Gêmeos no Divã escrita por Lady Black Swan


Capítulo 24
12° Consulta - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Eu estive pensando, postar Gêmeos no Divã foi a primeira coisa que fiz ao entrar de férias, porque não ser a última também? :D
Mas estou postando meio nas pressas então pode ser que tenha uns errinhos... Qualquer coisa me avisem para eu corrigir na próxima.



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Naquela tarde quando os irmãos, Murilo e Vinicius entraram no consultório da Dra. Frank Lorret, eles não podiam estar mais desanimados.

—Meninos. — a doutora chamou. — Aconteceu alguma coisa?

Com mais um logo suspiro ambos largaram-se no divã.

—Que semana, doutora! — disse o primeiro deles.

—Que semana! — repetiu o segundo.

Frank Lorret os olhou de forma compadecida.

—A primeira semana de aula de vocês foi difícil, então?

—Difícil? — ambos balançaram a cabeça, seu sincronismo ainda era meio assustador — Está mais para... Excruciante.

—Tão ruim assim? — ela franziu o cenho. — E vocês querem falar sobre isso?

—Francamente? Não.  — respondeu o segundo gêmeo.

—Mas vamos falar. — afirmou o primeiro.

No entanto nem um dos dois começou a falar.

Depois de alguns segundos ambos se entreolharam.

—O que? — perguntou o segundo.

—Como assim “o que”? — disse o primeiro — É a sua vez de começar hoje!

—Não mesmo! — respondeu o outro — É a sua vez!

—É a sua!

Para estarem discordando daquele jeito, ambos realmente não queriam falar sobre aquilo.

De repente, os dois se viraram para a doutora.

—Doutora! — chamaram — Quem começou a falar primeiro na última consulta?

—O que? — espantou-se a doutora — Hã... — Ela ainda não sabia dizer quem era quem — O Murilo?

—Há! — comemorou o primeiro gêmeo batendo no braço do segundo — Por isso agora é a sua vez de começar!

O segundo gêmeo, que agora Frank Lorret sabia ser Vinicius, suspirou derrotado.

—Tudo bem, tudo bem. — disse — Então... Por onde será que devo começar?

♠. ♣. ♥. ♦

Doutora, todos os anos nós comemoramos nosso aniversário no dia 31 de dezembro, mas não que nós tenhamos nascido nesse dia — ou até podemos ter nascido, quem sabe? — é só que, como não sabemos o dia em que nascemos, nós simplesmente escolhemos essa data para comemorar.

Isso porque nós pensamos assim: Embora não saibamos a data do nosso aniversário, é certo que ficamos mais velhos a cada ano, então escolhemos o último dia do ano porque então já é certeza que, em algum momento, nós certamente já fizemos mais um aniversário.

Quando falamos isso para Ayume ela nos contou uma pequena curiosidade: Antigamente, no Japão — e talvez na Coréia também, mas ela não tinha muita certeza nessa parte — as pessoas não contavam a idade a partir do dia em que nasceram e sim do ano em que nasceram, de forma que, sempre que acabava um ano e começava outro, todos, sem exceção, acrescentavam um ano a mais de vida à suas idades, não importando em que dia tenham nascido.

E o que isso tem haver com o que vamos contar hoje?

Nada, eu só queria enrolar um pouco para retardar o inevitável. 

Mas antes de eu falar sobre aquele gringo na nossa escola — sim irmão, eu vou enrolar tudo o que puder aqui, aceite e viva com isso — eu quero falar sobre o dia em que o conhecemos.

Era aula de Ed. Física e, como sempre, estávamos os três sem fazer nada na arquibancada enquanto uma parte da turma ficava na quadra jogando vôlei e outra parte estava espalhada andando por ai — ou já tinha ido para casa.

—Vocês têm alguma coisa para fazer amanhã à tarde? — Ayume nos perguntou — Digamos... — ela digitou um pouco no celular — Lá pelas 15h, talvez?

—Bem, há essa hora temos a nossa terapia de casal semanal com a Dra. Frank. — Murilo respondeu.

Eu abracei-o me pendurando em seu pescoço.

—Isso! Porque somos um casal muito problemático! — brinquei.

