Gêmeos no Divã escrita por Lady Black Swan


Capítulo 27
13° Consulta - parte 2


Notas iniciais do capítulo

Ando meio desanimada para escrever ultimamente, mas por sorte eu já tenho alguns capitulos adiantados, então talvez dê pra continuar postando até passar essa fase, mas deixando isso de lado, alguém aqui já ouviu falar da kasana?
A kasana é uma sombrinha japonesa fabricada à mão e cujo cabo se parece exatamente com um espada (Daí o nome que é a mistura de "Kasa = Guarda-Chuva e Katana = Espada japonesa), e cada uma vale, aproximadamente US$ 180,00. O.O
Alguém aí conhece uma pessoa que teria coragem de comprar uma dessas?



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Murilo se espreguiçou esticando os braços para o alto.

—Bem. — ele disse olhando para Vinicius — Acho que daqui quem continua é você, irmão.

Acenando Vinicius começou a contar:

—Aconteceu há uns dias, eu acho que foi... — parou — Quando foi Murilo? Segunda-feira ou terça-feira?

—Foi segunda-feira. — respondeu Murilo.

—Ah, é mesmo. — concordou Vinicius. — Então, doutora, recapitulando: Foi alguns dias atrás, era uma segunda-feira e...

♠. ♣. ♥. ♦

Estava chovendo muito.

Nós estávamos vindo junto com Ayume pelo corredor, e parecia até que ela tinha adivinhado que ia chover, porque estava de novo com aquela sombrinha dela enfiada na mochila,— e quem a visse veria o cabo de espada se sobressaindo pelo ombro dela — quando vimos o Gringo sentado num dos bancos perto do portão, olhando para a chuva caindo no pátio.

—Está ilhado? — Ayume perguntou parando conosco em frente a ele.

—Ah, não, eu só estava esperando os... — ele começou a virar-se sorrindo, mas aí seus olhos bateram direto no cabo de espada acima do ombro esquerdo de Ayume — Meu Deus do Céu, o que é isso?!

—O que? — Ayume olhou para o próprio ombro — Não, não, não, isso não é uma espada, viu? — ela sacou a sombrinha — É só uma sombrinha comum.

—Só uma sombrinha comum?! — ele levantou-se com um pulo e pegou a sombrinha das mãos de Ayume — Você tá brincando comigo?! Isso é uma Kasana! É original?!

Francamente nós não temos a menor ideia do que ele estava falando, mas Ayume deve ter entendido, porque, nessa hora, seus olhos cresceram — ou tanto quanto aqueles olhos pequeninos da Ayume podem crescer — e ela respondeu:

—É, é sim.

—Irado! — o Gringo exclamou.

E ai Ayume também se animou:

—Eu sei! — ela fechou os punhos de forma vivaz — Minha mãe me chamou de louca, cortou minha mesada por dois meses e me pôs de castigo por tempo indeterminado por ter pagado cento e oitenta dólares mais o frete numa sombrinha que comprei pela internet, mas eu sabia que valia a pena!

—Você pagou cento e oitenta dólares mais o frete por uma sombrinha?! — nos engasgamos. — Dá pra comprar uma por dez reais ali na esquina! Essa coisa é cravejada de diamantes?!

Eu juro doutora, se qualquer um de nós tivesse uma sombrinha cara daquelas, nunca que íamos ter coragem de sair com ela na rua.

Só que os dois nem pareceram nos ouvir:

—Show! — o gringo exclamou extremamente empolgado.

—Eu sei! — Ayume respondeu. — O meu irmão, J.J, gostou tanto dela que depois, sem a mamãe saber, o papai deu-me dinheiro para encomendar mais uma, ela provavelmente vai chegar antes do aniversário dele!

—Ah Deus, eu com uma sombrinha dessas...! — ele exclamou, e no auge de sua animação, empunhou a sombrinha como uma espada, apontando-a para o céu e exclamando: — Reine sobre o céu congelado Ryonimaru!

E abriu a sombrinha.

Tenho quase certeza que foi nessa hora, quando perceberam aquele monte de gente os olhando, que os dois se lembraram de que estavam em público.

O Gringo tossiu para disfarçar, Ayume pegou a sombrinha das mãos dele.

—Acho que você já está passando tempo demais comigo, estou começando a te influenciar. — comentou com naturalidade e virou-se para nós — Eu já vou garotos, ainda tenho um resto das minhas economias e quero ir ao Planeta Mangá.

Nós cruzamos os braços.

—Como assim você vai ao Planeta Mangá? Você não disse que está de castigo?

—E estou, mas com essa chuva eu posso dar a desculpa de que me atrasei porque o trânsito estava um caos. — respondeu-nos já nos dando as costas.

Porém, antes que ela pudesse realmente se afastar o Gringo deu um passo à frente e a pegou pela mão livre.

—Ayume! — ele chamou.

Ela o olhou por cima do ombro e virou-se.

—O que?

Ele a olhou seriamente.

—Eu estou com uma dúvida... Você que está indo ao Planeta Mangá por acaso sabe... Quanto é mil menos sete?

Ayume o encarou de volta.

—Eu não tenho certeza, posso verificar... Lhe trago a resposta amanhã.

