Gêmeos no Divã escrita por Lady Black Swan


Capítulo 23
11° Consulta - parte 2


Notas iniciais do capítulo

Eu sei sou terrível, anuncio que estou de volta do hiatos e sumo por mais de meio ano logo depois! -_-
Mas de lá pra cá aconteceram-me uma sucessão de infortúnios que não dá nem para acreditar, e o pior é que nem posso prometer que não voltarei a sumir porque agora cheguei a tão temida fase da minha vida... Em que devo escrever o TCC! O.O
Mas uma coisa eu posso prometer: Mais cedo ou mais tarde... Eu sempre volto!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/628992/chapter/23

Caramba, aquela vez que a Ayume apareceu com aquela espada foi tenso mesmo!

Se bem que nem era uma espada de verdade — mas que daquele angulo dava pra convencer dava.

Ok, mas eu acho que estamos nos adiantando um pouco nas coisas, então antes de falarmos da “espada” vamos colocar aqui “alguns pingos nos is”.

Naquele dia quando chegamos a casa nossa mãe achou que tínhamos sido assaltados, e nosso pai achou que tínhamos nos metido em alguma briga de rua por aí, não dá pra culpá-los por nem sequer ter passado pela cabeça deles que nós é que tínhamos feito aquilo um com o outro.

E aliais, eles ficaram devidamente chocados quando os colocamos a par dessa informação.

♠. ♣. ♥. ♦

—Não se esqueça de mencionar que ficamos de castigo. — comentou Murilo.

—Ah é. Também ficamos de castigo. — concordou Vinicius.

♠. ♣. ♥. ♦

Só que o caso, doutora, é que nossos pais tiveram filhos muito tranquilos — e estou adicionando Maya na conta — que nunca fizeram nada de grave o suficiente a ponto de estressá-los tanto que eles tiveram de por um — ou dois nesse caso — de nós de castigo.

Claro que às vezes alguns de nós — ou seja, Murilo e eu — estressamos tanto os nossos pais — como na vez em que raspamos a cabeça um do outro — que eles começam a gritar tanto — geralmente um com o outro — que os vizinhos ficam até em dúvida se deveriam ou não chamar a policia — afinal de contas, quem nunca estressou os pais, não é?

Então quando Murilo e eu trocamos socos um com o outro no pátio da escola eles nem souberam como deveriam nos castigar.

Mamãe sugeriu que nos dessem apenas uma advertência e somente se o incidente se repetisse nós fossemos punidos, mas papai foi contra, ele disse que já estávamos agindo daquele jeito há algum tempo e que era melhor cortar o mal pela raiz logo agora.

No fim acabamos sendo mandados para esperar a sentença no quarto.

—O que acha que farão conosco? — perguntei deitado na cama olhando para o teto com os braços cruzados atrás da cabeça.

—Talvez nos deem uma surra? — Murilo sugeriu-me da outra cama.

Franzi o cenho.

—Tipo o que? Você está achando que o pai vai pegar um cinto e nos bater com a fivela?

—Algo assim. — ele concordou. — Os pais ainda batem nos filhos quando eles já têm as nossas idades?

Já dava até para imaginar o papai escolhendo o cinto.

Claro, nós já apanhamos antes, doutora, quando ainda morávamos no orfanato algumas crianças maiores costumavam nos bater às vezes, e vez ou outra também levávamos tapas ou puxões de orelha dos adultos — geralmente por tentar confundi-los sobre quem era quem —, mas isso já fazia tanto tempo que para nós a ideia de apanhar era quase um pensamento abstrato, de forma que não conseguíamos temer a ideia de levar uma surra, mesmo que ela fosse uma probabilidade muito real naquele momento.

—Então... Para nos ensinar a não bater mais um no outro...  Ele vai nos bater? — Franzi o cenho — Isso é um pouco paradoxal, não é?

—Cara... Você nem sabe o que é “paradoxal”! — Murilo riu.

—E nem você! — eu ri também.

Dá pra acreditar que umas poucas horas antes disso, nós dois estávamos socando a cara um do outro?

—Verdade. — ele admitiu, nós dois rimos, mas então ele voltou a ficar sério — A mamãe não o deixaria nos bater... Deixaria?

Eu pensei sobre aquilo.

—Acho que não.

No fim ninguém apanhou, e nossa única punição foi ficarmos sem os celulares por uma semana, então ok.

Quando recebemos nossos celulares de volta nós começamos a mandar mensagens loucamente para Ayume, isso fora as dezenas que já vínhamos mandando para o facebook dela, mas, como Murilo já mencionou, ela ignorou todas elas.

E isso resume basicamente o nosso Natal, Ano Novo — os quais passamos na casa da nossa avó materna —aniversário e o resto de nossas férias.

E então veio o primeiro dia de aula do novo ano letivo.

Eu me lembro desse primeiro dia de aula como se fosse ontem e estava chovendo tanto que parecia até o presságio de um segundo dilúvio.

Geralmente a maioria do pessoal não vai aos primeiros dias, especialmente se estiver chovendo do jeito que estava, mas nós fomos porque queríamos rever logo a Ayume.

Nossa primeira aula era de literatura e já de cara descobrimos que estávamos na mesma aula que o minion de cabelos enrolados chamado Renato, então sentamos e torcemos para Ayume estar na mesma turma também.

Dez minutos depois ela chegou, com as calças encharcadas dos joelhos para baixo.

E é agora que chegamos à parte da espada.

Dizer que nós suamos frio aquela vez é apelido, doutora.

Murilo inclinou-se em minha direção.

—Acha que ela ainda está brava conosco? — perguntou-me baixinho.

—Não... Não tem como... — franzi o cenho — Não é?

(Sim, ela ainda estava brava).

Nós voltamos a olhá-la e Ayume estava arrumando suas coisas numa cadeira ao lado da parede e bem longe de nós — nós dois sempre sentamos no meio da sala, geralmente unindo duas cadeiras — e ainda estávamos pensando se ela tentaria ou não nos atacar com a espada se fossemos falar com ela quando o pintor de roda pé se adiantou sentando-se na cadeira em frente a ela para puxar conversa:

—Ei Ayume, chega e nem diz mais “oi” é?

—Renato! — ela se surpreendeu — Estamos na mesma aula?

—Pois é. — ele sorriu — Mas é um saco, não é? Aula de química logo no primeiro horário na segunda-feira.

Ayume piscou confusa.

—Química? Não, a minha primeira aula... — falou já se levantando.

Mas então o pequeno polegar riu e a segurou pelo braço.

—Não, calma, eu só estava brincando! — afirmou — É aula de literatura, relaxa!

Ela voltou a se sentar.

—Sério? — sorriu aliviada.

—É. — ele respondeu — Se bem que de química para literatura não é lá um grande salto, é?

—Ah para com isso! — ela bateu no ombro dele — Literatura é legal, ta?

Ele riu.

—Só para você saber, Ayume, seus mangás não contam como literatura estrangeira!

—Pois deviam! — ela fez-se de zangada, mas então riu junto.

Houve uma pausa.

—Mas então... Qual é a dessa espada aí? Decidiu virar ninja de vez, foi?

—O que? — ela olhou para trás como se tivesse se esquecido da espada enfiada em sua mochila e cujo cabo lhe sobressaia sobre o ombro — Ah, isso não é uma espada. — negou puxando a espada, que não era espada, da mochila — É uma sombrinha.

Revelou desencapando o objeto, que, contra todas as possibilidades, era mesmo uma sombrinha.

Não sei quem arregalou mais os olhos, se nós ou o baixinho.

—Não. Brinca. Comigo. Garota! — exclamou boquiaberto — Me deixa ver! — ele pegou a sombrinha nas mãos — Incrível!

Ayume riu do fascínio infantil dele e, em nenhum segundo sequer, olhou para nós.

Ele abriu a sombrinha respingando água para todo canto, porque afinal, como eu já disse, estava caindo o mundo lá fora.

E foi basicamente isso doutora, Ayume simplesmente ignorou completamente a nossa existência.

Murilo é da opinião de que talvez tivesse sido melhor se ela realmente tivesse tentado nos atacar com uma espada, já eu tenho minhas dúvidas sobre isso.

Agora continuando... Até hoje nós não sabemos se Ayume estava realmente nos evitando naquela época — e se estava ela com certeza conhece algum tipo de complexo de túneis e passagens secretas, porque não tem outra explicação doutora! — até porque ela se recusa a nos falar sobre isso, mas o que sabemos é que, durante a maior parte daquelas semanas, nós não nos encontramos com ela nem uma vez sequer fora das salas de aula — nem mesmo um esbarrão ocasional no corredor teve!

Com exceção da aula de literatura e da aula de história— nas quais ela se sentava o mais distante possível e nos ignorava completamente — nenhuma de nossas coincidia com as aulas de Ayume — embora vez por outra coincidisse com a de algum dos amigos dela, mas em compensação sempre acabavam coincidindo com a aula de alguma das amigas de Verônica ou até da própria Verônica, só que agora nós não estávamos mais prestando tanta atenção nelas, estávamos tão centrados em encontrar uma maneira de encontrar com Ayume e conseguir que ela nos perdoasse e voltasse a falar conosco que tínhamos nos voltado, mais uma vez, para um mundo próprio nosso em que ninguém mais podia entrar.

E assim se passou, mais ou menos, um mês e meio.

Na verdade certo dia nós estávamos armando um plano para “emboscá-la” quando...

—Podíamos esperar por ela no portão na hora da saída. — sugeri baixinho com meu irmão.

