Ovelhas Negras escrita por Bianca Vivas


Capítulo 16
Ela finalmente acordou




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Maria de Lourdes 

Ela passou o resto da semana sem falar com Felipe. Também não atendeu mais nenhuma ligação de Eric. Não entendia o que estava acontecendo.

Luan nunca gostara muito de Felipe, mas agora parecia que ele estava retribuindo isso. Algo realmente estranho, porque Lola não achava que isso fosse do feitio do garoto. Talvez ela devesse perguntar para eles o que tudo aquilo significava. Contudo, Luan negava tudo o tempo inteiro. Felipe provavelmente faria o mesmo.

Eric, por sua vez, nunca havia ligado para ela de um número privado. Por que ele não desbloqueava o próprio número? Se ele estava escondendo alguma coisa, não seria ela que iria descobrir — ou ajudar a encobrir. Aliás, ela se manteria longe da vida de Eric, não importava o motivo. Seria melhor assim. Para ele. Para ela. Para todos.

Lola sacudiu a cabeça para esquecer aqueles pensamentos. Pegou a bolsa em cima da cama e foi à cozinha. Sua mãe não estava lá. Deveria estar dormindo. Ela pegou um pedaço de pizza na geladeira e colocou no micro-ondas. Enquanto a pizza girava dentro do aparelho, seus pensamentos voavam para Felipe, Luan e Eric. Ela queria muito descobrir o que estava acontecendo.

Quando o micro-ondas apitou, ela foi arrancada de seus pensamentos. Tirou a pizza e desceu as escadas. Mordia a fatia enquanto caminhava rumo à escola. Deixou seus pensamentos voarem, com o cuidado de não os deixar chegar perto dos assuntos proibidos. Ela não queria ficar preocupada e sabia que isso aconteceria caso pensasse demais naquilo.

Como sempre, Lola chegou atrasada na escola. O pátio principal estava vazio e a moça da portaria a repreendeu mais uma vez. Ela seguiu correndo para os andares superiores, para sua sala. Entrou feito um canhão e respirou aliviada quando viu que o professor de Literatura ainda não havia chegado. Já estava se preparando para ir direto ao seu lugar de sempre — ao lado de Luan — quando notou algo fora do comum. Luan olhava fixamente para Felipe, como se estivesse provocando o garoto. Já Felipe, tentava disfarçar, puxando conversa com os outros colegas.

A menina franziu o cenho e olhou novamente. Revirou os olhos e deu a língua para Luan. Passou direto por ele e foi para frente da sala. Sentou ao lado de Lara, a menina com quem tinha brigado. Ela deu um sorriso para a garota, que pareceu incomodada, todavia não ousou dizer nada. Lola não sabia porque tinha feito aquilo.

Quando viu Luan tentando provocar Felipe, ela sentiu raiva de seu provável melhor amigo. Aquilo já estava passando dos limites. Então ela decidiu que ia ignorá-lo pelo resto do dia. Em parte, para ver se ele parava. Em parte, para Felipe perdoá-la por ter sido tão arisca no dia do almoço.

Sua estratégia, entretanto, foi por água abaixo. Luan nem tentou se comunicar com ela durante todos os três primeiros tempos de aula e Felipe nem sequer a olhou. Aliás, ele nem sequer levantava a cabeça quando ela ia para perto de sua cadeira conversar com Gabriel. Quando o sinal para o intervalo tocou, Lola suspirou e decidiu descer as escadas.

Mal chegou ao pé da escada quando notou que Luan e Felipe ainda estavam lá em cima. Ela fez o caminho de volta, torcendo para não encontrar os dois brigando. Uma parte de si, entretanto, queria apenas ver o que eles estavam fazendo na sala de aula. Ela estava curiosa. Ao se aproximar da sala, ouviu vozes alteradas. Afastou a porta um pouco, com muito cuidado para não ser ouvida. Os dois estavam no fundo, não tinham visão da porta.

Felipe estava virado para a parede. Seus ombros subiam e desciam. Podia estar chorando ou apenas respirando fundo demais. Luan cruzava os braços e sorria. Todavia, não era um sorriso simpático. Era mais um misto de divertimento e perversão. Lola se assustou.

— Então quem você é, hein? — Luan perguntou, mordendo os lábios. — Por que tanta vergonha em dizer?

— Quem você é? — Felipe devolveu a pergunta e virou-se para Luan.

Lola pôde ver parte de seu rosto. Estava vermelho. Ele parecia fazer força para se manter firme, sem desmoronar.

— Por que está fazendo isso? Por quê? — Felipe gritou e avançou para Luan. Lola achou que ele fosse bater no garoto, porém Felipe mudou de ideia no último segundo.

— Digamos que eu gosto de experimentar. — Luan soltou uma risada e mordeu o lábio inferior. — Garotos, garotas... Coisas novas.

Lola franziu o cenho. Que tipo de conversa era aquela?

— Sua vez de responder agora — Luan disse, procurando uma cadeira para sentar.

Lola achou que Felipe fosse gritar algo, pela expressão de raiva dele, entretanto, não foi isso que o garoto o fez. Os lábios começaram a tremer. Felipe parecia confuso. Lola começou a ficar atordoada. Por que eles estavam falando sobre aquilo? Ela não entendia.

