Gêmeos no Divã escrita por Lady Black Swan


Capítulo 18
9° Consulta - parte 2


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que sumi, explicações nas notas finais do capitulo.
O capitulo ficou meio grandinho porque eu me empolguei... E Feliz 2016 a todos!
P.S: só uma dica, não se esqueçam de prestar bastante atenção no diálogo no final deste capitulo entre Adam e o novo personagem. ;)



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Eu vou te contar meu irmão, se eu sou chá de ficar enrolando, você tem um talento especial para o drama.

Afinal, mas que droga de final foi esse? Desse jeito a doutora vai ficar pensando que nós somos um par de gêmeos insensíveis, que não merecem a amiga que têm, em fim, eu realmente admito que, por causa de Verônica, num primeiro momento — e talvez num segundo, num terceiro e, é num quarto também —, nós realmente deixamos Ayume meio... De lado, por algum tempo.

Mas também não foi assim de repente e de uma vez só!

Foi... Aos pouquinhos, a gente nem percebeu.

Então, partindo do ponto em que meu irmão parou, nós deixamos Ayume descansando no corredor — embora talvez “desmaiada” seja o termo mais adequado, porque parecia que nem uma manada de búfalos poderia fazê-la acordar e levantar dali naquele momento — e fomos dar uma volta com Verônica.

E com “dar uma volta” quero dizer que Verônica andou pela escola inteira para se reencontrar e conversar — nos apresentando no processo — com todos os amigos que ela não via desde o final do primeiro semestre enquanto nós a seguíamos, e isso levou algum tempo, porque Verônica é, diga-se de passagem, bem popular lá na escola, o que significa que ela é amiga de praticamente todo mundo — com exceção dos professores e funcionários da escola, e também dos alunos que ela considere esquisitos por alguma razão — até que, por fim, nós nos cansamos de ficar andando sem rumo e fomos para a aula, isso já depois de algum tempo do sinal ter tocado.

Mas mesmo que nós tenhamos chegado um pouco tarde na aula de espanhol, ainda ficamos surpresos em ver que Ayume já estava lá (embora não tivesse nem sinal da professora ainda) porque, francamente, achávamos que ela ainda estaria dormindo em frente ao armário dela no corredor, mas como os primeiros dias de cada semestre são sempre uma bagunça — a maioria dos alunos, e até alguns poucos professores, nem sequer aparecem nos primeiros dias e, dos que aparecem, grande parte não se importa de estar ou não aula certa — isso não tinha muita importância.

Ayume estava sentada ao contrário na cadeira, com o peito escorado ao encosto e o queixo apoiado nele, e de costas para a porta então nos viu entrar, nós nos aproximamos silenciosamente com intenção se surpreendê-la, mas fomos nós que nos surpreendemos porque ela não estava sozinha.

—Está certo que se você não tivesse vindo eu teria ficado sozinha de novo, igual ontem, e ficaria praguejando você, a Olívia e o Renato por serem todos uns preguiçosos e me abandonarem aqui... Mas se era para vir assim, então era melhor ter ficado em casa e me deixado ter ficado te praguejando mesmo. — reclamou aquela amiga de Ayume, a que não tem cabelos azuis, sentada no chão com as pernas cruzadas em frente a nossa amiga.

E aquela nem era a aula dela, o que, alias, só reforça o que eu disse antes sobre os alunos estarem pouco se lixando para estarem ou não na aula certa nos primeiros dias de cada semestre.

Ainda sem ter nos notado Ayume bocejou.

—Eu e meus irmãos queríamos. — afirmou — Mas meus pais disseram que se nós ficássemos em casa só iríamos passar mais um dia grudados na frente das telas do computador e da televisão.

—E provavelmente eles tinham razão. — concordou a amiga, qual é o nome dela? Brenda ou Glenda? Ah tanto faz, ela franziu o cenho e ergueu a mão para tocar o rosto de Ayume — Já é uma covardia quando elas te pegam em seu estado natural, mas te pegar em seu estado zumbi... Hã...

Ela calou-se quando nos viu parando atrás de Ayume, nos dando novamente aquela sensação de que todos sabiam de alguma coisa menos nós, — e sabiam! — nossa amiga virou-se para nós e eu não vou mentir doutora, ela ainda estava horrível, mas, pelo menos, parecia mais acordada agora e, ah é, tinha um filete de sangue escorrendo da narina esquerda dela.

Nós arqueamos as sobrancelhas de forma surpresa.

—O que aconteceu com você? — perguntamos.

—Eu não olhei direito por aonde ia e bati de cara na porta da sala, não é nada demais, já vai parar de sangrar.

Ayume limpou o filete vermelho com as costas da mão, só para ele voltar a escorrer logo em seguida.

—Até parece. — a outra garota resmungou.

—Ah, ta. — puxamos duas cadeiras para perto e, propositalmente, ignorando a amiguinha dela, cujo nome eu ainda não tenho certeza se é Brenda ou Glenda, perguntamos: — Ei, a Verônica é bem popular por aqui, por que nunca ouvimos falar dela?

