Gêmeos no Divã escrita por Lady Black Swan


Capítulo 4
2° Consulta - parte 2


Notas iniciais do capítulo

Dedico esse capitulo á linda leitora Joh-chan, que aqui no Nyah é conhecida como Joanny, por ter vindo lá do FF me acompanhar aqui no Nyah também! :3



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Ok. Mano, você já falou demais, vai tomar uma água e me deixa continuar.

Pois é, a Verônica é extremamente gata e a Ayume extremamente sem graça, não tenho nem como discordar e se aquela japa ouvisse a gente falando assim dela a coisa não ia prestar, mas eu só conheci a Verônica algum tempo depois, então antes de tocar nesse assunto quero falar de outra coisa.

Como meu irmão já mencionou antes, nós e os amigos de Ayume não nos dávamos muito bem, porque conosco aquela história de “os amigos dos nossos amigos são nossos amigos também” não cola, até porque Ayume tinha outros amigos além de nós, mas nós não tínhamos ninguém além dela, e também não estávamos interessados em amizade por associação.

Acho que isso é por causa de um velho hábito que adquirimos lá dos tempos do orfanato, como as crianças estavam sempre indo e chegando nós acabamos aprendendo a não nos apegarmos a ninguém, e também era uma tática de autoproteção: nós nos mantínhamos afastados e “a margem” das coisas porque não queríamos que os adultos reparassem em nós, já que tínhamos medo de só um ser adotado e assim acabarmos nos separando, mas nós já falamos aqui da história da nossa adoção então vamos deixar isso de lado.

Mas não me entenda errado doutora, não é que meu irmão e eu sejamos antissociais nem nada do tipo, não, nós conversamos e rimos normalmente com os outros, mas a única que deixamos realmente se aproximar foi a Ayume.

Tá, então agora sim nós podemos ir para o ponto principal: Verônica.

Diferente de Vinicius, eu conheci Verônica e descobri que ela era prima de Ayume no mesmo dia.

—Pequena Ayume! — nós cantarolamos quando a encontramos naquele dia, ainda no pátio da escola, e como sempre a puxamos para trás e beijamos suas bochechas.

—Oi meninos! — ela virou-se, um pouco assustada e surpresa demais, e escondendo alguma coisa nas costas — Vocês realmente precisam parar de fazer isso!

—Por quê? — perguntamos fazendo carinha de cachorrinhos tristes — Nós sentimos falta dos seus beijos Ayume.

—Não falem essas coisas assim tão de repente! — ela engasgou-se olhando em volta — As pessoas podem entender errado!

—E que importância isso tem? — perguntamos.

—Eu vou acabar apanhando! — ela exasperou-se.

Nós a olhamos seriamente.

—Ayume. — chamei.

—Alguém aqui já bateu em você? — Meu irmão completou.

—Mas é claro que não! — ela respondeu agitada, balançando as mãos freneticamente em frente a nossos rostos...

...E acidentalmente nos mostrando o que tanto tentava esconder atrás das costas: uma daquelas revistas de histórias em quadrinhos japonesas monocromáticas, que são lidas de trás pra frente e que Ayume adora.

Acho que nos esquecemos de mencionar isso, mas Ayume não é japonesa legitima, porém é fascinada por tudo que é do Japão, e tem uma pequena obsessão por aqueles desenhos e revistas pelos quais eles são famosos — os chamados “animes” e “mangás” —, inclusive o evento ao qual tivemos que acompanhá-la, depois que ela nos venceu em nosso próprio jogo e aprendeu a nos diferenciar, era referente a isso, mas como meu irmão disse, essa história é traumática demais para ser relembrada.

—Hei o que é isso? — Vinicius perguntou pegando a revista de sua mão.

—Vinicius! — ela exclamou com voz aguda — Me devolve isso!

—Hã... Não. — ele ergueu o braço para que Ayume não pudesse alcançar a revista.

Por que de que vale ter um amigo mais baixo que você se você não puder segurar as coisas no alto onde ele não possa alcançar e se divertir vendo-o dar pulinhos para tentar alcançar?

—Vinicius! — ela começou a dar pulinhos para tentar, sem sucesso, pegar a revista.

Viu só o que eu disse? Uma coisa assim... Não tem preço.

Nós sempre tirávamos proveito de sermos quase vinte centímetros mais altos que ela — embora um de nós seja quase dois centímetros mais alto que o outro, mas por motivos óbvios nenhum de nós dirá qual —, nós dissemos que ela era baixinha não é?

