Entre a Escuridão escrita por Half Fallen


Capítulo 2
Capítulo Um — Inocência


Notas iniciais do capítulo

É um cap bem simples!! Em terceira pessoa e nada tão cheio de ação. Desculpe-me os erros, pois o cáp não está betado!!
Espero que gostem!



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"Dizem que os humanos não sabem ser sinceros. Ora, não são apenas eles, eu afirmo. As sereias mentem, os elfos ocultam, os orcs distorcem. Por que apenas os humanos são culpados por omitirem? Pois eu te digo: não há ser mais sincero que o humano."

Tenácio, Capítulo XIII, O ardor do ser.

Haviam se passado exatos dois anos desde que o assassino realizara sua última missão. Estava se dirigindo para a próxima, na região leste, cidade de Quartzo. Por uma organização, e política própria, o encapuzado realizava as missões em ordem que as aceitara, não importa quão longe fossem uma da outra.

Raa'skar era o nome do homem, mas este não era conhecido por ninguém. Nomes tinham poder e se ele o confiasse a alguém, automaticamente teria poder sobre ele. Cavalgava sem pressa entre o vasto campo aberto, nomeado de 'Deserto Verde' por ser tão imenso, olhando em volta e suspirando.

Sem dúvidas era como um deserto. Era quieto, apenas o assobiar do vento lhe fazia companhia. Parecia ser rigoroso se explorado e passar a noite ali não parecia uma boa ideia. Como era aberto e não havia muitas árvores, a vulnerabilidade era óbvia.

Ou seria alvo de criaturas ou alvo daqueles que o queiram matar.

Não era assim que Raa'skar queria morrer.

De longe, o homem já conseguia avistar os primeiros traços de civilização: casas simples, mercado entre outros divididos por ruas. Era movimentado, mas não tanto, dava para se cavalgar tranquilamente, sem enfrentar trânsito ou o que for.

Todas as ruas, entretanto, além de dividir os casebres, levavam para a maior casa de todas: a casa do Conde que regia a cidade.

A presença de Raa'skar quase não fora notada, pois ele escolhera os caminhos mais vazios até a enorme casa. Assim que chegou a frente, dois guardas reverenciaram brevemente, recebendo um aceno do assassino que adentrou a casa sem nenhuma cerimônia.

Abriu os grandes portões e lá estava o Conde. Era um homem alto, beirando seus quarenta anos. Estava com armadura dourada de campeão que usava para receber convidados. Os cabelos eram louros e desciam até os ombros, acompanhado de uma barba grande por fazer.

— Vejo que chegou, assassino. — fora respondido apenas com um aceno — Acho que já gostaria de começar sua missão, não?

— De preferência.

O conde hesitou um pouco, dada tanta indiferença e frieza, mas continuou:

— Pois bem, contratei-o para que exterminasse com os albinos. Eles acabaram de passar pela época de procriação, então, assim que seus filhotes conseguirem se manter em pé, irão atacar a minha vila atrás de comida. E ninguém aqui quer isso. Você vai encontrá-los no Deserto Verde. Está tudo entendido? — acenou o assassino — Ótimo. Pode, então, se retirar. Lhe pagarei apenas quando terminar seu serviço.

O assassino, por debaixo de seu capuz, rolou os olhos. Não gostava disso. Queria o pagamento ali, agora. Mas suspirou. Estava à mercê de seu cliente e poderia, apenas, obedecê-lo. Era mais forte que ele e poderia ameaçá-lo, mas decidiu não fazê-lo. Deveria guardar forças e ânimo para sua tarefa.

Albinos tratavam-se de uma rara raça de lobos gigantes e brancos que eram completamente hostis e perigosos. Suas presas eram diferentes dos outros lobos, pois eram afiadas demais desde as primeiras aparições do dente, que ficava entre o primeiro e segundo dia de vida.

Perfuravam com precisão e, para alegria daqueles que eram atacados, possuíam veneno. Um veneno que até hoje não se sabia a cura, pois quem era atacado não sobreviveria por muito tempo para servir de cobaia para os curandeiros.

Claro, a cura de um veneno vem do próprio produtor, mas chegar perto o bastante para testar era uma missão muito difícil. Eles eram espertos, pressentiam e matavam sem dó. Pessoas como essas contratavam pessoas como Raa'skar para matá-los, ao invés de pensar em outra opção.

O assassino não quis esperar muito. Mataria-os o mais rápido que pudesse, não esperaria a noite, pois seria praticamente a este horário que iriam resolver atacar a vila.

Montou em seu corcel marrom e pôs-se a cavalgar para o deserto.

Quando chegou lá, sem ajuda de um mapa ou possíveis locações, começou a procurar perto das árvores. Talvez por lá estivessem, tentando arrumar abrigo debaixo do sol. Mas não acertou. Eles deveriam estar em outro lugar, o qual o assassino não iria se preocupar em procurar.

