Gêmeos no Divã escrita por Lady Black Swan


Capítulo 26
13° Consulta - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Opa! Olha eu aqui de novo!
Acho que dessa vez nem demorei tanto assim, não é? ;D



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Adam ergueu os olhos ao ouvir os irmãos Montenegro entrarem na sala de espera juntamente com Ayume, que carregava uma grande bolsa, do tipo na qual ela caberia dentro se quisesse.

—Eu só estou dizendo... — estava dizendo um dos gêmeos. — Que foi bizarro.

—Assustador. — concordou o outro.

Ayume girou os olhos e jogou-se no canto do sofá.

—Não teve nada de estranho e nem bizarro! — discordou.

Os garotos se sentaram ao lado dela no sofá.

—Como assim não? — perguntaram — Vocês duas passaram uma pela outra se encarando... Sem nem piscar. Foi bizarro sim.

Agora que estavam todos sentados e enfileirados no sofá Adam percebia que eles estavam usando estranhas e ridículas camisas combinando.

Ayume usava uma camisa verde com o sempre apático rosto de Lula Molusco estampado nela e os gêmeos usavam, por sua vez, camisas amarelas e rosas com, respectivamente, os rostos de Bob Esponja e Patrick Estrela estampado nelas.

Os três eram realmente muito idiotas.

—Vocês já podem entrar. — ele avisou aos irmãos Montenegro que se levantaram.

—Valeu. — agradeceram, mas ainda se direcionando à amiga asiática perguntaram — O que foi aquilo afinal?

—É porque estávamos usando o mesmo boné, do Perry o Ornitorrinco.

Se direcionando ao consultório os meninos acotovelaram um ao outro.

—Eu te disse que foi o boné. — disseram um ao outro entrando no consultório — Boa tarde doutora.

—Boa tarde, meninos. — Frank Lorret sorriu — E então, como vamos hoje?

—Bem. — eles encolheram os ombros e se sentaram no divã.

—Uhun. — concordou Frank Lorret — Camisas novas?

—Pois é. — responderam.

—Entendo. — Frank Lorret concordou — Mas e sobre o que conversamos da última vez? Vocês pensaram no que eu disse? A propósito, por que não vieram na semana passada como tínhamos combinado?

—Isso é meio que uma longa história, doutora. — afirmou o que usava a camisa de Patrick Estrela. — Mas sobre o que a senhora falou na ultima vez, é, nós pensamos.

—Com certeza pensamos. — concordou aquele com a camisa de Bob Esponja.

Frank Lorret arqueou uma sobrancelha.

—E então?

—Decidimos que ele é perigoso simplesmente por ser perigoso. — afirmaram sorridentes.

A doutora os olhos confusa.

—Desculpem, mas eu... Não entendi.

O gêmeo com a camisa de Patrick Estrela ergueu o indicador:

—Na verdade eu acho que esse é um bom tópico para a conversa de hoje! — afirmou.

♠. ♣. ♥. ♦

Então doutora, como nós dissemos, para nós o Gringo é perigoso simplesmente por ser perigoso.

E o maior perigo está sem dúvida nos olhos.

E parece que, de alguma forma, o fato de agora ele estar usando óculos em tempo integral só deixou as coisas bem piores — apesar de “ele ainda precisar usar lentes no trabalho”.

Só que eu não quero falar do repentino surto de histeria que as meninas tiveram quando aquele loirinho começou a usar óculos — parecia até que nunca tinham visto um cara de óculos, eu hein! — porque isso até que foi bom para nós, já que agora ele tinha ainda menos tempo para andar na cola de Ayume ou na nossa.

Ao invés disso eu prefiro falar da inundação de garotas morenas na escola.

Foi mais ou menos no meio da semana que começamos a notar que algo estava diferente.

—Você notou que tem alguma coisa diferente na escola, Vinicius? — perguntei ao meu irmão enquanto íamos para a sala assistir a primeira aula.

