Gêmeos no Divã escrita por Lady Black Swan


Capítulo 3
2° Consulta - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Fiquei tão feliz quando vi os comentários que não consegui esperar até a noite para postar! =^.^=



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Sinceramente Frank Lorret não esperava que os irmãos gêmeos da semana passada voltassem para mais uma sessão, mas acabou descobrindo-se agradavelmente enganada, quando, exatamente uma semana depois, ambos entraram em seu consultório, dessa vez um deles cobria a cabeça raspada com um capuz e o outro com uma touca.

—Olá meninos, fiquem a vontade. — disse.

Ela própria estava sem sapatos.

—Valeu doutora. — os dois agradeceram se esparramando no divã do consultório e descobrindo as cabeças que agora começavam a exibir uma leve penugem.

E ainda continuavam com a mesma mania de falar tudo junto... É, parece que ela tinha muito trabalho a fazer pela frente.

Batucou levemente com a ponta da caneta em sua prancheta.

—Sobre o que querem falar hoje meninos?

—Que tal sobre o Batman? — um deles perguntou inocentemente.

—O Batman é o cara! — concordou o outro — E também é o herói estatisticamente mais provável de existir na vida real.

Dra. Frank Lorret piscou desconcertada.

—Batman? — repetiu — Querem falar do Batman?

Os meninos suspiraram parecendo desanimados.

—Tá na cara que ela não entende nada de heróis. — disseram — Então deixa pra lá, do que falamos semana passada?

—Um pouco sobre a vida pessoal de vocês, e também sobre Ayume a amiga de vocês.

Os rapazes fizeram um “Ah” de compreensão, e aquele que antes usava capuz disse:

—Bem, já que semana passada quem começou foi o Murilo então hoje quem começa sou eu.

Dra. Frank olhou em dúvida para os rapazes.

—Vocês não estão trocando de identidade agora estão?

—Não. — responderam.

Ela os observou de forma desconfiada por alguns segundos.

—E como posso ter certeza?

—Não pode. — responderam — Mas se serve de consolo Ayume nos fez prometer que não trocaríamos de identidade durante as sessões.

E encolheram os ombros, a semelhança deles — mesmo em personalidade — era algo quase sobrenatural, e diante disso a Dra. Frank limitou-se a suspirar.

—Murilo. — chamou — Tudo bem para você se seu irmão começar hoje?

—Claro. — Murilo encolheu os ombros — Vai em frente mano.

—Legal... — Vinicius limpou a garganta — Então acho que agora seria um bom momento para falar sobre Verônica, não é?

♠. ♣. ♥. ♦

Ok. Verônica né?

Então, basicamente Verônica é a prima gostosa da Ayume, — eu posso falar gostosa né? Porque Ayume diz que é ofensivo, mas Verônica não se incomoda, então fico meio na dúvida — e foi o pivô para meu irmão e eu termos acabado sendo obrigados a nos consultar semanalmente com uma terapeuta de casais, só que no começo nenhum de nós dois nem imaginava que Verônica e Ayume pudessem ter qualquer tipo de parentesco.

Quer dizer, eu tenho certeza que já descrevi Ayume aqui, então já dá pra ter noção do quanto ela é sem graça, só que Verônica não, Verônica era outra história, e uma completamente diferente!

A prima de Ayume era uma loira com tudo no lugar, diga-se de passagem, mas será que eu posso mesmo chamá-la assim já que ela não é loira natural? Ah, tanto faz, em fim naquele dia quando meu irmão e eu chegamos à escola nós obviamente fomos direto procurar por Ayume.

E como quase sempre que a vemos, ela estava cercada por seu trio de amigos — um garoto e duas garotas — que nunca vão entendê-la verdadeiramente como nós.

—Pequena Ayume! — cantarolamos puxando-a para trás pelos ombros para tascamos um beijo em suas bochechas.

—Oi meninos. — ela virou-se vermelha. — Hum... Eu já disse para pararem com isso, né?

—Disse? — perguntamos inocentemente — Não nos lembramos disso.

