Clube de Fanfics escrita por Jane Viesseli


Capítulo 1
Aos 45 do Segundo Tempo, o Jogo ainda pode Virar


Notas iniciais do capítulo

Glossário do capítulo:
— ESNyah: abreviação para "Escola Secundária Nyah"
— Kemonomimi: são personagens de desenhos que personificam animais à forma humana
— Nekomimi: Menina gato *
— Nekomomo: Menino gato (esta palavra foi inventada **)
— Neko: gato(a)

*Nekomimi na verdade quer dizer "orelhas de gato", mas preferi usar a tradução literal "menina gato" para a fanfic (FONTE: WIKIPEDIA).
** Nekomomo é uma palavra inventada para representar os kemonomimis do sexo masculino, apenas para deixar a leitura mais "entendível".



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Misaki olha para o relógio de pulso pela milésima vez naquele dia, permitindo que seu rosto se entristecesse novamente com o andar acelerado dos ponteiros.

Aquele era um dia especial e bastante decisivo para a nekomimi de cabelos róseos, pois se tratava do último dia de inscrições dos clubes de incentivo estudantil, e o grupo de fanfics – da qual obviamente ela era a fundadora – não havia recebido inscrições suficientes para operar naquele ano.

As regras eram claras ao dizerem que um clube só poderia permanecer em funcionamento se tivesse, no mínimo, dois administradores e seis participantes. E, ao contrário do que muitos esperavam, não eram os participantes que preocupavam as orelhas pretas da neko, e sim, a gerência, pois esta é que estava em falta no momento.

Para os que observavam, era estranho pensar que ninguém queria fazer parte da administração de um clube, que absolutamente ninguém queria ter o poder de mandar. Mas Misaki já esperava que aquilo viesse a acontecer, ainda mais depois da perseguição que os demais clubes faziam com ela e com “quem quer que fosse” que pertencesse à gerência.

O clube de fanfics foi uma fundação bastante inovadora para a ESNyah, por auxiliar os alunos na escrita e no incentivo à criatividade. Muitos professores apoiaram a causa e até mesmo um site foi elaborado para que qualquer internauta pudesse ter acesso aos trabalhos criados pelo clube. Entretanto, durante os dois anos de existência do clube, o excesso de incentivo acabou criando uma desagradável rixa com os clubes de esporte e até mesmo com o de costura, que passaram a perseguir qualquer um que estivesse no comando da liga de fanfiqueiros.

E o resultado não poderia ser outro. Entre lançamentos na lata de lixo, cadernos pichados, chicletes nos cabelos, ataques verbais e agressões físicas, os ajudantes de Misaki começaram a desaparecer, um a um, até que não restasse mais nenhum par de orelhas além do dela...

Faltava apenas dez minutos para o fim das inscrições e, em breve, o diretor apareceria com seu andar silencioso para desmontar sua mesa e encerrar sua busca por um novo gerente de clube, e, infelizmente, ninguém parecia disposto a encarar a administração do grupo mais agredido do colégio.

― Acho que não teremos clube este ano – pensa ela entristecida, sentindo os olhos umedecerem e apertando os lábios numa tentativa de não chorar.

Misaki podia sentir os olhares inimigos cravados em sua mesa e em sua prancheta, como se a desafiassem a abrir o clube naquele ano. Ao seu redor, já não havia ninguém, todos os clubes pareciam ter recebido assinaturas suficientes para funcionar e isso a fazia se sentir ainda mais pressionada.

― Bando de corvos! – pragueja a nekomimi em pensamento. – Por que não me deixam em paz? Que culpa tenho eu, se as pessoas gostam mais de fanfics do que de esportes ou serviços domésticos? Se esses abutres não perturbassem tanto, os meus amigos ainda estariam aqui e ainda poderíamos funcionar por mais um ano...