—Irmão, você não devia discutir nossos assuntos particulares assim em público. — Murilo me censurou desviando o olhar.

Nós dois começamos a rir como dois idiotas.

—Palhaços! — ela girou os olhos.

—Mas do que você precisa Ayume? — perguntei me soltando de meu irmão. — É importante?

—Nós podemos remarcar. — Murilo ofereceu.

—É que Lorde Zucker estava me dizendo que o Igor está insistindo muito para ele nos chamar até a sua casa porque quer falar conosco.

—Quem é Igor? — perguntamos.

—É o agente dele.

Nós nos entreolhamos.

—E o que o agente dele quer conosco?

Convenhamos que é uma pergunta justa.

Ayume encolheu os ombros.

—Provavelmente quer falar sobre o que aconteceu naquele evento. — disse — Ele não quer de jeito nenhum que seja divulgado que Lorde Zucker vai fantasiado a eventos desse tipo, ou que gosta de animes e mangás...

—Ou que chama a si mesmo de “Lorde Zucker” na internet. — acrescentamos.

—É. Ou isso. — ele concordou. — Mas se os dois não puderem ir tudo bem, eu estou vendo aqui o endereço e não parece tão difícil de chegar...

—Nós vamos. — a interrompemos.

—O que? — ela olhou de mim para meu irmão — Sério?

—Claro. — Murilo concordou.

—Afinal nem sobre os nossos cadáveres que vamos deixar aquele gringo ficar sozinho com você de novo, ainda mais na casa dele!

Ayume suspirou.

—Do que vocês estão falando? — perguntou impaciente — Não estaremos sozinhos, o agente dele...

—Naquele evento vocês estavam cercados por uma multidão de pessoas fantasiadas e isso não o impediu de te beijar. — afirmamos.

—M-mas por que vocês são tão idiotas?! — ela ficou irritada e nervosa ao mesmo tempo.

—Ser idiota é o que amigos fazem. — aleguei.

—Idiotas. — ela repetiu se levantando e virando-se para nós — Então eu vou avisar Lorde Zucker que vamos os três e amanhã, depois das aulas, ao invés de ir para casa eu vou para casa de vocês almoçar lá, depois nós vamos todos juntos para a casa do Lorde Zucker.

Algumas pessoas costumam perguntar se podem ir almoçar na sua casa, tipo “ei, posso ir almoçar na sua casa amanhã?” ou algo assim, mas Ayume não, ela simplesmente avisa que vai almoçar e pronto, bem, pelo menos dessa vez ela avisou que ia pra lá.

—Tudo bem. — concordamos, mas só para fingir que tínhamos alguma escolha.

—Certo. — ela assentiu — Mas agora eu tenho que ir.

Inclinou-se para frente, deu um selinho em cada um de nós e foi embora.

...

Nós não dissemos a nossos pais que estávamos indo até a casa de um cara famosinho porque tínhamos ficado sabendo de um aspecto dele que não deveria ser divulgado de jeito nenhum por aí, ao invés disso dissemos que estávamos indo fazer um trabalho em grupo na casa de um colega.

E mamãe até se ofereceu para nos dar carona!

—Obrigada tia. — Ayume agradeceu descendo do carro quando paramos em frente ao prédio do gringo, passando por cima de mim no processo.

Porque é claro que ela não podia me esperar descer primeiro para só depois ela descer.

Até porque se esperasse não seria Ayume. Não é?

—Vocês têm certeza que não querem que eu venha buscá-los? — Mamãe perguntou virando-se para nós.

—Não, mas, tudo bem. — Murilo recusou.

—Se mudarem de ideia é só me ligarem.

—Pode deixar. — concordamos saindo do carro para que ela pudesse ir embora.

Na calçada nós paramos cada um ao lado de Ayume e olhamos para o prédio de vinte e um andares a nossa frente.

—Então é aqui que aquele gringo mora. — comentamos.

—Querem parar de chamá-lo de gringo? — Ayume reclamou — Ele não é um “gringo”, sabiam? Nasceu aqui, então é tão brasileiro quanto vocês!

—Ele não é gringo. — concordei.

