Prólogo

Você alguma vez já se sentiu
Se sentiu tão frágil
Como um castelo de cartas
A um simples sopro de desmoronar

Katy Perry – Firework

Era mais uma daquelas noites em que eu não sabia o que fazer. Eu havia acabado de sair da sala do diretor do hospital, ele havia me dado o veredito: ou eu pagava a estadia e medicamentos da minha vó ou ela teria que ir embora.

Era uma situação delicada; aos oitenta anos, ela teve seu segundo ataque cardíaco, e esse a deixou com sequelas, eu não poderia cuidar dela em casa de jeito nenhum, mas eu não tinha dinheiro suficiente para pagar o hospital.

Quando eu já estava no carro, pensando em como minha vida havia virado de cabeça para baixo nos últimos meses, meu celular tocou. Pelo visor, vi que era Caroline, minha melhor amiga.

– Eleninha! – Ela estava com aquela voz fina que só usava quando queria alguma coisa.

– O que você quer? – Perguntei, encostando a cabeça no volante.

– Você está com aquela voz de que nada está bem – Ela disse.

– É porque nada está – Respondi.

– Já imagino – Caroline suspirou – Mas, você precisa esquecer um pouco os problemas. Abriu uma nova boate por aqui. Já ouviu falar daquele tal de Salvatore? Acho que é italiano. Enfim, as boates dele são sempre as melhores, e recentemente inaugurou uma por aqui. Eu estava pensando se você estava a fim de ir comigo e o pessoal.

– Ah Care... – Suspirei alto – Realmente, não estou no clima.

– Então trate de ficar. Elena, você não vai enricar lamentando-se no sofá velho da sua casa.

Com isso ela conseguiu me convencer a ir. Em uma hora eu estava pronta: usava uma calça jeans preta e uma blusa cropped florida que mostrava minha barriga, e uma bota de franjas de salto alto. Meus cabelos longos e castanhos estavam cacheados, como eu costumava deixar quando eu ainda me cuidava.

Caroline me passou o endereço por mensagem. Quando cheguei, não os vi na frente e resolvi entrar sozinha. Estacionei o carro por perto, afinal o estacionamento da boate era muito caro para mim. Havia uma fila enorme para entrar, e só de vê-la me desanimei. Me encostei na parede perto da porta e resolvi espera-los.

– Senhorita? – Me virei assustada achando que era comigo que o segurança alto e musculoso falava – Por que está aqui fora? – Espera... Era mesmo comigo?

– Hã... Está falando comigo? – Perguntei.

– Sim – Ele me olhou confuso – Entre, o senhor disse que era para deixarmos a senhorita entrar pela área vip. Por favor, venha comigo – ele me segurou pelo pulso e me guiou para outro lugar, mais afastado daquelas pessoas.

– Espera... acho que está havendo algum mal-entendido – Eu disse, mas àquela altura ele já não podia mais me ouvir, já que estávamos dentro da boate e a música estava alta impedindo uma conversa.

Ele me deixou lá e saiu. Sério, que pegadinha era essa? Eu nem paguei a entrada. Senhorita? Só podia ser coisa da Caroline.

Ali estava cheio de sofás e almofadas, e parecia ser um andar superior. Me esquivei das pessoas e me encostei na grade, vendo o palco no andar de baixo onde havia o DJ, e várias dançarinas, o bar com várias mesas, e claro, a pista de dança lotada.

Era estranho eu estar aqui em cima? Ignorei isso e fui em direção as escadas. As desci e rodei o lugar a procura do pessoal. Meu celular vibrou no bolso, avisando uma mensagem. Era de Caroline perguntando onde eu estava.

“Não pire, estou aqui dentro” – enviei.

“Chegou que horas? Essa fila está enorme” – recebi.

“Agora. O segurança me confundiu com alguém e me deixou entrar”

Depois disso ela não me respondeu mais. Fui até o bar e pedi alguma coisa forte, era o que eu realmente estava precisando. Depois de uma hora, vi o pessoal entrando: Caroline e seu namorado Klaus, Bonnie e seu namorado Jeremy, que também é o meu irmão mais novo, Tyler e Matt.

– Menina, como você conseguiu entrar aqui? – Bonnie se sentou ao meu lado e pediu uma bebida após me abraçar, ela estava linda, como sempre, usava uma blusa um pouco longa e transparente nas costas, com uma saia preta colada nas coxas.

– Por sorte o Klaus conhecia o segurança e ele deixou a gente entrar sem esperar muito naquela fila – Disse Caroline, que usava um vestido rosa justo.

– Eu já estava morrendo aqui sozinha – Eu disse, dramatizando. Eles riram.

– Qual é, Elena, se você entrar nessa pista você descola um cara na hora – Disse Tyler. Jeremy o olhou feio.

– Nem ferrando, ela é a minha irmãzinha – Ele retrucou, parecendo emburrado.

– Você é o mais novo, moleque, não se esqueça – Eu disse, piscando um olho para ele.

Fui para a pista dançar com eles logo em seguida. Dançar era algo que eu adorava, me sentia livre, eu sabia que eu era linda e poderia ter quem eu quisesse daquele lugar, como Tyler havia dito, mas eu não era assim, eu não gostava de ficar por ficar, de algo de apenas uma noite, eu gostava do certo, do que me dava certezas.

Depois que eu já estava soada e arfante, resolvi sair um pouco e ir ao banheiro. Por incrível que pareça não havia filas. Sério, o que esse tal de Salvatore tinha?

Entrei amarrando meu cabelo em um coque, e fui para a pia de mármore, lavar meu rosto. Não reparei em ninguém no banheiro, mas quando levantei o olhar, levei o maior susto da minha vida, pois ao meu lado, estava a minha cópia.