As orelhas pretas murcham em conformidade aos seus sentimentos, enquanto sua mente recapitulava os vários episódios de bullying que sofrera no último ano. Sim, lembrar daquilo era horrível... Horrível e desesperador, mas mesmo com tantos ataques, Misaki estava disposta a permanecer na presidência do clube para que nenhuma história, autor, leitor ou participante do site fosse abandonado.

Com uma leve sacudida de cabeça as más lembranças se esvaem e, mais uma vez, a nekomimi encara o relógio, sentido uma vergonha infinita de levantar o olhar e ver o semblante vitorioso de seus adversários, já que faltavam apenas cinco minutos para o término das inscrições.

Misaki coloca as mãos sobre os joelhos, apertando-os com força ao mesmo tempo em que sentia uma lágrima escorrer de seus olhos azuis.

―Droga, droga, droga! – pensa com intensidade, reprimindo a vontade de gritar. – Mil vezes droga... Isso não é justo... Não é mesmo... – monologava interiormente, parando de prestar atenção às pessoas que passavam a sua frente, ignorando até mesmo a sua lista.

Em meio ao seu monólogo melancólico e aos contantes olhares de frustração e tristeza que direcionava para o chão, a pequena neko pareceu sair de seu transe ao ver um conjunto de roupas pretas se aproximar de sua mesa. Seus olhos fitam o relógio mais uma vez, enrugando a testa ao perceber que o tempo ainda não havia acabado, o que obviamente queria dizer que aquele não poderia ser o diretor.

Com uma leve levantada de cabeça, Misaki observou uma mão masculina encostar um guarda-chuva à lateral da mesa, enquanto a outra segurava a caneta e rabiscava algo em sua prancheta. A caneta é depositada em cima da folha com força e a prancheta empurrada em direção a nekomimi, que tratou logo de arquear o corpo para frente e visualizar que alguém havia assinado o nome logo abaixo do seu, no local destinado a administração.

Ao se dar conta do que aquilo queria dizer, do significado que aquela assinatura tinha, Misaki ergueu o olhar instantaneamente, para encarar os olhos escuros do salvador de seu clube. O nekomomo, um ano mais velho, tinha ambas as mãos sobre a mesa e a observava com expectativa, mas palavra alguma parecia querer sair da boca feminina diante de tal acontecimento.

― Senpai – sussurrou ela com muito esforço, não conseguindo pronunciar mais nada.

― Vi que precisava de ajuda... De um gerente para que o clube de fanfics pudesse funcionar por mais um ano. Acredito que possa ajudar! – Dá um sorriso de lado.

― Mesmo? – questiona esperançosa, erguendo as orelhas em alerta e esperando uma resposta realmente positiva.

― Sim. – Pausa, tentando formular uma resposta que parecesse convincente para ela. – Acho interessante o trabalho que fazem, de criar histórias e tal... Não queria ver isso parar.

Um grande sorriso se abriu no rosto de Misaki, deixando à mostra seus pequenos e afiados caninos. Mas com a mesma velocidade com que surgiu, o sorriso desapareceu ao se lembrar das agressões, pois, por mais que ele fosse um senpai, poderia não estar preparado para algo daquele tipo...

― Nosso clube tem enfrentado dificuldades e sofrido muitas represálias, não posso garantir sua segurança se realmente decidir entrar, senpai!

― Não se preocupe Misaki, eu sei me defender muito bem – anuncia com um sorriso convencido nos lábios, apanhando o objeto que Misaki outrora pensara se tratar de um guarda-chuva e apoiando-o no ombro, revelando ser, na verdade, um imenso taco de beisebol. – E como novo administrador do clube de fanfics e o membro mais velho, será meu dever protegê-la também...

Misaki sente as bochechas corarem com aquelas palavras. Aquele senpai realmente sabia o seu nome, admirava o seu clube e anunciava para quem quisesse ouvir que agora ela estava sob sua proteção, mas ela... Bem, ela nem sequer sabia o nome dele...

― Senpai, você gosta tanto assim de fanfics a ponto de querer enfrentar tudo isso? – pergunta com olhos arregalados e brilhantes de admiração.

