Ovelhas Negras escrita por Bianca Vivas


Capítulo 17
Por que a sensação é tão boa?




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Felipe

Os lábios de Lola eram macios. Porém, pareciam errados. Ele sentiu o coração acelerar e suas mãos estavam suadas. Por um tempo, ficou sem saber o que fazer. Um turbilhão de pensamentos o invadiu. Seus sentimentos estavam confusos. Ele gostava de Lola. Gostava muito. Achava até que estava apaixonado por ela. Mas desde aquela noite... A noite em que Luan o beijou... as coisas estavam mudando. Ele não podia negar.

Não sabia o que estava acontecendo com ele. Talvez fosse apenas coisa de sua cabeça. Então por que achava que não era? Eram tantas perguntas e nenhuma resposta. Felipe não estava aguentando mais. Aquele beijo de Lola acabou incendiando tudo dentro dele. O que pôde fazer foi afastá-la gentilmente.

— O que foi? — A menina perguntou, com um sorriso amarelo no rosto.

— Nada. É só que... — Ele não sabia o que dizer. Olhou para o rosto de Lola e esqueceu o motivo de tê-la afastado. — Estamos na escola — ele mentiu.

Nem sabia o porquê de mentir. Apenas não conseguia contar a verdade. Aliás, olhando para os olhos castanhos dela, nem existia mais motivo algum. Felipe estava confuso.

— Você está estranho. Alguma coisa aconteceu — ela disse, olhando para ele com severidade. Parecia querer ler os pensamentos do garoto, de tão estreitos que seus olhos estavam.

Ela comprimiu os lábios, analisando o rosto dele. Felipe imaginava se Lola poderia saber o que estava acontecendo apenas por ver sua expressão corporal ou para onde seus pés estavam apontando. Achou que não, já que ela balançou a cabeça, o empurrou para o lado e subiu as escadas.

Lola estava com raiva, ele sabia. Só não tinha explodido. Isso era um verdadeiro milagre. Felipe respirou, aliviado. Então achou que deveria ir atrás dela e assegurar que não, ele não estava estranho. Porém, seus pés não obedeciam. Felipe continuava parado, olhando para as tranças negras de Lola, batendo forte nas costas, enquanto ela subia as escadas. Enquanto a provável mulher da sua vida ia para longe dele, tudo o que conseguia fazer era observar e se perguntar o que diabos estava acontecendo consigo mesmo.

Por fim, Felipe deu de ombros. Seu corpo voltou-se para a frente e ele se preparou para começar a andar. Foi interrompido, entretanto, por uma mão fria que o segurou pelo braço. Quando se voltou para ver quem era, deparou-se com Luan.

— O que você quer? — Ele perguntou, com uma bravura na voz que não era sua.

Luan não respondeu. Seu maxilar estava travado e pequenas gotículas de suor enfeitavam sua testa. Os olhos dele tinham um brilho homicida. Estava com muita raiva. Felipe sentia a ira emanar de Luan para ele. Por isso nem reclamou quando Luan o puxou para dentro do banheiro masculino e fechou a porta.

— Qual seu problema, cara? — Luan soltou Felipe com tanta violência que o garoto teve que se apoiar na bancada das pias para não cair.

Felipe não respondeu. Tentava respirar. Não estava entendendo nada. Todavia, não queria discutir com Luan naquele estado. Então, apenas olhou de volta para o garoto, calado.

— Hein? Qual seu problema? — Luan voltou a perguntar. Dessa vez com mais raiva e mais alto. — O que você contou para Lola?

Felipe franziu o cenho.

— Nada. Do que você está falando?

Luan deu uma de suas risadas irônicas e escorou na porta do banheiro.

— Do que eu estou falando? — Ele disse. — Estou falando da Lola me atacar na porta da sala de aula, me perguntando o que eu falei pra você e me xingando!

Felipe nem acreditava que Lola tinha feito isso. Porém, quando olhou para Luan com mais atenção, percebeu que ele tinha alguns arranhões no braço e sua blusa da farda estava toda amarrotada. Mesmo assim, ele continuava tão confuso quanto antes. Não fazia ideia do que poderia ter feito para causar aquela reação em Lola. Tudo bem. Ela havia ficado com raiva dele, mas por que descontaria tudo em Luan?