Ayume aceitou um pedaço de papel higiênico que a amiga estava lhe oferecendo e colocou no nariz — é as meninas guardam coisas realmente estranhas na bolsa — depois girou os olhos — quer dizer, o movimento de cabeça dela sugere que ala girou os olhos, mas, como nós já dissemos, é difícil ter certeza com ela tendo olhos tão puxados — para nós e respondeu:

—Isso é porque vocês vivem em mundo próprio exclusivo para gêmeos, o qual eu invado, ou sou seqüestrada, sempre que possível, e não percebem nada nem ninguém ao redor de vocês, Verônica faz aula de matemática com você três vezes por semana.

Piscamos.

—Isso é sério?

—É. — ela apoiou o rosto na mão, ainda com aquele pedaço ridículo de papel higiênico enfiado no nariz — Olivia que me contou, ela também faz aula de matemática com vocês.

Inclinamos a cabeça de lado.

—Quem é Olivia?

—Minha amiga. — suspirou — Aquela de cabelos azuis.

—Ah. — fiz.

—Elas fazem mesmo aula de matemática com a gente? ­— meu irmão perguntou.

Ayume virou-se para sua amiga, ainda sentada no chão.

—Viu só o que eu disse? Um mundo próprio.

Brenda — ou Glenda — acenou concordando.

E nós nem podemos tirar a razão dela doutora, porque pra não notar uma garota de cabelos azuis estudando na mesma sala que a gente, só vivendo num mundo próprio mesmo.

Então, durante a aula de matemática, naquele mesmo dia nos dois últimos horários, nós abrimos um pouco uma janela de nosso mundo particular e olhamos a volta procuramos prestar mais atenção ao que e a quem estava ao nosso redor.

Foi assim que vimos Verônica, sentada uma cadeira à frente, duas fileiras a nossa direita — na maior parte das aulas a gente junta duas cadeiras em fila dupla, exceto na de espanhol, que é quando a gente espera pra ver onde a Ayume vai sentar e senta cada um do seu lado.

Murilo me cutucou de leve com o cotovelo.

—Ela está mesmo aqui.

—Parece que sim. — concordei.

Como se sentisse que estava sendo observada Verônica virou-se parecendo procurar por alguma coisa, e acabou por nos encontrar; ela sorriu e nós sorrimos de volta.

Só que ai lá da frente, e sem nem ao menos virar-se, o Carlos — na verdade professor Carlos, um vovô já lá pela casa dos setenta com visão de águia e que só pode ter olhos na nuca — disse:

—Verônica, seria bom se você prestasse um pouco mais de atenção na minha aula, como deve se lembrar suas ultimas notas comigo não foram das melhores e isso aqui é assunto pra prova. — Só mesmo o Carlos pra já no segundo dia de aula, quando 69,99999% dos alunos ainda “estão de férias”, ir logo passando assunto pra prova. — Vinicius, Murilo, sugiro que não se distraiam também.

Fala sério doutora, o velho só pode mesmo ter olhos nas costas!

Mas, ainda assim, é engraçado como todos os professores sempre aprendem nossos nomes, embora nos chamem aleatoriamente por eles, porque só Ayume é realmente capaz de nos identificar.

Ao final da aula algo inusitado aconteceu: Antes que pudéssemos nos levantar Verônica veio falar conosco.

—Vocês entenderam alguma coisa do que o Carlos disse? — perguntou-nos — Eu fiquei mais perdida que surdo em bingo.

Acho que, depois de todas aquelas mensagens trocadas durantes as férias, ela já se considerava nossa amiga, antes mesmo de percebemos que éramos amigos, o que era meio que o oposto da prima dela: depois dela descobrir quem é quem nós é que já nos considerávamos amigos dela antes mesmo dela perceber que éramos amigos.

—“Surdo em bingo”? — repetimos — Não seria “cego em tiroteio”

—Seria, mas eu gosto mesmo é de inovar. — Verônica jogou os cabelos para trás dos ombros, ela adora fazer isso, jogar os cabelos. — E então? Entenderam?

­—Mais ou menos, talvez. — respondemos encolhendo os ombros.

Verônica sorriu-nos.

—Mais pra mais ou mais pra menos?

—Matemática não é nosso ponto forte. — admiti.

—Mas também não somos tão ruins. — meu irmão completou.

—Já é mais do que eu entendi. — ela afirmou — Vocês bem que podiam me ajudar a entender.

—Ajudar você? — repetimos.

—É, nós três podíamos estudar juntos, na casa de vocês talvez?

—Hã...

Ficamos sem saber o que dizer por que, além de Ayume, nunca tínhamos levado ninguém lá a casa, e mesmo ela não fomos nós que levamos, ela que se auto convidou mesmo.

—Mas não precisa ser agora. — Verônica riu jogando, de novo, os cabelos por cima dos ombros — Eu também não sou nenhuma nerd estranha que fica estudando sem parar para as provas, não é? — e riu — Por agora o que acham de irmos ao cinema?