Eles iriam percorrer aquela parte do deserto em alguma parte do dia, não há motivos para ele tentar percorrer todo o infinito atrás dos lobos e acabar desencontrando-os.

Desceu da montaria e o deixou solto para pastar.

— Isso mesmo, Ventania, pode andar um pouco. Sei que você está nervoso.

Raa'skar sentou-se ao chão, encostando no tronco da árvore. Analisou o lugar com cuidado. As poucas árvores que o campo possuía não ficavam umas perto das outras fazendo com que o calor fosse maior. Porém, na sombra daquela macieira, o assassino pode sentir a leve brisa que o vento fazia em lugares mais amenos.

Suspirou com vontade.

Se tinha uma coisa que não gostava era matar animais. Eles não tinham nada de mau, apenas seguiam o ciclo da vida e seus instintos. Pior ainda é quando envolviam seus filhotes. Estes que acabaram de nascer e não poderão viver nem um pouco de sua vida.

O cavalo de Raa'skar se aproximou, abaixando-se do lado de seu dono que acariciou sua cabeça.

— Cansou de pastar? Hm, eu te entendo, também quero dormir. Você pode, mas eu não. Vá em frente.

Ventania pestanejou e tentou ficar acordado por um pouco mais de tempo, mas o cansaço da viagem o fez desistir após alguns minutos. Apoiou a cabeça nas pernas menores de seu mestre e adormeceu contraposto. Com um riso contido, o encapuzado acariciou a cabeçorra, olhando para o lugar ao redor mais uma vez.

Tinha uma floresta logo do lado do deserto que o interessava. Ele havia passado dentre ela, mas não pôde observá-la com cautela. Parecia que dentro dela havia muito mais do que árvores, havia algo completamente diferente.

E ele queria descobrir.

Perdido em seus devaneios, o homem acabou por fechar os olhos e cochilar. Graças a muito tempo envolvido neste trabalho, Raa'skar nunca dormia profundamente. Sempre superficialmente, apenas para descansar a mente.

Não! Por favor! Não me mate!

O que você quer?! Dinheiro?! Eu tenho, mas não me mate!

Você me matou... está feliz?

Assassino.

Eu tenho família! Nã-

Assassino, assassino.

Eu lhe amaldiçoo!

NÃO! POR FAVOR!

Assassino, assassino, ASSASSINO.

ASSASSINO. ASSASSINO. ASSASSINO. ASSASSINO. ASSASSINO. ASSASSINO. ASSASSINO. ASSASSINO. ASSASSINO. ASSASSINO.

— Assassino?

Raa'skar despertou subitamente, desembainhando sua espada e a fazendo pousar sobre o pescoço daquele que lhe chamara. Era uma criança, pequena, não deveria passar dos seus um metro e cinquenta, com os cabelos morenos balançando ao ar.

Agora estava assustado, achando que iria morrer.

— O que está fazendo aqui? Por que me seguiu?

— E-Eu s-só estava curioso! Por favor, não me mate!

O assassino apenas baixou a guarda quando viu as enormes lágrimas que a criança produzia em medo. Suspirou, assustou a criança de vez... E agora não iria querer se aproximar, apesar de que assim era melhor.

Mesmo que, não queria ter feito a criança chorar.

Pensando em como apaziguar seu erro, buscou dentro dos bolsos e retirou uma bala simples e vermelha em forma de esfera, protegida por um plástico transparente. Ofereceu para o menino que recuou, achando que fosse veneno, mas ao reconhecer o doce, animou-se e pegou timidamente o presente.

— Desculpe-me. — o assassino começou, com a voz fria de sempre, mesmo que se esforçasse o máximo para parecer gentil — Você me assustou.

— Ah! Desculpe senhor assassino! Eu só queria ver como você era de perto e, — limpou as lágrimas, engolindo seus soluços — queria ver se você tinha olhos realmente negros. Quero dizer, todo negro. É, 'cê não tem.

— Olhos negros? Quem te disse isso?

— Ah, foram aqueles meninos lá, sabe? Eu 'tava passando com a mamãe pra comprar tomate, aí, eles começaram a falar que o senhor vinha pra cá né! Eu não acreditei, claro, mas eles falaram que o filho do conde falou que o pai dele falou que iria contratar um assassino pra acabar com os albinos. Mas eu acho tão injusto! Albinos são fofos, não hostis.

Raa'skar queria rir de como a criança conseguia mudar de assunto tão facilmente. Segundos atrás estava com medo, agora falava como se o assassino fosse seu conhecido de anos! Era surpreendente.

Entretanto, de seus lábios, apenas um sorriso quase imperceptível se fez presente.

