Gêmeos no Divã escrita por Lady Black Swan


Capítulo 15
8° Consulta - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como prometido mesmo eu estando sem internet, aqui está o capitulo porque eu já deixei programado! :D
Maaaaaaaaas nem tudo são flores e eu tenho uma má noticia para vocês: Ultimamente tenho notado que com essa postagem semanal estou postando muito mais rápido do que consigo escrever (talvez seja a falta de tempo, ou todas as coisas que eu escrevo ao mesmo tempo, ou os capítulos que estão ficando cada vez maiores, ou tudo junto) então eu decidir que a postagem passará de semanal para quinzenal.
Por isso o próximo capitulo não será postado no próximo domingo e sim no dia 26/10 segunda feira.
É isso, sinto muito o incomodo. >.



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Quando Adam entrou, logo após a saída do casal Douglas, para avisar que os irmãos Montenegro haviam ligado, a doutora Frank Lorret não conseguiu evitar suspirar antes mesmo de o assistente lhe dizer que eles haviam remarcado a consulta para o dia seguinte.

Na verdade, internamente ela já esperava que no dia seguinte eles ligassem pouco antes da hora da consulta para cancelá-la, assim como haviam feito da ultima vez que remarcaram uma consulta, mas não, e ali estavam eles um apoiado sobre o outro, mais deitados do que sentados, no divã à sua frente — com o passar do tempo eles claramente se sentiam cada vez mais confortáveis no consultório dela.

—Vocês parecem abatidos hoje. — observou — Aconteceu alguma coisa? — Os gêmeos confirmaram, Frank Lorret cruzou as pernas. — E isso tem haver com o porquê de vocês terem remarcado para hoje a consulta de ontem?

—Sim. — eles suspiraram.

Frank Lorret esperou, nada, ela arqueou uma sobrancelha.

—E então?

—Doutora sabia que seu penteado está show de bola hoje?  — um dos gêmeos lhe disse. — Como é mesmo que se chama? Rastafári?

—Ora meninos, vocês são melhores do que isso para mudar de assunto, esse é o mesmo penteado que uso desde que nos conhecemos. — girou os olhos.

E se fosse para falar da mudança de penteado de alguém então que fosse da deles, já que agora, após praticamente dois meses de consultas, seus cabelos castanhos escuros e ondulados já estavam completamente crescidos, e cobriam totalmente as cabeças antes raspadas deles.

—Esses óculos são novos? — perguntou o outro. — Adorei a armação. Quantos graus a senhora usa?

—Meninos... — avisou cerrando os olhos — Que é que está acontecendo?

—É que... — eles se separaram e se entreolharam — Estamos nos sentindo culpados por fazer a senhora trabalhar em um sábado.

Dra. Frank Lorret deu um sorriso de canto e inclinou-se de lado colocando o cotovelo sobre o braço da poltrona e apoiando o rosto na mão.

—Não estão não. — negou — E mesmo que estivessem, eu não vim trabalhar no sábado só por causa de vocês.

Os dois piscaram.

—Não veio?

—Antes da consulta de vocês eu já tive uma pela parte da manhã, e ainda terei outra consulta vinte minutos depois da de vocês, então tudo o que Adam fez foi simplesmente encaixá-lo entre dois horários. — explicou — Além disso, eu sempre folgo aos domingos e em um de cada três sábados, se hoje fosse meu sábado de folga Adam teria remarcado a consulta para segunda-feira.

—Ah.

—Agora querem me falar porque remarcaram a consulta de ontem? — a doutora perguntou não sem gentileza, mas ambos os meninos balançaram a cabeça.  — Então sobre o que querem falar?

—Hum... — fez um deles — Acho que seria bom se continuássemos do ponto em que paramos na última vez.

—Tudo bem. — ela concordou — E quem começa?

—Hum... — fez o mesmo gêmeo da vez anterior e olhou para o irmão — Vinicius porque você não começa? Já que era você que estava falando da última vez...