Respondeu puxando a mão fechada em punho — e temos certeza que ela estava segurando uma nota de vinte! — e a colocando no bolso.

—Ok. — ele concordou.

E finalmente a deixou ir.

Nós dois cruzamos os braços.

—Mil menos sete... É novecentos e noventa e três. — Murilo comentou pensativo — Isso de agora foi algum tipo de código, não foi?

—Com certeza que foi. — concordei.

O Gringo virou-se para nós e encolheu os ombros.

—O que posso fazer? É bem mais rápido comprar coisas assim do que pela internet.

—Sério... Como é que mais ninguém percebe que, na verdade, você é muito estranho? — perguntei cerrando os olhos.

—Porque para nós isso é mais do que óbvio. — meu irmão acrescentou.

—Ah, mas isso é porque vocês estão sempre com Ayume. — ele afirmou com um sorriso sem graça.

—E o que tem isso? — perguntamos.

—Bom, é que normalmente eu costumo conseguir esconder muito bem o “meu lado estranho”, como vocês chamam, mas sempre que eu estou perto de Ayume esse lado costuma vir à tona sem que eu me dê conta. — e riu — Acho que se pode dizer que ela desperta o que há de mais estranho em mim. Mas olha gente. — E levou um dedo aos lábios naquele sinal universal de “bico calado”. — Ok?

Nós encolhemos os ombros.

—Pra gente tudo bem. — respondemos.

E já estávamos indo embora, mas aí ele começou a nos seguir.

—Então a gente já vai? Ou vamos esperar a chuva passar um pouco?

Nós paramos a meio passo de sairmos da cobertura da escola para o pátio e nos encharcamos completamente.

—Como assim “a gente”? — perguntamos.

—É, ué, afinal eu estava esperando vocês. — afirmou parando atrás de nós.

—Por quê? — perguntamos de cenho franzido e sem nos virarmos.

Sabe doutora, já é bem conhecido, afinal nós não fazemos segredo disso para ninguém, que nós não gostamos daquele Gringo, mas mesmo assim por alguma razão ele parece nos ver como amigos dele, vai entender não é?

—Vocês não querem ficar comigo um pouco depois das aulas? Vai ser legal. — viu só? — Talvez possamos ir lá pra casa...

—Foi mal, mas não vai dar não. — respondemos dando um passo a frente pra debaixo da chuva e seguindo adiante. — Hoje nossos pais não vão estar em casa, então temos que ir direto para lá pra nossa irmã não ficar sozinha.

Só que, de novo, o cara nos seguiu.

—Ah, então vamos para a casa de vocês?!

Nós paramos.

—Como assim? Você vem com a gente?

—Claro! — afirmou.

—E quanto ao seu agente? — perguntei me virando.

—O que tem ele?

—Ele não vem te pegar para o trabalho? — meu irmão perguntou também se virando.

—Hoje eu não tenho filmagens. — ele sorriu — Quem vem me buscar é meu pai, mas tudo bem, eu ligo para ele e digo que estou na casa de uns amigos, e ele vai me buscar lá.

Sério, de onde que ele tirou que nós somos amigos dele?!

—Você devia mesmo estar debaixo dessa chuva? — Murilo perguntou. — Não é melhor ir pra casa?

—Não, tudo bem.

—Você vai pegar uma gripe... — comentei.

—Depois eu tomo uns antigripais e umas vitaminas C. — respondeu-nos passando por nós — Então vamos?

E além de tudo o cara ainda é o maior sem noção! É mole?

♠. ♣. ♥. ♦

—O que? O que foi doutora? O que eu disse? — Vinicius questionou quando percebeu o sorriso da doutora.

—Oh nada. —Frank Lorret respondeu ainda sorrindo — Vocês realmente não perceberam a ironia?

—Ironia?  — repetiram os gêmeos — Que ironia?

—Bem. — a doutora começou — É que mesmo sem o consentimento de vocês, Lucian... Não, Luciano, simplesmente decidiu que vocês três são amigos, e agi de acordo com isso, não é mesmo?

—Exatamente. — Concordou Murilo cruzando os braços.

—Completamente sem noção. — acrescentou Vinicius, também cruzando os braços.

—É mesmo? — a doutora perguntou apoiando o rosto de lado numa das mãos — E poderiam me explicar no que, exatamente, isso se difere do que foi o inicio da relação de vocês com Ayume?

Piscando os gêmeos olharam-na por alguns segundos completamente sem palavras.

—Não, espera um pouco, doutora. — ambos ergueram as mãos — Nós somos totalmente diferentes desse Gringo!

—É mesmo? — ela sorriu com interesse. — Como?

—É que a Ayume gosta da gente. — afirmou Vinicius — Já nós não gostamos dele.

—E fazemos questão de deixar isso bem claro. — reforçou Murilo — Mas parece que ele não tá nem aí pra isso!

—Hum...

—“Hum”? — repetiu Vinicius.

—“Hum” o que, doutora?  — perguntou Murilo.

—Não, nada. — respondeu brincando com a caneta entre os dedos — É só que eu imaginava que vocês seriam capazes de compreender um pouco mais as atitudes de Luciano, já que ele parece agir e pensar mais ou menos como vocês.

