Gêmeos no Divã escrita por Lady Black Swan


Capítulo 29
14° Consulta - parte 2


Notas iniciais do capítulo

O que será que o Luciano aprontou para os Gêmeos?
CHAN CHAN CHAAAAAAAAAAAN



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Certo, antes de continuarmos deixe-me acrescentar um pequeno detalhe que meu irmão esqueceu-se de mencionar ― provavelmente porque não tem a mínima importância: depois que o loirinho disse para a Verônica que ele e Ayume eram “farinha do mesmo saco” muita garotas do colégio começaram a aparecer usando tiaras com orelhas de gatinho e/ou camisas e acessórios de desenhos animados, e aqui e ali algo do Naruto.

Assim como na vez que ele disse que gostava de garotas de cabelo escuro e de repente quase todas as garotas da escola começaram a escurecer seus cabelos artificialmente descoloridos ― o que continua até hoje, a propósito.

E quando menos esperávamos de repente uma delas brotava bem na nossa frente perguntando o que o Loirinho mais gostava em Naruto ou qual era o seu Pokemon favorito.

―Ah... Foi mal, mas é que eu não gosto muito de Naruto. ― ele respondeu para uma dessas garotas ― Francamente eu curto mais Fairy tail

A gente não tinha a mínima ideia do que ele estava falando, e parece que a garota também não, ela gaguejou uns três segundos sem saber o que dizer, e aí de repente veio com essa:

―Ah! Eu também! O meu favorito é “A pequena Sereia”, e o seu?

Nossa pequena Ayume estava mexendo no celular vendo os horários do cinema para nós, aparentemente sem prestar atenção em nada, mas nós bem que a vimos dar uma risadinha nessa hora, enquanto o Gringo, provavelmente sem querer ser grosseiro, sorriu sem jeito e respondeu:

―Acho que... Alice no País das Maravilhas?

―Eu gosto de A Bela e a Fera. ― Ayume comentou sem tirar os olhos do celular enquanto deslizava o dedo na tela ― E vocês garotos?

―O filme da Mulan é legal. ― encolhemos os ombros.

A garota quase pareceu aliviada por ter chutado certo, mas aí, de repente Ayume soltou essa:

―Porém, se o assunto forem animes eu prefiro mais Code Geass.

Caramba, quase deu pra sentir o esforço da menina pra não parecer completamente perdida ali.

Noutra vez, naquele mesmo dia, porém com uma garota diferente ― pelo menos eu acho, é que com o tempo todas começam a ficar muito parecidas pra gente ― o Loirinho disse:

―Eu não sei se tenho um Pokemon favorito, mas... Acho que gosto mais dos tipos fantasma, e você Ayume?

Ayume se distraiu momentaneamente de uma história que nos contava sobre como ela e o irmão J.J conseguiram se enfiar numa cama elástica junto com as criancinhas menores num aniversário que tinha ido com a família uns dias atrás.

―O que?

―O seu Pokemon favorito. ― ele repetiu.

―Acho que o Vulpix. ― ela respondeu ― Mas também gosto de todas as evoluções do eevee.

―Ah...! ― a garota da vez forçou um sorriso ― Eu gosto do Pikachu.

Ayume franziu o cenho pra ela.

―Claro que sim. ― então se virou pra nós e continuou a nos contar sua história.

Por último teve ainda a Verônica, hoje mesmo um pouco antes das aulas começarem:

―Ei caras! ― O Gringo nos chamou ― A Ayume ainda não chegou?

―Pelo jeito não. ― respondi olhando para o portão.

―Quem sabe ela não está esperando algum vizinho parar e oferecer carona para ela de novo? ― Vinicius sugeriu.

Sinceramente só torcíamos para não entrar em nenhuma vã estranha de algum cara oferecendo doces.

―Lucian! ― Verônica o chamou acenando para ele ao aproxima-se ― Oi Lucian.

―Ah, oi... ― ele virou-se ― Vanessa?

―Verônica.

―Ah, desculpe.