—Notei. — Vinicius apertou os olhos olhando a volta como se estivesse sofrendo de miopia e quisesse focar melhor os detalhes — Mas não sei o que é. Você sabe?

Balancei a cabeça.

—Foi mal irmão, mas parece que estamos no mesmo barco aqui. — afirmei.

Enquanto andávamos olhamos por mais alguns segundos para a multidão de alunos que nos cercava, inutilmente tentando conseguir identificar o que havia de diferente ali.

Até que a realidade bateu em nossas cabeças.

E digo isso da maneira literal, porque a amiga de cabelos azuis da Ayume — sabe-se lá qual o nome dela — nos acertou com uma revista nas cabeças.

—Ei! — reclamamos no susto levando as mãos ao local atingido — Por que fez isso?!

Nós nem vimos de onde ela veio.

—Estúpidos. — nos chamou... Ou nos xingou...? Francamente ainda não sei dizer — É porque sessenta por cento de todas essas garotas descerebradas pintou o cabelo de preto, enquanto outros quinze estão pensando ou planejando pintar, é isso que está diferente: vocês estão sentindo falta dos cabelos oxigenados.

—Ah... Então é isso. — afirmamos agora olhando para a multidão com novos olhos, e era verdade, muitas das garotas antes loiras agora eram morenas. — É alguma nova moda?

Nós a olhamos, no meio de tantas morenas seus cabelos azuis cacheados se destacavam ainda mais do que antes.

—Nova moda? — ela sorriu-nos com escárnio — Ah sim, acho que vocês podem dizer algo assim, agora... Sabem-me dizer onde está Ayume? Tem algo que eu quero mostrar a ela.

—Ayume... — nós passamos os olhos pela turba de alunos, mas se antes já era difícil encontrá-la, agora ela tinha encontrado o habitat perfeito para se camuflar. — Não, hoje ainda não.

Até porque havíamos acabado de chegar.

—Quando a virem avisem-na que a estou procurando. — Só a titulo de comentário, mas aquilo pareceu mais uma ordem do que um pedido.

—Sim senhora. — respondemos nos contendo para não acrescentar uma continência à resposta.

Mas acho que ela meio que acabou captando a nossa ironia — ainda que tenhamos tentado contê-la — porque girou os olhos antes de se afastar. Ou isso ou então nossas simples pessoas naturalmente despertam nos outros a vontade de girar os olhos — Ayume, por exemplo, está sempre girando os olhos para nós.

—Ei! — chamamos quando ela já ia um pouco longe — Você sabe o que está acontecendo?

—Sei! — ela não se deu sequer ao trabalho de se virar ou de parar para nos responder.

Nem voltou para nos dizer o que estava acontecendo.

Ayume veio ao nosso encontro assim que entramos na sala.

—Ei pequena...! — já nos preparamos para cumprimentá-la.

Até ela nos cortar:

—Vocês sabem onde o Luciano está?

Involuntariamente nós fizemos uma careta.

—Bom dia para você também. — dissemos.

—Bom dia garotos. — ela respondeu, e logo depois: — Vocês viram o Luciano ou não?

—Não. — Vinicius respondeu agora um pouco mal humorado.

—Por que está perguntando isso justo para a gente? — perguntei não em um estado de humor muito melhor.

—Porque vocês estão sempre como ele.

—Não estamos! — protestamos.

Se bem que isso até meio que era verdade, não que nós quiséssemos estar com ele sempre, mas o loirinho ficava na nossa cola, porque sempre nos usava quando queria encontrar Ayume e/ou escapar de suas seguidoras.

E não dava para simplesmente sair correndo do cara, não é? Nós até tentamos, mas, para o nosso azar, a maioria das nossas aulas combinavam com as dele.

É, parece que não é só com Ayume que a organização da escola tá de zoação esse ano.

—Estão! — mas então ela suspirou como se desistisse — Deixa pra lá, de qualquer forma vocês não o viram hoje ainda.