—Mas tem cara de gringo. — Murilo acrescentou.

—Então nós o chamamos de gringo. — concluímos juntos.

Ela girou os olhos, ou pelo menos nós achamos que girou, porque, como já dissemos, eles são tão puxados que é difícil ter certeza.

—É que nem você. — Meu irmão salientou.

—Você não é japonesa. — comentei.

—Mas parece japonesa. — Murilo afirmou.

—Então nós te chamamos de “Japa” — afirmamos.

Ayume cerrou os olhos.

—Vocês me chamam de que?

—A menos que você nos diga que não gosta! Aí com certeza paramos! — afirmamos recuando com as mãos erguidas. — Hã... Você não gosta?

—Tá, tudo bem. — ela assentiu, no mesmo tom que alguém usaria para dizer “afinal quem liga?”.

—Bem, então vamos logo lá, acabar com isso! — nós afirmamos seguindo adiante.

Na portaria tivemos que nos apresentar ao porteiro, mostrar nossas identidades, informar quem tínhamos ido visitar em que apartamento e ainda esperar até ele telefonar e avisar que estávamos lá fora, para só então o gringo nos deixar entrar.

—Todo esse trabalho só para ver aquele gringo? — reclamei quando nos dirigíamos ao elevador.

—Parece até que estamos tentando ver o presidente da república! — Murilo concordou comigo.

—Meu Deus, vocês parecem velhos reclamando! — Ayume girou os olhos e apertou o botão do 11° andar.

—O que podemos fazer se não gostamos do cara? — retrucamos.

—Mas vocês nem o conhece! — ela se irritou conosco.

—Imagine quando o conhecemos.

—Ai meu Deus! — ela suspirou exasperada.

E sabe de uma coisa? Nós tínhamos toda razão, se já não gostávamos dele antes de conhecê-lo, gostamos menos ainda depois, o cara mal abriu a porá e já foi abraçando Ayume!

—E vocês são Murilo e Vinicius! — ele sorriu-nos ainda abraçando Ayume.

—Somos sim. — respondemos pegando Ayume pelos ombros e a puxando para trás.

—E já pensaram em fazer uma dupla sertaneja? — ele riu.

—O que? — perguntamos confusos.

Eu admito, nessa o gringo conseguiu nos deixar desconcertado.

—Ele é idiota como vocês. — Ayume nos explicou.

—Ah. — dissemos.

—Desculpe, desculpe. — o gringo parou de ir — Vamos, podem ir entrando, ah, e tirem os sapatos.

Quando entramos, a primeira coisa que vimos foi um passarinho branco com cabeça amarela e bochechas vermelhas — que nos fez lembrar um pouco as garotas super maquiadas da escola — dentro de uma gaiola em um pedestal ao lado do sofá, assim que o passarinho nos viu ele gritou:

—Socorro! Socorro! Fui transformado em um passarinho!

Nós três paramos em choque.

O gringo olhou de nós para o passarinho, sorriu e caminhou até a gaiola dizendo:

—Esse aqui é o Suzaku, Suzy para os mais íntimos, a minha calopsita de estimação, geralmente ele fica solto para voar livremente no apartamento...

—Socorro! Socorro! Fui transformado em um passarinho!

—Mas eu o coloco na gaiola sempre que o deixo só ou quando vamos receber visitas que ele não conheça, para evitar que ele fique muito agitado e tenha um acidente...

—Socorro! Socorro! Fui transformado em um passarinho!

—Por que ele está gritando por socorro? — Ayume perguntou.

—E dizendo que foi transformado em um passarinho? — nós perguntamos.

—Ah isso? — o gringo riu — É coisa da minha mãe, ela tem um senso de humor estranho, gosta de deixar as pessoas confusas.

—Ela o ensinou a falar isso ou o transformou em um passarinho? — Ayume perguntou, e parecia realmente em dúvida.

Confesso que também estávamos um pouquinho, é que o bichinho estava insistindo tanto...

—Ensinou.  — o gringo pensou por um momento — Eu acho. — confesso que isso não foi muito reconfortante — Mas eu fiquei aliviado por ela ter se conformado só com isso, a ideia original dela era alugar três porquinhos escrever os 1, 2 e 4 neles, cobri-los de óleo, soltá-los em um shopping e ver o seguranças doidos perseguindo os porquinhos e tentando achar o número três.