—Claro! — concordamos de imediato.

Afinal estávamos mesmo planejando ir ao cinema — nós vamos ao cinema no mínimo uma vez por mês, embora não tenhamos mais ido desde que começamos com as consultas aqui com a senhora doutora — só que com a Ayume, mas tudo bem, porque era bem mais interessante ver filmes de terror com Verônica do que com Ayume.

E também, com certeza ela não iria se importar se, só uma vez, favorecesse a prima dela em seu lugar, não é?

Tá bom, aposto que foi isso o que ela pensou com relação a nós e Lorde Zucker.

Os dias foram passando e cada vez mais Ayume se parecia mais humana e menos... Sabe, zumbi.

E cada vez mais nós passávamos menos tempo com Ayume, porque achávamos que era muito mais interessante estar com Verônica e falar de filmes que havíamos assistido e que pretendíamos assistir, além de rir e cochichar em segredo na aula de matemática pelas costas do Carlos, e ouvi-la falar abertamente da família — um pai chamado Daniel, que é um dos irmãos do pai de Ayume, uma irmã chamada Daiane, e um furão de estimação, é, eu disse um furão, chamado Mark — do que ficar com Ayume ouvindo-a, sem realmente escutar, falar de desenhos e quadrinhos japoneses, e bandas de música coreana — nos repreendendo sempre que dizíamos que aqueles caras tinham tudo a mesma cara — ficar num silêncio mórbido durante a aula de espanhol, porque não tem aluna mais quieta durante uma aula do que Ayume, e ter que ficar pescando aqui e ali um ou outro comentário solto acidentalmente sobre sua família que de jeito nenhum podia saber sobre nós.

—Ayume! — chamamos certa vez, isso foi lá pela terceira ou quarta semana de aula, e as provas já se aproximavam perigosamente.

Ayume estava sentada na escada com o celular na mão — agora sabemos que, ao invés de estar vendo algum anime, ela provavelmente estava falando com “Lorde Zucker” de novo — mas ergueu os olhos e sorriu no momento em que nos ouviu chamá-la.

—Ei meninos, eu estava agora mesmo...

—Você viu Verônica? — Murilo perguntou a ela.

O sorriso de Ayume diminuiu só um pouquinho.

—A minha prima? Não, vocês sabem que nós duas somos como água e óleo, não nos misturamos, se eu estou aqui ela deve estar do outro lado da escola... Ela não gosta que muitas pessoas saibam que somos parentes.

—Que pena. — sentei-me ao lado de Ayume. — Emprestamos um caderno pra ela, e iríamos precisar dele agora.

O sorriso de Ayume tornou-se zombeteiro.

—Emprestaram um caderno?

—O que? — perguntamos — Que sorriso é esse?

—Nada. — ela continuava sorrindo do mesmo jeito — Mas Verônica tem mania de rabiscar tudo que cai em suas mãos, então espero que vocês gostem de canetinha brilhante cor de rosa e corações com asas, ah, além do nome dela rabiscado por toda parte, é claro.

Olhamos horrorizados pra ela.

—Você está curtindo com a nossa cara, não é pequena Ayume?

—Hum... Será que estou? — ela fez-se de pensativa, ignorando o celular vibrando em suas mãos com a chegada de novas mensagens — E há quanto tempo vocês emprestaram esse caderno?

—Emprestamos ontem. — respondemos.

—Ah, então provavelmente já é tarde demais. — ela riu.

Meu irmão apoiou-se sobre um joelho a frente de Ayume e a pegou pelos braços.

—Ayume nos diga logo onde está a sua prima, a masculinidade do nosso caderno depende disso! — implorou.

Mas Ayume jogou a cabeça pra trás e riu.

—Não, é sério meninos, eu não sei mesmo onde minha prima está. — insistiu.

Apoiando meu antebraço direito no degrau atrás de Ayume e esticando meu braço esquerdo em frente a ela para colocar minha mão na parede ao seu lado, cercando-a, eu inclinei-me em sua direção e ameacei:

—Pequena Ayume é melhor você nos dizer onde está sua prima ou...

Sem ter para onde fugir Ayume encostou-se à parede com os olhos arregalados — ou o mais arregalados que aqueles olhinhos puxados dela podem ficar.

—O que você vai fazer Vinicius?! — ela colocou uma mão em meu peito e tentou me afastar — Eu realmente não sei onde está Verônica, estou te dizendo! — insistiu. — Sai!

—Por quê? — perguntei com um sorriso atrevido — Faz tempo que você não beija nenhum de nós, não é Murilo?

—Com certeza. — meu irmão concordou sorrindo com os braços cruzados — E depois é minha vez.

—O que? Não! — ela sacudiu a cabeça — Alguém vai nos ver, e logo agora que já tem mais de uma semana que eu não chego roxa em casa e tenho que passar por um interrogatório com meus irmãos!

Meu Deus, como nós fomos estúpidos! Como é não percebemos logo de cara o significado das palavras de Ayume?!