—Claro. — ele concordou — Afinal ela não pode ficar aqui dentro para sempre.

—Garotos vocês precisam ouvir essa música nova! Ela é simplesmente IN-CRÍ-VEL! — Verônica exclamou de repente aparecendo á nossa frente, logo depois que a aula de geografia acabou e dando cada um dos lados de seu fone de ouvido para um de nós.

Francamente eu não faço a menor ideia de que música era, porque nem fiz questão de prestar atenção nela — mas isso talvez prove que a música não era tão incrível assim, não é? — mas me lembro de que era uma quinta-feira. Por que eu me lembro disso? Já vou explicar.

—Hum... Oi Verônica. — cumprimentamos erguendo o olhar para ela.

—Nossa, mas que recepção mais “animada” é essa? — perguntou-nos irônica puxando uma cadeira para sentar-se à nossa frente. — O que houve? Não me ligaram as férias inteiras e, desde que as aulas recomeçaram, mal trocamos duas palavras... Hum... Por acaso estão bravos comigo porque recusei seus convites ao baile?

Na verdade, até aquele momento, nós nem sequer tínhamos notado que há tempos tínhamos deixado Verônica de lado.

Numa cadeira à nossa direita Dominique se sentou cruzando as pernas e serrando as unhas, mas não parecia estar dando muita atenção àquela conversa.

—Não, tá tranquilo. — respondemos.

—Sério? — ela piscou, acho que não era bem essa a resposta que estava esperando — A-ah, tudo bem então... Mas sabem, logo nós vamos ter o baile de boas vindas aos calouros e... Eu decidi que vou permitir que vocês me levem a esse... Como compensação pelo baile anterior, o que acham?

Por algumas razões, que os professores explicaram, a todos os alunos logo no primeiro dia de aula — e repetiram por, pelo menos, uma semana —, mas nas quais nós não prestamos a mínima atenção, o baile de boas vindas desse ano se deu um pouco atrasado.

—Não obrigado, estamos bem. — respondemos pouco interessados, ela ficou boquiaberta — A propósito, Verônica. Você viu Ayume por aí?

Dominique deixou cair a serrinha de unha.

—Ayume? — Verônica repetiu seriamente — Não, eu não a vi.

E assim ela pegou o celular e foi embora, com Dominique a seguindo logo depois.

Agora sim doutora, eu vou te dizer por que lembro com tanta certeza que aquele dia era uma quinta-feira: é que naquele mesmo dia, na parte da tarde, nós tivemos aula de Ed. Física e, para nossa surpresa, descobrimos que Ayume estava na mesma aula que nós.

E o melhor: nenhum daqueles três estava na aula junto!

Acontece que até então Ayume não havia aparecido em nenhuma das aulas de Ed. Física então nós achávamos que ela simplesmente tinha ficado em outro horário.

Então ela estava sozinha e desarmada — nenhum daqueles três por perto e nada de sombrinha/espada a vista — então fizemos o que? Fomos falar com ela é claro.

—Ei, pequena Ayume, parece que estamos na mesma aula...!

E ela nos virou as costas e foi embora.

Vácuo nível 100.

Mas pensa que desistimos? Que nada, nós corremos atrás!

Ayume lutou para ser nossa amiga, no princípio, e nós estragamos tudo fazendo uma sucessão de...

♠. ♣. ♥. ♦

Murilo rapidamente cobriu a boca de Vinicius com a mão e sorriu sem jeito para a doutora Frank.

—Foi mal doutora, acho que ele se exaltou um pouco. — desculpou-se.

—Ok, desculpe. — Vinicius limpou a garganta.

E continuou:

♠. ♣. ♥. ♦

... De besteiras (está melhor assim, mano?) com ela, então agora era nossa vez de lutar pela amizade dela.

Ok, depois de tudo o que falamos seria até bem compreensível se Ayume nunca mais falasse com a gente de novo, mesmo assim nós fomos atrás dela.

—Ayume! — chamei.

Estávamos nos afastando do resto dos alunos, e o professor nem sequer tinha feito a chamada ainda.

—Espera um pouco! — Murilo pediu.

A resposta dela? Colocar os fones de ouvido e começar a digitar no celular enquanto andava — cada vez mais rápido — para longe de nós.

Uma clara mensagem de “me deixem em paz” que nós dois preferimos ignorar.

Ah é, e eu não posso deixar de comentar isso: naquela hora ela começou a mandar mensagens para “Lorde Zucker”.

—Ayume. Ayume. Ayume. — chamamos sem parar, ela continuou nos ignorando, mas óbvio que, com nossas pernas consideravelmente mais longas, logo a alcançamos — Ayume, nós queremos falar com você!

Afirmamos cada um pondo uma mão em seu ombro.

—Ah é? E pra que?! — ela virou-se furiosa arrancando os fones do ouvido — Tem alguma coisa que vocês se esqueceram de falar da última vez?!

Inesperadamente nós recuamos um passo engolindo em seco.

—Ayume, sobre aquilo...

—O que? — nos interrompeu, e quer saber o que mais assustava doutora? Era a calma com a qual ela começou a falar conosco — O que mais vocês querem falar? Que meus cabelos são curtos demais? Meus seios pequenos demais? Ou talvez que eu preciso começar a gostar de coisas mais “normais” como boy bands americanas e atores adolescentes bonitinhos de TV?

—Não... Não é nada disso. — hesitamos — Estamos aqui para te pedir desculpas.

—Desculpa é? — ela colocou o celular, com fone e tudo, em um dos bolsos da calça — Pelo que?

Nós nos movemos desconfortáveis e constrangidos, ela ia mesmo nos fazer dizer, não ia?

—Por... — meu irmão limpou a garganta — Tudo o que te dissemos ano passado.

—Isso. — concordei — Realmente não devíamos ter dito aquilo.

—Ah é? — ela inclinou a cabeça levemente de lado — E por que não? Afinal era o que vocês estavam pensando, não era?

—Não! — negamos imediatamente — De jeito nenhum!

—Então por que disseram?

—Porque nós...

Somos uns babacas.

—Verônica arranjou um novo brinquedinho e chutou vocês? — ela nos perguntou, de repente.

—O que? — nos espantamos.

—É por isso que vocês estão vindos me pedir desculpas agora?

—Não. — respondi.

—Nada haver. — Murilo completou.

—Então por que agora?  — nós tentamos dizer a ela que tentamos nos desculpar antes, mas ela havia nos bloqueado do celular e andava nos evitando na escola (o que não era para menos), mas, antes de dizermos qualquer coisa, ela ergueu a mão — Querem saber? Eu não ligo então só me deixem em paz.

Ela voltou a pegar o celular e os fones do bolso, nos contornou e foi embora.

Claro que não seria tão fácil assim.

No dia seguinte fizemos outra tentativa:

Como já estava óbvio que Ayume estava nos evitando — embora hoje em dia ela negue — nós decidimos armar um plano de ataque, o plano era o seguinte:

Nós chegaríamos o mais cedo possível à escola e esperaríamos por Ayume até o último segundo que desse antes de ter que entrar.

E como não deu certo, partimos para a parte b do plano: matamos a última aula e esperamos por ela na saída.

Não deu certo também.

Não há outra maneira de sair ou entrar da escola sem ser pelo portão principal, o que nos leva a uma conclusão, doutora, das duas uma: Ou ela não foi naquele dia ou ela deu um jeito de passar por nós sem que a percebêssemos, o que não seria difícil considerando-se o quão fácil deve ser para ela se misturar com a multidão, por causa do seu tamanho portátil.

Assim, como esse plano não deu certo, na segunda-feira nós experimentamos outra tática: dividir e conquistar.

O plano era simples, nós mataríamos a última aula antes do intervalo e nos separaríamos para procurar pelas turmas, que tinham aula do segundo ano, até encontrar a sala na qual Ayume estaria tendo aula.

Sempre tomando cuidado, claro, para não sermos pegos por algum professor ou pela diretora — que, francamente, passa mais tempo passeando pelo corredor do que trabalhando na sala dela.

E eu sei o que parece doutora, mas não, nós não matamos aula com frequência...  Não com tanta frequência assim...

Não conte aos nossos pais, ok?

Mas voltando...

Entre vários desvios e esquivadas para não sermos vistos/fugirmos de professores e da diretora nós acabamos só encontrando Ayume lá pelo começo da hora do intervalo.

Foi até curioso, porque nós chegamos ao pátio na mesma hora... E a vimos.

Ela estava conversando com uma das amigas dela, aquela mais magra, e de cabelos alisados e de quem nunca lembramos o nome, e elas estavam conversando algo mais ou menos assim:

—É sério, ele ficou muito feliz mesmo quando percebeu que está mais alto que eu! E olha que eu acho que não eram nem 2cm a mais!

—Inacreditável! — Ayume riu — Mas não era por causa dos tênis novos dele?  Eles eram meio altos...

—Se for por isso equilibra com as minhas botas. — ela apontou os próprios pés.

Sim, ela vai de botas para a escola, e, apesar do frio, eu não sei como ela ainda não foi suspensa por isso.

—É verdade. — Ayume concordou — Talvez ele esteja finalmente passando pelo estirão de crescimento?

—Pode ser. — a amiga dela concordou — Mas também já estava na hora! Afinal o Renato tem o que? Uns 17 anos...! — Ela foi se calando quando nos percebeu já ao lado delas. E pigarreou — Eu acho que já vou...

Ela já estava começando a se levantar, mas então Ayume agarrou-a pelo pulso e puxou-a de volta.

—Você fica. — Sentenciou definitiva.

—Ayume. — Chamamos — Queremos falar com você.

