Gêmeos no Divã escrita por Lady Black Swan


Capítulo 5
3° Consulta - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Devido à alguns "probleminhas técnicos" no meu computador eu precisei pegar emprestado o notebook do meu irmão - só que ele não sabe disso - e precisei postar agora porque não sei se ou conseguir acessar de novo ainda hoje, mas tecnicamente já é domingo, né?



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Normalmente, a Dra. Frank Lorret fazia em torno de oito ou dez consultas semanais, com apenas algumas pequenas variações, ela tinha três casai fixos que faziam consultas regulares com ela — dois mensalmente e um quinzenalmente — e mais alguns que, volta e meia, simplesmente ligavam para marcar uma “consulta de emergência” por causa de uma crise no casamento, isso fora a dupla de gêmeos que recentemente vinham se consultar semanalmente e que ela sinceramente ainda não sabia o que estavam fazendo ali.

Quer dizer, fora o fato deles parecerem ter problemas em se verem como pessoas individuais, ela não via motivo para eles se consultarem com ela, especialmente porque ela era uma terapeuta de casais, e não uma terapeuta familiar.

Mas, de qualquer forma, parecia que naquele dia eles não apareceriam.

Já estava se levantando para perguntar ao Adam, seu secretário, se os irmãos Montenegro não haviam ligado para adiar ou cancelar a consulta daquela semana quando a dupla de choque finalmente chegou.

—Desculpe o atraso doutora. — disseram ao verem-na ali.

—Eu já estava achando que vocês não vinham mais, vocês estão mais de meia hora atrasados. — afirmou — Fechem a porta e sentem, vamos começar.

Um deles fechou a porta — Com apenas duas consultas Dra. Frank ainda achava impossível saber qual era qual sem que eles dissessem — e então ambos se direcionaram silenciosamente ao divã.

—Então, sobre o que querem falar hoje? — perguntou vendo os dois se acomodarem no divã — Que tal o porquê de vocês terem chegado tão atrasados hoje, ou então o porquê da pressa na semana passada? Ou... — deu um sorriso travesso — Será que as duas coisas estão interligadas?

Os irmãos a olharam parecendo curiosos sobre como ela havia chegado a uma conclusão como aquela.

—Do que está falando doutora? — perguntaram.

—Vocês se sentiram desconfortáveis quando eu comecei a falar de Verônica por isso fugiram, e hoje quase não vieram. — soltou.

Eles piscaram.

—A senhora acha... — começou um.

—Que nós... — continuou o outro.

Ambos pareciam prestes a rir.

—Estou errada?

—Completamente. — respondeu um. — Nós já superamos Verônica.

—E aqui estão nossos modernos cortes de cabelos, que não nos deixam mentir. — disse o outro.

Dra. Frank observou suas cabeças raspadas e hoje descobertas que já exibia uma sombra de cabelos escuros.

—Então Verônica foi o motivo para vocês terem raspado a cabeça?

Ambos ergueram as mãos.

—Um passo de cada vez, doutora. — disseram.

—Ok. — cruzou as pernas — Então por que chegaram atrasados hoje?

—Ás vezes as pessoas se atrasam. — um deles respondeu vagamente.

—E por que saíram correndo semana passada?

—Não queríamos perder a festa de aniversário de Maya.

—Maya? — repetiu.

Ambos sorriram.

—Nossa irmã.

♠. ♣. ♥. ♦

Pois é, talvez nós dois tenhamos nos esquecido de mencionar que mamãe e papai têm uma filha biológica deles, não é?

Ok. Eu admito que isso foi uma falha nossa.

Maya nasceu alguns anos depois de nós termos sido adotados, quando já tínhamos sete anos, é claro que algumas crianças em nossa situação podem se sentir inseguras quando os pais adotivos anunciam que vão ter um bebê biológico, mas com Vinicius e eu não foi assim, nós sabíamos desde o principio do fascínio, isso para não dizer obsessão, de mamãe para com crianças gêmeas idênticas, e meu irmão e eu não poderíamos ser mais idênticos do que já éramos, então para todos os efeitos nós dois já éramos os seus filhos perfeitos, o que significava que a menos que ela desse a luz a gêmeos univitelinos próprios, nós dois não tínhamos com o que nos preocupar.

Claro que com o papai era outra história, ele nos amava e tudo — só que de um jeito bem masculino de amar: sem demonstrar muito — mas nós dois também sabíamos que ele “sonhava” em saber identificar pelo menos um de seus filhos, então o bebê que estava por vir seria uma benção, porque finalmente ele ia poder apontar para uma criança na casa e dizer com toda certeza quem ela era.