—Se é esse o problema. — meu irmão olhou para um lado e para o outro — Você não tem com o que se preocupar, só estamos nós três aqui, todo mundo está na aula...

—Ayume! — alguém, que vinha descendo as escadas, chamou nossa amiga, engraçado como o universo gosta de brincar com a gente — Thales ficou doente, não vamos mais ter aula de física, então estamos liberados...

Era ele, o toureiro de pulgas, aquele tal Renato de novo, que parou assim que nos viu ali com Ayume — que por falar nisso estava agora extremamente vermelha.

Eu me levantei e fiquei ao lado de meu irmão.

—Ora, se não é o pirata de aquário. — dissemos.

—Ah, são vocês. — ele nos olhou muito sério — Andaram sumidos não é? As coisas realmente andavam calmas por aqui, nada de Ayume mancando pelos corredores ou sangrando no banheiro das meninas.

Franzimos o cenho.

—O que quer dizer com isso Tarzan de Samambaia?

—Mas vocês devem ser muito burros mesmo para...

—Renato! — nossa amiga guinchou se colocando de pé, o celular ainda vibrando em sua mão.

Renato olhou para nossa amiga, depois para nós e então para ela novamente, e suspirou.

—Tá. — resmungou — Olivia e Brenda ainda têm aula, então elas vão ficar, mas eu já vou você vem comigo?

Isso! Agora eu me lembro, é Brenda o nome da criatura!

—Vou. — Ayume subiu uns dois degraus, mas parou e olhou para nós — Por que não procuram Verônica atrás da arquibancada, ela costuma matar aula lá.

Nossos rostos se iluminaram com sorrisos.

—Valeu Ayume você é demais! — e saímos correndo para ir procurar Verônica.

—Mas tomem cuidado! — Ayume gritou para nós ainda lá da escada — Ela pode não estar sozinha!

Acabou que Verônica realmente não estava sozinha atrás da arquibancada, e foi um momento muito constrangedor envolvendo uma camisa meio desabotoada e um sutiã quase de fora que prometemos não falar a ninguém, então é melhor deixar pra lá.

De qualquer forma, nós não conseguimos “salvar a masculinidade” de nosso caderno, e tivemos que ir assistir o resto das aulas com o caderno A La Penélope Charmosa.

—Nós devíamos começar a estudar. — comentamos certa vez enquanto andávamos pelos corredores — As provas começam segunda-feira e hoje já é sexta-feira.

E isso é outro ponto para nossos pais não gostarem de Verônica, embora, pelo que nós percebemos, provavelmente mamãe não vai gostar de nenhuma garota que levemos para casa, seja ela apenas nossa amiga ou não, especialmente se a menina for atraente e vaidosa como Verônica: Quando não tínhamos amigos nós estudávamos mais, porque ai ficamos entediados em casa sem nada para fazer além de resolver algumas equações e ler livros da escola, e a situação não mudou muito mesmo depois que viramos amigos de Ayume, porque nós, praticamente, só falamos com ela na escola, o que nos leva ao mesmo nível de tédio em casa de antes de conhecê-la, mas com Verônica a história era outra, depois de conhecê-la estávamos sempre grudados nos celulares e não tínhamos tempo para estudar.

—É verdade. — Verônica concordou em um tom nada animado — Mas caramba, estudar em uma sexta-feira à noite, quem é o retardado mental que faz isso?!

Uma pequena sugestão: Pessoas que querem alguma coisa da vida ou, no mínimo, escapar da recuperação no final do ano.

—Não vai nos dizer que você está pensando em sair pra noite hoje?! — nos surpreendemos.

—Claro! — ela nos olhou como se estive surpresa com a nossa surpresa — Amanhã eu estudo.

—Amanhã você vai estar de ressaca. — afirmamos.

—Então no Domingo, eu passo na casa de vocês e estudamos juntos, vocês só precisam me dizer como eu chego lá. — ela encolheu os ombros depois de se auto convidar, nisso ela e a prima são bem parecidas. — Ah, e acabei de me lembrar.

—O que? — perguntamos.

—Vocês vão comigo hoje. — nos informou. — Ou será que vão deixar uma dama andar sozinha à noite? Sabem como o mundo está perigoso hoje em dia.

Sinceramente não tínhamos a menor vontade de ir com Verônica naquela noite, mas, como bons cavalheiros que não podem deixar uma dama sozinha, nós fomos.

Em resumo, e para não ser repetitivo, aquela noite foi uma seqüência das duas outras vezes — musica ata, aglomeração de pessoas, gritos e álcool — que, por suas vezes, eram uma reprise da primeira noite, só que com roupas diferentes.

Como é que a Verônica gosta de todo aquele barulho?

Então, pra encurtar mais a coisa porque só temos mais meia hora, vamos passar logo para o Domingo à tarde, quando ela, misteriosamente apareceu em nossa casa.

—Verônica? — perguntamos quando a vimos pela janela da cozinha parada do outro lado do portão. — O que faz aqui?