Eu me afastei para colocar-me em posição, já sabendo o que iria acontecer.

—Não! — meu irmão gritou rindo quando Ayume começou a tentar escalá-lo. — Ayume assim não... Opa!

Com um movimento exagerado ele fingiu tropeçar para frente, segurando Ayume pela cintura junto a si para que ela não caísse, ao mesmo tempo em que girava o braço e jogava a revista para mim.

—Meu mangá! — ela gritou tentando se soltar de Vinicius para vir para cima de mim agora.

Àquela altura já tínhamos chamado para nós toda a atenção indesejada que Ayume não queria, só que ela estava tão centrada em recuperar o mangá que nem percebeu.

—“Kenshi o Andarilho.” — li a capa.

—Me larga Vinicius, Murilo devolve o meu mangá! — ela esperneou nos braços de meu irmão que ria a erguendo do chão.

—Só quando você nos der o beijo que nos deve. — respondemos.

—Vocês são uns cafajestes! — reclamou indignada dando um jeito de se soltar para vir para cima de mim.

—Calma pequena Ayume! — eu ri correndo e rodopiando para longe.

—Murilo! — ela chamou vindo atrás de mim — Se você fizer um amassadinho só no meu mangá...!

—Pega! — gritei jogando o mangá de volta para o meu irmão.

Ficamos nesse joga daqui e joga dali correndo pelo pátio por mais algum tempo até ela finalmente, de alguma forma, conseguir recuperar a revista, e depois de examiná-la minuciosa mente e guardá-la na mochila, — dentro de um plástico e tudo, aja exagero! —Ayume resolveu que era hora de nos matar.

—Seus idiotas, sabem o que poderia ter acontecido? — reclamou desesperada — Eu vou acabar com vocês!

Nós dois corremos para dentro da escola, com ela ao nosso encalço, e já dentro do prédio corremos cada um para uma direção, obrigando-a a escolher só um de nós para perseguir.

Adivinha quem ela escolheu?

Doutora, se a senhora acha que uma garota asiática que mal tem um metro e meio de altura — ela jura de pé junto que chega sim a um metro e meio de altura, mas nós temos sérias dúvidas sobre isso — não pode dar medo é porque a senhora nunca brincou com o mangá dessa asiática baixinha!

As pessoas saiam do caminho de Ayume quando a viam chegando, sério!

É claro que o fato de eu gargalhar enquanto fugia dela provavelmente só servia para irritá-la mais.

Mas as minhas pernas eram muito mais compridas que a dela então não tinha chance dela me alcançar, certo? Errado.

Ou talvez até estivesse certo se eu não tivesse virado um corredor e trombado com alguém, tropecei para frente, mas por pouco consegui me equilibrar e segurar a pessoa em quem eu havia trombado: uma garota loira.

Isso aí doutora, era Verônica.

—Existe um motivo do porque é proibido correr nos corredores seu...! Montenegro? — ela piscou parecendo meio tonta.

—Oi? — afastei-me um passo para analisá-la.

Loira, magra, tudo no lugar certinho, só podia ser a loira gata da qual Vinicius tinha me falado dias antes.

Ela sorriu de canto.

—Parece que estamos destinados a ficarmos nos trombando nessa escola.

Confirmado, era ela.

—Parece que sim. — eu ri — É verônica, certo?

—Isso. — ela confirmou — Você está sempre atrasado para alguma coisa?

—Na verdade não estou atrasado para nada agora.

Ela arqueou as sobrancelhas bem feitas.

—Então por que estava correndo feito um louco?

—Porque eu estava...

E foi exatamente esse momento que Ayume escolheu para, de alguma forma, pular em minhas costas e firma-se nelas colocando as pernas em volta de minha cintura e cruzando os calcanhares.

—Te peguei seu traste! — exclamou vitoriosa — Agora eu vou acabar com a sua raça, e depois pego o seu irmão!

—A-hã. — fiz segurando-a para que não caísse e momentaneamente esquecido de Verônica — E como pensa em fazer isso pequena Ayume?

—Eu... — ela hesitou — Assim!

E começou a fazer uma tentativa falha de me estrangular com uma chave de braço.

Verônica inclinou-se de lado esticando o pescoço e franzindo o cenho.

—Ayume? — chamou. — O que você está fazendo?

Ayume parou na mesma hora de “tentar me estrangular”.

—Verônica? — ela olhou por cima do meu ombro — Ai meu Deus! Verônica! Murilo me deixa descer daqui!