― Bem... Na verdade, nunca li nenhuma – confessa com uma risada, coçando a orelha esquerda sem jeito.

― Ow! – exclama surpresa. – Então você é um escritor...

― Também não – admite, sentindo o rosto começar a queimar de vergonha.

― É revisor ou incentivador de criatividade?

― Acho que... Também não.

― Então, se você não lê, não escreve, não revisa e não ajuda outros escritores a desenvolverem seus lados criativos, o que você pretende fazer no clube?

O nekomomo sente o rosto ferver de vergonha, havia assinado a lista por puro impulso e agora, não fazia a menor ideia do que iria fazer naquele grupo.

Ele sempre vira Misaki sorrindo pelos corredores do colégio, feliz e empenhada com os afazeres de seu clube como se não houvesse nada mais importante do que aquilo. Seu sorriso era contagiante e sua empolgação por ficções ultrapassavam os limites da veneração, fazendo da gatinha uma alma realmente divertida, sonhadora e iluminada. Por causa disso, o neko não pôde deixar de notar o semblante desapontado da nekomimi naquela manhã. Era estranho vê-la daquela forma e, até certo ponto, incômodo.

Vinte, foram às vezes que o senpai cruzou o corredor até que tivesse coragem suficiente para se aproximar. As dez primeiras vezes foram apenas para observá-la e tentar descobrir o que a afligia; na décima primeira passada – e depois de uma boa limpada na lente de seus óculos –, seus olhos arroxeados finalmente enxergaram o problema exposto na folha de inscrição; as oito vezes seguintes foram apenas para averiguar se alguém já havia assinado a lista e feito Misaki novamente feliz, mas a frustração e a raiva pareceram acertá-lo em cheio, ao ver os campos da gerência ainda vazios.

E por fim veio à vigésima passada, que permitiu-o ver as lágrimas de Misaki. A raiva do senpai não poderia ter sido maior. Seu semblante se fechou numa carranca e seu coração desejou profundamente espancar qualquer coisa que a estivesse fazendo chorar, mesmo que isso lhe custasse uma suspensão. Mas ao se dar conta que a única forma de fazê-la sorrir era com uma assinatura, o neko não titubeou ao segurar a caneta e rabiscar seu primeiro nome logo abaixo do dela.

Ela estava sempre sorrindo, sempre contagiando as pessoas com a sua felicidade e as ajudando a todo o momento. Tudo o que ele queria era vê-la sorrir novamente e fazer o que ele muitas vezes não conseguia: ajudar as pessoas.

Entretanto, sua assinatura impulsiva e seu lapso de querer agradá-la acabaram lhe custando uma tremenda cara de bobo, por não saber que tipo de tarefa iria realizar ali. Como explicar para ela agora? Como poderia dizer para Misaki que ele não sabia fazer nada além de jogar beisebol, mexer em computadores e arranjar algumas encrencas de vez em quando?

― Espera, é isso! – exclama de repente, fazendo a nekomimi pular de susto. – Você tem um site, não tem? – Ela confirma com a cabeça. – E provavelmente cuida dele sozinha, não cuida? – Mais uma vez veio o manear de cabeça em confirmação. – Eu sei tudo sobre computadores, então esta será a minha tarefa agora…

O nekomomo aponta o polegar para o próprio peito de forma vitoriosa, orgulhoso de si mesmo pela brilhante ideia que tivera num período tão curto de tempo. É claro que Misaki percebera seu constrangimento e notara seu vacilo ao se inscrever para algo que não se identificava totalmente, afinal, ela poderia ser nova, mas não era idiota. Contudo, também eram nítidas as intenções daquele neko, daquele senpai... Ele estava tentando ajudá-la!