—É? Bom, mas eu não quero falar com vocês. — Ela levantou-se e passou por nós puxando a amiga junto.

Nós nos viramos.

—Ayume, é sério! — Insistimos.

—Ah? E vocês acham que eu estou brincando? — Ela nos olhou por cima dos ombros — Eu não tenho nada para falar com vocês, até porque, não é bom que vocês fiquem perto de uma “esquisitona” como eu, não é?

—Nós... — tentamos dizer.

Mas ela foi embora.

Suspirei.

—Parece que ela é de guardar mágoa. — Comentei.

Murilo olhou-me.

—E no lugar dela você não guardaria? — Perguntou-me.

Eu pensei um pouco sobre aquilo.

—É, guardaria. — Admiti.

Nós dois suspiramos e nos sentamos no banco onde Ayume estava antes com a amiga.

—Acha que devemos desistir? — Perguntei.

—Não, ainda não. — Murilo respondeu-me.

E realmente não desistimos doutora, durante toda aquela semana, e até a terça-feira seguinte, sempre que tínhamos chance, nós continuamos seguindo e buscando por Ayume em tudo que é canto, tentando convencê-la de que realmente estávamos arrependidos do que havíamos feito.

Até que ela perdeu a paciência conosco:

—O que vocês ainda querem de mim afinal? — perguntou-nos calmamente parando e olhando para nós por cima do ombro.

—Nós...! — tentamos falar.

—Querem que eu os perdoe? Que diga que não estou mais brava? — ela interrompeu-nos, virando-se — Ótimo, eu não estou mais zangada e perdoo vocês.

Nós sorrimos e demos um passo à frente, mas ela recuou.

Só que. — ela frisou — Isso não significa que eu esqueci.

—Ayume... — meu irmão suplicou.

—Por favor! — uni-me a ele.

Mas ela balançou a cabeça.

—Eu achei que fossemos amigos, mas amigos não tratam uns aos outros do jeito que vocês me trataram. — afirmou — É por isso que digo que não odeio vocês, mas que também não podemos mais ser amigos. Então... Será que dá para me deixarem em paz agora?

Ela suspirou e foi embora.

Suspirando coloquei a mão sobre o ombro de Murilo.

—Irmão. — chamei — É hora de desistirmos.

—Sim. — ele concordou infeliz — Precisamos assumir a derrota.

Nós observamos Ayume se afastar e percebemos que, pelo mesmo caminho que ela ia, Verônica vinha com Dominique.

Meu Deus ninguém tem aula naquela escola não?!

—Retirada estratégica? — Murilo me perguntou.

—Com certeza. — nós nos viramos.

Só não saímos correndo para não parecer que estávamos fugindo, embora estivéssemos mesmo.

—Meninos! — Verônica nos chamou.

Ok havia vários meninos na escola — embora o corredor estivesse vazio àquela hora porque estávamos em horário de aula — então ela não precisava estar chamando exatamente por nós.

—Murilo! Vinicius!

Certo, éramos nós.

Apertamos o passo.

Será que agora era uma boa hora para correr?

Tarde demais, ela nos pegou.

—Meninos! Eu estava chamando vocês, não me ouviram? — ela riu, nos segurando pela camisa.

Nós respiramos fundo e nos viramos.

—Verônica! — cumprimentamos — E aí?

Ela nos sorriu.

—Meninos eu tenho boas notícias: vocês tiraram a sorte grande!

—A sorte grande? — repeti. — Como assim?

—Bem, é que eu fiquei me sentindo hor-rí-vel pelo que aconteceu entre nós no semestre passado.

—Ah, não tem nada não, esquece i... — meu irmão começou a falar.

—Então eu decidi. — Verônica o interrompeu, jogando os cabelos para trás, mania que, de repente, achávamos irritante — Que vou deixar que os dois me levarem ao baile de boas vindas.

O curioso é que ela já tinha proposto isso antes, e nós já tínhamos recusado, não sei por que ela achou que seria diferente daquela vez.

—Não precisa não, Verônica, está tudo bem. — respondi — Então eu passo, e você Murilo?

Olhei para meu irmão, que ergueu a mão e, igualmente declinou o convite:

—Eu passo também. — respondeu.

Concordei.

—Bem, então, se era só isso, nós já vamos... — comecei a dizer enquanto nos afastávamos.

Mas Verônica voltou a segurar nossas camisas.

Nós olhamos para trás.

—Sim? — Murilo respondeu.

—Por que não querem ir comigo? Antes estavam loucos para ir!

—Antes. — concordamos — Agora não queremos mais.

Não dá para explicar, simplesmente tínhamos perdido todo o interesse em Verônica depois de termos percebido o quanto estávamos sendo imbecis, principalmente com Ayume.

—Por quê? — ela insistiu — Por acaso estão bravos comigo?

—Não estamos bravos. — negamos.

E não estávamos mesmo.

Tentamos ir embora novamente, mas ela nos rodeou e se prostrou a nossa frente.

—Se estão bravos é só dizer. — voltou a insistir — Ainda podemos concertar, nós três somos amigos afinal.

—Verônica. — chamamos, e cada um botou uma mão em um de seus ombros — Não estamos bravos, ok?

Ela empurrou nossas mãos, ficando meio irritada.

—Mas, se não estão bravos, deviam querer ir comigo!

—Mas não queremos. — respondemos já meio impacientes com ela — Podemos ir agora?

Sem esperar por uma resposta nós a rodeamos e seguimos adiantes, alguns passos depois Verônica nos gritou:

—Seus...! Seus...! Seus filhos de uma mulher que anda com homens por dinheiro!

Tá legal, doutora, não foi exatamente isso o que ela disse, mas, sabe, nossa mãe nos ensinou a não falar coisas de baixo calão então — geralmente — nós preferimos não dizê-las. Mas tudo bem o sentido ainda continua sendo o mesmo.

Então continuando... Nós paramos e nos viramos olhamos seriamente para Verônica.

—Nós até podemos ser filhos de uma mulher que anda com homens por dinheiro. — afirmamos, e sim, dissemos exatamente com essas palavras. — Ou podemos não ser também, afinal não temos como saber já que fomos abandonados por ela ainda com poucas horas de vida, mas o que ela foi ou deixou de ser não tem nada haver com o fato de você ser uma garota fútil, egoísta e narcisista que explode e já sai xingando os “amigos” logo na primeira vez em que eles te dizem não.

—Quem aqui vocês estão chamando de fútil e egoísta?! — ela retorquiu — Foram vocês que se aproximaram de mim para tirar proveito da minha popularidade e ficarem populares também!

—Como é?! — nós não fazíamos a mínima ideia do que ela estava falando.

—Eu fiz tudo certo! — Verônica bateu o pé no chão — Até aturei aquela pirralha chata quando fui à casa de vocês!

—Ei segure a língua quando for falar da nossa irmã! — meu irmão exaltou-se — Maya não tem nada haver com isso.

Eu sei que já comentei isso antes aqui, algumas sessões atrás, doutora, mas vou repetir só para reforçar: Na verdade, Verônica não gosta nenhum pouco de crianças.

—É. — concordei — Então se acalma aí garota ok?

—Não! Eu não vou me acalmar! E querem saber? Querem saber?! Pois agora eu é não quero mais ir ao baile com vocês! — ela apontou para nós com uma mão enquanto a outra estava posta sobre os quadris — Pois agora nem que vocês venham implorando para mim se arrastando aos meus pés eu aceitaria um convite de vocês para um baile! Nem daqui a mil anos!

Ela passou por nós, nos empurrando cada um para um lado e saiu marchando/rebolando pelo mesmo caminho de onde viera agindo como se ela tivesse acabado de dar o fora na gente.

Doutora, a senhora é terapeuta então já deve saber disso, mas mesmo assim eu vou dizer: Como tem gente doida por aí!

Olha, com certeza, Verônica sim é alguém que precisa de muita terapia.

—Jesus, Maria e José, que doideira foi essa? — comentei olhando para o caminho por onde Verônica tinha ido.

—Nem me fale. — Murilo concordou — Vamos embora daqui antes que algum professor apareça para saber que gritaria foi aquela.

Milagre foi nenhum ter aparecido antes.

—Vamos. — concordei.

Foi só alguns passos depois que percebemos que Dominique nos seguia:

—Vocês já assistiram algum daqueles filmes escolares norte americano? — ela perguntou de repente.

Nós paramos e nos viramos.

—Já. Quem não viu? — respondemos estranhando a pergunta — Por quê?

Afinal que atire a primeira pedra quem nunca assistiu, pelo menos uma vez na vida, a algum um filme desses.

—Nesses filmes sempre há a garota popular, que é a garota mais bonita do colégio, a nerd esquisitona e excluída com problemas de baixa autoestima e o cara popular.

—É. E daí? — instigamos sem saber onde ela queria chegar.