Nós ainda não sabemos se ele estava brincando ou não quando disse isso.

—Socorro! Socorro! Fui...!

—Suzy, Suzy. — o gringo chamou se inclinando ao lado da gaiola e estalando os dedos, desviando a atenção do passarinho de nós para ele — Suzy, eu já cheguei.

—Bem vindo, querido! — o passarinho respondeu imediatamente.

—Muito bem, Suzy. — o gringo sorriu — Eu já cheguei.

—Bem vindo, querido!

—Isso. — ele notou que nós ainda o estávamos o olhando — Ah, isso foi meio que a minha mãe que ensinou para ele também, é que quando morávamos em São Paulo com ela, sempre que eu chegava a casa eu dizia “Eu já cheguei” e ela respondia...

—Bem vindo querido!

—Isso. — ele riu. — Ele acabou pegando o jeito. Eu fiquei preocupado quando tivemos que vir para cá, porque Suzaku era bem apegado à mamãe, mas ele parece bem... — ele colocou alguns dedos por entre as grades e o passarinho se aproximou para receber carinho — Talvez se vocês ficarem por tempo o suficiente para ele se acostumar vocês possam vê-lo solto... — ele ajeitou-se — Talvez o meu agente, Igor Quinto, ainda demore um pouco, ele ligou dizendo que ainda estava dirigindo para cá, e meu pai está no trabalho, então vocês querem... Talvez... Conhecer meu quarto? — Alguém bateu a porta — Ou talvez não.

Ele sorriu e foi atender à porta.

Ao que parece o agente de Lucian Reis ia até lá com bastante frequência, então o porteiro simplesmente deixava-o subir diretamente sem muitas perguntas.

Igor Quinto era um homem sério de cabeça quadrada — é sério, a cabeça dele parecia mesmo ser quadrada — terno e óculos de lentes grossas.

Nem por um segundo Suzako, Suzy para os íntimos, tentou pedir socorro a ele porque tinha sido transformado em um passarinho.

—Então vocês são os amigos do meu cliente, Lucian, é um prazer conhecê-los eu sou Igor Quinto. — ele se apresentou nos entregando um cartão para cada.

—Prazer. — nós três respondemos, um pouco intimidados.

—Igor, eu já disse que pode me chamar de Luciano. — o gringo reclamou sentado de lado no canto menor do sofá em formato de L dando alguns pedaços de verdura para o passarinho através das grades da gaiola — É o nome que está escrito na minha certidão, sabia?

—Luciano é seu nome quando está “a paisana”, enquanto está trabalhando você é Lucian Reis. — o agente lhe respondeu.

O gringo olhou a volta, encolheu os ombros e disse:

—Não tem nem uma câmera por aqui, então eu não estou trabalhando, portanto, nesse momento, sou Luciano.

—Do momento em que eu atravessei aquela porta, na condição de seu agente você passou a ser Lucian Reis. — o agente retrucou.

O gringo girou os olhos e disse com tom entediado:

—Chaaaaato.

Então ele olhou para nós piscou e sorriu.

O agente pigarreou e se sentou em uma poltrona cinza que ficava mais próximo do canto onde nós três havíamos nos amontoado para sentar e quase de frente para o canto onde o gringo estava sentado.

—Então vamos direto ao assunto. — ele começou. — Creio que, um de vocês tenha sido testemunha de um aspecto não muito conhecido de Lucian. — Ayume levantou a mão — Ah sim, você, e vocês dois...

—As noticias correm. — respondemos.

—Sim, é claro, e é justamente isso que quero evitar, fato que nem seria necessário se Lucian tivesse seguido minhas recomendações de não tirar a máscara em hipótese nenhuma. — ele lançou um olhar penetrante ao gringo, que fingiu que nem era com ele — E eu não gostaria que isso viesse a se tornar público, os fãs...

—Não sei para quê tanto alvoroço. — o gringo reclamou — Eu estava à paisana naquele evento, era Luciano e não Lucian Reis...