― Isso é ótimo! – Sorri abertamente. – Estava mesmo precisando de ajuda... E se não for pedir demais, senpai, poderia me ajudar a controlar nossos membros? – Pega a prancheta da mesa, mostrando as dezenas de assinaturas dos participantes do clube. – Eles brigam de vez em quando, devido aos seus gostos e pontos de vista diferentes. – Ri. – Não consigo controlá-los sozinha...

― Com certeza, Misaki, eu darei conta disso! – Sorri, novamente convencido de suas habilidades, desencostando o bastão do ombro e batendo-o contra a palma de sua mão livre, demonstrando claramente que, se alguém arranjasse briga naquele clube, levaria uma bela pancada. – Serei como o seu onii-chan de agora em diante, sempre estarei aqui para lhe ajudar!

Os olhos de Misaki brilham diante do neko tão confiante e, mesmo sem saber o nome daquele senpai, mesmo sem nunca tê-lo notado no meio dos outros alunos mais velhos, ela se sentia honrada por receber sua ajuda e sua proteção, o que consequentemente fazia uma imensa admiração crescer dentro de si.

― Obrigada... Onii-chan...

A palavra parecia soar engraçada em seus lábios, pois Misaki mal o conhecia e já o chamava de onii-chan, mas para o senpai, a nova forma de tratamento pareceu inflar seu peito de felicidade e reponsabilidade, pois agora o sorriso da pequena nekomimi estava inteiramente sobre sua proteção.

― E então, quando começamos?

― Segunda-feira, logo depois da aula – explica empolgada. – Temos muito que fazer e muito trabalho atrasado para colocar em dia.

― Segunda-feira, ok – confirma, apoiando novamente o bastão no ombro e ajeitando os óculos com a mão livre. – Estarei aqui... Eu, meu bastão de beisebol e meu super cérebro! Bem, até mais, Misaki, nos vemos na segunda – despede-se ele com um leve aceno de mão, caminhando pelo corredor em direção à saída e já lançando um olhar desafiador e mortal para qualquer rival do clube de fanfics.

― Bye, bye – despede-se num sussurro, sentindo o sorriso se estender de orelha a orelha ao observar a prancheta e ler o nome de seu novo onii-chan. – Seiji-san... Seiji-kun. – Ri de si mesma, achando engraçado como a forma de tratamento se tornara tão íntima em apenas alguns minutos de conversa – Seiji... Meu onii-chan!

― Misaki, hora de desmontar a mesa – anuncia o diretor com alguns minutos de atraso, surgindo de maneira furtiva devido ao andar silencioso e letal. – Eu a vi conversando com Seiji... Conseguiu as inscrições que precisava?

― Sim – responde com um pulo, erguendo a prancheta para o diretor.

― Isso é bom! – Sorri, desmontando a mesa e apanhando o objeto que lhe era oferecido logo em seguida. – Continue com seu excelente trabalho, Misaki, o clube de fanfics funcionará por mais um ano!

― Sim, senhor. Farei o meu melhor – empolga-se, batendo uma pequena continência antes de lançar a mochila sobre as costas e correr em direção à saída.

Misaki não havia notado, naquele momento, todos os olhares que se desviavam de seu rosto em desgosto e receio, mas não demoraria muito para que os clubes rivais tentassem alguma coisa, e para que ela descobrisse que Seiji não estava brincando ao dizer que a ajudaria e a protegeria. E num futuro não tão distante, Seiji se tornaria seu grande herói, alguém que sempre faria suas bochechas corarem ao dizer: “Está tudo bem agora, Misaki. Onii-chan está aqui ”, mesmo que tal fato incomodasse o diretor, que já não via aquela aproximação com bons olhos...

 


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Notas finais do capítulo

Gostei da criação de um novo personagem no Nyah! Fanfiction e gostei mais ainda da proposta do mestre Michael em criarmos uma história para ele e Misaki...
Baseados nas informações de que ele era o senpai da nekomimi e de que ela o chamava de onii-chan, esta foi a forma que eu imaginei deles se conhecerem.

Espero que tenham gostado!
Obrigado por lerem *u*