Ovelhas Negras escrita por Bianca Vivas


Capítulo 4
Ela começa a namorar




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Maria de Lourdes

A professora pediu para que todos sentassem e se acalmassem. Ela fuzilou Lola com os olhos, como sempre fazia, e sentou na sua mesa. Abriu a bolsa e começou a anotar. Os alunos começaram a conversar e por duas vezes ela pediu para fazerem silêncio, porque estavam em aula. Como se ver a professora anotando coisas no próprio caderno fosse ter aula.

Depois de uma boa meia hora, ela se levantou e perguntou:

— Tem algum aluno novo?

Luan levantou a mão. Foi o único.

— Seu nome, por favor.

— Luan — ele respondeu. — Luan Monteiro.

Alguns alunos da sala começaram a cochichar, como se conhecem aquele nome de algum lugar. De fato, conheciam. A Família Monteiro era uma das mais tradicionais da cidade, mas o único filho e herdeiro da Sr.ª Monteiro havia se mudado para a capital e jurado nunca mais voltar, depois de uma confusão que ocorrera há muitos anos e ninguém sabia explicar direito. Por isso, Lola nunca pensou que fosse encontrar Luan naquele colégio algum dia.

Parece que algo acontecera naquele verão. Algo além da festa da noite anterior que poderia acabar com o fim do ensino médio dela.

Lola olhou de Felipe para Juno. A menina não estava nem aí, já ele... Ele estava espantado. Com medo até. Talvez temesse que Luan contasse algo. Esse ano até poderia ser engraçado, se não fosse trágico, para começo de conversa.

— Muito bem, Luan. Seja bem-vindo — disse a professora, sem qualquer sinal de empatia na voz.

Ela começou a escrever no quadro. Era um assunto que todo ano eles eram obrigados a estudar e Lola não aguentava mais. Ela se desligou da aula e só voltou a prestar atenção quando tocou o sinal para o intervalo. 

Maria de Lourdes fez questão de passar a aula seguinte e as duas aulas de biologia encarando Felipe. Ele sempre tentava desviar o olhar, mas chegou um momento que olhou de volta. Lola sorriu e então ele fechou a cara e virou o rosto. Devia estar com muita raiva e o pior é que ela nem sabia o que tinha feito, ou o que Juno havia dito sobre ela. Novamente, pensou em ligar para Eric e teve que usar toda sua força de vontade para não fazê-lo.

Fosse o que fosse, ela iria descobrir. Queria jogar Felipe contra a parede na saída da escola. Por isso, quando o sinal tocou, ela jogou tudo dentro da mochila e se preparou para sair da sala. Porém, a confusão estava grande demais. Eram muitos os alunos novos e todos estavam ansiosos para voltar para casa. Ela acabou perdendo Felipe no meio da multidão.

Lola se embrenhou no meio dos alunos mesmo assim. Se tivesse sorte, Felipe ainda não teria saído da escola e ela poderia obrigá-lo a conversar, caso ele estivesse longe de Juno. Ela, porém, não viu Felipe no pátio. Atravessou-o correndo, na esperança de que ele estivesse esperando o pai ou a mãe. 

Procurou até que avistou o garoto desengonçado conversando com um homem de barba meio grisalha. O pai de Felipe não tinha uma expressão muito boa e ela deduziu que estava brigando com o filho. Lola sabia que não podia deixar isso acontecer. Se ele ficasse sob muita pressão, era capaz de contar tudo e seria seu fim. Correu até lá.

— Felipe! Eu estava procurando por você! — Ela disse, fingindo uma animação que não tinha, e abraçou o garoto.

— E você é....? — O pai dele perguntou de um jeito carrancudo e mal-humorado.

— Maria de Lourdes. — Ela estendeu a mão para ele apertar.

⸺ E eu sou o pai dele e estou tentando ter uma conversa com meu filho. ⸺ O pai de Felipe não apertou a mão de Lola e ainda a olhou de cima a baixo.

⸺ Ah, tudo bem. ⸺ Ela respondeu. Precisava dar um jeito naquela situação, antes que tudo piorasse. Foi então que lembrou: Luan. ⸺ Eu só queria avisar ao Felipe que os Monteiros pediram pra avisar que ele está convidado para jantar lá sempre que quiser.

⸺ Os Monteiro? ⸺ O pai do garoto perguntou, em tom de deboche. ⸺ E por que Felipe seria convidado para jantar na casa da família mais rica da região?

⸺ Ele não foi, eu fui. ⸺ Foi a primeira coisa que passou pela cabeça da garota. Ela estava se embolando nas próprias mentiras. ⸺ Eu sou prima dos Monteiro.

⸺ E por que você levaria Felipe com você pra um jantar desses? ⸺ O homem perguntou, estreitando os olhos. Lola sentia que ele via a mentira que ela estava inventando.

O problema era que ela não conseguia achar uma desculpa boa o suficiente para chamar Felipe para jantar. Ninguém chamava um amigo para um evento na casa de um primo rico. E, considerando que o pai dele não a conhecia, também era difícil se passar por amiga.

Era um beco sem saída. Ela sentia que dias sombrios viriam.

⸺ Porque ela é minha namorada, pai. ⸺ Foi Felipe quem veio com a resposta. ⸺ Eu estava esperando o melhor momento para contar.

Lola olhou para Felipe incrédula. Ela tinha mesmo ouvido o que acabara de ouvir? Felipe acabara de salvá-la das próprias mentiras? Aquele menino merecia um prêmio. Juno estava certa: ela seria uma má influência para ele.

—Você está namorando uma parente dos Monteiro? — Alberto olhou para o filho sem acreditar, mas ele assentiu. — Você deveria me dito. — Ele ainda manteve a pose durona. — De qualquer forma, resolvemos isso em casa — Alberto disse, com uma expressão mais branda. — Vamos, Felipe.

Felipe seguiu o pai até o carro, mas antes de entrar no veículo, olhou para Lola. Os profundos olhos castanhos do garoto a fizeram estremecer por dentro. Ela não conseguia distinguir o que aqueles olhos expressavam. Felipe estava tranquilo com ela ou a odiava ainda mais? Esperava que fosse a primeira opção. Ela tinha a impressão de que não iria querer Felipe como inimigo.

Ainda assim, algo dentro dela dizia que, agora, Felipe iria ouvir sua versão da história. Para o bem ou para o mal.


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