—Não. — respondi passando por ela e indo em direção aos nossos lugares.

—Mas afinal por que você está procurando por ele? — Vinicius perguntou vindo logo atrás de mim.

—Ele disse umas coisas idiotas que não devia, mas que acabaram refletindo em mim. — respondeu-nos irritada sentando-se sobre uma mesa próxima as nossas — Então agora eu meio que estava com vontade de esfregar o nariz dele numa parede. — mas então cruzou os braços e franziu o cenho — Mas agora estou pensando que eu não tenho realmente motivos para me zangar com ele, quer dizer, não teve realmente nada demais no que ele disse e... Não é culpa dele que o povo daqui parece um bando de descerebrados e as meninas parecerem uns robôs.

—Não, espera calma aí! — nós erguemos as mãos.

Ela nos olhou.

—O que foi? Eu estou calma.

— Segura essa vontade de esfregar o nariz dele numa parede! — Vinicius falou.

—É não deixa fugir não, segura aí! — completei.

Ayume nos olhou com tédio.

—Vocês são o que? Idiotas?

—Só estamos tentando dizer que se você realmente quer achar aquele gringo basta procurar onde as meninas estão amontoadas gritando. — respondemos.

É, pode ser que a vontade dela de esfregar o nariz do gringo na parede — não importa a razão — meio que tenha nos incentivado um pouquinho a querer ajudá-la a encontrá-lo.

—Olha. — ela inclinou a cabeça de lado — Até que vocês têm razão.

—Ah. — lembrei de repente — Aquela sua amiga de cabelo azul estava te procurando.

—Olivia?

—É sim. — Vinicius confirmou, mas Ayume podia ter dito “Maria Eduarda” que nós íamos confirmar do mesmo jeito... De qualquer jeito, dificilmente Ayume teria duas amigas de cabelo azul, não é? — Parece que tinha algo importante para te dizer.

Ayume suspirou longamente se curvando para frente, apoiando os cotovelos nas coxas e deixando o rosto entre as mãos.

—Já até imagino o que é. — comentou.

—Imagina? — perguntamos.

Ela acenou.

—Verônica me enviou um link ontem à noite.

—Que link? — perguntamos — Tem haver com as garotas ficando morenas de repente?

—E como tem. — confirmou franzindo o cenho.

Íamos perguntar do que tudo se tratava afinal, mas aí o professor chegou, e todo mundo calou a boca e correu para os seus lugares, mesmo ainda faltando vinte minutos para a aula, porque aquele professor é realmente assustador — apesar de Ayume o achar “divertido”, vá entender, essa menina é realmente estranha eu acho.

Então, voltando ao negócio do surto de meninas que tingiram o cabelo de preto...

—Elas estão me encarando. — Ayume resmungou no intervalo naquele mesmo dia — Elas estão definitivamente me encarando.

—O que você tem? — perguntei.

—Está com mania de perseguição ou o que? — meu irmão perguntou logo depois.

Até que faria sentido, sabe? Porque naquele dia ela tinha se recusado terminantemente a entrar na cantina, quando normalmente é ela quem tem que nos arrastar lá para dentro, e agora estávamos lanchando atrás da quadra de esportes, bem, nós estávamos lanchando, Ayume estava só tomando uma caixinha de suco — que nós a obrigamos a tomar.

—Não é mania de perseguição nenhuma. — ela resmungou com o canudo na boca mexendo no celular com a mão livre. — Vocês ainda não têm ideia do por que desse surto de cabelos pretos nas garotas?

—Nem ideia. — respondemos.

—Eu também não sabia até ontem, na verdade estava pouco ligando para o porquê do “surto de cabelos negros” quando Verônica me chamou no bate papo do facebook...

—É alguma campanha nova? — Vinicius a interrompeu.

—Ah! Tipo aquela do balde de gelo? — lembrei.

—Não chegaram nem perto. — ela pegou o celular — Aqui, podem ler.