Colocando o caderno no chão e sentando-se sobre ele, Dominique, que nunca foi de falar muito — não com a gente, pelo menos — deu inicio ao mais longo discurso que já ouvimos vindo dela até hoje:

—Vocês sabem qual o problema de estudar em uma escola que adota um estilo de ensino similar ao estilo norte americano? — e respondeu à própria pergunta: — É que algumas pessoas, de cabeça vazia e personalidade fraca, acabam realmente acreditando que estão protagonizando o seu próprio filme adolescente norte americano. — ela fez uma pausa com um suspiro — Verônica e eu nos conhecemos há muito tempo, sabiam? Nós estamos juntas desde a primeira série, por isso eu estava com ela quando a mãe dela foi embora e deixou-a e a irmã com o pai, e eu também estava com ela quando começou a fazer suas primeiras tentativas de usar maquiagem e começou a encher o sutiã com lenços de papel, escondida do pai, porque os seios dela demoraram um pouco a se desenvolver. — Ok, nós não precisávamos saber disso — Assim como estava com ela quando, de repente, pouco antes das aulas nesse colégio começarem, ela simplesmente me apareceu loira! Talvez porque tenha achado que, em uma escola americanizada, ela devia parecer mais... Americana. — fez uma pausa — Olhem garotos, eu não estou dizendo que Verônica seja uma dessas criaturas de cabeça oca e personalidade fraca que eu mencionei antes, mas, convenhamos, Verônica é um tanto quanto suscetível... Então, quando as aulas começaram, ela e essas outras garotas se reconheceram como seres da mesma espécie e atraíram-se mutuamente, formando então o grupo que elas acham ser formado pelas garotas mais bonitas e populares do colégio.

Apesar do que possa ter parecido com tudo o que falamos dela nós, na verdade, não achamos que Verônica seja realmente uma má pessoa, ela só é fútil demais — e, a julgar pelo que disse Dominique, ficou muito mais fútil no ensino médio do que já era antes — e também narcisista e egoísta, mas ei, afinal quem somos nós para chamar alguém de egoísta, não é?

—Espera um pouco. — eu a interrompi — Você anda com elas.

—Você faz parte do grupo! — Murilo a acusou.

—Não. Eu ando com Verônica. — ela nos corrigiu. E foi só quando nos demos conta de que dificilmente víamos Verônica sem Dominique e vice versa e que Dominique era a que menos interagia com o resto do grupo. — Elas vivem me enchendo para alisar o cabelo e só me “aceitam” porque “todo grupo tem que ter, pelo menos, uma negra”.

—Como é?! — nos espantamos com a última parte.

—Não importa. Aquelas vacas são tão burras que acreditaram quando eu fingi não as ouvir dizendo isso. — ela fez pouco caso. — De qualquer forma, estar com essas pessoas não parece, por enquanto, trazer qualquer risco real à Verônica, então eu vou ficar ao lado dela e esperar pacientemente até que ela abra os olhos. — Ela nos olhou — Mas vocês... São um caso mais urgente.

Nós nos colocamos em frente a ela.

—O que quer dizer?

—Se na cabeça delas elas são as “garotas populares”, quem vocês acham que são os “caras populares”?

Nós nos entreolhamos, e então voltamos a olhá-la.

Encolhemos os ombros.

Dominique girou os olhos.

—São vocês!

Nós arregalamos os olhos.

—Nós?!

—É, admito que essa mania de vocês de ficarem falando tudo juntos quase os manou direto para a lista de esquisitões delas, que, a propósito é bem longa, mas vocês deram sorte: as boas aparências de vocês os salvaram.

—Nossas boas aparências? — repetimos.

Ela começou a contar nos dedos:

—Vocês são altos, magros, caucasianos...

—Não somos tão altos assim. — a interrompi — Nossa estatura é mediana.

—Têm olhos verdes... — ela ignorou-me.

—Não são realmente verdes. — dessa vez quem a interrompeu foi Murilo — Eles são cor de mel, ou âmbar se você preferir, só parece verde às vezes, quando estamos no sol...

—De qualquer forma. — Dominique se impacientou — O fato de vocês ignorarem tudo e todos ao seu redor também contribuiu, se praticassem algum esporte seriam perfeitos. — uma pausa — Vocês praticam algum esporte?

—Não.

—É. Nada é perfeito. — ela lamentou — Continuando. Se elas são as “garotas populares” e vocês os “garotos populares”, quem é a nerd esquisitona e excluída com baixa autoestima? — ela nem nos deu tempo de responder — Eu digo: É a Ayume.

—A Ayume?!

Não teríamos ficado mais surpresos se ela tivesse nos dito que era Verônica.

—Espera um pouco. — ergui as mãos — A Ayume não é estranha, e nem excluída.

Tudo bem que até dá para entender porque garotas como aquelas achariam alguém como Ayume estranha, mas excluída? Acho que não mencionamos isso ainda, mas... A Ayume é daquele tipo de pessoa que se dá bem com praticamente todo mundo! Quer dizer, quem, em sã consciência, não gosta daquela japinha?!

Isso é, fora essas garotas, mas cá entre nós elas são malucas.

—E definitivamente não tem baixa autoestima. — meu irmão reforçou.

—Isso é verdade. — Dominique concordou — Mas Ayume foi quem elas encontraram que mais se aproximava então... — encolheu os ombros — Desde o inicio elas vêm ignorando Ayume a maior parte do tempo, tratando-a como um inseto, e fazendo escárnio dela às vezes, mas não tenho certeza se Ayume chegou a notar a existência delas nesse momento, por causa disso as simples provocações de Verônica passaram a comentários cruéis sempre que elas estão na escola. — mais tarde Murilo me disse que isso o fez lembrar-se da primeira vez que viu as duas primas juntas na escola, no dia em que conheceu Verônica. — A coisa toda desandou de vez quando Ayume começou a andar com vocês.

—Nós? — nos surpreendemos mais uma vez — O que nós temos a ver com isso?

Dominique nos olhou com uma cara que expressava claramente um “sério que vocês ainda não entenderam?” já perdendo a paciência conosco.

Ela tomou ar.

—Na primeira vez em que Ayume foi até vocês. — ela começou — Eu e Verônica não estávamos lá, mas as outras estavam, só que vocês nem as notaram, é por isso que digo que não tenho certeza se Ayume chegou a perceber a existência delas antes, e elas viram quando Ayume se aproximou de vocês, e ficaram rindo e assistindo em silêncio enquanto ela tentava falar com vocês, já esperando que vocês dois a ignorariam e/ou a rechaçariam dali, mas então, de repente, Ayume os estava beijando, e aos dois! Verônica quase não acreditou quando soube, mas aqueles metidas estavam tão indignadas que só podia ser verdade. Depois disso, vocês só andavam juntos para cima e para baixo, foi quando elas decidiram que tinham que colocar Ayume no lugar dela.

Nós a olhamos seriamente.

—Como assim “pô-la no lugar dela”?

—O que? Os arranhões? Os hematomas? As escoriações? Vocês não notaram nada disso? Realmente acharam que Ayume estava simplesmente caindo e se machucando sozinha por ai? — ela suspirou — Na cabeça delas, os garotos como... Vocês. Têm que estar com gente do tipo de vocês, como, ora como elas. — ela riu, mas parou logo em seguida — Ayume não se encaixava nisso, então começaram a persegui-la, atormentá-la e assediá-la para que ela se afastasse de vocês, mas ela não se afastou, porém, quando vocês a deixaram de lado por Verônica que, querendo eu admitir ou não, é uma delas, elas a deixaram em paz. — ela começou a se levanta, pegando o caderno do chão — Verônica e elas queriam que vocês se apaixonassem por ela, ficassem loucos por ela, e até brigassem por ela, afinal que coisa melhor do que ser disputada por dois garotos populares ao mesmo tempo? Ainda mais se forem gêmeos! E, se não fosse por Verônica, por uma das outras então, desde que fosse por causa de uma delas... — suspirou — Verônica... Verônica nunca soube da perseguição dessas loucas com Ayume, afinal provocar sua prima é uma coisa, mas agredi-la... Em fim. Agora vocês estão desprezando Verônica em prol de Ayume novamente e, não sei se notaram, mas é provável que não, agora a pouco elas estavam vindo um pouco mais atrás de nós, então há essa hora... — ela olhou o relógio de pulso — É melhor que vocês se apressem, eu sugiro que corram para o banheiro feminino do segundo andar.

Nós empalidecemos.

Viramos-nos e corremos.

Eu sei doutora, por que Dominique nunca contou para Verônica sobre o que as suas “amigas” estavam fazendo com a prima dela?

Essa é uma resposta que também gostaríamos de saber.

Nós corremos para o segundo andar em direção ao banheiro feminino e Murilo teria entrado direto se eu não o tivesse impedido no último segundo.

Quer dizer, segundo a própria Dominique, ela e Verônica eram muito amigas e já de longa data, então que motivos ela teria para querer nos ajudar logo depois de termos rechaçado Verônica?

Não, o mais provável é que ela quisesse se vingar de nós, por Verônica, aprontando alguma conosco, e nos enviar correndo direto para dentro do banheiro feminino parecia uma boa forma.

Então nós nos colocamos ao lado da porta e tentamos ouvir o que se passava lá dentro — torcendo para que ninguém passasse ali, nos visse e entendesse mal as coisas.

Não demorou muito para que ouvíssemos a voz de Ayume:

—Mas que droga! Por que cargas d’água vocês não me deixam em paz?!

“Cargas d’água”... Mas quem cargas d’água ainda fala “cargas d’água” hoje em dia?

—Nós te avisamos Ayume, te avisamos para ficar longe dos meninos, eles não são, nunca foram e nem nunca serão, para o seu bico. — ouvimos a voz de Débora dizer — Tentamos ser civilizadas com você...

—Civilizadas? — Ayume riu com escárnio, essa garota definitivamente não sabe detectar uma situação de perigo — Sinto informar meninas, mas o vitorianismo de vocês passou longe.

“Vitorianismos”, da onde será que a Ayume tira essas coisas?

—Cala a boca, sua estranha! — uma delas, eu acho que foi Adriana, respondeu enojada.

Dessa vez foi Murilo quem teve que me segurar para não entrar no banheiro naquela hora, e ainda bem, porque nós ainda queríamos ouvir mais.