—O que Luciano faz reflete em Lucian Reis. — o agente respondeu compenetrado, fazendo o loirinho girar os olhos novamente. — Em fim, o ponto a que quero chegar. — ele voltou-se novamente para nós — É que meu cliente e eu ficaríamos imensamente gratos se esse assunto não se espalhasse.

—Ficariam? — perguntamos em dúvida.

Mas só porque o loirinho não parecia estar se importando nem um pouco com aquilo.

No entanto Igor Quinto acabou interpretando nossa dúvida erroneamente:

—Claro que eu não pretendo que vocês guardem esse segredo a troco de nada. — ele pigarreou — O que acham de R$ 1500,00 para cada um?

—R$1500,00?! — nos espantamos juntamente com Ayume.

A senhora deve compreender Doutora, nós somos apenas adolescentes de 16 anos que nunca sequer trabalharam, então é meio que óbvio que ninguém nunca nos ofereceu tanto dinheiro assim — especialmente sendo R$1500,00 para cada um ao invés de R$1.500,00 para dividirmos.

—R$ 2.000,000 então. — Igor Quinto acenou. — Eu farei os cheques agora e vocês poderão...

—Não precisamos de cheques. — Ayume afirmou.

Aquilo chamou a atenção do loirinho ao ponto que ele até parou de brincar com Suzaku e passou a prestar atenção em nós.

—Não precisam de cheques... — o agente piscou — Então vocês preferem o dinheiro em espécie...

Eu admito, até nós ficamos surpresos com a ousadia dela.

 —Não senhor. — Ayume negou.

—Então eu não compreendo.

—Nem nós! — afirmamos alarmados.

Ela não podia estar querendo dizer o que nós achávamos que ela estava querendo dizer, podia?!

—O que eu estou dizendo é que eu não preciso de dinheiro algum para prometer que não vou contar nada, Luciano é meu amigo, se ele não quiser que eu conte, eu não conto.

É, até agora nós não estamos acreditando que ela realmente disso isso.

Eram R$ 2.000,00!

O gringo aparentemente também ficou chocado com a declaração de nossa amiga terrivelmente não gananciosa porque demorou uns sete segundos para perceber que a conversa era com ele agora.

—Hã? O que? Não, na verdade eu não me importo se você quiser contar... — ele recebeu um olhar fulminante do agente — Quer dizer, obrigado Ayume, muito obrigado mesmo, eu agradeceria imensamente se você fizesse o favor de não contar a ninguém, é realmente muito importante.

—Então eu não conto! — ela garantiu — E os meninos também não vão dizer nada!

—Êpa! Espera um pouquinho aí! — nós protestamos.

—Vocês não vão dizer nada. — ela não pediu, ela ordenou.

Nós podíamos ter dito que íamos dizer sim, que, se não recebêssemos o dinheiro nós íamos colocar aquela noticia na internet no segundo em que pisássemos fora daquele apartamento.

Mas, ao invés disso, nos resignamos e suspiramos:

—Tudo bem. — eu suspirei.

—Não vamos contar nada. — Murilo garantiu.

O gringo bateu uma palma de forma animada.

—Fantástico! — ele exclamou — Parece até que você usou Geass neles!

—Foi uma coisa bem mais poderosa que Geass, foi amizade! — Ayume garantiu.

Não temos a menor ideia do que eles estavam falando.

O agente, Igor Quinto, pigarreou.

—Bem, já que vocês insistem que nem um pagamento é necessário... — nessa hora nós tivemos vontade de voltar atrás, e dizer que era necessário sim um pagamento, de preferência de R$ 2.000,00! — Vamos tratar logo do contrato.

—Contrato? — perguntamos nós três.

—Sim. — Igor Quinto tirou da pasta uma série de papeladas e entregou ao meu irmão, que era quem estava mais próximo — Apenas um pequeno acordo de silêncio no qual vocês concordam com em manter sigilo.

—Ou do contrário seremos processados? — tentei adivinhar.

—Naturalmente. — ele nos estendeu uma caneta — Levem o tempo que quiserem para lerem.

—Espere um pouco Igor. — o gringo interviu — Não precisa assustá-los com isso.