Voltando a cruzar os braços, e não parecendo entender muita coisa, os gêmeos inclinaram as cabeças em direções convergentes.

—Hã... — disseram — Acho que nós vamos precisar de mais informações aqui, doutora.

—Claro. — ela sorriu — O que eu quero dizer meninos, é que assim como vocês, Luciano parece viver em um mundo isolado, porém, diferente de vocês, esta não foi uma opção deles.

Os gêmeos piscaram.

—Hã?

—Estou dizendo que creio que Luciano não saiba fazer amigos.

—Ah... — fez Murilo finalmente entendendo.

—Mas não acho que esse seja o problema, doutora. — discordou Vinicius. — Porque ele é famoso e tudo, então, na verdade, ele é até bem popular lá na escola, por isso está sempre cercado de gente.

—Então problema pra fazer amigos ele não tem. — concluiu Murilo.

—Mas é justamente esse o problema: por ser famoso muitas pessoas se aproximam dele, e ele fica sem saber quem está tentando conhecê-lo por ele ser Luciano ou por ele ser Lucian Reis, então acaba sem saber como ou com quem fazer amigos, mas então temos Ayume, que o conheceu e tornou-se amiga dele sem saber quem ele era, portanto, nela ele tem confiança para considerá-la como amiga, e como eu já disse, esse isolamento não é uma opção dele, então diferente de vocês que permitem que apenas Ayume entre em seu mundo, Luciano quer expandi-lo. Mas ele não sabe como fazer amigos sozinho, logo faz amigos por associação. Como vocês dois.

—Ah. Mas e os outros amigos da Ayume? — perguntaram — Por que ele não tenta uma “amizade por associação” com eles também?

—Luciano não é meu paciente então eu não tenho como saber, meninos, mas quem sabe ele não vá tentar isso mais tarde?

—É, essa até poderia ser a razão de ele ter cismado tanto assim com a gente. — Murilo comentou deitando a cabeça no ombro do irmão.

—Mas a gente ainda acha que a coisa não é bem por ai não, doutora. — continuou Vinicius.

—É mesmo? E por quê?

—Porque naquele dia...  — Vinicius recomeçou a contar a história.

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...Nós não tivemos outra escolha a não ser levá-lo para nossa casa. — Até porque ele estava tão determinado que mesmo quando dissemos “não” ele foi do mesmo jeito

A chuva já tinha parado quando nós chegamos, mas nem por isso estávamos menos encharcados, sério, parecia que estavam só esperando a gente abrir o portão de casa para a chuva milagrosamente parar, o sol brilhar, os passarinhos cantarem e um arco Iris aparecer no céu!

—Então esta é a casa de vocês... — o Gringo comentou parecendo não se incomodar nem um pouco com os quão ensopados nós todos estávamos — Mas o muro não é meio baixo?

Nós olhamos para o muro, fracamente nunca tínhamos parado para pensar nisso.

—Você acha? — perguntamos.

—É... — ele levantou a mão como se estivesse tentando medir o muro — Eu acho que ele não chega a dois metros e meio, não é? Alguém já o pulou alguma vez?

—Na verdade sim. Ayume.— respondemos passando pelo portão — Quando ela veio dormir conosco.

—Ah, então ela foge pra cá quando briga com os irmãos? — ele riu — Ela deve realmente adorar vocês, porque a casa dela não fica nem um pouco perto daqui.

Não vou mentir doutora, que ele saiba onde fica a casa da Ayume e nós não, é algo bem irritante, muito irritante mesmo.

—Ei Maya, nós estamos em casa. — chamei abrindo a porta.

—Você se lembrou de fechar as janelas? — Murilo perguntou vindo logo atrás.

—Shiiiiiiu! —Nossa irmãzinha chiou para nós do jeito que só faz quando... — Está começando! Está começando!

Quando ela está assistindo televisão.

E de fato lá estava ela sentada no sofá, ainda com o uniforme da escola, com os dedos dos pés se torcendo de ansiedade e tão concentrada que tivemos certeza absoluta que ela não fechou janela nenhuma da casa.

Até então nós nunca tínhamos prestado a menor atenção no que Maya gostava de assistir pela televisão, nem sequer sabemos que tipo de desenhos ela gosta ou não de assistir, mas por alguma razão daquela vez ficamos interessados em saber que tipo de coisa prendia a atenção dela daquele jeito, e olhamos para a televisão.

—Já vai, já vai... — dizia um garoto na televisão que vinha descendo as escadas no escuro, enquanto alguém não parava de bater na porta — Caramba! Eu já disse que já vai!

Ele abriu aporta com um puxão e uma garota entrou.

—Onde está a mamãe? — perguntou. — Eu estou ligando para o celular dela e só cai na caixa postal!

—Boa pergunta, não a vejo têm uns dias...

Na televisão as luzes se ascenderam... E lá estava o Gringo. Um pouco mais novo, e com os cabelos mais curtos, mas sem dúvida era ele.

Tá, tudo bem, nós já sabíamos que ele era ator, mas isso não nos impediu de ficarmos boquiabertos com a cena.