Lá dentro alguém suspirou.

—E, mesmo depois de todos os nossos avisos, você não saiu da cola dos gêmeos. — Débora voltou a falar.

Avisos? Sei... Nós sabemos muito bem que tipo de “avisos” elas estavam dando à Ayume.

E outra delas, talvez Nathalia, completou:

—Como um parasita social.

—Mas ai, por algum tempo, você realmente se afastou e nós achamos que você finalmente tinha se tocado de que o seu lugar era junto com os esquisitões da sua laia. — Débora voltou a falar.

Mas Ayume, que definitivamente não tem nenhuma noção de perigo, voltou a interrompê-la:

—Eu não me afastei deles porque as madames mandaram, nós éramos amigos e amigos não se afastam assim. — admito, o “éramos” doeu — Eu me afastei deles porque eles não eram o que eu pensava, na verdade eles são apenas uns babacas, então vão, façam bom proveito deles e me deixem em paz.

Ok. Nós sabemos que merecemos isso, mas isso também doeu.

—Você diz isso, mas já está correndo atrás deles novamente. — Andréia, que estava quieta até então, a acusou — Você não se toca mesmo, não é sua esquisitona anormal?!

Não lembro quem teve que segurar quem nessa hora.

—Eu correndo atrás deles? Mas do que vocês estão falando? São eles que de repente voltaram a tentar falar comigo... — Ayume foi se calando e então com ar vitorioso recomeçou — Ah, já entendi, eles se cansaram de vocês, não é?

—Cala. A. Boca. — disse Débora.

—Mas que culpa eu tenho se vocês são tão falsas e entediantes que logo os meninos se cansaram de vocês?

—Eu disse para calar a boca. — Débora repetiu a voz se tornando mais tensa.

—Quer dizer, eu posso até ser uma esquisitona anormal, como vocês dizem, e que parece ser a única coisa da qual conseguem me chamar porque são muito sem imaginação, mas com certeza os gêmeos se divertiam mais quando estavam comigo. — Ayume desatou a falar — E eu não tenho culpa se vocês não tem nada a oferecer além de conversas fúteis e sem sentido e muita pele a mostra, puxa, pensando bem até me admira que eles tenham demorado tanto a se entediar com vocês. Do que vocês falavam com eles afinal? Calorias e que garoto é mais gato?

Doutora, a senhora sabe a noção de perigo? Pois é, a Ayume não tem.

Mas olha... Até que era, mais ou menos isso, não é?

—EU JÁ DISSE PARA VOCÊ CALAR ESSA SUA BOCA! — Débora se estressou de vez.

Foi quando nós finalmente entramos no banheiro.

Irrompemos tão rápido que, em menos de um segundo, já estávamos ambos segundo o pulso direito de Débora que havia se erguido para golpear Ayume com uma tapa — ou talvez um soco.

—Que tal sermos um pouco menos agressivos, aqui? — perguntamos seriamente — O que você acha que estava prestes a fazer?

Débora parou, não foi nem tanto por nossas mãos a segurando, foi mais pelo choque, e suas comparsas paralisaram, todas nos olhando mudas e de olhos arregalados.

Ayume, que estava bem no centro cercada por todas elas encostada a pia do banheiro, havia virado o rosto de lado e fechado os olhos para receber o golpe, mas os abriu quando ouviu a nossa voz.

—Mas o que...? — ela tentou dizer.

—Nós perguntamos. — voltamos a falar, em um tom ainda mais alto e sério — O que você estava prestes a fazer?

A boca de Débora abriu-se e fechou-se várias vezes, mas ela não disse nada, nós soltamos seu pulso e olhamos para todas ali.

—Na verdade, o que vocês todas estavam fazendo?

Doutora, eu queria que a senhora estivesse lá, as meninas todas empalideceram, e, segundo Ayume, nós estávamos realmente de dar medo falando sério daquele jeito.

—Nós... Nós estávamos apenas... — Adriana foi a primeira a tentar falar — Estávamos apenas conversando com Ayume.

Será possível que elas acham que somos burros?

—Importunando ela, vocês querem dizer. — afirmei lançando um olhar compenetrado a ela.

—Ayume não estava se machucando sozinha, eram vocês que a estavam machucando. — Murilo afirmou, e quando ninguém respondeu, ele se irritou — Não é?!

Todas elas deram um passo para trás.

—Não, nós... —Natália tentou negar.

Murilo a pegou pelo pulso e a puxou para perto, inclinando-se para frente, e olhando-a nos olhos com o rosto bem próximo ao seu disse sinistramente:

—Nós ouvimos tudo.

Quando ele a largou, Natália cambaleou assustada para trás com a mão sobre o peito.

—Essa garota. — eu falei em alto e bom som, chamando a atenção para mim, e me direcionei até Ayume, passando o braço em volta de seus ombros e a puxando para mim. — É muito importante para nós.

—Se vocês voltarem a machucá-la, ou mesmo incomodá-la. — Murilo começou a falar também se aproximando e passando o braço pelos ombros de Ayume, de forma que ela ficou com ambos os nossos braços cruzados por trás de seu pescoço — Não vamos perdoá-las.

Nunca tivemos intenção de feri-las fisicamente, mas assustar um pouquinho já era alguma ajuda, não é?

Coincidentemente, Ayume pensava a mesma coisa.

Mas ela estava em um nível totalmente diferente de nós.

—Na verdade garotos, eu já estava prestes a resolver essa questão por mim mesma. — ela falou se afastando de nós. — Vamos terminar isso aqui e agora, de uma vez por todas.

As garotas se entreolharam, Débora cruzou os braços e perguntou com ar de superioridade:

—E o que você sugere?

Uma coisa nós podemos garantir. Ela ia se arrepender dessa pergunta.

E muito.

—Ah... Boa pergunta. — Como ela estava de costas para nós não da para ter certeza, mas sempre que nos lembramos dessa cena imaginamos a Ayume com um sorriso psicopata na cara.

E do bolso ela tirou... Uma faca.

Nós ficamos paralisados, as garotas recuaram.

—Mas... Mas o que é isso?! — Adriana gaguejou.

—É exatamente o que vocês estão pensando. — Ayume respondeu — Uma faca.

Elas recuaram mais um pouco.

—P-para com isso! — Andréia gaguejou de olhos arregalados — Não tem graça!

—Ah... Não?  — ela olhou lentamente para cada uma delas — E me perseguir, maltratar, encurralar e machucar tinha graça?

—Mas...! Mas...! — Andréia estava suando frio — Era tudo brincadeira!

—Sim! — concordou Natália — Não tem porque você levar algo assim tão a sério!

—Eu discordo.  — ela respondeu sombria — Eu tenho contas a acertar com todas vocês, no entanto... Débora.

Débora arregalou os olhos.

—Eu?!

—Você é a líder, a mandante, portanto isso tem que ser resolvido entre nós duas.

Débora começou a recuar.

—Não... Eu...! — ela ergueu as mãos — Desculpe! Desculpe! Era isso o que você queria ouvir? Desculpe! Ok? Estou arrependida!

—Todas nós estamos! — Nathalia acrescentou.

Só que Ayume não queria saber de conversa.

—Tsc. Agora é um pouco tarde para isso.

Afirmou e então tirou uma segunda faca da bolsa e atirou-a contra Débora que a pegou por puro reflexo.

—O que...? O que...? — Débora gaguejou segurando a faca com as mãos trêmulas.

—Se vamos acertar as contas, seria injusto que só eu estivesse armada. — Ayume explicou — Se vamos lutar, tenho que dar ao meu oponente uma arma igual à minha.

Ela falava perigosamente sério.

As meninas, especialmente Débora com a faca em mãos, pareciam a ponto de chorar.

Ayume ergueu o braço esquerdo... E cortou a si mesma.

O sangue espalhou-se pela manga de sua camisa, e começou a pingar no chão.

As garotas gritaram.

Nós nos desesperamos.

—Ayume! — gritamos nos adiantando um passo para segurá-la.

Colocamos as mãos em seus ombros e a puxamos para trás de volta, ela nem pareceu se dar conta da nossa presença ali, levou a faca à boca e lambeu-a.

—Meu sangue tem um gosto doce. — afirmou — Será que o seu também tem?

Ela apontou a faca, agora ensanguentada, novamente para Débora.

Débora recuou, trincando os dentes, unindo as sobrancelhas, as lágrimas caindo.

—Sua... Sua louca! — gritou de repente largando a faca e fugindo dali.

As outras correram logo atrás.

—Psicopata! — uma delas gritou.

Quando elas se foram Ayume perdeu toda a seriedade.

—Bem, parece que isso deu um jeito nelas. — ela recolheu a faca que estava no chão e guardou-a no bolso. —Agora elas vão definitivamente me deixar em paz.

E então, levantou-se, virou-se para nós e ainda segurando a faca ensanguentada bateu duas vezes as mãos, fechou os olhos e disse

— Obrigada pelo conselho, Yatogami.

Vou te contar doutora, a Ayume conhece um pessoal bem suspeito na internet.

—Ayume o seu braço! — adiantei-me.

—Temos que estancar o sangramento! — Murilo afirmou.

—Hã? — ela olhou o próprio antebraço, como se tivesse esquecido daquilo — Não... Não precisa.

—Como não?! — perguntamos a beira do pânico — Você está sangrando...!

—Glicose de milho.

—Glicose de milho...! Espera o que? — nós a olhamos.

—É glicose de milho, com corante vermelho, corante azul, achocolatado e água. — ela começou a desabotoar a blusa, nós continuamos a olhando — É sangue falso caseiro.