Vinicius olhou para o irmão com uma sobrancelha arqueada.

—Murilo. — ele disse — Pode esperar que essa vai ter volta.

E então Vinicius virou-se para a doutora e começou a falar:

♠. ♣. ♥. ♦

Então onde é que eu parei da última vez?

Ah sim, Verônica a “Má influencia”.

Certo, então vamos lá.

Bem, naquele dia Verônica nos chamou para ir a uma festa de um pessoal mais velho, na casa de um conhecido do primo de uma amiga de uma garota com quem ela falavano corredor— ou qualquer coisa assim — que estava tirando proveito dos pais estarem fora da cidade.

Seria uma festa não vigiada que provavelmente iria varar madrugada adentro com música alta, bebidas alcoólicas — e provavelmente drogas — então já da pra saber qual seria a resposta dos nossos pais caso pedíssemos permissão.

Por isso tomamos a decisão mais sensata possível: não pedimos permissão.

Tá legal é mentira.

Na verdade, o tal conhecido do primo da amiga da garota com quem Verônica falava no corredor não ia dar uma festa na casa dos pais ausentes, ele só fazia parte de uma banda mesmo, e Verônica havia nos convidado para um show que eles iam fazer — sabe-se lá onde —, mas nada muito grande, apenas uma daquelas bandas de adolescente que lançam seus vídeos no youtube esperando fazer sucesso, o que quase sempre não dá em nada. Nosso pai insiste que coisas assim são pura perda de tempo, porque todos os cantores realmente bons já morreram, e sim, nós já dissemos para ele que ele parece mais velho que um dinossauro quando fala coisas desse tipo.

Mas mesmo assim a coisa toda ainda ia ser tarde da noite e destinada a um pessoal mais velho, então sim, a decisão mais sensata ainda era não contar nada daquilo aos nossos pais.

Ah, e claro que esse convite da loira nos levou a concluir que naquela noite em que Ayume fugiu de casa e veio dormir conosco, — porque da última vez que fugira para dormir na casa da prima acabara, acidentalmente, a delatando porque a prima havia saído escondida para uma festa — ela só podia estar se referindo a Verônica.

—O que será que se usa para ir a shows de bandas desconhecidas? — perguntei mexendo nas gavetas de uma das cômodas gêmeas.

—Não sei... — meu irmão respondeu mexendo nas gavetas da outra cômoda gêmea — Que tipo de música será que eles tocam?

Nós inclinamos a cabeça de lado de forma pensativa.

—E afinal... — eu cruzei os braços — Aonde vai ser esse tal show?

Meu irmão me olhou.

—Como assim? Não foi você quem atendeu?

—Foi.

—Então como você não sabe?

—Ah, é que ela nos mandou encontrá-la num lugar ai, o endereço ta anotado ali. — com o polegar eu apontei um caderno em cima de uma das camas — Da pra ir até lá de ônibus.

— Ahã. — meu irmão me passou uma jaqueta de couro falso preto e eu dei a ele um par de calças jeans — E a volta? Acho que já vai estar meio tarde para ônibus...

—Pegamos um táxi? — eu sugeri pegando uma camisa verde e entregando a ele.

Meu irmão pegou a camisa, fez cara feia pra ela e atirou-a por cima do ombro, para então pegar uma azul em seu lugar.

—Então vamos pegar dinheiro d’A Caixa? — ele perguntou vestindo a tal camisa azul.

Eu encolhi os ombros.

—E que remédio, não é?

Deixa-me explicar melhor o que é “A caixa” doutora.

Bem, então basicamente “A Caixa”, é uma caixa cofre preta com cadeado que é do tamanho de uma caixa de sapatos e onde a família guarda todos os “fundos de emergência” para qualquer situação imprevista que possa surgir, tipo “acabou o pão e estou sem trocado!” ou “nossos filhos precisam de uma terapeuta!”, ou, como foi o nosso caso, “vamos sair escondidos e não temos nem dez reais!”.