—Ah, então seu nome é Murilo!

—Pois é. — respondi, fazendo de tudo o possível para não deixar Ayume descer — Mas como vocês duas se conhecem?

—Ela é minha prima Murilo, agora me deixa descer daqui! — Ayume reclamou se remexendo em minhas costas — Murilo é sério, me deixa descer!

—Sua prima?! — por um segundo fiquei tão surpreso que quase deixei Ayume cair.

Verônica jogou os cabelos por cima dos ombros, de um jeito que fez o ar se encher com seu perfume.

—Eu sei, é difícil acreditar que eu e essa estranha tenhamos algum parentesco, né?

Parecendo envergonhada Ayume afundou o rosto em meu ombro.

—E como! — respondi sem pensar.

—Murilo! — Ayume reclamou.

—Não foi isso que eu quis dizer! — tentei concertar — É só que você não é...

—Estranha? Tábua? Anã?

Verônica ia sugerindo com um sorriso enquanto Ayume tentava, cada vez mais, se encolher e se esconder atrás de mim.

—Asiática. — finalmente falei.

—Ah, isso é porque nós somos primas por parte de pai não de mãe. — explicou.

As pernas de Ayume já haviam se desprendido completamente de minha cintura, mas agora ela tinha os braços bem atados em volta do meu pescoço, só não de um jeito “quero te estrangular”.

—Murilo. — a ouvi me chamar bem baixinho — Pode me colocar no chão agora?

—Hum... Não, agora nós temos aula de espanhol. — respondi virando-me — Bom te ver de novo Verônica.

♠. ♣. ♥. ♦

Dra. Frank mordia a ponta da caneta, observando os gêmeos.

—Bem, parece que vocês realmente se apegaram a essa amiga de vocês, Ayume.

—Pode-se dizer que sim. — eles concordaram.

—Inclusive ficaram bem preocupados quando pensaram que alguém podia ter batido nela.

—Com certeza. — responderam.

—Porém, ainda assim você não fez qualquer menção de defendê-la quando ela começou a se depreciada pela prima na sua frente, Murilo.

Murilo desencostou-se do divã, piscando atordoado como se tivesse acabado de levar uma bofetada.

—Mas aquilo era brincadeira, elas são primas, e primas dizem coisas assim uma da outra. — disse.

Ela virou-se para o segundo gêmeo.

—E você Vinicius, também acha isso?

—Claro que sim. — respondeu em apoio ao irmão — Nós dois também temos uma porção de primos, e vivemos falando um monte de baboseiras com eles, mas não quer dizer que os odiamos... Quer dizer, não que todos os nossos primos e tios nos aceitem plenamente como parte da família, por causa da história da adoção e tudo, mas de boa, porque toda família tem seus problemas.

Ainda os observando a doutora escondeu os pés descalços sob o próprio corpo e recostou-se à sua poltrona, cruzando os dedos sobre a barriga, procurando uma posição mais confortável.

—Bem. — disse — E vocês já perguntaram para Ayume o que ela acha disso?

—Não. — eles piscaram.

—Pois deveriam. — instigou — E, se necessário, também deveriam pedir desculpa por nunca terem feito nada a respeito, mesmo se dizendo serem os melhores amigos dela.

Os gêmeos encolheram-se levemente acuados.

—É... Tudo bem. — murmuraram

Dra. Frank Lorret assentiu satisfeita.

—Agora, sobre Verônica, pelo que vocês me disseram ela é obviamente uma garota bem atraente.

—É... — Vinicius deu de ombros.

—Pra quem gosta do tipo. — Murilo completou.

—Ela com certeza faz o tipo de vocês. — afirmou — E como vocês me disseram que ela foi o pivô para vocês terem vindo parar aqui, eu só posso achar que...

Acabou sendo interrompida pelo alarme dos relógios de pulso dos rapazes, que se levantaram com um salto e voltaram a cobrir as cabeças.

—Então por hoje é só, né doutora? — Murilo perguntou se apressando em direção à porta.

—Então até semana que vem! — Vinicius despediu-se igualmente apressado.

—Esperem! — a doutora levantou-se tão rápido que quase caiu — Eu estava dizendo que...

—Semana que vem! — eles a interromperam batendo a porta na pressa de sair.

Dra. Frank Lorret piscou e caiu sentada de volta em sua poltrona.


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Notas finais do capítulo

Nesse capitulo era para ter um desenho meu da Verônica, mas ainda não aprendi a mexer nisso aqui... -.-'



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