Como sempre Ayume estava sentada entre nós dois, então para conseguir ler nós nos inclinamos e acabamos a espremendo um pouco, mas Ayume não pareceu incomodada com isso. 

♠. ♣. ♥. ♦

Frank Lorret batucou com a caneta em silêncio em sua prancheta.

—E o que vocês leram lá?

Os irmãos suspiraram.

—Nada de muito importante. — afirmou Vinicius e fez uma careta.

—Só... Uma entrevista que aquele loirinho deu. — Murilo também fez uma careta.

—Hum... — fez a doutora — E no que essa entrevista era relevante para a maioria das garotas da escola de vocês de repente estarem tingindo os cabelos de preto?

Novamente os gêmeos suspiraram.

—Bem, acontece que um dos tópicos da entrevista foi se o loirinho tinha ou não uma namorada, e         quando ele disse que não, eles perguntaram se ao menos havia alguém de quem ele gostava.

—Ou de que tipo de garota gostava. — Vinicius acrescentou.

Frank Lorret acenou afirmativa com a cabeça.

—E então?

—Ele gosta. — Murilo limpou a garganta antes de continuar e fazendo aspas no ar disse: — “De meninas mais baixas que ele, com cabelos e olhos escuros, embora a aparência não importe tanto assim”.

—Hum... — Frank Lorret já havia entendido onde aqueles dois queriam chegar.

—E acontece que ninguém se encaixa melhor nessa descrição do que Ayume! — Vinicius disparou jogando as mãos para o alto e confirmando o que a doutora já sabia.

Vinicius recostou-se ao divã e Murilo ao ombro do irmão e ambos jogaram um dos braços sobre os olhos.

—Doutora, a senhora sabia que não existem pessoas com cabelos e olhos naturalmente negros? Pelo menos foi o que ouvimos. — comentaram sem tirar os braços de sobre os olhos.

—Sim, acho que já ouvi algo sobre isso. — confirmou.

—É nós também ouvimos sobre isso em algum lugar. — repetiram — Mas quando vemos Ayume, e nós a vemos muito, fica meio que difícil acreditar nisso.

—É mesmo? — a doutora apoiou o rosto de lado sobre uma das mãos os incentivando a falar.

—É!

Ambos tiraram os braços de sobre os olhos.

—Porque o cabelo da Ayume é muito, muito preto mesmo! — afirmou Murilo — A senhora já a viu, sabe o quanto, e é tão preto que é até difícil acreditar que não seja tingido, mas ela jura de pé junto que é natural, e que os cabelos dos irmãos e da mãe também são assim.

—E também tem os olhos! — continuou Vinicius — Eles são muito fechados, mas quando se olha de perto dá para ver que eles são tão escuros, mas tão escuros, que mal dá para diferenciar a iris da pupila, até no sol não tem lá uma grande diferença!

E juntos ambos concluíram:

—E ela é tão... Tão pequenininha! Não tem como ele estar falando de outra pessoa naquela hora! — afundaram, sincronizados, os rostos entre as mãos — Aquele gringo é perigoso, doutora!

—Entendi, entendi. — respondeu compreensiva, eles tinham ciúmes de sua amiga, como já fora deixado claro antes, mas com Luciano pareciam ter ainda mais — Mas sabem de uma coisa, meninos?

—O que? — ambos ergueram os olhos, mas só um pouco.

Frank Lorret arqueou uma sobrancelha.

—Vocês ainda não me disseram por que não vieram semana passada, disseram? 

—Hum... Acho que não. — Vinicius respondeu.

E endireitando-se e passando a mão na parte de trás do pescoço Murilo disse:

—Isso foi...

♠. ♣. ♥. ♦

...Porque na quinta-feira da semana passada, estávamos indo para casa quando vimos o gringo e a Ayume sentados num banco perto do portão logo antes do pátio, e os dois estavam conversando algo tipo:

—... Maldição dele? — perguntava o Gringo.