— Nada — ele respondeu devagar. — Eu não fiz nada.

— Então por que ela estava daquele jeito? — Luan avançou para Felipe e o prensou na parede, segurando a parte da frente de sua camisa. — Por que ela está me culpando por algo que eu não fiz?

— Eu sei lá! — Felipe gritou assustado, tentando se livrar de Luan, contudo o menino não cedia. — Ela me agarrou no pé da escada e depois saiu com raiva. — Quando viu que Luan não estava acreditando, ele começou a falar mais depressa: — Ela é doida! Completamente pirada!

Luan soltou a camisa de Felipe e parecia pensar sobre o que ele dizia. Felipe respirou um pouco aliviado. Aquela proximidade com Luan o deixava nervoso. Quando o garoto o tocou, ele sentiu os pelos de seu corpo se arrepiarem e percebeu que seu sangue estava sendo bombeado mais depressa. Alguma coisa estava acontecendo com ele. Alguma coisa fora do normal. Porém, antes que pudesse se aprofundar naqueles pensamentos, Luan deu um soco na parede, muito próximo à orelha de Felipe.

— Você é um completo idiota — ele rosnou para Felipe. — Um completo idiota.

— O que eu fiz? — Felipe perguntou, prendendo a respiração. Seu coração voltara a acelerar.

— Além disso, é um péssimo mentiroso. — Luan botou a mão no peito de Felipe e pressionou o próprio corpo contra o dele. — Você gosta de garotos, não gosta?

— Não — Felipe negou. Sua boca estava seca e sua voz quase não saiu.

— E a Lola começou a perceber isso, não foi? — A voz de Luan abaixava cada vez mais, estava próxima de um sussurro. — E isso começou a atrapalhar a merdinha que é o relacionamento de aparência de vocês, não tô certo?

Felipe tentava negar, entretanto sua voz se recusava a sair. Ele, então, apenas balançava a cabeça em negativa, torcendo para Luan acreditar e o deixar em paz.

— Percebeu. Percebeu sim — Luan agora falava próximo ao seu ouvido. — E aposto como você falou pra ela do nosso beijo. E agora, ela está pirada...

— Não! — Gritou Felipe. — Isso é tudo mentira! Tudo mentira!

Ele tirou forças de algum lugar e empurrou Luan. Então, pegou o garoto pela camisa e o imprensou em outra parede. Segurava a gola da camisa do rapaz com uma mão e a outra, apoiava na parede. Sentia o sangue pulsar em seus ouvidos e sabia que seu coração estava batendo muito forte. Estreitava os olhos enquanto olhava para Luan, tentando enxergar qualquer sinal que pudesse desestabilizar o garoto. Estava com muita raiva.

Ao mesmo tempo, sentia uma excitação diferente. Era algo que nunca tinha sentido antes. A adrenalina que corria por suas veias não o deixava pensar. Ele estava alerta, e de um jeito completamente novo. Felipe sentia o perfume de Luan e prestava atenção na diferença de calor entre suas peles. Foi então que ele tomou consciência do quão perto estavam. Tentou se afastar. Luan o impediu.

— É realmente mentira? — Luan puxou Felipe pela camisa para mais perto de si. — Ou será que você finge que é tudo mentira? — Luan sussurrou no ouvido de Felipe.

Felipe não conseguiu responder. Quando sentiu o toque de Luan, todas as suas forças se foram. A única coisa que conseguia sentir era o toque gelado de Luan por sobre sua blusa e o perfume do garoto. Engoliu em seco no momento em que sentiu o rosto de Luan se aproximar do seu.

— Eu acho que é tudo verdade — disse Luan, todavia, Felipe não ouviu. A única coisa que conseguia prestar atenção era no formato dos lábios de Luan.

Quando deu por si, suas mãos percorriam o cabelo liso de Luan e seus corpos estavam ainda mais colados. Ele continuava tentando diminuir a distância entre os dois. Enquanto Luan mordiscava seus lábios, várias e várias vezes, Felipe só conseguia pensar que nunca beijara alguém com tanta volúpia e desejo.

Isso o assustava.