Por ser branca a camisa do nosso uniforme escolar é um tanto quanto transparente, mas, justamente por isso, Ayume sempre usa blusas por baixo — não as camisas pretas gigantes com personagens, mas blusas normais — diferente de 99% das garotas do nosso colégio.

—Sangue falso?! — Murilo repetiu.

—Caseiro?! — eu repeti.

—Uhun. — ela jogou a camisa em cima da pia — E o melhor: é comestível!

Com um sorriso assustador ela lambeu a lâmina da faca.

Logo depois riu das nossas caras assustadas, jogou a faca dentro da pia e despregou um pedaço de plástico que estava grudado com fita adesiva no seu braço e jogou no lixo.

—Mas... Mas... E quando às facas?! — perguntamos.

—Hum? — ela parou de lavar o braço. — São falsas também.

—F-falsas?!

—As lâminas são retraveis

—Por que você tem um par de facas falsas?! — perguntei.

—Para assustar aquelas garotas. — respondeu — Eu precisava dar um jeito nelas.

—Então foi premeditado! — Murilo acusou.

—Óbvio. — ela admitiu na cara dura — Desde que vocês começaram a me enviar tantas mensagens que eu tive que bloqueá-los eu sabia que aquelas idiotas iam voltar a me encher, então venho vindo preparada desde que as aulas recomeçaram.

—Você podia ter se machucado! — afirmamos.

—Como? Já disse que as facas eram falsas. — ela abriu a mochila e tirou dali uma nova camisa do uniforme branca e novinha em folha e a vestiu. — Vou dizer para minha mãe que havia uns idiotas brincando de guerra de comida e que eu estava no lugar errado na hora errada, ela vai ficar uma fera comigo porque essa mancha não sai, mas foi um mal necessário.

—E se elas não tivessem se assustado e saído correndo?! — perguntei.

—Então eu “esfaquearia” Débora no estômago, isso com certeza as faria sair correndo e, de brinde, alguém sem dúvida ainda ia se urinar. — respondeu sem hesitar enquanto abotoava a camisa, ela planejou tudo nos mínimos detalhes, não é? — O fato de alguém se urinar deixaria o ato vergonhoso o suficiente para elas não quererem comentar o caso com ninguém e, consequentemente, não me denunciarem.

—Mas ninguém se urinou! — Murilo apontou. — Elas vão te denunciar!

—Com que provas? — perguntou-nos limpando sua faca com um papel toalha — Eu tenho várias testemunhas que provam que elas é que me perseguiam e nãoo contrário, uma denuncia falsa pode muito bem ser outro ato de bullyng, afinal eu não tenho nem um corte profundo no braço, muito menos recente, minha camisa está imaculadamente branca sem qualquer mancha de sangue, e eles não vão achar nada no meu armário. — e ainda enquanto falava tirou da mochila um saco plástico onde guardou a camisa “ensanguentada” e as duas facas falsas, inclusive a que estava no bolso — E tampouco vão achar alguma coisa na minha mochila, porque eu me aproveitei de um rasgo no forro e fiz um bolso falso nela.

Será que é assim que funciona a mente de um psicopata?

E nós que fizemos? Que outra reação podíamos ter além de ficar ali olhando-a boquiabertos.

—Eles podem vir procurar por rastros de sangue no banheiro. — ela começou a limpar o sangue falso que havia pingado no chão e o pouco que escorrera da faca na pia — Mas não vão encontrar. Além disso... — e levou os papeis “ensanguentados” para um dos boxes — Tem sempre papéis com sangue nos cestos de lixo dos banheiros femininos. — de novo, aí está algo que não precisávamos saber, ela saiu de lá batendo as palmas das mãos como quem diz “serviço feito” — O crime perfeito.

—Mas...! — tentamos dizer.

—E mesmo que elas venham atrás de mim novamente se perceberem que eu as enganei, tudo o que eu preciso dizer é “lembre-se, da próxima vez pode não ser uma faca de brinquedo”. — disse com um olhar sinistro.

Depois a gente diz que a Ayume é assustadora e ninguém acredita.

—Você devia ter nos falado disso antes Ayume. — a censuramos assim que conseguimos nos recuperar, quando ela já estava quase saindo do banheiro com a mochila nas costas.

Ela virou e nos olhou.

—Por que eu diria algo para vocês?

Essa garota dá cada estocada no coração...

—Tudo bem, então não para nós especificamente. — Murilo se rendeu por nós dois, já que ela ainda estava visivelmente com raiva de nós — Mas para algum outro amigo seu...

—Meus amigos sabiam. — ela o interrompeu — Só que eu os proibi de intervir.

—Mas por quê?! — nos desesperamos.

—Porque eu sabia que poderia resolver sozinha.

Doutora, nós amamos a Ayume, de verdade mesmo, mas essa mania dela de querer resolver tudo sozinha é irritante!

—Isso foi perigoso! — repeti preocupado.

—Quem contou para vocês afinal? — ela mudou de assunto.

—Dominique. — respondemos.

—Realmente, das companhias de Verônica ela sempre foi o mais próximo de descente. — Ayume suspirou. — Ah é, obrigada.

Ela tentou ir embora, mas nós a impedimos.

—Então era por isso que você não queria falar conosco? — perguntamos — Por causa delas?

—Não. — ela cruzou os braços — Eu não queria falar com vocês, porque vocês foram uns cretinos, babacas e egoístas comigo.

—É justo. — nos encolhemos acuados — Mas estamos arrependidos disso agora, profundamente arrependidos!

Ayume apenas nos olhou, por um boooooom tempo.

—Ah, por favor, Ayume, diga logo alguma coisa. — implorei já agoniado.

—É, nós entramos no banheiro feminino para te defender, e ainda estamos aqui dentro. — meu irmão também se juntou à minha agonia — Então será que você pode dizer logo alguma coisa?!

—Só diga se ainda nos odeia ou não. — supliquei — E rápido antes que alguém nos pegue aqui dentro.

Ayume continuou nos olhando. De braços cruzados. Analisando-nos.

Nós já estávamos até ouvido as garotas chegarem, nos vendo ali e começando a gritar nos espantando para fora com bolsas e sapatos voando ao nosso encalço.

—Tudo bem, eu perdoo vocês. — ela disse por fim, agarrando-nos pela camisa e nos puxando para baixo para que pudesse nos abraçar pelo pescoço.

—Sentimos sua falta, pequena Ayume! — nós exclamamos a abraçando de volta.

E então ela disse bem lentamente em nossos ouvidos, para que nunca mais esquecêssemos:

—Mas fiquem sabendo que não haverá uma terceira chance, entenderam? Então vacilem comigo de novo, meninos. Só. Mais. Uma. Vez. E eu juro que arranco seus olhos com as minhas unhas.

Vai, doutora, pode falar, a Ayume é “adorável”, não é?

♠. ♣. ♥. ♦

—Puxa, falar de tudo isso só nos deixa com mais saudade da Ayume. — Murilo comentou interrompendo a narrativa.

—Ah, é mesmo. — concordou Vinicius — Não a vemos desde que as férias começaram, não é?

—Pois é, ela nem foi nos visitar antes de viajarmos. Dá para acreditar? — Murilo cruzou os braços — Aquela garota sem coração!

—Então as aulas de vocês ainda não recomeçaram? — Frank Lorret perguntou.

—Ah, recomeçaram sim, doutora, na segunda-feira passada, mas nós ainda não fomos. — Vinicius respondeu.

E Murilo explicou:

—É que nós só chegamos ontem de Manaus, então a mamãe nos disse para ir logo só na segunda-feira.

Ambos olharam os relógios de pulso.

—Doutora o nosso tempo está acabando, mas ainda têm mais uma coisa que queremos contar, então vamos continuar — disseram juntos.

Vinicius retornou à história:

♠. ♣. ♥. ♦

—Ir com vocês ao baile? — Ayume repetiu tão surpresa que até deixou o celular, e, provavelmente, Lorde Zucker de lado (toma!).

Isso foi já algum tempo depois do incidente do banheiro.

Agora nós mal falávamos com Verônica, exceto por um ou outro ocasional “oi” nosso ou “me passa cola aí” dela, e também teve a vez em que ela nos disse que só Ayume mesma para nos aturar e nos contou sobre como a japa foi falar com ela no dia daquela nossa recuperação.

—É. — confirmamos — Vai ser na semana que vem.

—Eu sei quando vai ser.

—Então nós pensamos que seria legal se nós três...

—Só que eu já vou com Renato. — ela nos interrompeu.

Ficamos uns sete segundos sem ação.

—O que?!

—O Renato já me chamou e eu aceitei. — ela respondeu bem lentamente para entendermos direitinho.

Ainda assim a ficha ainda não tinha caído.

—O que? Mas como, quero dizer...? — meu irmão perguntou abestalhado.

—Quando isso aconteceu? — fui logo direto ao ponto.

Ayume pensou um pouco.

—Hum... Quando será que foi? Acho que tem uns três ou quatro dias, talvez.

—Mas...! Mas...! — doutora, eu acho que nada ia tirar as caras de bestas que estávamos fazendo — Nesse tempo nós já tínhamos voltado a nos falar!

Ayume nos olhou.

—E daí?

—Você devia ter esperado nós te chamarmos! — reclamamos.

Ela franziu o cenho.

—E como eu ia saber que vocês iam me chamar também?

—Mas isso estava mais do que óbvio!

—É mesmo?

—É claro! — nos impacientamos.