Mas nem por isso nós nos preocupávamos, quer dizer, tínhamos certeza que não era como se eles pudessem simplesmente nos devolver ao orfanato, porém, só porque estávamos tranqüilos quanto à chegada de Maya à família, não significa que não tenhamos considerado os meses que antecederam a sua chegada como um completo pesadelo.

Veja bem doutora, na época nossa casa só tinha dois quartos: o nosso e o de nossos pais.

Então papai e mamãe tiveram que começar a lutar contra o tempo — especialmente porque a descoberta da gravidez foi um tanto tardia, com quase cinco meses se lembro direito — para contratar pessoal e construir um terceiro quarto para Maya, eles mandaram reformar a cozinha para transformá-la em um quarto, e demoliram parte de uma parede na sala para construir a nova cozinha em anexo, era barulho de obra noite e dia, Vinicius e eu quase não dormíamos, e quando achávamos que estávamos prestes a enlouquecer... A obra finalmente terminou.

Só que o quarto novo ficou tão bom que nossos pais decidiram ficar com ele, e deram seu antigo quarto para Maya, mas Vinicius e eu achamos isso uma completa injustiça, porque se era pra alguém ficar com o antigo quarto de nossos pais então que fosse a gente, afinal nós éramos dois e ela só uma, então precisávamos de mais espaço que ela, mas deixando isso de lado...

Maya nasceu aos berros e de rosto vermelho, pesando quase três quilos, e embora de inicio meu irmão e eu não tenhamos ligado muito para o que poderia significar seu nascimento, nós não demoramos a começar a sentir... Ciúmes.

O tempo todo lá em casa era Maya pra cá e Maya pra lá, papai não tentava mais acertar para qual filho estava dando bom dia, ele simplesmente dizia “bom dia meninos”, porque estava ocupado demais tentando fazer Maya parar de chorar, e mamãe não tinha mais tempo para ser “fascinada” por nós porque tinha sempre que sair correndo para trocar a frauda de Maya ou dar de mamar para ela. Foi um saco.

Já tínhamos deixado para trás as esperanças de que algum dia as coisas voltariam a ser como antes quando, pouco mais de um ano depois de Maya nascer, elas simplesmente voltaram.

—Bom dia Vinicius. — papai disse quando me viu entrando na cozinha bocejando.

—Pai eu sou o Murilo. — o corrigi sentando em meu lugar.

Logo atrás entrou meu irmão, então ele tentou de novo:

—Bom dia Vinicius.

Mas, talvez por força do hábito, meu irmão bocejou e disse:

—Pai eu sou o Murilo. — e sentou-se ao meu lado.

—Afinal quem é quem? — ele perguntou impaciente, depois de ter percebido que o estávamos enganado de novo.

—Cabe a nós sabermos e ao senhor imaginar. — respondemos no automático.

De repente mamãe surgiu por trás de nós, e nos abraçou euforicamente enquanto dizia:

—Ah! Os meus meninos não são mesmo perfeitos?

E logo em seguida afastou-se correndo, porque ouviu Maya gritar “mamãe” — a única palavra que ela sabia até então — lá do quarto dela.

Vinicius e eu nos entreolhamos confusos e sem pigarrear beliscamos um ao outro.

Ficamos surpresos em descobrir que não estávamos sonhando.

Assim como mamãe e papai, Maya nunca aprendeu a nos diferenciar completamente um do outro, no inicio isso a deixava bem confusa, mas com o passar do tempo conforme ela ia crescendo ela acabou se conformando com essa situação, de forma que quando nos via juntos ela simplesmente dizia “Oi Vinicius e Murilo” e quando via apenas um de nós ela dizia “Oi mano”.

Na verdade, uma vez nós fomos buscá-la na escola, e ela disse assim para os amiguinhos:

—Esses são meus irmãos Vinicius e Murilo.

Mas um dos amiguinhos dela perguntou qual era qual, e ela nos olhou esperando resposta, mas desistiu quando percebeu que não diríamos — nós poderíamos mentir e deixá-la confusa dizendo que os dois eram Murilo e os dois eram Vinicius, mas estávamos bem no meio da semana que prometemos para Ayume que não trocaríamos de identidade —, então suspirou e respondeu:

—Cabe a eles saberem e a nós imaginar.

Eu juro doutora, nunca tínhamos ficado tão orgulhosos de nossa irmãzinha antes!

Pouco tempo depois Maya conheceu Ayume.


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Notas finais do capítulo

Hoje é a minha última postagem antes de voltar à faculdade, pois é... Adeus minhas amadas férias. T.T



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