Verônica colocou as mãos nos quadris e sorriu-nos.

—Que péssima memória meninos. — brincou — Eu disse que viria aqui, não disse? Para estudarmos.

Ela pode até ter dito isso, mas não tinha nem sequer uma caneta à mão.

Nós inclinamos a cabeça para a direita.

—Sim você disse. — concordamos — Mas como achou nossa casa?

—Ai meu Deus. — Verônica riu. — Vocês me disseram, não lembram?

Nós ficamos só a olhando, realmente não nos lembrávamos de termos dito, e não lembramos até agora, então provavelmente estávamos bêbados quando dissemos.

Verônica começou a enrolar uma mecha do cabelo alisado no dedo.

—E aí... Eu posso entrar?

—Ah claro! — respondemos saindo da janela, e da cozinha, para ir abrir a porta da frente e correr até o portão — Entra!

Naquela hora nem percebemos que papai estava sentado só de samba canção no sofá jogando nosso videogame, e olha que ele faz isso todo Domingo — diz que é para tirar o estresse de uma longa semana de trabalho.

—Eu já estava achando que vocês não iam me deixar entrar e que íamos ter que estudar pela janela. — Verônica brincou entrando, até ver papai ali do lado e ficar sem palavras com o constrangimento. — Hã... Olá. — murmurou olhando pra qualquer canto, menos para o papai.

Ele nem escutou.

Daí caiu aquele silêncio, acho que não é todo dia que a gente vai visitar um amigo e o pai de quase cinquenta anos dele tá de samba canção jogando vídeo game no sofá.

Eu confesso, foi constrangedor.

Murilo coçou o queixo.

—Então... Quer ir lá pro nosso quarto? — chamou — É mais tranqüilo para estudar lá.

—Ah. — Verônica virou-se rapidamente para nós — Claro.

—É só nos seguir. — falei chamando-a.

Fomos para nosso quarto e nunca mais tocamos naquele assunto.

Nunca. Mais.

Dez minutos depois estávamos os três sentados em um semi circulo no chão quebrando a cabeça para tentar entender aquela magia negra que Carlos chamava de matemática — sem muito sucesso — para a prova do dia seguinte, quando Maya o invadiu:

—Ayume! — ela gritou — Ayume! A... — parou ainda próxima a porta — Cadê a Ayume? Quem é essa?

Nós a olhamos.

—Do que você está falando? — perguntei — Ayume não está aqui.

—Essa é Verônica, ela veio estudar conosco. — meu irmão respondeu — Verônica, essa é nossa irmã Maya.

Verônica forçou um sorriso.

—Oi.

Um pequeno detalhe sobre Verônica que descobrimos mais tarde: ela não gosta de crianças.

—Oi. — Maya respondeu baixando a cabeça de repente muito tímida, coisa que ela não ficou com Ayume — Você é amiga dos meus irmãos?

—Sou. — Verônica respondeu.

—E... É amiga de Ayume também? — nossa irmã ergueu os olhos um pouquinho.

—Na verdade. — a loira colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha — Eu sou prima dela.

—Verdade?! — de repente nossa irmã esqueceu toda a timidez — E você também consegue diferenciar meus irmãos?!

Verônica fez uma careta.

—Eu não.

—Ah. — Maya ficou claramente decepcionada. — Mas você gosta de se fantasiar de personagens?

Quem manda Ayume ter mostrado para Maya todas aquelas fotos do evento ao qual fomos com ela?

—Eu não tenho sete anos de idade.

—Mas Ayume se fantasia... — murmurou contrariada.

—Por que achou que Ayume estava aqui? — perguntei.

—Eu ouvi vocês falando com alguém. — respondeu parecendo meio emburrada — Achei que fosse Ayume, ela é legal, e não é uma metida que se diz amiga dos meus irmãos, mas nem sabe quem é quem, nem acha que ver desenho e se fantasiar é coisa de criancinhas de sete anos.

Verônica arqueou as sobrancelhas, nós nos levantamos na mesma hora.

—Maya, por que você não vai lá pra fora? Estamos estudando agora. — falamos a colocando pra fora e fechando a porta.

Viramo-nos.

—Desculpe por isso, é que a Maya se agarrou pra valer na Ayume. — dissemos.

—Tudo bem. — a loira insistiu em manter o sorriso grudado na cara, mas já estava parecendo meio psicótico para nós — Ela é uma gracinha e... Tão parecida com vocês.

Nós olhamos para Verônica por alguns segundos, todos sabem que somos adotados — e já tínhamos falado isso para ela também — então ninguém nunca tinha feito algum comentário como aquele antes.

Menos de meia hora depois quem invadiu nosso quarto foi mamãe, há essa hora já tínhamos decidido deixar matemática para depois — tipo, para uma próxima encarnação quem sabe? — e começar por sociologia, mas estávamos tendo tanto sucesso naquilo quanto em matemática.

—Por que não me contaram que temos visita garotos? — ela perguntou entrando com uma bandeja com três queijos quente e três copos de refrigerante — Maya acabou de me avisar.