A garota na televisão se virou.

—Como assim alguns dias?! O que aconteceu?

A versão mais nova do Gringo na televisão encolheu os ombros.

—Eu acordei e tinha um bilhete na cozinha “viajei com Sam, não se preocupe, tem comida na geladeira e não esqueça o dever de casa”.

—O que? Simples assim?!

—É.

—E você nem pensou em avisar as autoridades?!

—Mas o bilhete dizia “não se preocupe”.

—Denis!

Atrás de nós o Gringo empurrou-nos um pouco para o lado, já que tínhamos ficado parados na porta durante todo aquele tempo, para conseguir passar e viu o que estávamos assistindo na televisão.

—Ah! — apontou a televisão — Eu me lembro desse dia, caramba, tivemos que gravar a cena, sei lá, umas vinte vezes, porque eu estava muito nervoso e não parava de olhar para câmera! Na sétima tomada eu até tropecei e rolei as escadas!

Riu.

No momento em que ouviu a voz dele a cabeça de Maya girou. Os olhos arregalaram-se e a boca abriu-se. E antes que nos déssemos conta ela já tinha ficado em pé no sofá e gritava louca e agudamente, sério parecia até que ela tinha visto bara-rato (mistura de barata e rato) com asas! E depois ela literalmente pulou em cima do Gringo — e foi um belo salto.

—Denis! — gritou.

—Opa! — ele exclamou pegando-a por pouco. — Oi!

—Denis! — gritou de novo, e sem dar a mínima para o fato de ele estar encharcado o abraçou até parecer que iria quebrar seu pescoço e afundou o rosto em seu ombro dando gritinhos agudos: — Denis! Denis! Denis! — então ela puxou o rosto de volta e exclamou surpresa — Denis!

—Oi. — ele riu. — Na verdade eu me chamo Luciano, mas você pode me chamar de Lucian também, que é meu nome artístico.

—Denis!

Acho que agora ela estava em estado de choque, ou sei lá o que.

—Ok. — ele riu — Pode me chamar assim também.

Ela pegou o rosto dele entre as mãos.

—Você é o Denis! — exclamou — Mas por que está na minha casa?

E aí olhou para televisão, como se quisesse ter certeza de que ele não pulou direto de lá para a nossa sala.

—Ah eu vim com seus irmãos. — ele deu dois passos para frente e a recolocou de pé no sofá — Sou amigo deles.

—Isso ainda está em votação! — exclamamos.

—Amigo dos meus irmãos... — Maya repetiu lentamente, e esticou o pescoço para nos olhar, depois olhou de novo para o Gringo — Você é amigo dos meus irmãos?

—Sou.

—Como dissemos, isso ainda está em...!

Fomos interrompidos quando, de repente, Maya voltou a dar mais um gritinho histérico e, de repente, pulou de novo no colo do loirinho.

—Denis é amigo dos meus irmãos! — ela gritou pendurada no pescoço dele — Denis está na minha casa!

E aí continuou gritando.

Foram, tipo, uns três minutos inteiros gritando pendurada no pescoço do Gringo.

Até agora a gente não acredita, quer dizer, a Maya só reage assim com a Ayume ou com bichinhos de pelúcia novos! Se bem que sem as partes dos gritos... Hum, pelo menos não tantos... Geralmente.

—Mas você está todo encharcado! — ela exclamou quando o Gringo a recolocou de pé no sofá, aparentemente sem se dar conta de que ela mesma estava toda molhada agora, de tanto ter ficado pendurada nele, e também estava molhando o sofá.

—Ah... É. Desculpe por molhar a casa desse jeito, é que seus irmãos e eu pegamos um pouco de chuva.

—Dizer que pegamos “um pouco de chuva” é, no mínimo, um eufemismo. — Murilo comentou.

—Tipo dizer que o Rio Amazonas é só um curso d’água qualquer. — completei.

Maya pulou do sofá para o chão e ergueu as mãos.

—Espera aqui! — disse.

E aí se virou e saiu correndo.

Doutora, a senhora já teve a sensação de ser invisível?

Quando nossa irmãzinha voltou, ela estava trazendo a sua maior toalha, uma toalha enorme do “Meu querido pônei” e que era sua favorita também.

—Toma! — ela jogou a toalha sobre os ombros dele — Se seca!

—Ei Maya. — nós, que ainda estávamos parados próximos à porta, chamamos. — Também estamos molhados.

Ela nos olhou.

— Deve ter toalhas no quarto de vocês...

Mas não fez a menor menção de se mexer do lugar.

—Maya, é? Vem de Mayara? — o Gringo perguntou.

—Não, é só Maya mesmo...  Mas pode me chamar de Mayara se achar mais bonito! — nossa irmãzinha respondeu toda animada e quase saltitante.

—Não, não. — ele riu — Eu só pensei isso porque minha mãe se chama Mayara, mas Maya é um nome lindo, eu realmente gostei.

—Mesmo?! — Não, agora ela estava literalmente saltitante.

E ela definitivamente não ia pegar toalhas para nós.

—Tá, a gente mesmo pega. — cedi derrotado.