— Eles são tão peludinhos e branquinhos! Não seria legal ter um de estimação, hein, senhor assassino? Ai! Cadê meus modos? Eu sou o Ivan! Prazer enooorme te conhecer, viu?! Qual seu nome?

— Prefiro não dizer, para sua segurança.

— Ah, qual é?! E como posso te chamar? Assassino é muuito forte! Não vale!

— Escolhe um nome que apenas você saiba, assim sempre que chamá-lo, eu aparecerei.

Ivan olhou para Raa'skar pensativo. Aquele homem encapuzado não era assustador, não. Quer dizer, pelo menos agora. Olhou para o homem e sentou-se do seu lado. O homem não se incomodou, pelo contrário, achou curioso. Aquele menino abaixava a guarda muito fácil.

Parecia tímido, mesmo assim. Receoso, estaria fazendo o certo ao sentar do lado daquele assassino? Ele era um assassino, afinal de contas. Olhou para Raa'skar que o observava acalentador, atrás daqueles olhos tão cansados.

Pietro.

O assassino arregalou os olhos.

— Por que Pietro?

Ivan o olhou no fundo dos olhos, como se tivesse amadurecido entre os segundos que se passaram, e como um adulto, disse cheio de certeza e convicção:

— Porque significa gentil e eu gosto.

Na verdade, o nome significava pedra. Porém, com toda a convicção que Ivan tinha, o brilho nos olhos e a coragem, aquele nome agora significaria aquilo. E mais tarde significaria muito mais, mas apenas depois, apenas mais tarde.

Naquele momento, naquela hora, Pietro significava gentil e era o novo nome de Raa'skar.

— Certo. — Raa'skar consentiu com um aceno — E por que gentil?

— Porque o senhor é gentil.

— Como pode dizer que sou gentil?

— Porque o senhor me deu bala, né.

Desta vez, o assassino não se conteve. Riu com vontade, atirando a cabeça para trás e gargalhando gostosamente, algo que não fazia há tempos. Aquela inocência lhe era tão rara que não conseguira se manter quieto. Era impressionante.

Levou a mão coberta pela luva e afagou os cabelos castanhos carinhosamente, bagunçando-os levemente.

— Só por que lhe dei bala?

— Ô senhor Pietro, não são todas as pessoas do mundo que dão bala pros outros. Ainda mais bala de cereja. Pessoa que se preze sempre come a bala de cereja!

— Mesmo? Eu nunca comi.

— COMO É QUE É? MAS O SENHOR TINHA UMA BEM AÍ!

— E eu lhe dei. Eu não gosto muito de doces. — confessou

— Mas é de cereja...

— Sim.

— Tá bom, decidi, vou te comprar doces da próxima vez que nos encontrarmos!

— Certo, certo.

O silêncio, então, se fez presente. Não era certo de que iriam se encontrar mais uma vez, não era certo de que o destino os fossem trazer de volta. Raa'skar tinha certeza de que não iriam, pois, não seria seguro para a criança e sua família. Já Ivan agarrava-se desesperadamente a esperança de que iria ver o assassino mais uma vez.

— Você deveria ir. Não é seguro ficar ao meu lado.

— Mas o senhor-

— Ivan, sabe, por mais que seja uma criança muito bem educada e que me ache tão gentil, outros e nem eu mesmo me considero assim. Saiba que não pode acreditar em ninguém que seja estranho. Veja, eu lhe dei uma bala inofensiva, mas poderia ser um entorpecente ou um veneno. Não baixe sua guarda, especialmente do lado de estranhos. E, não se empolgue com assassinos. Somos perigosos e muitos são frios e calculistas demais para se importar se estão matando uma criança ou não.

O garotinho moreno arregalou os olhos, mas logo assentiu. O adulto estava certo, se naquela hipótese não fosse Raa'skar, se fosse qualquer outra pessoa, estaria morto. As lágrimas se ajuntaram com vontade nos olhos do menino, mas ele apenas acenou.

— Eu já vou indo, então.

— Isso.

Levantou-se o pequeno e olhou para Raa'skar que acenou. Fungando anunciou que iria começar a chorar então, antes que o assassino pudesse ver isto mais uma vez, atirou-se nos braços do outro e o abraçou forte.

— Fica bem, senhor Pietro.

Então saiu correndo, sem olhar para trás, pois assim não iria deixar com que o assassino o pudesse vê-lo chorar. Isso deixou com que o mesmo ficasse estupefato. Era apenas uma criança, de fato, mas aquela inocência e apreço que ele já parecia ter pelo adulto o encantara.

Crianças eram seres surpreendentes.

Sorriu e levantando-se, após acordar seu parceiro, para dar continuidade a sua missão, falou em bom som:

— Fique bem também, Ivan.


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Notas finais do capítulo

e aí? O que acharam?
Por favor comentem, críticas construtivas, please!
Um beijo e até o próximo cáp



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