—Oi mãe. — suspiramos — Essa é Verônica, ela veio estudar com a gente.

—É mesmo? — parando de pé a nossa frente mamãe olhou de cima para Verônica. — Você veio estudar?

—Vim.

—Então pra que toda essa maquiagem na cara?

—Mãe! — exclamamos.

—Desculpe, eu só estava reparando... — ela se me entregou a bandeja quando nós nos levantamos para pegá-la, mamãe olhou ao redor — Mas por que eu só estou vendo os cadernos e os livros de vocês aqui? Cadê o caderno e o livro dela?

—Eu... Os esqueci. — Verônica respondeu parecendo sem saber o que fazer.

—É mesmo? Veio estudar, mas esqueceu os livros, mas não de encher a cara de pó?

—Mãe! — voltamos a exclamar.

—Eu... — Verônica estava parecendo um peixe abrindo e fechando a boca.

—Tudo bem, não precisa responder. Mamãe só estava brincando, né mãe?! — Murilo interrompeu levando mamãe para fora — Tchau mãe, obrigado pelo lanche!

Ele fechou a porta.

—A mãe de vocês parece... Legal. — Tenho a leve impressão de que essa não era bem a palavra que ela procurava.

—Desculpe. — suspirei — Mamãe nunca agiu assim antes.

—Está tudo bem, o papai também tem ciúmes quando vê o sexo oposto perto de mim, é coisa de gente velha.

Que ela tenha chamado nossa mãe de velha é algo que não vou nem comentar.

Por sorte mais ninguém invadiu nosso quarto nas próxima três horas que ficamos lá tentando entender alguma coisa — qualquer coisa — sem muito avanço.

Papai a conheceu quando ela estava de saída e — graças a Deus — dessa vez estava vestido.

—Ah. — ele fez quando esbarramos com ele no corredor — Olá.

Verônica levou a mão a nunca e baixou o olhar.

—Oi.

Papai nos olhou.

—Amiga de vocês?

—Sim. — respondemos — Essa é Verônica, veio estudar com a gente.

—Estudar? — papai olhou para as mãos vazias de Verônica — E cadê seus livros?

—Estávamos usando a internet. — mentimos.

—Entendi. — papai afastou-se para o lado e nos deu passagem — Mas vocês já estavam indo, não é?

—É. — confirmamos passando por ele — Vamos levar Verônica até a parada.

Papai não demonstra as coisas tanto quanto mamãe, mas ele também não gostou muito de Verônica, ele estava falando disso com ela quando voltamos, parece que a achou meio parecida com aquelas garotas populares de filmes americanos que fazem bulliyng com os outros, e também não acreditou naquela história de estarmos usando a internet para estudar porque o notebook da família — eu sei, um notebook para a família toda, qual o problema dos nossos pais?! — ficou o tempo todo na sala — nós não temos certeza se ele sabe que agora celulares têm acesso a internet — nem entendeu porque alguém passaria tanta maquiagem para estudar, mas esqueceria os livros.

E aí chegaram as provas.

Nem preciso dizer que a gente não foi bem nelas, não é?

Passamos raspando em três matérias, e em duas tiramos vermelha.

Agora, sabe qual é a parte boa das provas doutora?

É que nós temos as provas — no máximo duas — e depois podemos ir para casa, e quando temos só uma prova é melhor ainda porque saímos na hora do intervalo, ou então chegamos só na hora do intervalo na escola se a prova for no segundo horário.

Então, já no final das provas de terceira avaliação, era hora do intervalo e nós estávamos andando pelos corredores para ir para casa, quando ouvimos um barulho alto, como se alguém tivesse lançado alguma coisa em um dos armários, mas nem demos bola, o que chamou nossa atenção mesmo foi ouvir a voz de Verônica gritando:

—Ei suas peruas!

Nós nos entreolhamos antes de nos aproximarmos cuidadosamente do corredor de onde tinha vindo a voz de Verônica, para vermos o que estava acontecendo ali.

Ayume estava de costas pra nós, escorada contra um dos armários massageando o ombro esquerdo e parecendo resmungar alguma coisa, mas nós não conseguíamos ouvir o que ela estava dizendo por causa das cinco garotas ao seu redor, quatro a estavam cercando, uma estava entre ela e as outras quatro: essa era Verônica.

—Verônica! — exclamou uma das garotas que cercava Ayume com expressão surpresa — Qual o problema?!

Pra falar a verdade doutora, todas as quatro garotas se pareciam — um pouco — com Verônica: elas usavam roupas muito curtas, muita maquiagem na cara, e cabelos alisados e tingidos — três das quatro tinham tingido de loiro, e a última de ruivo.

—Como assim qual o problema?! — Verônica estava com o braço estendido em frente á prima, como se fosse uma barra de proteção. — O que vocês estavam fazendo com a minha prima?!

Foi aí que percebemos que a coisa era séria doutora, porque Verônica não gostava de admitir o parentesco delas duas, não que ela negasse de pé junto e tudo, é só que ela não saia divulgando essa informação por aí.