Suspirando e balançando a cabeça nós mesmos fomos pegar nossas toalhas, com as meias encharcadas fazendo splash, splash a cada passo que dávamos e os sapatos nas mãos.

—É melhor você vir com a gente loirinho. — Murilo chamou.

—O que? Por quê? — Maya perguntou desolada.

Nós paramos entre o corredor e a sala.

—Porque ele está molhado até os ossos. — respondi. — Vamos emprestar umas roupas secas para ele parar de tremer.

E fizemos uma careta com esse último comentário, imagine só, nós emprestando roupas para aquele cara!

Mas não mesmo que ele ia pegar uma pneumonia por nossa causa, não mesmo.

—Opa! Valeu gente! — ele saltou para o nosso lado.

—É, mas não vai se acostumando não. — resmungamos o levando para nosso quarto.

Nós demos uma muda de roupas a ele e o mandamos direto para o banheiro, algum tempo depois ele voltou seco e com a toalha de Maya sobre a cabeça, dizendo ao telefone:

—É pai, o endereço é esse que eu te passei, você pode vir me buscar daqui a umas... Duas horas? — ele nos olhou em busca de confirmação, nosso olhar queria dizer “agora!”, mas, pelo visto, ele não captou a mensagem — Duas horas. — repetiu — Tá, ok... Sim, desculpe, da próxima vez eu aviso antes... É, qualquer coisa eu te aviso. Tchau, Ok.

Ele desligou e sentou-se num de nossos bancos redondos.

—Pais! — disse.

Sentados em uma das camas nós apenas o olhamos e cruzamos os braços.

—Pais. — repetimos.

Nós continuamos o olhando, ele sorriu.

—A irmãzinha de vocês é bem legal, não é? Quantos anos ela tem? Sete? Oito?

—Nove. — respondemos.

—Ah claro. Deve ser legal ter irmãos!

Nós franzimos o cenho.

—Você não tem irmãos, gringo?

—Não. — ele encolheu os ombros — Sou filho único, tanto pelo lado da mãe quanto do pai.

Para nós, que sempre fomos dois, a ideia de “ser único” era algo completamente abstrato, quer dizer, nem conseguimos imaginar como é que pode ser essa coisa de “ser filho único”.

Então é claro que estávamos olhando de jeito estranho para o Gringo naquela hora, e ele riu ao perceber isso.

—Meus pais se separaram quando eu tinha uns oito ou nove anos de idade, por causa da total incapacidade do meu pai de ser um cara fiel, então eu acho que isso de que um filho só já basta é a única coisa em que os dois parecem concordar desde então. — ele riu — Talvez achem que não poderiam ter outro filho tão legal quanto eu, sei lá, ou, o que é mais provável no caso do meu pai, não quer ter que pagar mais uma pensão.

—Gringo. — chamamos — Por que você veio aqui?

—Ah, claro, claro, direto ao ponto. — ele acenou concordando — Ok. Então é o seguinte. — de repente ele ficou muito sério — Eu gosto da Ayume.

Nós podíamos ter ficado em choque, ou surpresos, ou simplesmente ter tido qualquer tipo de reação, podíamos, mas não tivemos tempo.

Porque bem quando ele fechou a boca nós ouvimos um gritinho, baixo, curto e estridente, mas certamente um gritinho, e só aí que nos deparamos com Maya espiando pela porta entreaberta, nós ficamos a olhando e ela olhando para o Gringo, que ria com a mão sobre o rosto, mas sem se atrever a olhá-la.

—Maya. — chamamos.

Ela virou a cabeça surpresa, só agora percebendo que já a havíamos visto ali.

—O que você está fazendo? — perguntamos.

Ela virou-se novamente para o Gringo, ele acenou.

—Oi de novo.

—Oi! — respondeu num fôlego só — Você gosta da Ayume?

—Gosto. — ele riu.

—Mas gosta tipo como na televisão ou gosta tipo os meus irmãos?

Ele fingiu estar pensativo olhando para o teto, e esfregando o queixo com a mão.

—Hum... Como na televisão.

Concluiu.

Nessa hora ela deu outro gritinho e já foi pulando para dentro do quarto e para cima do Gringo.

—E vai dividir ela comigo? — perguntou abraçada nele.

—Dividir?

—É. Os meus irmãos são muito egoístas. — ela fez uma careta — Sempre que a Ayume vêm aqui eles ficam com ela só para si e quase não me deixam brincar com ela, mas você vai dividir a Ayume comigo, não é?

—Claro!

De novo ela gritou.

—Tá bem Maya, já chega. — falei me levantando e carregando-a para fora com meu irmão vindo logo atrás de nós — Vai brincar em outro lugar vai.

A última coisa que vi antes de Murilo fechar a porta foi nossa irmãzinha nos mostrando a língua.

Viramo-nos e o Gringo sorriu para nós.

—Acho que vou roubar a irmãzinha de vocês e levá-la comigo para casa.

Cruzamos os braços.

—Explica de novo aquela história de você gostar da Ayume. — mandamos.