—Nos assustar? — questionou Ayume.

—Vocês são menores de idade, óbvio que não tem condições de assinarem nada. — ele gesticulou.

—Ai Luciano. — seu agente suspirou cansado, talvez se esquecendo de que eles estavam ali como “agente e cliente”.

—Eu só estou dizendo que Ayume concordou em não pedir nada para guardar segredo porque somos amigos, eu também não vejo necessidade de assustá-la para garantir o seu silêncio. — ele sorriu para ela — Porque somos amigos.

E sabe o que? Ayume sorriu de volta!

Nós realmente não vamos com a cara desse gringo!

—Tudo bem, tudo bem, faça como quiser. — o agente dele gesticulou de uma forma bem ao estilo “eu não me importo mais”.

—Então. — o gringo juntou as palmas das mãos — Agora que está tudo resolvido... Quem quer ver um DVD?

Na gaiola o passarinho gritou:

Socorro! Socorro! Fui transformado num passarinho!

Depois que tínhamos prometido não contar nada e não recebido nada por isso nós dois só queríamos ir para casa e, a julgar pelo suspiro que Igor Quinto deu enquanto ele afrouxava a gravata, eu acho que posso supor que ele compartilhava desse mesmo desejo também.

Mas não, ao invés disso, nós ficamos presos lá, enquanto aquele gringo e a Ayume viam um filme atrás do outro!

Só horas mais tarde o gringo disse que o pai dele devia estar quase para chegar, então o agente dele se levantou e — parecendo até aliviado — se ofereceu para nos levar para casa.

Nessa hora o gringo deu um salto do sofá e anunciou:

—Eu vou junto!

—Lucian. — O agente dele suspirou — Você entende que se for junto só vai me dar mais trabalho, não é? Porque aí eu vou ter que voltar aqui só para te trazer de volta.

—Entendo. — ele afirmou com um grande sorriso.

E assim fomos nós três e mais o gringo para casa no carro do Igor Quinto, com o loirinho sentado no banco do carona, virado para o banco de trás e conversando durante o caminho inteiro com Ayume sentada entre nós dois.

Nós dois fomos deixado em casa primeiro, e então ele foram embora para levar Ayume para a casa dela!

Dá para acreditar?

E nós nunca pudemos ir até a casa dela! Nem saber onde fica!

♠. ♣. ♥. ♦

Vinicius se espreguiçou.

—Bem, então eu acho que era isso que eu tinha para contar. — falou — Murilo se você quiser continuar a partir daqui...

—Não tão rápido irmão! — Murilo o interrompeu.

Vinicius o olhou inocente.

—O que foi?

Murilo cruzou os braços.

—Por que você não começa a falar logo sobre o que íamos falar desde o começo?

Vinicius deixou os braços caírem ao lado do corpo, soltando o ar com tom enfadado e largando-se por completo no divã.

Precisamos mesmo continuara falar desse gringo?

Murilo continuava com os braços cruzados.

—Vai. — pressionou — Continua.

Vinicius suspirou.

♠. ♣. ♥. ♦

Tudo bem, mano, tudo bem, já que você insiste então vamos lá.

Bem, então como a senhora já sabe doutora, nós dois voltamos às aulas uma semana depois de elas terem recomeçado — tempo o suficiente para a Ayume recuperar-se de sua aparência de zumbi adquirida durante as semanas trancada em casa vendo séries com os irmãos, diga-se de passagem — e já no pátio da escola, logo que atravessamos o portão, nós percebemos que tinha alguma coisa estranha rolando.

Quer dizer, porque tinha tantas meninas — ok, tinha alguns meninos também — que estavam amontoadas em volta do portão? E por que elas gritaram daquele jeito histérico quando eu passei e pararam um milésimos de segundo depois como se estivessem decepcionadas? E aí fizeram a mesma coisa com meu irmão?

Com essas perguntas na cabeça nós atravessamos o pátio cuidadosamente.

—Ei. — Murilo me chamou baixinho, depois de termos deixado o pátio — O que está rolando?

—Se você não sabe como eu vou saber? — respondi de cenho franzido.

Ele olhou para trás de maneira quase assustada.