—Ah, tá, mas agora já foi. — ela encolheu os ombros — Deixa para a próxima então, e vamos logo que o sinal já tocou.

Ela levantou-se e foi embora, só que nós ficamos para trás.

—“Deixa para a próxima” é? — Murilo murmurou.

—Isso é o que veremos. — eu sorri.

Então o que nós fizemos? Fomos atrás do gnomo de jardim, é óbvio!

E é claro que ele foi super compreensivo conosco.

—Mas nem pensar!

—Ah qual é tampinha! — nós o cercamos, abrindo os braços para que ele não tivesse por onde fugir — Considere um favor para nós!

—E por que eu faria algum favor para vocês? — Ele nos olhou irritado — Eu não gosto de vocês e nem vocês gostam de mim!

Sabe que ele até que tem razão?

Ele tentou dar meia volta, mas nós voltamos a cercá-lo.

—Então considere como um favor para a Ayume! — insistimos.

—Para a Ayume? Como assim para a Ayume?!

—Ela também quer ir ao baile conosco! — afirmamos.

O baixinho nos olhou entediado.

—Só que ela não pareceu nem um pouco incomodada quando aceitou o meu convite.

—Isso porque foi antes de nós a chamarmos. — expliquei.

—Mas agora que nós a chamamos ela não quer te dispensar para não te magoar. — meu irmão acrescentou.

Mas por alguma razão isso fez o pequeno polegar ficar bem irritado conosco.

—Vocês são doidos! — exclamou zangado abaixando-se e passando, sem dificuldades, por baixo de nossos braços estendidos.

Ok. Devíamos ter sacado que ele podia fazer algo assim.

—Então nós desistimos agora? — Murilo me perguntou.

Mas eu balancei a cabeça negativamente.

—Mais fácil o empurramos da escada para ele quebrar a perna e não poder ir. — afirmei.

Murilo colocou a mão no meu ombro e suspirou, por um segundo eu achei que ele me repreenderia por minha mente maquiavélica, mas foi justamente o contrário:

—Vamos chamar isso de plano B.

E, eu confesso, depois de dois dias seguidos tentando convencer aquele gnomo de jardim, nós já estávamos realmente cogitando a ideia de por em prática o “plano B”.

Mas felizmente o carinha finalmente tomou juízo.

—Renato me disse que vocês dois não param de persegui-lo! — Ayume no repreendeu lá pela hora da saída.

—Nós? — nos fizemos de inocente. — Imagina!

Ela suspirou levando dois dedos à testa.

—Vocês querem realmente ir ao baile comigo, não é? Porque, segundo Renato, parece que a qualquer momento vocês vão sequestra-lo, só para poder ir no lugar dele.

—Esse era o “plano C”. — afirmamos.

Ayume voltou a suspirar.

—Tudo bem, eu vou com vocês.

Nós piscamos.

—O que?

—Eu disse. — ela nos olhou seriamente — Que vou com vocês!

—É sério?! — Nós sorrimos.

—É. — ela confirmou — Francamente eu só ia porque Renato queria muito ir, mas ele não queria ir sozinho então me chamou, mas depois de vocês torrarem a paciência dele, ele disse que preferia ir sozinho a ter que aturar isso por mais algum dia! Por sorte Glenda e Olivia disseram que vão com ele, ou eu estaria bem zangada com vocês agora!

Pois é, ser chato às vezes compensa!

Nós comemoramos batendo as mãos.

—Então onde é sua casa? — perguntamos indo atrás dela porque, sem que percebêssemos, Ayume já estava indo embora — Nós vamos pedir para o papai passar lá para te pegarmos...

—Não precisa. — ela ergueu uma mão — Vou dizer ao meu irmão para me trazer para a escola, a gente se encontra em frente ao portão, e não se atrasem... Ir ao baile com dois garotos de uma vez, inacreditável.

Resmungou e depois disso ela foi embora novamente.

—Ah... Ok. — concordamos. E então percebemos que Ayume não havia nos dado um horário — Ayume, espera!

E saímos correndo atrás dela novamente.

...

Ok, eu não vou mentir, nossos pais não ficaram exatamente “felizes” quando os avisamos de que iríamos ao baile, na verdade a palavra que descreve melhor a reação deles foi... “Tensos”.

—Baile? — nossa mãe perguntou. — Por que isso assim tão de repente?

—De repente? — Murilo me olhou — Acha que foi de repente?

Eu dei de ombros.

—Talvez.

—Mas que história é essa de baile? — mamãe voltou a nos perguntar — Vão sozinhos ou com alguém?

—Vamos com Ayume. — respondemos.

—Com... Ayume? — nosso pai se intrometeu nos olhando por detrás do notebook — Os dois vão com Ayume?

—É. — concordamos.

—E ambos estão de acordo com isso?

Ele parecia tenso como se estivesse pronto para a qualquer momento pular e nos impedir de jogar um garfo um no outro, sim nós chegamos a esse ponto uma vez.

—Estamos. — confirmamos.

—Os jovens de hoje realmente têm uns relacionamentos muito estranhos. — ele suspirou, mas parecia bem mais relaxado.

Mamãe o empurrou de lado.

—Não diga “os jovens de hoje” fica entregando nossa idade. — ela o repreendeu.

Na verdade, os dois pareciam mais relaxados.

Depois mamãe insistiu em comprar roupas novas só para nós irmos ao baile, nós tentamos dizer que não era um baile a sério como esses que a gente vê na televisão, só música chata e salgadinhos com refrigerante na quadra da escola, mas ela nem quis ouvir.

E sabe o que é mais chato do que ser arrastado para fazer compras e ficar horas em lojas de roupas? É ser obrigado a experimentar as roupas!

E no dia anterior ao baile ela cismou de comprar chapéus, os chapéus eram muito importantes, e nós não íamos sair de casa sem aqueles chapéus.

O que nos obrigou a ter que comprar roupas e sapatos novamente, para combinar com os chapéus...

Quando chegamos no dia do baile Ayume ainda não estava esperando por nós na frente do portão como havíamos combinado, então fomo dar uma olhada no baile para ver se ela ainda não havia entrado.

O baile, assim como havíamos descrito que seria para nossa mãe, era apenas salgadinho e música chata na quadra de basquete da escola, nós chegamos bem na hora em que a música de alguma boy band começou a tocar (e sabemos que era uma boy band porque várias meninas começaram a gritar ao mesmo tempo) havia uma mesa com doces, salgados e refrigerantes a disposição, com uns três professores em volta dela — só não sei dizer se a vigiando ou se servindo, provavelmente os dois — além de alguns outros espalhados pela quadra, a  maioria dos alunos não estava em casais, mas sim em grupos, e a maioria teclava no celular, vimos a amiga de cabelos azuis de Ayume tentando uns arremessos com bolinha de papel na cesta junto com mais uns três garotos e uma professora (?) enquanto a outra amiga e o chaveirinho (vulgo Renato) assistiam dali de perto, Verônica e suas amigas — inclusive Dominique com uma mais que óbvia expressão de tédio — rodarem por ali super maquiadas com seus respectivos pares/troféus, e elas desviaram imediatamente de caminho assim que nos viram, imaginamos que quando vissem Ayume iriam sair correndo pela saída de incêndio mais próxima, mas nem sinal de Ayume em canto algum.

—Vamos ver se ela já não está lá fora. — Murilo me chamou.

Concordei e o segui.

—Vai ser fácil achar ela. — afirmei enquanto saiamos. — É só procurar por um montinho de ossos usando jeans folgado e uma camisa preta duas vezes maior que ela.

E eu dizia isso com absoluta certeza porque sempre que encontrávamos Ayume fora da escola era assim que ela estava vestida.

—Está meio frio hoje. — Murilo observou — É melhor procurar por um urso panda em miniatura também.

Concordei.

—Quem vocês estão chamando de “montinho de ossos” e “urso panda em miniatura”? — Ouvimos a voz de Ayume reclamar do além.

Nós nos viramos e baixamos o olhar.

E sabe o que?

Quando nos viramos Ayume estava usando saia!

E doutora, o choque foi tão grande que cada mínimo detalhe da roupa ficou gravado em nossas memórias com tanta força que podemos descrevê-lo agora mesmo se quisermos, quer ver?

Era uma blusa azul escura de decote redondo, com mangas curtas brancas com estampa de bolinha e um grande laço também branco com bolinhas, costurado na lateral da gola, e uma saia branca que ia se abrindo até a altura dos joelhos e era fechada por botões na frente do inicio ao fim.

Nos pés estava calçando um tipo de sapatilhas também azuis escura com bolinhas brancas, mas com umas fitas brancas que se amarravam em volta dos tornozelos dela.

E na cabeça... Um kep de capitão.

Francamente... Essa garota é inacreditável.

—Eu... Eu queria vir vestida normalmente, de calça e camisa, mas quando meu pai soube ontem que eu vinha ao baile... Ele insistiu em fazer algo para mim. — explicou-nos quando percebeu que estávamos olhando para sua roupa.

—Fazer algo para você? — perguntamos.

—Ele é alfaiate. — esclareceu — E tem até uma loja...  Embora a especialidade dele seja roupas sob encomenda para cosplays... Ele achou que eu ficaria “adorável” de saia godê e estampa Poá...

—Poá? — perguntamos.

—Bolinhas. — ela nos disse. Nós continuamos a olhando, ela girou os olhos — Sou filha de um alfaiate! Como vocês esperavam que eu falasse?!

—Ok...

—Minha mãe me arrastou pelo comércio o dia inteiro para achar algo que combinasse. — nessa hora ela fez uma careta — E o kep... — ela mexeu no chapéu com um sorrisinho — Isso foi ideia minha.