—Ah! — ele arregalou os olhos — Tá! — e de repente tímido desviou o olhar passando a mão na parte de trás do pescoço antes de começar a dizer com um sorrisinho idiota: —Na verdade eu já gostava dela antes. Mas aí a gente só se conhecia pela internet, então não rola, não é? — confessou — Mas agora... Com ela aqui é... Sei lá, tipo a sensação de conhecer uma pessoa famosa de quem você é fã, entendem?

Nós nos entreolhamos e então o olhamos.

—Gringo. — chamamos.

—O que?

Você é famoso. — o lembramos.

—Ah é. — ele riu de si mesmo — Mas o que vocês me dizem? Nós ficaríamos bem juntos, não é? Não é?

Nós até tentamos pensar na possibilidade, mas, como já devemos ter dito aqui uma ou duas vezes — tá legal, foi bem mais que isso — Ayume é uma menina baixinha e magrela com o cabelo cortados bem curtinho a maquina.

Já ouvimos dizer que não existem pessoas de cabelos e/ou olhos naturalmente negros, mas quando olhamos para Ayume é difícil de acreditar nisso, digo, ela tem os cabelos tão escuros, mas tão escuros que é até difícil acreditar que são naturais, mas ela garante que são sim e que tanto a sua mãe quanto os seus irmãos tem os mesmos cabelos, e com os olhos é a mesma coisa, eles são tão escuros que fica extremamente difícil — às vezes quase impossível — diferenciar as íris das pupilas, mesmo no sol, quando geralmente os olhos ficam mais claros, não há lá uma grande diferença, e claro que o fato dos olhos dela serem tão puxados não ajuda em nada.

Então temos o Gringo, que fica entre o alto e a estatura mediana, com os cabelos loiros e os olhos absurdamente azuis — que ninguém nos tira da cabeça que são sim lentes de contato — sempre cercado de gente e perseguido pelas garotas — embora isso seja muito mais pela fama do que pela aparência — em resumo, o completo oposto de Ayume.

Ok, e tudo bem que os dois têm até um ou outro gosto parecido, mas enquanto que Ayume assume orgulhosamente ser fã de todos aqueles desenhos japoneses, o gringo gasta boa parte de suas energias escondendo isso.

Os dois nunca dariam certo.

—Não. — respondemos — Sem chance.

—Vocês são mesmo bem diretos. — ele disse sem graça — Mas acho que vocês vão dizer isso para qualquer um que tentar se aproximar dela. — Nisso até que ele tem razão — Mas, por falar nisso, eu tenho muita concorrência?

—Não. — respondi.

—Na verdade nenhuma. — meu irmão completou.

Ele piscou.

—Uau, sério?!

—É. — confirmamos.

—Mas como isso é possível?

Nós o olhamos por algum tempo.

—Gringo. — chamamos — Nós realmente estamos falando da mesma Ayume?

—Bem... Eu creio que sim, não é?

—Baixinha, magrela, japonesa... — começamos a dizer.

—Engraçada, divertida, com brincos da Sailor Moon...

—O que? — perguntamos.

Ele nos olhou.

—Todos os dias ela usa um par de brincos da Sailor Moon.

—O que é “Sailor Moon”? — perguntamos.

—Vocês nunca repararam...? — ele nos perguntou — Ela sempre usa um par de brincos em forma de lua minguante que...

—E quem ia reparar nisso?! — perguntamos.

—De qualquer forma ela é incrível! — ele disse quase ao mesmo tempo.

Nós o olhamos.

—A pequena Ayume?

—Sim, a “pequena Ayume” — riu.

—E você realmente gosta dela?

—Gosto.

—E quer o nosso conselho a respeito disso?

—É.

♠. ♣. ♥. ♦

Dra. Frank Lorret arqueou a sobrancelha.

—E então?

—Nós o aconselhamos a não falar nada e manter distância por enquanto. — respondeu Vinicius.

—Distância... Sei.

—É, — continuou Murilo — Nada de movimentos precipitados para não assustar a menina.

A doutora balançou a cabeça.

—Meninos...

Largando-se no divã os dois confessaram:

—Nós tínhamos que fazer alguma coisa, doutora!

Dra. Frank apoiou o rosto de lado sobre o punho fechado.

—Certo, continuem.

—Ele era perigoso, doutora! — Murilo repetiu.

—E mais do que a gente pensava! — acrescentou Vinicius.

—É mesmo? Por quê?

—Porque esse tempo todo ele nunca esteve interessado em roubar o nosso posto! — respondeu Vinicius — E olha que ele deu todas as pistas para isso!

—Deu?

—Deu! — responderam.

—E que pistas foram essas?

—Ele nunca desgruda dela. — respondeu Vinicius.

—Os dois têm piadinhas pessoais entre si. — respondeu Murilo.

—E teve o beijo! — exclamou Vinicius.

—Com certeza! — concordou Murilo — E só nós é que beijamos Ayume! É nosso privilégio de melhores amigos!

Frank Lorret os olhou, mas era preciso lembrar que Ayume era a primeira e única amiga dos gêmeos e, portanto, tudo o que ocorresse em sua amizade era logo assimilada por eles como algo padrão. Por mais excêntrico que fosse.

—Mas ele queria algo além de “melhor amigo” algo mais acima. — continuou Vinicius.

Frank Lorret arqueou a sobrancelha.