Uma das peruas loiras extremamente maquiadas — cujos brincos argolas nas orelhas eram tão grandes que dava pra passar um braço por dentro — se afastou um passo parecendo confusa.

—Nós... Só estávamos mostrando a ela que ela não é como nós...

E aquela que tinha perguntado primeiro qual era o problema de Verônica continuou, ainda meio atordoada:

—Ela é só uma alpinista social que se gruda aos garotos populares para... — essa tinha passado tanto daquela coisa rosa nas bochechas, sei lá o nome, que parecia que tinha levado tapas na cara até dizer chega, e até um pouquinho além.

—Só estávamos dando um aviso. — a terceira garota loira engoliu em seco, não sei se ela tinha enchido o sutiã de papel higiênico ou se a blusa era realmente muito apertada, talvez as duas coisas, mas os seios dela pareciam a ponto de saírem pulando da blusa dela — Pra ela não tentar se aproximar deles de novo, agora que é você que está andando com eles...

—Nós... — disse a “ruiva”, mas aquilo estava mais para cosplay do pica-pau, meu Deus estamos mesmo passando tempo demais com a Ayume, já estamos até falando "cosplay"! — Só estávamos te protegendo... Amiga.

—Me protegendo?! — Verônica silvou por entre os dentes. — É por causa de garotas como vocês que nós patricinhas somos vistas como vacas desmioladas e fúteis!

Então ela pegou a mão da prima e a levou dali.

As quatro garotas ficaram paradas boquiabertas, como se realmente não esperassem que algo como aquilo pudesse mesmo acontecer, mas logo depois recobraram a compostura, empinaram os seios e passaram rebolando por nós sem nos perceber ali, mas havia mais uma sexta garota — que não tínhamos notado antes — parada ali.

Essa garota tinha a pele tão escura quando os cabelos cortados curtos em um afro, adornados por um lenço azul que lhe caia sobre o ombro, também usava maquiagem e roupas curtas — mas não exageradamente como Verônica e as outras — e estava carregando duas bolsas — a dela e a de Verônica — quando se aproximou para pegar a mochila de Ayume que tinha sido deixada esquecida no chão, depois se levantou, virou-se e correu para alcançar Verônica e a prima.

Durante toda a cena ninguém que passava pelo corredor deu a mínima atenção para o que se passava ali.

Se nós procuramos saber o que diacho havia acontecido?

Sim, mas não com muita insistência.

Quer dizer, nós até devíamos ter nos esforçado um pouco mais para tentarmos descobrir, mas estávamos ocupados com as provas e era muita coisa para estudar em pouco tempo — deixar pra estudar só na véspera dar nisso — então fomos deixando para depois, e depois, e depois... Até que já não tivesse mais tanta importância assim, e daí nós esquecemos.

Eu sei, somos umas mulas.

♠. ♣. ♥. ♦

A doutora franziu o cenho.

—Meninos vocês sabem que não estou aqui para julgá-los, mas isso me deixou curiosa, por que vocês não ajudaram Ayume quando viram que ela estava sofrendo abuso por parte das outras garotas?

Os irmãos encolheram os ombros.

—Sinceramente nós não sabemos te dizer doutora. — responderam. — Mas até que foi bom nós não termos nos metido naquele dia, se não ia sobrar pra gente.

—Como assim iria sobrar para vocês?

Os gêmeos fizeram uma careta idêntica.

—Bem... Digamos que Ayume não ficou exatamente agradecida com a ajuda da prima. — Vinicius respondeu.

—Na verdade ela ficou bem zangada. — Murilo finalizou.

A doutora arqueou uma sobrancelha.

—Bem zangada quanto?

—Nós não chegamos a ver a discussão, mas ouvimos dizer que foi feia, parece que Ayume ficou realmente irritada por Verônica ter se intrometido porque achava que podia ter dado um jeito sozinha, e disse também que se Verônica queria realmente ajudar não precisava ter dado todo aquele “show” de filme adolescente americano no corredor, que podia simplesmente ter chamado as amigas e as mandado pararem de enchê-la, e ai Verônica a chamou de mal agradecida e ficou zangada porque Ayume ficou zangada com ela. — Murilo contou.

—As duas ficaram sem se falar por mais de um mês, quase dois, nem se olhavam na cara uma da outra. — acrescentou Vinicius — Olha doutora, nós não somos terapeutas que nem a senhora, mas achamos que a Ayume tem algum tipo de complexo por causa da super proteção extrema dos irmãos dela.

—Eles a protegeram em excesso a vida toda e nunca a deixaram fazer praticamente nada sozinha e agora ela está obstinada em fazer tudo sozinha e não deixar ninguém ajudá-la. Ela nem gosta quando a gente pega coisas no alto pra ela e prefere fazer uma torre de livros e subir nela para alcançar. — Murilo suspirou — Mas quem é que pode culpá-los? Ayume é tão magrela que quando ta de frente parece que ta de lado e quando ta de lado parece que foi embora, quem não pensaria que até uma brisa um pouco mais forte poderia quebrá-la ao meio como um graveto?