Desde o inicio Ayume sempre foi muito extrovertida, — e quando os assuntos são animes, mangás e coisas do gênero, aí então ela nem sabe o significado da palavra “timidez”! — e antes ela teria simplesmente se virado e dado um selinho em cada um de nós, mas agora a situação era outra, cá entre nós a gente achava que isso tinha alguma coisa haver com os olhares feios que seus amigos nos lançavam sempre que nos aproximávamos para roubá-la — estávamos enganados, mas isso é outra história.

Mas, alô, ela é nossa melhor amiga, porque só nossa melhor amiga em todo mundo teria a capacidade de nos diferenciar tão bem, uma proeza da qual nem nossa mãe é capaz, então é claro que nós temos direito há ter mais tempo com ela do que os outros.

—Ai, ai, o que eu vou fazer com vocês? — ela suspirou, mas estava sorrindo.

—Que bom que você perguntou! — exclamei animado.

—Porque nós sabemos exatamente o que você vai fazer conosco! — Murilo completou.

—Ah é? — ela cruzou os braços — E o que é?

—Você vai ao cinema com a gente! — respondemos, e lançando olhares significativos aos amigos de Ayume completamos: — Só nós três.

Ayume riu, mas os olhares do trio atrás dela não eram muito amigáveis.

—Tudo bem, mas só se vocês pagarem.

A verdade é que, apesar dos pais de Ayume sempre darem dinheiro para ela — e temos certeza que não é pouco não — ela está sempre lisa porque sempre gasta sem piedade até o último centavo com mangás e coisas relacionadas.

E ainda assim nega que tem um problema em controlar esse vicio dela...  Quer saber? Acho que ela é que tinha que está fazendo terapia aqui.

—Combinado. — respondemos. — Hoje mesmo depois da aula?

—Amanhã. — ela disse — Mas agora nós todos temos aula, vocês têm aula de biologia agora, não é?

—Parceiros, Yes! — confirmamos batendo na palma da mão um do outro — E você tem literatura.

Deixa-me explicar qual é a das aulas em salas separadas doutora, é que, mesmo estando no Brasil, nós estudamos em uma escola particular que escolheu educar seus alunos com um tipo de “educação americanizada” o que significa que temos uma sala para cada aula, armários nos corredores, e, pelo menos, dois bailes por ano, mas podem haver mais, dependendo das circunstâncias — depois falamos mais disso —, mas ainda precisamos usar uniforme e não se engane não, aquilo lá é uma ditadura e esse sistema geralmente só nos dá problemas, por exemplo, a senhora não faz idéia dos problemas que nossa mãe teve para conseguir que os horários de todas as nossas aulas fossem idênticos, para não sermos separados em aula nenhuma de nenhum dia, além de que antes das aulas começarem os alunos novatos precisam passar por um “cursinho” de uma semana e meia sobre como usar seus armários.

Entendeu o drama? Quando somos novatos nós precisam ir para a escola nas férias só para aprendermos a usar os armários!

—Isso, e não quero me atrasar. — ela concordou já se virando para ir embora — E vocês deviam correr porque o sinal já vai tocar. — olhou o relógio de pulso — Acho que vocês têm três minutos.

Eu vou te contar uma coisa doutora, mas isso não é nenhum segredo: ninguém corre nos corredores como eu e meu irmão, sério, se existisse algum esporte assim, tipo “cheguem à sala em três minutos ou então é suspensão”, nós levaríamos a medalha de ouro todo ano!

Mas claro que ás vezes nós tínhamos alguns contratempos, como naquele dia.

—Vinicius! — Murilo chamou-me puxando-me pelo braço — Os livros.

Nós paramos no meio do corredor, a porta da sala de ciência a menos de quatro metros de nós, e faltando menos de um minuto para o sinal tocar, mas se aparecêssemos sem os livros na aula da Senhora Paixão, de novo a coisa ia ficar muito feia.

Por sorte já tínhamos um plano de emergência para situações assim.

—Eu distraio a Dona P, e você... — nós paramos de falar e nos encaramos.

Às vezes falar tudo junto pode realmente dar problema.