―Não, não tem problema. ― ela jogou o cabelo por cima dos ombros, pensando bem Verônica continua tendo os cabelos descoloridos ― Sabe, ontem a noite eu estava vendo na Netflix um desenho japonês que...

―Você estava? ― O Gringo estranhou ― Por quê?

―Como assim “Por quê”? Porque eu amo esses desenhos é claro!

Vinicius e eu fizemos careta, aquilo soou mais falso que nota de três.

―Ama? ― ele repetiu ― Mas ainda um dia desses, você disse que todos os animes que a sua prima vê são esquisitos.

―Ah...! Aquilo...! ― ela respondeu desconcertada ― Não Lucian, você entendeu errado. ― ela deu uma tapinha no braço dele, dando uma risadinha ― O que eu quis dizer é que a Ayume realmente gosta de uns desenhos bem bizarros, mas os que eu gosto não são tão estranhos assim...

―Você quer dizer os filmes da Barbie que nós víamos quando éramos pequenas? ― Ayume perguntou surgindo por trás de Verônica, nós nem a vimos chegar! ― Porque eu ainda gosto deles também.

―Pequena Ayume!

Nós nos levantamos do banco onde estávamos sentados, empurrando de qualquer jeito para o lado o Gringo e a Verônica só para abraçá-la;

―Oi garotos. ― ela deu um selinho em cada um de nós.

―E que história é essa de “quando você era pequena”? ― meu irmão provocou ― Você ainda é pequena!

―Idiotas! ― em contrapartida ela empurrou a nós dois.

Então até aí nada de anormal, assim, hoje depois das aulas, meu irmão e eu estávamos andando pelos corredores a procura de Ayume, embora soubéssemos que se não a encontrássemos ela estaria esperando por nós no pátio para que fôssemos os três juntos para a parada de ônibus como sempre fazemos, quando pensamos ter ouvido a voz do Loirinho vindo de uma das salas:

―Eu amo minhas fãs, mas de repente elas ficaram bem mais insistentes.

E a voz de Ayume responder com um toque de bom humor:

―Se bem que não foi assim tão “de repente”, e além do mais a culpa é sua mesma, porque não sabe ficar de boca fechada, não estou certa?

Nós paramos ao lado de fora da sala para escutar, é, somos bisbilhoteiros, eu sei.

―Pode até ser. ― ele respondeu meio incomodado ― Mas eu acho que estava esperando que talvez elas se afastassem um pouco, ao invés de se tornarem ainda mais insistentes, afinal foi sempre sobre isso que Igor me alertou “não deixe ninguém descobrir esse seu hobby, isso afastaria suas fãs!”.

―Caramba! Você gosta de animes e não de torturar animaizinhos! ― Ayume riu. ― Além do mais você já devia estar acostumado, é famoso e elas são suas fãs, qualquer gosto ou preferência nova que elas descobrirem sobre você, elas vão usar para tentar se aproximar.

―Pode ser. ― ele não parecia muito satisfeito com isso ― Ah, e a propósito, Igor não sabe nada sobre isso ainda, acho que se ele soubesse arrancaria o meu escalpo.

―Ele não faria isso. ― Ayume discordou, e mesmo sem vê-la podemos jurar que estava sorrindo. ― Ora Lorde Zucker, não fique assim, você vai ver que logo, logo aparece outro ator adolescente aqui na escola e elas te esquecem.

―Você está caçoando da minha cara, mas tudo bem. ― ele disse com uma ponta de humor ― É que eu só estava pensando... Talvez se eu tivesse uma namorada elas cederiam um pouco?

Não seria exagero dizer que já de imediato essas palavras ligaram um alarme de “perigo” em nossas cabeças, e Vinicius e eu nos entreolhamos com os olhos arregalados.

Quer dizer, supostamente ele não ia dizer o que achávamos que ele ia dizer, ia?!

―Então basta escolher uma delas. ― Ayume sugeriu ― Supostamente qualquer uma delas iria aceitar de bom...

