Gêmeos no Divã escrita por Lady Black Swan


Capítulo 1
1° Consulta - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Bem gente eu já escrevo faz algum tempo, mas esta é (tecnicamente) minha primeira vez postando no Nyah e também minha primeira original, então estou um pouco nervosa, mas espero que aproveitem.



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Dra. Frank observou o par de rapazes idênticos com as cabeças raspadas à sua frente.

—Eu posso estar enganada. — começou — Mas, a não ser que a semelhança incrível que vocês compartilham seja uma coincidência fantástica, vocês são...

—Gêmeos univitelinos. — eles confirmaram — Sim, nós somos.

Dra. Frank batucou levemente em sua prancheta com a ponta da caneta.

—Bem, não precisam se restringir, vocês pode falar o que quiserem aqui, porque tudo ficará em completo sigilo, aqui não serão julgados nem...

—Nós não somos um casal! — interromperam os meninos, parecendo horrorizados com a idéia.

Como se alguém já tivesse sugerido isso antes... Ela matutou sobre aquilo por algum tempo.

—Vocês sabem que eu faço apenas terapia de casais não é? — perguntou.

—Sabemos. — eles responderam.

—Então o que fazem aqui? — perguntou curiosa, e um tantinho impaciente.

—É complicado. — Os meninos suspiraram. — Podemos começar?

Dra. Frank os observou, tentando decidir se eles estavam ou não brincando, mas quando viu que eles realmente estavam falando sério, suspirou conformada e recostou-se à sua poltrona.

—Muito bem, podem falar. — assentiu com um aceno de mão.

Francamente, eles haviam conseguido despertar a curiosidade dela.

O primeiro deles tomou a palavra e assim iniciou-se a primeira de algumas das sessões mais estranhas da vida profissional de Frank Lorret.

♠. ♣. ♥. ♦

Ah por onde começar...?

Bem que tal assim:

O maior sonho de nossa mãe sempre foi ter uma irmã gêmea, alguém que fosse exatamente igual a ela, pois é, ás vezes as pessoas tem sonhos malucos assim mesmo que saibam que nunca vão realizar, e como ela sabia que isso era impossível ela decidiu que pelo menos seus filhos seriam gêmeos.

Mas ela não podia ter certeza de que filhos biológicos seus seriam gêmeos, muito menos idênticos, na verdade, as chances eram pouquíssimas, então ela decidiu adotar e convenceu nosso pai a isso também.

Ela queria gêmeos, dois meninos ou duas meninas, nada de casal, e precisavam ser idênticos, tão parecidos quanto duas gotas d’água, ao ponto de nem mesmo ela saber qual era qual.

E assim meu irmão e eu fomos adotados, é claro que ela gostaria de ter nos dado nomes parecidos, algo como Renato e Nonato talvez, mas nós já tínhamos quase cinco anos quando fomos adotados, e, portanto já tínhamos nomes próprios com os quais já havíamos nos acostumado: Vinicius e Murilo.

Nós nunca conhecemos nossa mãe biológica, não sabemos quem ela foi e nem o porquê de ter nos deixado lá, talvez ela tenha morrido, talvez ela não tivesse como nos alimentar, ou então não nos quisesse, vai ver que ela já tinha filhos demais, ou não pretendia ter filhos, ela pode ter sido uma prostituta, ou uma garota que foi abusada, ou então era uma mulher casada e nós filhos de seu amante, ou o contrário, talvez ela que fosse a amante, talvez ela fosse uma moradora de rua, ou alguém tão irresponsável que o Estado decidiu por bem tirar nossa guarda dela, ou vai ver que não foi nada disso, seja como for, nós nunca saberemos e nem temos curiosidade em saber.

Eu só posso dizer uma coisa: somos gratos por termos sido deixados juntos.

Além disso, ás vezes nós pensamos em como seríamos se não tivéssemos vivido a primeira parte de nossa infância em um orfanato e sempre atormentados pelo medo de sermos adotados por pais diferentes, nós provavelmente seríamos apenas um par de gêmeos comuns, com tantas semelhanças quanto irmãos normais, ou então seríamos o oposto um do outro por queremos desesperadamente buscarmos nossas identidades, ou pior: talvez nos odiávamos.

E, sinceramente, não gostamos de pensar nisso.

Nós gostamos de sermos como somos.

Eu não me lembro de muita coisa do orfanato, mas lembro de que lá éramos obrigados a usar uma pulseirinha de identificação com nossos nomes gravados, para que os outros não nos confundissem, mas quando chegamos aqui mamãe perguntou-nos se sabíamos nossos próprios nomes, e nós respondemos “Sim senhora”, então ela disse que já que era assim nós não precisaríamos mais usar aquelas pulseiras e poderíamos tirá-las, e nós respondemos “Obrigado, senhora”, por último ela disse que a partir daquele momento podíamos chamá-la de mamãe e o homem ao seu lado de papai se quiséssemos, e, muito felizes, respondemos “Obrigado mamãe”.

Quase sempre falávamos juntos, ou completávamos as falas um do outro, e acho que isso encantou ainda mais a nossa mãe.

Meu irmão e eu sempre fomos mais unidos que o comum, mesmo para gêmeos, nós gostávamos de sermos confundidos, de sermos os únicos a saberem quem era quem, e entre nós nunca houve uma noção certa do que era “seu” ou “meu”, para nós tudo era simplesmente “nosso”, de forma que, mesmo não nos vestindo iguais, era impossível saber qual de nós era qual apenas pela roupa, mesmo nossos cabelos precisavam ser cortados e penteados de forma minuciosa para ficarem exatamente iguais.

E também temos um jogo, não sei desde quando, acho que desde que aprendemos a falar, e o jogo é o seguinte: às vezes os dois são o Murilo, às vezes os dois são o Vinicius, ou então simplesmente trocamos a identidade, para nós isso é tão natural quanto respirar.

Mas papai nunca gostou disso, é claro que ele concordou com mamãe em adotar gêmeos idênticos e tudo, mas ele queria saber pelo menos quem era quem entre nós, e depois que tudo falhou, ele decidiu apelar: mandou fazer cortes de cabelos diferentes em nós.

Quando percebemos isso nós entramos em pânico, e quando mamãe nos viu ela teve uma briga feia com papai, do tipo que faz os vizinhos pensarem se deveriam ou não chamar a polícia, mas no dia seguinte tudo estava resolvido, porque meu irmão e eu raspamos a cabeça um do outro. Ficamos carecas como ovos, mas éramos novamente idênticos.

Depois disso papai desistiu de tentar saber quem era quem, e ninguém nunca mais tentou descobrir... Até que conhecermos Ayume.


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Notas finais do capítulo

Este capitulo foi repostado com algumas pequenas modificações e correções que, no entanto, não farão tanta diferença assim no enredo, mas que estavam me incomodando bastante, seguirei assim repostando todos os capítulos antes de continua a estória do ponto em que parou. Obrigada pela compreensão e desculpe os transtornos! XD



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