Peguei uma moeda do bolso e joguei-a para o alto, deu coroa, a palavra era de meu irmão.

—Eu distraio a Dona P e você vai pegar os livros. — ele disse.

—Ok. — respondi.

Então nos viramos e nos separamos.

Afinal se a professora Sandra Paixão não soubesse qual de nós dois havia chegado atrasado não teria como ela colocar no castigo, e seria injusto castigar os dois pelo atraso de um.

Como quase tudo o mais em nossa vida eu e Murilo não víamos nossos armários como um sendo meu e outro dele, ambos eram nossos, assim como tudo o que tinham dentro, nós dividiríamos apenas um mesmo armário se fosse possível, mas era muita coisa para pouco espaço.

Infelizmente nossos armários ficavam em dois andares distintos e naquele dia tínhamos deixado os livros de ciência naquele que ficava mais longe da sala.

Sem comentários. Tá?

Na pressa de pegar os livros — o sinal estava tocando e também não dava pra abusar da paciência da professora — eu acabei derrubando uma porção de coisas dali, e soltando junto uma porção de palavrões — que papai nem sonha que nós falamos —, enfiei tudo de qualquer jeito de volta no armário e, na pressa de ir logo para a aula, acabei tropeçando e caindo em cima de alguém.

Livros, um caderno, eu e uma garota, fomos ao chão.

Eu sei, isso aqui tá parecendo filme adolescente de Hollywood porque essa é a cena mais clichê do mundo, mas a vida é feita de clichês e foi assim que aconteceu.

—Caramba vê se olha por onde anda! — reclamei me sentando e recolhendo minhas coisas.

—Eu tenho que olhar por onde ando?! — a garota ergueu-se sobre os cotovelos, me olhando furiosa — Você que me atropelou e saia de cima de mim, você está me esmagando!

—Também não precisa fazer todo esse escândalo. — respondi levantando-me

Eu ia embora sem dar uma segunda olhada para trás, mas dei.

Foi um erro.

Quer dizer, tente me entender doutora, a menina era gata! E ainda por cima ela era uma daquelas meninas que insiste em dar qualquer jeito para deixar a saia do uniforme do colégio — cujo tamanho normal é três centímetros acima do joelho como especificado no “Manual do Aluno” que a gente usa como calço para a mesa lá em casa — o mais curta possível e se recusam a usar qualquer short por baixo — e ainda reclamam quando ficamos olhando — e que também não era a melhor peça para se estar usando caso acontecesse algo como aquilo.

Será que deu pra entender? Isso ai, a saia levantou até o umbigo, e eu podia ver tudinho!

—Está olhando o que?! — ela reclamou rapidamente colocando a saia no lugar.

—Eu? Nada. — menti na cara dura.

—E você vai ou não me ajudar aqui?

Relutante eu estendi a mão para ela e a ajudei a levantar, e uau! Não vou mentir os três primeiros botões abertos da blusa e a saia que ela estava usando deixavam muito pouco para a imaginação, e ela tinha um corpo que... Já deu pra entender né?

—Hã... Desculpa te derrubar. — falei tentando encará-la nos olhos, mas meu olhar estava preso em seu decote.

Ela estalou os dedos em frente ao meu rosto.

—Mais pra cima. — disse — Está tudo bem, eu sou Verônica.

—Montenegro.

Respondi de volta, era normal que nas poucas vezes em que eu e meu gêmeo estivéssemos separados nos apresentássemos pelo sobrenome, para que não soubessem com qual de nós dois estavam falando.

—Montenegro o que?

—Eu realmente tenho que ir agora porque estou atrasado. — respondi.

—Tudo bem. — Verônica disse — Mas primeiro o meu caderno.

—Seu caderno? — ela apontou para minhas mãos e percebi que além dos livros de biologia eu havia pegado o caderno dela também — Ah.

Devolvi o caderno a ela e saí correndo porque tinha certeza que àquela hora a Professora Paixão já estaria espumando pela boca!


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Notas finais do capítulo

Ao longo da eu vou espalhar algumas várias coisas puramente fictícias como, por exemplo, a existência de uma escola como a que os gêmeos estudam.



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