―E que tal você? ― ele a interrompeu.

Acho que tivemos mini derrames nesse momento.

―E que tal eu o que? ― ela perguntou em tom estranho.

―E que tal se você fosse minha namorada? ― ele perguntou de uma vez e com todas as letras.

E nós? Nós congelamos.

―Isso não tem graça Luciano. ― ela respondeu, agora sem nem um pingo de humor na voz. ― Você não pode me pedir em namoro para usar-me como desculpa para afastar suas fãs.

―Você estava de acordo quando sugeriu que eu pedisse em namoro uma delas...

―Mas eu não sou sua fã, sou sua amiga! ― ela respondeu brava, e ouvimos um arrastar de cadeira, indicando que ela tinha se levantado.

Já estávamos quase comemorando com um pequeno “É isso aí tampinha!”, quando o gringo voltou a falar:

―Não! Espera! Você não entendeu... Olha, senta, e me deixa começar de novo. ― houve uma pequena pausa ― O que eu quero dizer... É que eu não estou te pedindo em namoro como desculpa para manter um pouco de distância da proximidade excessiva das minhas fãs... E sim que eu estou usando a proximidade excessiva das minhas fãs como desculpa para te pedir em namoro. Não, isso também não saiu certo, me deixa começar de novo.

Só que a essa altura, para o azar dele, nós já tínhamos saído de nosso estado de choque e saímos invadindo a sala.

—Espera um pouquinho aí Gringo! — nos interpomos, cada um de nós pegando um dos braços de Ayume para erguê-la e puxá-la para nós.

—Hum... Eu não sei por que vocês insistem em me chamar de “gringo” — comentou entediado, pondo o rosto entre as mãos, ele já nem fica mais surpreso conosco sempre aparecendo onde quer que a Pequena Ayume esteja, deve ser por isso que nos usa como “sinalizador para Ayume” — Eu nasci aqui no Brasil como vocês, sabiam? Só que um pouco mais para o sul, lá em Santa Catarina, mas mesmo assim sou tão brasileiro quanto vocês...

—A Ayume é nossa amiga! — exclamamos o ignorando.

—Eu sei disso...

—E nós não vamos dá-la a você. — continuamos — Ela já era nossa amiga antes de te conhecer, por isso mesmo que ela comece a namorar alguém nós continuaremos a cumprimentá-la com beijos, como sempre fizemos.

—Namorar? Como assim namorar? — Ayume olhou sem parar com os olhos arregalados de mim para meu irmão — Quem aqui é que vai namorar?! Eu não me lembro de ter respondido nada ainda!

—Espera um pouquinho aí Ayume, que a conversa é aqui com nós três. — respondemos, e olhamos para o Gringo — E ai, Gringo? Como é que vai ser?

—Tudo bem. — ele nos respondeu sem pestanejar.

Nós piscamos, desconcertados.

—Tudo bem? — meu irmão repetiu.

—Como assim “tudo bem”? — perguntei.

Ele levantou-se encolhendo os ombros.

—Eu sou um ator. — começou — E já o era antes de conhecer a Ayume, e às vezes meu personagem, Denis, tem uma ou outra namorada ocasional, o que significa que, eventualmente, ela me verá dando algum beijo técnico na televisão, se ela pode entender isso eu também posso entender os selinhos de amigos que vocês trocam.

Nós voltamos a piscar.

—Vinicius. — chamei.

—Sim, Murilo. — Meu irmão respondeu — Nós realmente encontramos.

Olhamos assombrados para ele.

—Encontraram? — Ayume nos perguntou ainda pendurada entre nós — Mas encontraram o que?

—Uma pessoa realmente estranha! — respondemos — Tudo bem. — concordamos após mais um momento de choque — Pode ficar com ela, Gringo.

E jogamos Ayume em seus braços.

—Opa! Esperem um pouco ai! — Ayume se rebelou, empurrando o Gringo e soltando-se dele — Por acaso eu não tenho voz, não?! Caso vocês não saibam, eu não sou uma bola pra ser passada de mão em mão!