Geralmente quem coloca mais grana na Caixa são o papai e a mamãe — pelo menos uns duzentos reais por mês —, mas nós e até Maya também colocamos alguma coisa lá sempre que podemos, mas eu acho que a quantia que colocamos lá não chega nem a cinco reais... Pois é, cada um ajuda como pode.

E sim, às vezes a gente tira dinheiro de lá para ir ao cinema, mas isso só se concluirmos que a nossa mesada não vai ser o suficiente — o que é quase sempre — mas como agora estamos nos consultando aqui nós meio que vamos ficar sem ir até o cinema por um bom tempo.

♠. ♣. ♥. ♦

De repente Vinicius interrompeu sua narrativa contorcendo-se de lado e a doutora franziu o cenho.

—O que houve?

—Ai. — Vinicius reclamou massageando as costelasonde o irmão o acertou com uma cotovelada — Murilo por que você fez isso?

—Porque você está fazendo de novo! — acusou Murilo.

—Fazendo o que? — Vinicius perguntou inocentemente.

—Se prendendo a detalhes desnecessários para enrolar o máximo possível na sua vez só pra deixar a pior parte pra mim de novo!

Vinicius sorriu admitindo a culpa enquanto a doutora sorria e balançava a cabeça.

—Não tem mesmo como te enganar, não é irmão?

—É porque nós somos gêmeos. — afirmou Murilo — Agora vá direto ao ponto, porque se não o próximo vai ser um pisão no pé.

—Ora, não negue que você também faz a mesma coisa sempre que tem chance! — Vinicius soltou uma gargalhada, e retornou à história:

♠. ♣. ♥. ♦

Então, como eu estava dizendo, antes de ser interrompido por minha outra metade aqui, e indo direto ao ponto, antes que eu leve outro golpe... Naquela noite nós pegamos a chave da Caixa, que fica escondida dentro da caixa de remédios — eu sei isso é muito original — tiramos o que precisávamos d’A Caixa e saímos o mais silenciosamente possível para que nossos pais não nos ouvissem — como eles dormem com a televisão ligada nunca da pra saber a que horas eles dormiram.

Ah, e também grudamos em nossa janela um bilhete para o caso de Ayume brigar com os irmãos e resolver aparecer: “Tente a janela de Maya”.

Nunca se sabe, não é?

—O que acha que eles fariam se descobrissem? — Murilo me perguntou enquanto descíamos à rua.

—Sei lá, a gente nunca fez nada parecido antes. — olhei pro céu, pensei ter visto uma estrela, mas acabou sendo apenas um helicóptero — Mas com certeza não vamos querer descobrir.

—Verdade. — riu meu irmão. — Então é melhor voltarmos antes do amanhecer!

—Com certeza! — concordei.

Acabamos chegando ao local onde Verônica havia marcado conosco antes da própria Verônica, mas não estávamos adiantados não, ela é que estava atrasada, e tivemos de esperar por quase mais vinte minutos até a loira finalmente aparecer.

—Ah rapazes. — ela sorriu-nos — Vocês vieram.

—Dissemos que vínhamos, então viemos. — afirmamos encolhendo os ombros.

—Na verdade um de você me prometeu pelos dois, então eu não tinha muita certeza.

—A palavra de um vale pela dos dois. — afirmamos trocando um soquinho.

—Estou vendo. — Verônica concordou. — Vamos?

—Vamos. — respondemos — Mas por que você se atrasou?

—Me atrasei? — repetiu e piscando para nós disse: — Meninos eu não me atraso, eu faço suspense.

Sabe de uma coisa doutora?

Muita coisa pode ser dita sobre Verônica, mas algo com certeza que não pode ser desmentido é que aquela garota tem uma incrível resistência ao frio!

Não, porque usar uma blusa acima do umbigo — mesmo que tivesse mangas compridas — numa noite daquelas, é só para os fortes mesmo!

