie, que possuía uma aparência ótima. Damon não poupou elogios para mim sobre a comida, mas tratei de mudar sua mente de que Katherine cozinhava bem, e que só ficou tão bom porque eu tive a ajuda de Elijah. Katherine não sabia cozinhar, e seria muito polêmico se de um dia para o outro ela desaprendesse a arte da cozinha.

Fomos para a sala e nos sentamos. Isobel se sentou na mesma poltrona de mais cedo, Elijah em um sofá, e Damon e eu em outro, lado a lado.

– Eu estava olhando suas fotografias. Katherine parece muito com você quando você era mais nova, Isobel – Damon disse.

– Sim, concordo plenamente – Isobel sorriu – Katherine sempre teve uma beleza muito genuína. Seria ainda mais linda se tivesse puxado algo do pai, ele era muito bonito, e tinha um coração enorme. Você teria adorado conhece-lo, Damon – Isobel parecia uma adolescente falando de seu marido, seus olhos brilhavam.

– Tenho certeza que sim.

Eu sorri, encantada com o rumo daquela conversa. Por mais que aquela não fosse minha família, eu adorava ouvir Isobel falar do passado, adorava a mulher que ela se tornava ao fazer isso. Só então percebi a mesinha redonda ao lado do sofá em que eu estava, e sobre ela, havia apenas um quadro com quatro pessoas.

De um lado estava Isobel e John. Isobel possuía uma barriga grande de grávida e um lindo sorriso enquanto abraçava John. E do outro lado estavam ninguém menos que meus pais, Miranda e Grayson.