Caramba doutora, até agora quando nos lembramos disso da vontade de rir, quer dizer, dá pra imaginar alguém confundindo o palitinho de dente, que é a Ayume, com uma bola?

—Ei! Que caras são essas? Do que vocês estão rindo?! — Ayume irritou-se, pondo as mãos nos quadris, e cerrou os olhos, fazendo eles se tornarem duas linhas finas. — E é bom pensarem bem no que vão responder. Se lembrem de que uma baixinha está sempre mais perto do que vocês pensam das suas “partes sensíveis”.

Sabe o que é pior? É que ela tinha toda razão!

O Gringo colocou a mão em seu ombro e a chamou.

—Ei Ayume.

—Ah, foi mal Luciano, me esqueci de você! — ela desculpou-se se virando.

—Ai! — ele levou a mão ao peito — Que garota impiedosa!

Enquanto isso nós dávamos risadinhas vitoriosas por trás de Ayume.

O Gringo pigarreou e pegou as mãos de Ayume.

—Eu pensei por muito tempo em como falaria isso, estão ai seus amigos de prova. — nessa hora Ayume nos olhou e nós olhamos para qualquer lado, fingindo que não era com a gente — E acho que comecei errado porque fiquei nervoso, mas acho que não tem melhor jeito de dizer do que esse: Ayume... Seu sorriso é tão resplandecente que deixou meu coração alegre. Me dê a mão para fugir desta terrível escuridão. Em outras palavras... Quer ser minha namorada?

Por alguns segundos Ayume apenas ficou lá parada, olhando inexpressiva para o Gringo, e então franziu o cenho.

—Você acabou de recitar a canção de abertura de Dragon Ball GT para mim?

O Gringo riu.

—Eu sabia que você iria reconhecer! — admitiu na cara de pau.

E nossa amiga olhou assombrada para nós dois.

—Então eu não estava mesmo ficando maluca! — afirmou — Ele estava mesmo flertando comigo!

Em seguida olhou para o Gringo como se ele fosse algum alienígena.

—E você ainda tinha alguma dúvida? — ele perguntou confuso — Olha, não é que eu tenha uma grande experiência em flertar, nem nada, mas confesso que essa é a primeira vez que uma garota fica na dúvida se eu estou ou não flertando com ela, eu estava praticamente te bombardeando com feromônios... Mas sobre a minha pergunta...

—Não. — a japa respondeu secamente.

Nessa hora eu e meu irmão rimos tanto que quase nos mijamos, claro que paramos imediatamente e — na maior cara dura — nos fazendo de inocentes quando Ayume olhou para nós.

Ela suspirou e voltou-se para o Gringo novamente.

—Acontece, Luciano, que você é muito alto. — A cara de paisagem daquele Loirinho, minha barriga dói só de lembrar... — Pense comigo, se fossemos um casal ia realmente ser um problema, você ia ficar sempre com dor nas costas e eu com torcicolo.

Cá para nós, doutora, o Gringo nem é tão alto assim, só uns cinco ou seis centímetros a mais que nós, — talvez 1,78 ou 1,79 quem sabe? — é a Ayume que é muito baixa, uma vez nós perguntamos a altura dela, e ela nos disse “aproximadamente 1,50”, mas deve ser menos porque duvidamos que ela chegue a tanto.

Só que ela estava dizendo “não” a ele, então quem éramos nós para argumentar contra, certo?

—Mas é só isso?! Então não tem problema, quando quisermos nos beijar basta eu me sentar ou você subir e algum lugar, e pronto, problema resolvido!

—Não é tão simples... — Ayume começou a dizer.

—Eu até começo a andar carregando um banquinho se você quiser! — Ele insistiu.

—Mas então você ficaria com dor nas costas do mesmo jeito! — nossa amiga o repreendeu.

—Mas são as minhas costas! — ele protestou. — E se eu fizesse isso aqui? — perguntou abaixando-se para apoiar-se sobre um joelho — Ai você sentava aqui na minha perna...