Ele, contudo, não se afastou. Nem quando Luan deixou suas mãos escorregarem para as costas dele e passearem por dentro de sua camisa, deixando o rastro de seus dedos. Ao contrário, Felipe o imitou. Até que Luan o afastou um pouco e começou a ajudá-lo a tirar a camisa. Felipe nunca tinha ficado sem camisa, conscientemente, na frente de ninguém, exceto sua mãe. Entretanto, ele não estava se importando de ficar apenas com a calça na frente de Luan. Estava gostando. Gostando tanto que todos os pensamentos contra o que estava acontecendo fugiram de sua mente.

Importou-se menos ainda quando Luan desceu as mãos pelo seu abdômen, chegando ao passador da calça jeans. Luan puxava o passador para baixo, enquanto Felipe acariciava as costas e a nuca dele. Então Luan cansou de ficar jogado contra a parede e se afastou de Felipe. Apenas para pressioná-lo no lugar em que ele próprio estivera antes.

Felipe arfava. Sua respiração estava pesada e ele ficava cada vez mais nervoso. Não conseguia acreditar no que estava fazendo e nem conseguia parar. O sinal para voltar à sala já deveria ter tocado, mas ele não ouviu. E, se ouviu, não se importou. A única coisa na cabeça de Felipe era o quanto ele ansiava mais e mais pelo toque frio de Luan. Tão oposto ao de Lola, mas tão mais correto.

Ele sentiu que Luan o puxou ainda mais para perto, pelo passador da calça. Percebeu que as mãos do garoto se dirigiam para o zíper de sua calça jeans e sentiu um nervosismo tomar conta de seu corpo. Suas mãos começaram a tremer. Talvez estivessem indo longe demais. Eles estavam no banheiro da escola. Alguém podia chegar. E, a bem da verdade, ele estava bastante nervoso. Abaixou a mão e colocou-a sobre o pulso de Luan. Sua intenção era fazê-lo parar, mas, ou o garoto não entendeu, ou não se importou.

Luan abriu o zíper da calça de Felipe, que parou de se importar com o fato de alguém pegá-los. Eles se beijaram mais uma vez e Felipe só conseguia pensar em como Luan beijava bem melhor que Lola. Estavam tão absortos no beijo que não ouviram a porta se abrir. Também não ouviram o pigarro que se seguiu.

Apenas quando a voz pigarreou pela terceira vez, eles se separaram para ver quem era.

Felipe tomou um susto ao ver seu melhor amigo de braços cruzados ao lado da porta escancarada do banheiro masculino. Ele sentiu seu rosto queimar em brasa e se apressou para fechar o zíper da calça. Sem dizer nada, procurou por sua blusa, que estava jogada no chão. Vestiu-a o mais rápido que pôde, se atrapalhando com a gola. Olhou para Luan, em busca de ajuda. O menino, entretanto, se divertia com aquela situação.

— Não é nada disso que você está pensando — Felipe disse, sem conseguir encarar Gabriel.

— Parece até que ele é sua namorada — Luan riu ironicamente, cerrando os lábios. — Vejo vocês depois. — E saiu do banheiro, deixando os dois melhores amigos para trás.

Felipe observou enquanto Luan se afastava. Quando finalmente teve coragem de olhar para Gabriel, as palavras lhe fugiram. Não sabia se explicava a cena, ou se pedia desculpas ou se saía correndo. Estava sem ação. Completamente envergonhado. Tentou falar algo, mas apenas palavras sem sentido saíam de sua boca. Gabriel então quebrou o silêncio.

— Tudo bem. Não precisa explicar. Eu não quero saber — ele disse, balançando a cabeça, como se quisesse tirar aquela cena da memória.

— Obrigado — foi tudo o que Felipe conseguiu responder.

Os dois saíram do banheiro, em silêncio. Estavam voltando para a sala. Quando chegaram ao topo da escada, Gabriel bloqueou a passagem e olhou para Felipe, com uma expressão séria demais no rosto.

— Eu vou dizer que você passou mal no banheiro, por isso demorou. Faça o favor de confirmar — ele disse, e saiu na frente, rumo à sala de aula.

Em todos os dezessete anos de convivência, Felipe nunca sentiu uma gratidão e um carinho tão grande por seu melhor amigo.

 


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