—O que será que deu nelas?

De súbito ouvimos os gritos das garotas lá fora, mas novamente eles pararam tão rápido quanto começaram.

—Acho que nós perdemos alguma coisa. — afirmei também olhando para trás, embora já não fosse mais possível ver o pátio.

Quando voltamos a olhar para frente nos deparamos com o que parecia ser a única alma viva dentro do colégio além de nós dois: Ayume sentada na escada.

—Pequena Ayume! — cantarolamos.

Ela estava — de novo — com a cara enfiada em uma daquelas suas revistas japonesas em preto e branco de estórias em quadrinhos, — como é mesmo o nome? Mangá? — Mas largou-a e levantou-se instantaneamente quando nos ouviu chamá-la.

—Meninos! — abriu os braços para nos receber com um abraço — Eu senti falta de vocês!

Ela deu um selinho em cada um de nós.

—Também sentimos sua falta. — afirmamos.

Ayume apalpou nossas costelas por cima das camisas.

—Vocês perderam peso. — afirmou.

—Para! Para! Para! — nós rimos nos afastando — Faz cócegas!

Ela sorriu.

—Depois da aula vamos sair para lanchar. — convidou embora nós praticamente nunca a víssemos comer — Eu pago.

Tem coisa melhor que alguém te chamar para comer e ainda dizer que vai pagar?

A abraçamos.

—Nós te amamos Ayume!

—Eu sei.

Nós a soltamos.

De repente, lá do pátio nós ouvimos novamente os gritos histéricos das meninas, mas dessa vez eles não pararam um milésimo de segundo depois, ao invés disso se intensificaram até parecer que todas tinham enlouquecido.

—Mas nos diga, pequena Ayume. — meu irmão indicou o caminho por onde viéramos com o polegar por cima do ombro — O que é que deu em toda esse pessoal?

—É. — concordei — Eu já vi elas pirarem, mas não todas assim de uma vez.

—Ah. — Ayume esfregou o braço esquerdo e desviou o olhar — Certo, vocês não vieram durante a primeira semana então não sabem.

Falou um pouco baixo demais.

—Não sabemos? — perguntamos nos inclinando em direção a ela — Não sabemos o que?

—Bem, é que, depois das férias um aluno novo se transferiu para cá. — contou.

—Garoto novo, é? — repeti. — E daí? Isso não é nada demais.

—Ah... Geralmente não, mas é que esse garoto é... Ah, lá vem ele. — apontou.

E agora, doutora, vamos lá ao clichê nosso de cada dia.

Porque quando nos viramos quem nós vimos correndo em nossa direção?

Ninguém menos que aquele gringo loirinho de olhos muito azuis.

Isso mesmo.

Lucian Reis.

Como o bom clichê colegial onde o cara que nós achamos que nunca mais vamos ver na vida, de repente se transfere para a nossa escola, mas acho que isso funciona melhor para as garotas.

Ele diminuiu a velocidade e parou assim que nos viu.

—Ainda bem que consegui despistá-las! — suspirou apoiando as mãos nos joelhos, mas logo depois se endireitou e sorriu para nós — E aí?

—O que você está fazendo aqui?! — perguntamos em choque.

—O que? Ayume não contou? — ele olhou de mim para o meu irmão — Eu estudo aqui agora!

E é isso, doutora. Agora será que podemos, por favor, parar por aqui?


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Notas finais do capítulo

O Suzaku é muito fofo, não é? ^^'

Vou confessar uma coisa, na verdade originalmente o plano era que a história acabasse no capítulo passado, e desse capítulo em diante fosse tratado somente em uma "segunda temporada", mas como aparentemente não tenho paciência para essas coisas, decidi seguir direto mesmo. ^^'

Ah! E mais uma coisa, eu queria agradecer a Asryah, porque o personagem Lucian Reis só nasceu graças a ela :D

Opa! E não se esqueçam, caso alguém tenha interesse eu criei um Twitter especificamente para divulgar minhas estórias, onde eu posto como vai o andamento dos capítulos etc.
Quem quiser é só me seguir lá.
O Twitter é esse aqui: https://twitter.com/Fl0r_D0_De5ert0



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