—Não Luciano... — ela suspirou novamente.

—Rapazes me ajudem aqui!

Desesperou-se se dirigindo a nós que, àquela altura, já havíamos nos sentado confortavelmente, eu na cadeira e Vinicius em cima da mesa, para dividirmos um pacote de Ruffles, enquanto assistíamos à cena de camarote.

—Não! — nós rimos maleficamente — Te vira!

—Por favor, não coloque os gêmeos no meio disso. — Ayume reclamou, virando-se para pegar um pouco das nossas batatas, mas não tem quem a faça comer as batatas fritas dos fast food, vá entender — E você sabe que isso nunca daria certo, Luciano, os meus irmãos...

—Eles gostam de mim! — afirmou ansioso.

—Só enquanto eles acham que você me vê como um garoto! — Ayume devolveu.

Espera aí, quando foi que ele conheceu os irmãos dela?

—Então na frente deles é isso que você será para mim: um garoto! — ele respondeu sem pensar duas vezes.

Convenhamos, doutora, nós temos que dar crédito àquele cara pela persistência dele, porque ele parecia mesmo disposto a tudo para conseguir o “sim” de Ayume.

—Até por que. — Ele riu de leve. — Seria até meio arriscado vê-la como minha namorada quando você está junto com os seus irmãos, e não digo isso por causa da neurose deles não, mas sim por causa da extrema semelhança que você tem com o seu irmão mais novo, o J.J, até um pouco na forma de se vestir, porque eu ou vi fotos de vocês, então vai que, na hora de te beijar, eu acabasse me confundindo e...

E só não terminou a frase porque Ayume enfiou um punhado de batatas na boca dele.

—Por favor, cale a boca, Luciano. — suspirou sentando-se com naturalidade no meu colo e pegando mais Ruffles com meu irmão — Só... Cale a boca.

Sendo pequena e magra do jeito que é, Ayume passou toda a vida tendo que sentar no colo dos outros — ela sempre reclama disso com a gente: Sempre que algum carro em que ela vá entrar está lotado, e não tem mais espaço para ninguém, quem acaba indo no colo? Isso aí, Ayume — sentar no colo tornou-se algo simplesmente natural para ela.

O Gringo passou as mãos pelos cabelos e suspirou exasperado.

—Mas agora falando sério, Ayume eu realmente gosto de você. — odeio admitir, odeio mesmo, mas o miserável parecia estar falando a verdade — Você não gosta de mim?

—Claro que gosto, Luciano. — ela respondeu como quem explica algo a uma criança.

—Então por que continua me recusando?!

Nossa amiga fez uma careta.

—Eu gostar de uma pessoa não quer dizer que eu queira namorá-la, olhe o exemplo dos gêmeos, eu obviamente gosto deles, claro, às vezes eu quero abraçá-los e às vezes eles me irritam tanto que eu quero dar um tiro neles... — seria muito ridículo se eu confessasse que às vezes nós temos medo da Ayume? Tipo, de verdade mesmo. — Mas nem por isso significa que eu queira iniciar um relacionamento de poliamor com eles e namorá-los.

—Não, mas esse é o sonho da Maya desde que ela te conheceu, sabia? — Vinicius comentou se levantando da mesa para jogar a embalagem no lixo.

—Ou era, até que conheceu o Gringo. — completei.

Não sei por que, mas de alguma forma ele viu isso como uma deixa para se animar novamente:

—Viu só Ayume? Se até a Maya nos apoia, por que então...?

—Se eu já não quero que você coloque os gêmeos nisso, é claro que eu não quero que você coloque a irmãzinha deles também! — Ayume exasperou-se jogando a cabeça para trás e cobrindo o rosto com as mãos.

O Gringo deu um passo à frente para ficar bem diante de Ayume e tirou as mãos dela do rosto.

—Então você está me dizendo que gosta de mim da mesma forma que gosta dos gêmeos? — perguntou olhando-a seriamente.