— Eu... eu... eu não sei... — Felipe respondia com a cabeça baixa, fitando os próprios pés. Sua voz era apenas um sussurro e a garota teve de se esforçar para ouvir. — Eu realmente não sei.

— Oh, está confuso? — Luan perguntou, como se estivesse tirando sarro.

— Não é confusão. É só que... esses últimos dias mexeram comigo...

Lola não sabia o que tinha acontecido nos últimos dias, contudo tinha a impressão de que aquela era uma conversa muito íntima. Ela queria descobrir sobre o que falavam, mas ao mesmo tempo, sentia como se estivesse invadindo um espaço pessoal. Estava um pouco atordoada. Não sabia o que fazer. Então fechou os olhos e saiu correndo. Nem percebeu que não fechou a porta. Apenas a ouviu bater enquanto descia as escadas o mais rápido que podia.

Nem se dignou a olhar para trás. Ela poderia não aguentar e voltar lá em cima, interromper o que falavam e perguntar o que havia acontecido nos últimos dias. Todavia, ela não fez isso. Não queria ter que passar por um confronto. Não queria ter que invadir a privacidade deles tão diretamente. Então começou a procurar pelo rosto de Gabriel no meio daquele tanto de gente. Ele era o melhor amigo de Felipe e saberia o que estava acontecendo.

O encontrou perto da quadra. Estava acompanhado de sua irmã perfeita e de Juno. Lola caminhou até lá, aparentando segurança. Chegou perto de Gabriel e, ignorando os olhares das duas, começou a falar:

— Preciso falar com você — ela disse, segurando o pulso dele. Lola percebeu que Lara fechou a cara e sentiu os olhares significativos de Juno para ela, porém não se importou. — Agora.

Saiu puxando um confuso Gabriel para longe da quadra, para um lugar onde não teria tanta gente assim, onde poderiam conversar em paz.

— Então? — Gabriel olhava para ela, esperando que começasse a falar.

Ela procurava coragem em algum lugar. Olhava para os lados em busca de uma maneira de perguntar aquilo. Não existia. Com certeza, Gabriel ia mencionar aquela conversa para Felipe. Contudo, ela saberia o que estava acontecendo sem precisar chegar a um confronto direto.

— O que está acontecendo com Felipe? — Ela falou de uma vez.

— O quê?

— Ah, você sabe, ele está estranho ultimamente e você é o melhor amigo dele, então deve saber... — Lola não pôde terminar a frase. Gabriel começou a rir descontroladamente e sem motivo aparente.

Lola franziu o cenho, confusa. Todo mundo tinha resolvido agir estranho naquele dia?

— Qual a graça? — Ela perguntou, sem entender.

— A graça é que você ainda não percebeu o óbvio. — Ele foi parando de rir, tentando recuperar a voz

— O que é óbvio? — Ela perguntou, ainda sem entender.

— Ora, que Felipe é completamente apaixonado por você.

A visão de Lola saiu de foco quando Gabriel parou de falar. Em algum lugar da sua mente, ela ouvia Gabriel perguntando se estava bem, mas nem se importou de responder. Foi se afastando de Gabriel aos poucos. Felipe estava apaixonado por ela. Isso era algo praticamente impossível. Ela se apoiou numa parede próxima. Ela não sabia o que sentia, exceto uma imensa vontade de correr para a própria cama e ficar deitada, quietinha tentando digerir aquela informação.

A conversa de Luan e Felipe, que era tão importante minutos atrás, transformou-se num borrão. Não sabia se à luz dos novos fatos ela fazia mais sentindo que antes. Não conseguia pensar em mais nada. O fato de Felipe estar apaixonado por ela mudava tudo. Lola começou a procurar as escadas que levariam até o andar das salas de aula. Precisava ficar sozinha. Ainda não conseguia acreditar. Todo aquele barulho apenas atrapalhava tudo.

O que seria da amizade deles agora que sabia disso? Aliás, eles tinham uma amizade? O que ela deveria fazer, afinal de contas? Tentar corresponder, dar um fora nele?

Lola estava seguindo para as escadas com esse único pensamento na mente. Entretanto, todos os seus planos sobre pensar a respeito se transformaram em poeira quando viu Felipe descendo as escadas. Não havia sinal de Luan perto dele. Lola agradeceu por isso. Ela olhou para ele e viu o menino sorrir quando seus olhos se encontraram. Sem pensar, Lola correu até ele. Ela não pensava mais, todavia, ainda via tudo como um borrão.

Ela estava preparada para confrontar Felipe quanto a tudo. Porém, quando chegou perto dele, desistiu. Alguma coisa dentro dela a impedia. Ela foi compelida por um desejo inexplicável de abraçar Felipe. Colar seu corpo ao dele e sentir o cheiro do menino. Precisava disso agora. Precisava saber se era verdade, se algo mudaria, o que viria dali pra frente...

Felipe abraçou-a de volta, contudo logo se afastou. Segurou-a pelos ombros e olhando nos olhos dela sorriu.

— Aconteceu alguma coisa? — Ele perguntou.

— Não. — Ela sorriu de volta, passando as mãos em volta do pescoço dele.

Ela o beijou. Impulsivamente. Irracionalmente. Ela o beijou, e mesmo surpreso, ele retribuiu o beijo. E apenas um pensamento passou pela cabeça de Maria de Lourdes naquele momento: eu só posso estar ficando louca. 

 


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