—Acima?

—Você nos entendeu, doutora. — os dois suspiraram.

—Não. — uma pausa — Me expliquem.

—Ele quer ser o namorado dela! — Vinicius soltou.

—Ou qualquer coisa assim. — Murilo resmungou, obviamente ainda sem aceitar a situação.

—Entendo. — ela levou alguns segundos os observando — E vocês estão achando que se Ayume começar a namorar ela vai imediatamente esquecer vocês?

—Bem... — os dois hesitaram.

—Vocês acham que um namorado, mesmo um recente, um ficante ou o que for é automaticamente mais importante que um bom amigo? Ou dois melhores amigos?

—I-isso é... — gaguejaram.

A doutora sorriu.

—Vocês dois já pararam para pensar que foi justamente esse tipo de pensamento que os fizeram brigar com Ayume anteriormente?

Os gêmeos piscaram.

—Poxa... — disse Murilo.

—A senhora é boa. — concluiu Vinicius.

—Eu estudei para isso. — ela sorriu satisfeita.

—De qualquer forma, doutora, nossos conselhos para ele manter distância não adiantaram de nada. — retomou Vinicius.

♠. ♣. ♥. ♦

Porque ontem mesmo quando chegamos à escola a primeira coisa que vimos foi aquele cara conversando com a nossa pequena Ayume, eles estavam no pátio debaixo de uma árvore, ela sentada no chão, ele de pé em frente a ela, e o nosso breve temor de que, talvez, ele estivesse cantando ela — ou sei lá o que — só foi apaziguado pela expressão de absoluto tédio de nossa amiga japa.

Nós resolvemos dar a volta para surpreendê-los.

—... Ter acontecido?!

O Gringo parecia estar reclamando de alguma coisa quando nós dois surgimos por detrás da árvore — cada uma por um lado — bem no meio de sua fala.

—Pequena Ayume! — cantarolamos.

—Oi meninos. — ela nos cumprimentou, nos dando um selinho em cada.

O gringo ergueu a mão, enquanto nos sentávamos junto com Ayume.

—Agora não, amigos, eu estou aqui dando uma bronca em Ayume!

—Uma bronca? — repetimos — Por quê?

Bem, pelo menos, era melhor que uma declaração.

—Ai Luciano, já chega. — Ayume girou os olhos — Eu já entendi.

—Não, não, não entendeu não. — ele balançou o dedo em direção a ela, e dirigindo-se a nós perguntou — Vocês sabem o que essa doida fez?!

—Hum... Pagou um preço que vai muito mais além do absurdo por uma coisa que comprou na internet de novo? — chutei.

—Ou fez outro hambúrguer com pão de miojo? — Murilo franziu o cenho.

Às vezes, quando vai lá a casa, Ayume faz umas coisas bem doidas na nossa cozinha... E depois ainda faz Murilo, Maya e eu comermos. Mas pelo menos aquele hambúrguer doido foi melhor que os cookies dela, aquela menina definitivamente não sabe fazer cookies, doutora.

—Ela pegou carona com estranhos! — o Gringo bradou.

—Eles não eram estranhos. — Ayume retrucou — Eles me conheciam.

—Claro que conheciam, perseguidores precisam conhecer suas vítimas!

—Você está exagerando.

—Não estou não!

—Isso já é mania de perseguição, Luciano!

—Claro que não! Você que confia demais nas pessoas!

—Opa! Opa! Opa! — nós erguemos as mãos — O que é que está acontecendo aqui?

Tudo bem que ver os dois brigando estava sendo um show para nós e estávamos até pensando em pegar uma pipoca, mas antes queríamos saber do que se tratava a coisa, sabe? Para entendermos melhor o enredo.

—Essa doida estava vindo para a escola quando um casal de velhinhos parou o carro ao seu lado oferecendo carona, e ela entrou!

—Já disse que não eram um par de velhinhos estranhos. — Ayume bufou — Eram meus vizinhos.

—Você me disse que nunca os tinha visto na vida!

—É, mas eu quase nunca saio de casa, é óbvio que eu não conheço a maior parte dos meus vizinhos, e eles estavam com o neto deles no banco de trás, e ele estava usando o uniforme daqui.

—Você não sabe! — ele devolveu — Podia ser outra criança que eles sequestraram!

—Mas não era, ok? E eu cheguei sã e salva na escola. — Ayume se levantou — E eu já estou cansada disso, vamos meninos, o sinal já vai tocar.

Mal ela fechou a boca e o sinal tocou.

Nós nos levantamos e corremos atrás dela.

—O problema do Luciano. — Ayume começou a falar, claramente irritada, assim que a alcançamos — É que ele foi uma criança bonita demais.

—Como assim? — perguntamos, já não gostando muito do rumo daquela conversa.

—Quando ele era pequeno a mãe dele sempre tinha medo de levá-lo para rua e alguém sequestra-lo e vendê-lo.

—Isso é doideira. — afirmamos.

Ela encolheu os ombros.

—O pai dele é da policia ele sempre contava montes de casos assim, e Luciano continua bonito, só que agora é famoso, é por isso que sempre vem alguém buscá-lo e trazê-lo na escola, se ele some por meia hora os pais deles surtam. — ela parou em frente à sala de aula — Acho que hoje não temos nenhuma aula em comum, então até a hora do intervalo meninos.