Os olhos de Ayume se arregalaram, tipo assim, só um pouquinho.

—Claro que não! — respondeu — Você e os gêmeos são casos totalmente diferentes!

—É claro que sim. — concordei abraçando Ayume pela cintura e pondo meu queixo sobre a cabeça dela — Não queira se comparar a nós, Loirinho, que somos os melhores amigos dela.

—Tudo bem, tudo bem. — acenou, mas depois voltou a olhar diretamente para Ayume — Mas então me diga, porque não, Ayume, e não adianta usar as desculpas das nossas alturas e dos seus irmãos que essas não colam!

—Mas...! Mas...! — Ayume ficou toda desconcertada — Não me pergunte isso assim, olhando tão diretamente nos meus olhos, porque mesmo por trás dos óculos seus olhos azuis demais ainda são muito perigosos, você sabia?!

—É isso ai, Gringo. — meu irmão concordou voltando e puxando o gringo para trás pelos ombros — Respeite o espaço pessoal da moça, ok?

E depois retomou o seu lugar em cima da mesa.

—Mas por que é que vocês dois continuam aqui?! — o Gringo perguntou já começando a se incomodar conosco, visto que nós, obviamente, não estávamos ali para ajudá-lo ou mesmo apoiá-lo.

Mas vamos admitir, até que ele foi bem paciente, pois é nós somos muito chatos mesmo.

—Porque queremos ouvir a conversa. — meu irmão respondeu, descarado.

—Somos intrometidos. — reforcei.

— Ayume, já percebeu que você é vigiada o tempo todo? Ou pelos seus irmãos ou por esses dois.

—Já, mas não me incomodo mais, e nem adianta que você não vai conseguir tirá-los daqui. — Ayume avisou.

Mas, cá entre nós, ela também não queria que nós fossemos embora.

—Tá, tanto faz. — ele suspirou, desistindo — Mas e quanto à minha resposta, Ayume?

—Ai meu Deus, por que você é tão insistente?! — Ayume se estressou curvando-se para frente com os punhos fechados.

E nós que pensávamos que só a gente é que podia estressar a Ayume desse jeito... Ok. Foi ponto para o gringo.

Ele agachou-se em frente à Ayume pondo os cotovelos sobre os joelhos e o tosto entre as mãos, para encará-la nos olhos novamente.

—Apenas diga que não gosta de mim desse jeito, com toda a sinceridade, e me olhando diretamente nos olhos, que eu desisto. — propôs.

—Mas por que você precisa que seja justo eu?! — ela colocou-se ereta fugindo do olhar dele — Praticamente quase todas as garotas da escola gostam de você, vai lá e escolha qualquer uma mais aceitável e que não desperte o seu lado estranho, e a sociedade agradeceria por isso, acredite!

E pode acreditar doutora, essa frase disse muita coisa a mim e ao meu irmão.

—Acontece, Ayume, que nenhuma dessas garotas que você mencionou gosta realmente de mim, elas gostam do “Lucian, o ator”, mas não do “Luciano, o garoto que gosta de séries e animes”, você é a única que gosta de quem eu realmente sou, e é de você que eu gosto. — afirmou ficando de pé e pondo as mãos nos bolsos.

Meu irmão cutucou Ayume no ombro.

—Ayume, não nos diga que...?

—... Você só está assim tão relutante por não querer entrar em conflito com aquelas garotas de novo? — completei.

Se nós estávamos decepcionados? Não, imagina, quer dizer... É talvez um pouco.

É que a gente meio que tinha esperança que o interesse do Gringo pela Ayume fosse apenas unilateral.

Ela ficou algum tempo sem responder, como se estivesse pensando no que dizer, mas aí, como se tivesse desistido, de repente ela levantou-se e disse:

—Eu tenho que ir pra casa, está ficando tarde.

—Ei Ayume!

Chamamos já nos levantando para segui-la... Quando o Gringo pôs as mãos em nossos ombros.

Francamente, é tão fácil esquecer que ele ainda está lá...