—Claro! — Ayume respondeu — A existência dele era a própria maldição.

Afirmou de maneira dramática, e o loirinho, entrando na brincadeira levou as duas mãos ao peito e baixou a cabeça fechando os olhos e disse de maneira mais dramática ainda:

—Pois então, eu carrego essa mesma maldição!

Ayume riu e o empurrou de lado.

—Para com isso!

—Não, é sério! — ele riu também — Sou tão bonito que preciso até de escolta policial!

—Pelo amor de Deus, Luciano! — ela levou ambas as mãos à boca para conter a risada — Você vai me fazer vomitar!

—Oh, então você não acredita no meu potencial? — ele riu puxando um dos pulsos dela. — Então fique aqui comigo e comprove com seus próprios olhos quando a minha escolta policial chegar...

—Olá! — nos interpomos de repente surgindo em frente a eles com sorrisos propositalmente forçados. — O que estão fazendo?

—Oi meninos. — Ayume nos cumprimentou se levantando quando meu irmão pegou-a pela mão — Estávamos conversando.

Despreocupadamente ela deu um selinho em mim e depois outro em meu irmão.

—E aí? — o loirinho acenou para nós sorrindo como o bobo alegre que ele é — Eu estava agora mesmo oferecendo uma carona para levar Ayume em casa.

—Ah, então era isso que você estava tentando fazer?

Ayume virou-se de frente para ele recostando às costas ao meu irmão e puxando os braços dele sobre si, como se os braços dele fossem alguma jaqueta que ela estivesse jogando por cima dos ombros, entrelaçando os dedos dela com os dele.

—Sim, sim. — ele confirmou — Quando eu tenho filmagem é o Igor que vem me buscar, ele me leva até São Paulo e me traz de volta no carro dele, mas quando eu posso ir direto para casa é o meu pai que vem me buscar, mas só quando ele tem tempo, é claro.

—E quanto àquela conversa de “escolta policial” que nós ouvimos? — perguntei.

—Isso? — ele coçou a bochecha — É que meu pai é da policia militar, por isso ele vem me buscar na viatura, logo é uma “escolta policial”. E aí Ayume o que me diz, gostaria de receber uma carona para casa e uma escolta policial?

Eu franzi o cenho.

— Por que Ayume iria...?

Mas ela já estava com os olhos brilhando de empolgação.

—Eu nunca entrei numa viatura da polícia antes. — afirmou lentamente.

—Então hoje pode ser a sua chance. — ele se levantou e estendeu a mão a ela — Olha, meu pai já chegou! Talvez ele te deixe ligar a sirene um pouco.

E então o que? Ela aceitou a mão dele e foi puxada para longe dos braços de meu gêmeo.

Ele a ganhou com uma viatura da polícia!

E assim o gringo levou nossa pequena Ayume de nós, e marcou 1x0 no placar.

Então, no dia seguinte, quando deveríamos vir a nossa consulta com a senhora, nós estávamos indo para a quarta aula quando Ayume — ao contrário do que geralmente acontece — veio até nós.

—Garotos! — nós paramos e nos viramos quando a ouvimos nos chamando.

Do final do corredor Ayume acenava para nós ao lado de seu amigo baixinho de cabelos encaracolados.

Nós erguemos a mão.

—Pequena Ayume. — respondemos.

Ela virou-se, disse algo ao pequeno polegar versão brasileira, ele concordou e ela correu até nós enquanto ele ia embora.

—Eu estava mesmo querendo falar com vocês! — afirmou.

—É mesmo? — Nós sorrimos — Por quê?

Andando conosco pelo corredor ela começou a falar:

—Eu achei uma loja de camisas muito bacana por aqui cheia de artigos geek, ela está com uma promoção de queima de estoque ótima: duas camisas por R$ 50,00 e três por R$ 70,00. Eu consegui juntar R$ 100,00 durante a semana, por isso estava querendo ir lá, mas queria que vocês fossem comigo! — terminou sorrindo animada, apesar de essa não ser a primeira vez que ela nos convidava para acompanhá-la enquanto ela comprava camisas.