—Sabe que ela nem consegue segurar naquela barra superior do ônibus? — Vinicius sorriu — É por isso que usa Ayu-chan para fazer aquela trapaça.

—Foco meninos. — Frank Lorret sorriu — Vocês estavam falando sobre o abuso que as outras meninas fazem com Ayume.

—Faziam. — Os irmãos a corrigiram — Ayume está bem agora, ela é durona.

E sorriram.

—Certo. — a doutora concordou — Mas porque ela estava sendo perseguida?

Os gêmeos se levantaram tão rápido que a doutora nem conseguiu saber quem levantou e puxou quem depois.

—Nossa doutora, olha só a hora, como já está tarde! — exclamaram praticamente correndo para a porta— A gente tem que ir, sabe como é, muito dever de casa e tal...

—Esperem! — ela praticamente tropeçou quando tentou se levantar. — Ainda quero falar da reação da família de vocês à Verônica!

—Semana que vem! — responderam durante a fuga.

—Seus relógios ainda nem apitaram!

—Bateria fraca! — afirmaram já do outro lado da porta — Devem ter parado!

E saíram correndo tão rápido pela sala de espera que nem sequer repararam nos relógios apitando em seus pulsos ou no rapaz magro de altura mediana, com cabelos negros e uma pequena franja cujas pontas tingidas de branco roçavam sua sobrancelha direita e feições orientais por trás de um par de óculos de grau, que falava com Adam.

—Guilherme me explique apenas uma coisa. — Adam levou dois dedos à testa — Como é que seis pessoas esquecem suas chaves e ficam todas trancadas para fora de casa ao mesmo tempo?!

—Você não entendeu Adam, não fomos todos nós que esquecemos as chaves e ficamos trancados para fora, foi só eu, que, além de ter esquecido as chaves, voltei mais cedo do cursinho e descobri que não tem ninguém em casa para abrir a porta. — Guilherme explicou — Mamãe ainda está no trabalho, eu liguei para o resto do pessoal e parece que Santiago levou Ayume e JJ para cortar o cabelo, e papai quis aproveitar a carona para ir comprar mais material.

Ainda com uma mão sobre o mouse Adam apoiou o rosto de lado sobre uma mão.

—Então ao invés de sentar na calçada e esperar, você deu meia volta com a bicicleta e veio aqui me pedir as chaves extras.

—É. — estendeu a mão — Então, por favor...

Adam abriu a gaveta e tirou de lá um par de cópias de chaves e, ao entregá-las para Guilherme, comentou:

—Mesmo sabendo que, provavelmente, quando voltar já vai ter chegado alguém em casa? — Guilherme paralisou com as chaves na mão, e o sorriso de Adam aumentou — Guilherme, o gênio da família. — Ironizou.

A mão de Guilherme fechou-se em torno das chaves.

—Bem, eu não podia ficar sentado esperando debaixo de sol quente até alguém chegar, podia? — defendeu-se.

—Que sol? Está tudo nublado lá fora! — O loiro riu. — E não era muito mais prático você ir para a casa do Daniel ao invés de vir pedalando até aqui?

Guilherme corou.

—C-claro que não! — gaguejou percebendo o tamanho de sua besteira e tentou justificar-se: — O tio Daniel nem deve estar em casa agora!

—Mas Verônica e Daiane sim, elas deixariam você entrar e ficar esperando lá. — Adam provocou. — Meu primo realmente teve um filho muito retardado.

As bochechas do oriental ficaram ainda mais vermelhas.

—Quer saber? — Guilherme enfiou as chaves no bolso da bermuda camuflada — Eu só vim aqui pegar as chaves, e já peguei, então agora eu vou embora!

E saiu de lá o mais rápido possível.

Adam riu da idiotice do primo.

—Quem era? — doutora Frank perguntou da porta do consultório.

O assistente pigarreou.

—O segundo filho de um primo meu.

Respondeu voltando ao seu estado natural de seriedade com os olhos fixos na tela do computador.


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Notas finais do capítulo

Sim eu sei que faz tempo que eu não apreço aqui, mas tentem me entender, em meados de novembro minha avó faleceu e eu meio que fiquei sem conseguir escrever comédia por um tempinho, depois, antes que pudesse me recuperar, começaram as provas de final de semestre e, eu querendo ou não, minha atenção foi tomada única e totalmente por elas, isso fora o projeto no qual eu passei praticamente três dias inteiros na faculdade — saia de manhã e voltava a noite — quando achei que tudo tinha acabado e eu finalmente estava de férias, descobri que tinha ficado de recuperação em uma das matérias, e passei mais uma semana só estudando para essa prova — meu esforço foi recompensado e eu tirei a nota máxima então não se preocupem.
Eu tentei me esforçar o máximo possível para conseguir tirar o atraso e postar no natal, mas, como vocês obviamente perceberam, eu fracassei.