—Como assim evitar entrar em conflito com aquelas garotas? Que garotas? Do que vocês estão falando? — já foi nos bombardeando de perguntas.

Nós nos viramos.

—Ah, é verdade, você ainda não estava aqui. — comentamos pondo as mãos nos bolsos — Logo no inicio, quando nós começamos a ser amigos de Ayume, algumas garotas doidas não gostaram dessa história, elas acharam que Ayume não era “adequada” para estar com a gente, porque ela é “estranha” e tudo mais, daí começaram a intimidá-la e até agredi-la para fazê-la parar de andar com a gente.

Os olhos do gringo se arregalaram.

—Então é por isso que vocês nunca desgrudam dela? Para evitar que ela seja cercada e agredida por essas doidas?!

—Não. Nós fazemos isso porque somos amigos dela e gostamos de ficar perto. — acenamos com descaso — A Ayume deu o jeito dela sozinha.

Ele franziu o cenho.

—Deu o jeito como?

—No começo ela nos proibiu de ficarmos dando selinhos nela, e se incomodava quando a abraçávamos em público. — comecei. — Depois, quando isso não funcionou, ela passou para o modo psicopata.

—Como é que é?! “Modo psicopata”?!

—Sim, primeiro ela as atraiu para um banheiro, e lá dentro ela puxou duas facas e desafiou a líder para um mano a mano — respondeu Vinicius. — Para resolverem aquilo ali e agora.

—E pra mostrar que estava falando sério ela ainda cortou o próprio braço! — acrescentei.

—Meu Deus! — o Gringo exclamou horrorizado.

—Pois é, devia ter visto! Todo aquele sangue! — Eu estremeci. — As meninas ficaram tão apavoradas que quase se urinaram.

—Depois disso as garotas fugiram apavorados, e Ayume deu fim em todas as provas, claro que agora elas acham que ela é uma psicopata louca, mas nunca mais mexeram com ela. — Vinicius completou — Óbvio que elas também nunca descobriram que tudo, desde as facas até o sangue, era falso.

O Gringo estava boquiaberto, e levou ainda dois segundos para se dar conta do que tínhamos dito.

—Como é? Falso?

—É. — confirmamos.

—Tudo?

—Facas de brinquedo e sangue falso caseiro. — respondemos.

Ele caiu para trás, sentado na cadeira.

—Não dá pra acreditar... — balbuciou abestalhado.

—Mas só porque ela pode se virar sozinha não quer dizer que ela não queira evitar o conflito sempre que possível. — finalizei.

De repente o Loirinho passou correndo por nós e foi atrás de Ayume, nós olhamos em pânico um para o outro na maior cara de “por que nós ajudamos?!” e fomos atrás.

—Ayume! — nós tínhamos acabado de chegar à porta da sala, e lá ficamos, quando o Gringo chamou por Ayume no meio corredor, ela parou, mas não se virou. — Tudo bem, então você pode me rejeitar, esse é um direito seu e eu não vou te obrigar. Mas... Saiba que eu vou continuar insistindo, ok? — ele colocou as mãos nos bolsos — E vou continuar insistido até você me aceitar ou me rejeitar de maneira adequada, e não apenas com desculpas do tipo “meus irmãos iriam surtar”, sei lá, o que acontecer primeiro.

Nós franzimos o cenho nos entreolhando. De maneira adequada? O que ele quis dizer com isso?

Ayume virou-se, também curiosa com esse último termo.

—Como assim “rejeitá-lo de maneira adequada”?

O Gringo cruzou os braços, Ayume imitou-o, não sei se ela nos notou espiando lá no fundo, mas se notou ignorou.

—Até que me diga que não quer estar comigo desse jeito porque seu único interesse comigo é como amigo, e não porque está preocupada com a reação das outras garotas e do resto da sociedade e sei lá mais o que. E se for assim que você realmente se sente, eu entendo, ainda vou continuar gostando de você, mas entendo, e continuarei sendo seu amigo, se... Se você quiser.