R$ 100,00 em uma semana, bem que a gente mencionou uma vez que os pais de Ayume estão sempre dando dinheiro a ela e que não é pouco, não é?

Às vezes a gente fica imaginando se Ayume tem alguma noção de que nem só de camisas se compõe um guarda-roupa...

—Ora, e você vai nos comprar camisas, pequena Ayume? — meu irmão brincou como sempre faz quando ela nos convida.

—Essa é a ideia. — ela nos respondeu para nossa surpresa ao invés do “talvez na próxima” de sempre.

Nós paramos e a olhamos por alguns segundos.

—Uau! Vamos ganhar presentes da pequena Ayume! — exclamei de repente a puxando para um abraço.

—Calma! Calma! São apenas camisas! — ela riu presa em meu abraço. E então conseguindo se afastar um pouco continuou: — O problema é que eu queria ir hoje, porque se esperarmos até segunda-feira eu provavelmente já vou ter gastado o dinheiro... — acho que isso foi praticamente a admissão daquele problema não assumido dela com compras — Mas acabei de lembrar que hoje vocês têm consulta.

—Vocês vão a algum lugar? — o loirinho nos perguntou surgindo do nada e vindo logo atrás de nós.

Ayume virou-se.

—Sim, eu os estava chamando para virem comigo a uma loja de camisas perto daqui.

—Legal! — ele sorriu — Eu posso ir?

Nós dois arregalamos os olhos, quer dizer, já não bastava ele estar sempre grudado a gente na escola? E agora fora dela também?

—Claro! — Ayume concordou. — Mas...

—O que?

—A loja aonde vamos só vende coisas geek — falou cuidadosamente. — Igor não te deixa ir a esse tipo de lugares “estranhos”, deixa?

—Não... — ele negou. Nós comemoramos internamente — Mas... — por que sempre tem que haver um “mas”?! — Acho que se for só uma vez não tem problema. Então quando vamos?

—Eu queria ir hoje. — Ayume respondeu.

O gringo fez uma expressão desanimada enquanto, atrás de nós, os alunos já começavam a entrar em sala.

—Hoje não vai dar. — disse — Depois da aula eu vou para capital de carro com Igor, hoje é dia de filmagem.

—Ah, mas eu acho que os meninos também não podem ir hoje, porque eles têm um compromisso, então talvez fossemos na segunda-feira.

Ele se animou na mesma hora:

—Segunda-feira eu posso ir!

—Então na segunda-feira, nós quatro...

—Só que nós vamos hoje. — interrompemos puxando Ayume para nós.

Ayume nos olhou.

—Vocês têm certeza? — perguntou — Hoje...

—Está tudo bem, pequena Ayume, nós dois podemos remarcar, porque se esperarmos até segunda-feira você provavelmente não vai mais ter o dinheiro, não é? — perguntei.

—É, mas...

—Então parece que não vai dar para você hoje, gringo. — Vinicius provocou mostrando a língua.

O gringo sorriu levando uma mão à lateral do pescoço.

—É, parece que não.

Resultado final: Gringo 1x1 Nós.

♠. ♣. ♥. ♦

—Então para resumir, doutora, nós abrimos mão da nossa sessão da semana passada para conseguir empatar no placar com o loirinho. — concluiu Murilo.

Frank Lorret os encarou por alguns segundos.

—Rapazes, vocês realmente acham que precisam competir desse jeito com Luciano? — perguntou por fim.

Os gêmeos entreolharam-se, e voltaram-se novamente para a doutora.

—Mas doutora, olha só as camisas legais que ganhamos!


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Notas finais do capítulo

Esses gêmeos não pegam leve mesmo com o Luciano!
Mas o que vocês acham? Será que um dia o loirinho vai conseguir se tornar amigos deles, mesmo com toda essa resistência dos gêmeos, ou não? :D



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