Aquela era mais uma das intermináveis reuniões que Haymitch participava no Distrito 13. E, sinceramente, ele sentia-se entediado daquela vez. Talvez porque ele não estava nem um pouco interessado naquele momento em saber o que estava acontecendo no aerodeslizador que enviou o esquadrão 451 até a Capital. Mas quando ele deu de ombros, viu, através da janela e vidro, sentada num banco do corredor, olhando de um lado para o outro enquanto havia um pequeno movimento de pessoas ali, Effie Trinket, parecendo tão entediada quanto ele.

Haymitch suspirou ao vê-la ali e sentiu algo estranho quando percebeu que seus olhares se cruzaram e ela sorriu tristemente. E, a partir dali, ele não teve mais paciência para ouvir o que diziam naquela maldita reunião.

- ... Então eu suponho que... - Plutarch estava falando, até parar para ouvir Haymitch murmurar apenas para ele:

- Espero que me entenda, mas não estou com saco para reunião agora - foi apenas o que disse e, quando percebeu o colega assentir, concordando com sua saída, ele seguiu seu caminho até a porta, sentindo-se mais leve do lado de fora daquela sala.

- O que aconteceu? - perguntou-lhe a voz feminina que ele parecia estar ansiando por ouvir. - A reunião já acabou?

- Não - respondeu enquanto se direcionava a ela. - Mas e você? Por que está aqui?

- Ah... Bom, não há absolutamente nada na minha programação pelas próximas duas horas, e como eu vi esse banco vago e você estava ali... Decidi ficar esperando.

Haymitch riu rapidamente e se controlou.

- Tudo bem - ele disse e estendeu uma mão na direção dela. - Quer andar um pouco?

- Pra onde? - perguntou Effie, com um olhar desconfiado.

Haymitch sorriu ladino.

- Surpresa.

Ao ouvi-lo, Effie revirou os olhos e segurou sua mão, seguindo-o entre os corredores que, à medida que andavam, ficavam cada vez mais desertos. Depois de alguns minutos, ela não sabia mais em que parte do Distrito 13 eles estavam, mas ao olhar para Haymitch, seguindo confiante, achou que ele sabia o que estavam fazendo, então simplesmente decidiu não questioná-lo, já que sabia que não haveria resposta da parte dele.

Enfim, Haymitch a conduziu por um corredor um pouco aberto. Havia um parapeito do lado direito que dava uma vista ao nível de baixo. Mesmo assim, não havia quase movimento nenhum naquele instante em que Effie se debruçou para observar. Haymitch fez o mesmo, mas parecia ser quase impossível tirar os olhos dela.

- Por que me trouxe aqui? - Effie perguntou, por fim, ainda com o olhar para o nível abaixo. Sua voz era suave. Não era fácil saber como ela estava se sentindo.

- Só queria menos agitação.

- Ou quase nada, você quer dizer - ela o corrigiu e isso acabou fazendo-o rir.

Ela mantinha as mãos unidas, com os braços apoiados no parapeito, e Haymitch pôde perceber o quão desgastadas e pequenas eram suas unhas. Era por isso que ela usava tantas unhas postiças.

- Na verdade... eu queria dizer que desde que você disse sobre... enfim, gostar mais de mim quando estou sóbrio... Eu comecei a pensar nisso mais vezes, que... - pigarreou. Estava difícil encontrar as palavras certas. Sua mente estava tão confusa. - Deveria ter ouvido você antes. Suas reclamações, sabe?

Effie não deixou de sorrir enquanto lembrava.

- Pelo menos você percebeu - ela disse, dando de ombros para poder olhá-lo. - Demorou, mas percebeu.

Haymitch sorriu rapidamente, notando o olhar de Effie ainda sobre si. Ela esticou uma mão e tocou-lhe o rosto, mais precisamente sobre a barba. Ele não sabia para onde deveria olhar naquele momento, então pigarreou, sentindo-se um pouco desconfortável.

- Você deveria fazer a barba - comentou Effie.

- Por quê? - indagou Haymitch, intrigado.

- Você usa a barba assim desde que o conheço - explicou. - Não tem vontade de mudar um pouquinho?

- Claro que não - ele retrucou. - É o meu charme - disse com o tom de voz mais baixo, o que fez Effie rir.

- Convencido!

- Ué, você não concorda?

- Eu nunca o vi sem barba para poder saber.

Haymitch estreitou os olhos e deu um passo em direção a Effie.

- Eu garanto a você que é melhor assim - ele levou um dedo até os lábios de Effie quando ela abriu a boca para retrucar. - Pode ter certeza.

Ele falava tão baixinho que ela acabou assentindo. Ele ainda mantinha o dedo sobre os lábios macios da escolta, e logo deslizou-o pelo rosto dela, percebendo-a relaxar com o toque. Ela abriu os olhos rapidamente, e voltou a fechá-los quando percebeu o mentor cada vez mais próximo. Seus rostos estavam tão próximos que ele podia sentir sua respiração. E com sua mão segurando-a pela nuca, ele a trouxe para mais perto, encostando seus lábios nos dela, esperando um sinal de repulsa que não recebeu. E quando sentiu as mãos delicadas dela contornando sua cintura, Haymitch não pensou duas vezes até aprofundar o beijo, percebendo-a suspirar em seus lábios.

Ele sentia um misto de prazer e receio. E, mesmo tendo-a em seus braços, ele achava que, a qualquer momento ela se daria conta do que estava fazendo e sairia dali, mantendo-se o mais longe possível dele. Não queria trair sua confiança, mas o impulso e o desejo falaram mais alto.

Mas ela não o largou. Em momento algum mostrou algum sinal de que não estava gostando. Ela o abraçou ainda mais firme e grudou seu corpo no dele, deixando escapar um sorriso entre os beijos. Aquilo o surpreendera. Não esperava ser retribuído dessa forma. Foi muito além do que ele esperava. E, quando tomaram um pouco de distância, eles se olharam em silêncio por alguns instantes e encostaram suas testas, juntando suas mãos.

- Acho melhor voltarmos antes que percebam nossa ausência - sussurrou Effie.

- Eu não quero voltar.

- Eu também não - ela disse, rindo em seguida.

- Tudo bem - ele disse. - Podemos voltar e fingir que nada aconteceu.

Effie levantou uma sobrancelha, estudando-o.

- E se eu não quiser fingir? - indagou, com um sorriso ladino nos lábios. Sorriso este que Haymitch retribuiu de imediato. E, segurando sua mão, voltaram pelos corredores, sem se importar com o que poderiam vir a dizer.