Erguemos as mãos.

—Até.

Ela acenou e entrou na sala, para ir se sentar perto do chaveirinho de cabelos encaracolados, vulgo Renato, e aquelas duas garotas que estão sempre com ele.

Ok, foi legal ver ela e o Gringo brigando, mas saber que ela o acha bonito? Nada legal.

♠. ♣. ♥. ♦

Vinicius recostou-se ao divã.

—Então... Acho que é isso doutora. — ele olhou o relógio de pulso — E bem na hora, não é?

—Ah, e só para deixar claro, doutora. — Murilo ergueu as mãos — O casal de velhinhos que ofereceu carona para Ayume era mesmo vizinho dela, e aquele garoto que estava no carro deles era seu neto sim e estuda na nossa escola, eles moram todos em frente à casa dela.

Frank Lorret concordou.

—Fico aliviada com isso, mas então as coisas não andam bem entre Ayume e Luciano?

—Ah, quem dera! — os irmãos giraram os olhos — No intervalo aqueles dois já estavam se falando normalmente de novo.

—Ah, menos mal. — a doutora sorriu.

Os gêmeos franziram o cenho.

—Como assim doutora?

Inclinando-se para frente e apoiando o queixo sobre os dedos entrelaçados a doutora começou a falar:

—Agora me escutem meninos, é perfeitamente normal e aceitável que vocês tenham um pouco de ciúme da amiga de vocês, mas nem por isso devem tentar monopolizá-la, estão me entendendo? Se não querem que ela comece a namorar por terem medo que ela os deixe de lado, certo, tudo bem, conversem com ela sobre isso, mas não tentem sabotar os relacionamentos dela, isso seria desleal demais para com a amizade de vocês.

Os garotos se remexeram desconfortáveis.

—Hum... É tudo bem doutora.

—Luciano me parece mesmo um bom garoto, e acho que realmente gosta de vocês, está tudo bem se não quiserem ajudá-lo, mas fingirem dar conselhos e tentarem sabotá-lo não é algo que se faz. — a doutora continuou — Não cultivem esse tipo de falsa amizade.

—Ok. Nós entendemos, doutora. — os dois suspiraram, mas logo depois se levantaram ao som dos alarmes de seus relógios — Então é isso doutora, até semana que vem.

—Claro meninos, até semana que vem. — Frank Lorret sorriu.

Os dois acenaram e se foram.

E pararam na sala de espera com os cenhos franzidos para Ayume que, concentrada, costurava uma minúscula peça de roupa que tinha nas mãos.

—Mas o que você está fazendo?

—Ah, já terminaram? — Ayume sorriu para os dois, erguendo os olhos de seu trabalho de costura.

—O que você está fazendo? — eles repetiram.

—Nada demais. — respondeu já guardando em sua bolsa, as roupinhas, tanto a que costurava quando as que estavam ao seu lado no sofá, tecidos diversos, tubos de linha, e tesoura — Como minhas verbas foram cortadas por um período indefinido eu decidi fabricar eu mesma meus próprios bonecos... O que?

Perguntou ao erguer os olhos e se deparar com o olhar dos garotos.

—Você está a menos de uma semana sem ter dinheiro para comprar suas tranqueiras e já está fabricando seus próprios bonecos?! — Murilo repetiu chocado.

Vinicius tocou seu ombro.

—Ayume, não é por mal não... Mas achamos que você tem um problema.

Murilo cruzou os braços.

—Já pensou em fazer terapia?

—Oh, parem com isso! — Ayume girou os olhos levantando-se e passou entre os dois com sua bolsa.

—Mas falando sério. — os dois se puseram a segui-la. — E onde você conseguiu essas coisas tão rápido?

—Meus pais trabalham com isso, é óbvio que não é difícil para eu arranjar coisas desse tipo, eu teria uma quarto próprio ao invés de ter que dividir um com meus três irmãos, se meu pai não usasse aquele quarto em casa como ateliê de costura. — Ayume respondeu saindo. — Mas ainda me faltam os novelos de lã amarela, para os cabelos...

—Ayume! — os dois irmãos saíram pela porta, logo atrás dela — Você nunca pensou mesmo em fazer um pouco de terapia? Tipo assim, nem um pouquinho mesmo?


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Notas finais do capítulo

Uma vez eu estava saindo de casa e um casal de velhinhos que eu nunca vi na vida me ofereceu carona porque eu estava com o mesmo uniforme do neto deles... Quando cheguei na escola levei uma bronca de mais de vinte minutos de um dos meus colegas, mais ou menos igual essa que o Luciano deu na Ayume kkkkk Depois a minha mãe me disse que eles eram nossos vizinho ^^'
Continuando... Acho que a Ayume tem uns probleminhas de consumo, e vocês? XD
Mas e então, Luciano e Ayume, será que esse casal rola? ♥
Hum... Qual seria um bom nome para esse shipp?
Lucime? Ayuno? Na verdade eu sou péssima nisso, aceito sugestões kkkkkkk



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