E olha que eu ainda nem falei da calça, porque a calça que Verônica usava naquele dia era tão colada que parecia até que era uma segunda pele costurada nela, e eu tenho certeza que essas calças jeans não fazem bem para a circulação do sangue nas pernas, e isso sem falar do sacrifício que deve ser vestir uma daquelas.

Uma vez nós perguntamos á Ayume se era realmente difícil usar uma calça daquelas, e ela ergueu os olhos de sua revisa de quadrinhos em preto e branco nos olhou e disse:

—E como é que eu vou saber? Nunca usei uma daquelas.

Isso era verdade, embora Ayume sempre usasse calças nós nunca a tínhamos visto usando calças coladas, mas também não é que as calças de Ayume sejam daquelas extremamente largas que caem até os tornozelos se você se distrair, elas eram mais pra um... Meio termo.

Só que quando perguntamos à Verônica sobre isso, ela nos disse que era realmente um sacrifício entrar naquelas calças, mas que ela fazia porque sabia que quando se olhasse no espelho iria saber que o esforço tinha valido a pena, e isso era basicamente a mesma coisa que havia nos dito quando perguntamos sobre o porquê dela fazer academia três vezes por semana.

Pensando bem acho que aquelas duas primas são, em todos os aspectos, o antônimo uma da outra.

♠. ♣. ♥. ♦

Vinicius puxou rapidamente o pé para trás e suspirou quando Murilo quase o pisou.

—Caramba. — disse — Essa foi por pouco!

Ele olhou para o irmão sentado à sua direita com as costas recostadas ao divã, os braços cruzados sobre a barriga e os olhos fechados.

—Não diga que eu não avisei. — Murilo sorriu de olhos fechados.

Vinicius sorriu.

—Ok, eu sou culpado. — admitiu — Mas eu só queria ver se você estava prestando atenção.

—Sei. — Murilo o olhou ainda sorrindo, quase rindo— Vá logo direto ao ponto.

♠. ♣. ♥. ♦

Bem, então de volta à história, direto ao ponto, né?

Só que o ponto é: Aquela noite caótica já foi quase completamente apagada de nossas memórias.

Quer dizer, mesmo na manhã seguinte a aquela noite nós já não nos lembrávamos de muita coisa, imagine então agora que já se passou praticamente um ano desde então.

O que nos lembramos é que tecnicamente menores de idade deveriam ser proibidos naquele lugar, mas nós três conseguimos entrar sem problemas, havia muitas pessoas gritando e jogando os braços para o alto, e nós mal podíamos nos mexer sem levar socos, cotoveladas e chutes com todo aquele empurra e empurra, ou vai ver que o local é que era muito pequeno, enquanto a tal banda cantava/berrava suas “músicas”, e falo assim entre aspas porque para nós aquilo tudo era só uma gritaria sem sentido, a gente nem sabia se eles estavam cantando em português ou não — por que o pessoal do Brasil adora cantar em inglês? Nós temos músicas boas também — e para conseguir assistir melhor a Verônica ficou em cima dos ombros do meu irmão, provavelmente mais de uma banda tocou naquela noite, mas no sufoco todas nos pareceram ser a mesma e, de alguma forma misteriosa, garrafas apareciam em nossas mãos.

Como estávamos com muito calor, por causa de todo aquele opressivo calor humano a nossa volta, e com as gargantas secas de tanto gritar — afinal é como diz o ditado: “se não pode vencê-los, junte-se a eles” — nós bebemos, e também demos para Verônica.

Agora sabemos com certeza que havia álcool naquelas garrafas.

Também não sabemos como ou quando voltamos para casa, mas de uma coisa nós lembramos com certeza: Nós não voltamos antes do amanhecer.


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Notas finais do capítulo

Uuuuuuh o que será que virá a seguir?
E então, acharam mesmo que Verônica é uma má influência?
Cometem suas dúvidas e teorias! =^.^=



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