Uma vez Ayume, sempre Ayume.

Ainda assim, mesmo depois de toda a explicação nós não conseguimos parar de encará-la.

Ela mexeu-se claramente desconfortável.

—Querem parar de me encarar? — reclamou.

Nós piscamos.

—Desculpe, mas é que... — Murilo hesitou.

—Você está de saia. — soltei de uma vez.

—Isso.

Ayume estava tentando o máximo possível não mostrar a quão envergonhada estava.

—E-eu sei disso t-tá legal! E já expliquei o porquê! — ela gaguejou — Eu não gosto muito de usar saias e vestidos, mas mesmo assim isso não quer dizer que eu nunca os use!

—Mesmo assim... — dissemos.

—E parem de me olhar assim!

—Tudo bem, tudo bem. — nós cedemos. — É só que o fato de você estar vestida assim vai tirar todo o brilho da surpresa dos nossos novos cortes de cabelo.

—Os seus novos cortes de cabelo?

Nós nos entreolhamos com sorrisos cúmplices, sorrimos para Ayume e, em sincronia, tiramos nossos chapéus pork pie (mamãe não parou de repetir o nome pra gente) e nos curvamos para frente, em um daqueles cumprimentos de cavalheiros antigos, para exibir nossas cabeças recentemente raspadas.

—Vocês rasparam as cabeças! — ela exclamou assustada.

Tá vendo por que mamãe insistiu tanto para usarmos chapéus?

—Raspamos. — confirmamos recolocando os chapéus.

—Por que vocês rasparam as cabeças, seus malucos?!

—É um recomeço. — afirmamos.

—Um recomeço?

—Sim. — dissemos — No passado nós fomos extremamente imbecis...

—E babacas, e arrogantes e...

—Tudo bem, nós já entendemos. — eu a interrompi — Mas agora isso ficou para trás. Nós não somos mais esses idiotas e nunca mais voltaremos a ser.

—Não iremos mais brigar e seremos seus velhos melhores amigos que você conheceu. — Murilo acrescentou.

—Hum... É mesmo? — perguntou-nos desconfiada.

—É. — confirmamos — E como símbolo de que tudo isso ficou para trás, nós raspamos nossas cabeças, somos novamente iguais, sem brigas ou babaquices. Estamos recomeçando do zero.

Claro que ela resumiu toda a nossa filosofia em três palavras:

—Vocês são doidos.

—Tudo bem, diga que somos doidos. — resmungamos.

—E o que seus pais disseram?!

—Nossa mãe correu para comprar chapéus. — respondemos — Nosso pai disse que depois que voltarmos do baile estamos de castigo até nossos cabelos crescer de novo.

Parece que eles pegaram gosto por essa coisa de "castigo".

—É justo. — Ayume concordou.

Nós encolhemos os ombros.

—Que nada. — dissemos — Daqui a pouco ele desencana.

—Se eu fosse vocês não teria tanta certeza.

Ela falou com tanta certeza que nós ficamos imaginando se, por acaso, os pais da Ayume também não a colocaram de “castigo até o cabelo crescer de novo” da primeira em que ela os cortara daquele jeito, o que deve ter demorado um bom tempo... Considerando que ela os corta de quinze em quinze dias.

Ah, e nós saímos do castigo dois dias depois.

—Tudo bem, mas vamos entrar agora. — ela olhou em volta — Foi Santhiago quem me trouxe de carro, e eu disse que ele já podia ir embora, mas eu não duvido nada de que ele ainda esteja em algum lugar aqui por perto, então vamos logo antes que ele comece a atirar em vocês.

—Atirar?! — nos assustamos.

—Não se preocupem. — nos disse atravessando o portão da escola — Com certeza o máximo que ele tem a mão é uma arma de ar pressurizado que Guilherme fez com uns amigos.

—Mas por que você e seus irmãos não têm uns hobbies mais normais?! — reclamamos a seguindo.

—Somos uma família estranha.

Nós franzimos o cenho ao alcançá-la e nos colocarmos de pé em ambos os lados de Ayume.

—O que foi? — ela perguntou-nos.

—Não sei... — respondi.

—É só que parece que você ficou mais baixa. — Murilo comentou — Você encolheu?

Ela nos olhou irritada.

—Eu não estou encolhendo vocês é que estão crescendo! — defendeu-se.

—Ok, ok. — nós rimos. —Então estamos bem?

Perguntamos entendendo nossos braços em um convite formal — e muito antiquado — para acompanhá-la.

Ayume riu do nosso gesto, mas mesmo assim aceitou ao convite segurando nossos braços com ambas as mãos.

—Estamos bem. — concordou — Quer dizer... Quase.

Nós a olhamos intrigados.

—O que você quer dizer?

Ayume fez suspense por alguns segundos, antes de responder:

—Eu tenho uma condição.

—... Qual? — perguntamos temerosos.

♠. ♣. ♥. ♦

A doutora esperou que Vinicius continuasse, mas parecia que agora quem estava fazendo suspense eram os próprios gêmeos.

—E então? — quis saber — Qual foi a condição que Ayume impôs a vocês para ficarem “de bem” de novo?

—Que fizéssemos terapia. — Vinicius respondeu.

—Como é? — Dra. Frank piscou, achando não ter ouvido direito — Que vocês fizessem terapia?

—Pois é. — ambos deram de ombros — Ao que parece, para Ayume, o nosso comportamento “obsessivo” e “extremista” — e nessa hora ambos fizeram “aspas” no ar — Chegando ao ponto de termos raspado a cabeça um do outro, não é muito saudável, por isso ela nos disse que fizéssemos terapia.

—E vocês simplesmente concordaram? — Frank Lorret perguntou ficando impressionada.

—Francamente nós não achávamos que ela estivesse mesmo falando sério. — Murilo confessou.

—Mas já na tarde do dia seguinte a japa apareceu lá em casa com um cartão da senhora. — continuou Vinicius — Ela nos disse “aqui, liguem para essa doutora e falem com Adam, digam que são os amigos de Ayume e receberão desconto de 75% nas consultas”.

—Nossos pais ficaram meio indecisos. — afirmou Murilo — Papai não sabia por que precisávamos de terapia, e mamãe não queria que doutora nenhuma “investigasse as nossas cabeças” e resolvesse nosso “problema de duplicidade”, mas Ayume disse a eles que as consultas eram apenas para nos ajudarem a não brigarmos mais... E pronto, menos de vinte e quatro horas depois nós já estávamos sentados aqui no seu divã nos apresentando à senhora.

—Se bem que eu acho que isso teve mais a ver com o desconto do que com qualquer outra coisa, sabe como é, os adultos sempre ficam loucos quando ouvem as palavras “promoção” e “desconto” — ponderou Vinicius.

—E não é sempre que se tem a chance de se pagar R$50,00 ao invés de R$200,00 por consulta. — concordou Murilo.

—Esperem, esperem um pouco! — A doutora ergueu ambas as mãos — Vocês estão recebendo 75% de desconto nas minhas consultas?!

Ambos os gêmeos a olharam e piscaram.

—Opa. — cada um deles cobriu a boca com uma das mãos — A senhora não sabia?

Em seus pulsos os relógios digitais começaram a apitar, e ambos se levantaram num pulo.

—Opa! Parece que é hora de ir, doutora!

Afirmaram já se apressando para sair.

Eles haviam acabados de ser, como dizia a expressão, “salvos pelo gongo”.

—Até mais Adam, a gente liga mais tarde pra marcar a próxima consulta! — despediram-se apressados ao passar pelo assistente na recepção.

Adam piscou, já devia estar acostumado com as fugas repentinas daqueles dois, mas mesmo assim...

—Ei Murilo. — ouviu um deles dizer, a voz se afastando gradativamente — Como você acha que a Ayume fez pra convencer o Adam a nos dar desconto?

—Sei lá. — o outro respondeu sua voz já quase sumindo — Vamos perguntar pra ela quando voltarmos para escola...

—Adam. — Dra. Frank chamou da porta do consultório. — Qual minha próxima consulta?

Adam checou a agenda da doutora.

—O Senhor e a Sra. Fonseca, para daqui à uma hora. — respondeu.

 —Ótimo. — a doutora acenou — Então me faça o favor de entrar aqui um pouquinho, quero falar com você.

Adam levantou-se, mas por que é que ele tinha a nítida impressão de que isso teria alguma coisa haver com aqueles gêmeos?

“É só uma ajuda para uns amigos meus, Adam” Ayume havia dito “Eles não vão te causar qualquer problema”.

Ah, ta bom!

Girou os olhos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então... Será que ainda há alguém por aqui? Eu espero que sim :D

Sobre a cena da Ayume assustando as garotas no banheiro, ela é uma referência ao vol. 03 cap. 10 do mangá Noragami, Ayume inclusive chega a agradecer ao personagem por ter lhe dado essa ideia, embora os gêmeos não tenham notado essa referência kkkkkkkk
Quando eu escrevi essa cena eu a mostrei a algumas pessoas e as opiniões foram bem divididas, uma achou que eu peguei pesado demais, outra que eu até que peguei muito leve, e outras duas simplesmente acharam graça, mas as 4 concordaram que Ayume é bem assustadora sim kkkkk
E vocês? O que acharam da cena?

Ah! E caso alguém tenha interesse eu criei um Twitter especificamente para divulgar minhas estórias.
Quem quiser é só me seguir lá.
O Twitter é esse aqui: https://twitter.com/Fl0r_D0_De5ert0



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Gêmeos no Divã" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.