—Luciano. — Ayume chamou.

—O que?

—Você é muito chato.

Acredite doutora, a senhora não imagina toda a concentração que nós reunimos nessa hora só para não cair na gargalhada de novo.

—Pode ser. — ele riu de leve, descruzando os braços — Mas eu tenho minhas razões, você não acha? Tipo, que outra garota aceitaria fazer cosplay de casal comigo além de você?

Nós soubemos que algo não ia bem quando Ayume descruzou os braços e perguntou, meio abobalhada:

—Cosplay... De casal?

—Claro. — confirmou o gringo — E com certeza qualquer outra me chamaria de louco se eu dissesse que sonho em um dia vestir meu filho de squirtle ou charmander.

Com certeza depois de ouvir isso nós somos os primeiros a apontar e chamá-lo de louco — e estranho —, mas o pior ainda estava por vir: Ayume deu um passo à frente.

—E... Se fosse menina? — perguntou — Poderia fazer um cosplay de Shinku? Ela é tão linda... Uma criança ficaria muito adorável vestida de Shinku... Principalmente se fosse parecida com você...

—Shinku é? Claro, por que não? Seja lá quem for... — ele respondeu pensativo — Na verdade uma filha também seria uma boa oportunidade para um cosplay pai e filha de Sesshoumaru e Rin, você não acha A...?

Acho que ele já tinha até se esquecido de que estava se declarando para ela, e confesso que nós dois não tínhamos ideia do que eles estavam dizendo, mas então bem nessa hora Ayume correu até ele e o abraçou.

—Ok. — ela disse — Nós podemos tentar.

E depois quando a gente dizia que esse Gringo era perigoso ninguém acreditava, não é?

♠. ♣. ♥. ♦

A Dra. Frank Lorret meditou sobre aquilo por alguns momentos, antes de finalmente falar:

—Então agora Ayume e Luciano estão em uma relação, e como vocês estão se sentindo sobre isso?

—Péssimos, já não dissemos? — os gêmeos largaram-se no divã.

—Claro, mas conseguem me dizer por quê? Vocês acham que agora Ayume vai abandonar vocês? Que ela vai esquecê-los? Que irá ignorá-los para ficar o tempo todo com o namorado?

Os garotos a olharam confusos.

—É... Acho que sim. — Vinicius concordou.

—Deve... Deve ser mais ou menos isso. — Murilo concordou tirando o chapéu e o torcendo entre as mãos.

—Uhum. — Frank Lorret concordou — E já falaram com ela sobre esses temores?

Os gêmeos a olharam surpresos.

—Não! Claro que não! — negaram de imediato — Isso tudo foi hoje de manhã!

—Certo. — a doutora balançou a cabeça — E por que não tentam falar com ela amanhã?

—Amanhã? — perguntaram incertos.

—Ou depois de amanhã se preferirem, quando estiverem prontos.  — a doutora respondeu tranquilamente — Mas falem com ela em algum momento meninos, nada vai se resolver se guardarem isso apenas para si, Ayume é amiga de vocês e os ama, então falem com ela.

—Sim, tudo bem. — os meninos concordaram ainda incertos.

Frank Lorret sorriu calidamente.

—Então terminamos aqui? — perguntou quando os alarmes nos relógios de pulso dos garotos soaram — Até semana que vem?

—Sim. — Vinicius respondeu levantando e estendendo a mão para o irmão.

—É, tudo bem. — concordou Murilo, colocando o chapéu de volta na cabeça e aceitando a ajuda do irmão.

Mas ainda enquanto saiam, logo antes de fecharem a porta, a Dra. Frank teve a nítida impressão de escutá-los dizer:

—Só que nem sempre tudo pode ser resolvido com uma simples conversa, doutora...

Provavelmente relembravam a si mesmo de como haviam ignorado completamente Ayume na época em que estavam fascinados por Verônica.


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Notas finais do capítulo

O SHIPP É REAAAAAAAAAAL o/
Até a próxima, pessoinhas. ;)



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