Infinite escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 2
Nave Nyah




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Olho para onde Liam está apontando.

A Nave Nyah é linda. Toda branca, com várias janelas de vidro. E claro, imensa.

Liam conduz a esfera para a parte inferior da nave. Há um vão, que parece perfeito para a esfera. Um túnel vertical, de forma cilíndrica. Subimos cerca de cinco metros, e paramos em uma sala quadrada e ampla. Deve ter uns nove por nove metros. A esfera fica estável sobre uma plataforma redonda de metal, de circunferência pouco maior que a esfera. Aparentemente, ela se fechou sob nós quando passamos. Em frente a nós, vejo quatro fileiras de controladores, duas na esquerda e duas na direita. Cada fileira tem três funcionários infinites mexendo em computadores mais avançados do que aqueles com os quais estou acostumada.

– Esfera 3576 na sala de ejeção. – Uma infinite está em pé entre as fileiras. Ela sorri para nós e vem ao nosso encontro, enquanto saímos da esfera. Que aliás, se chama Esfera mesmo. – Olha só quem está aqui.

– Comandante Kaline – Diz Liam.

– Não vai nos apresentar sua amiga, a nova tripulante da Nave Nyah?

– Bom. Esta é Amanda Cole, a primeira infinite. Amy, está é Kaline, Comandante da Nave Nyah.

– Prazer em conhecê-la, comandante – digo, embora esteja muito tímida.

– O prazer é meu – diz ela, simpática. - Seja muito bem-vinda à Nave Nyah, Amanda.

– Obrigada.

– Eu sei que o Liam está louco para te mostrar a nave, então é melhor irem.

– Você acabou de sair da Sala de Ejeção. É onde Kaline e os controladores controlam o trânsito de Esferas. Acho que você não vai visitar muito a sala, por enquanto.

– Eu espero. Para onde estamos indo.

– Setor dormitórios. Assim como a nave, os dormitórios são perfeitos para nós. Cada dormitório acolhe duas pessoas, e com isso, nossos dormitórios abrigam todos nós confortavelmente.

– Então... Vou ter uma colega de quarto?

– Sim. Ela já está te esperando.

O lugar onde estamos andando é o setor de dormitórios. As paredes, o chão e o teto são completamente brancos. Às vezes, aparecem inscrições nas paredes. Números e letras dentro de círculos verdes. Liam para em frente ao círculo D017 e toca nele. Um som de flauta ecoa.

– Quem é? – Ouvimos uma voz doce e feminina.

– Liam Henz e sua colega de quarto.

Um retângulo de luz verde se forma ao redor do círculo, do tamanho de uma porta. A porta sai da parede e desliza para o lado, revelando um quarto amplo e claro. A parede contrária à nossa é feita de vidro e deixa o sol entrar. Em cada parede lateral há uma espécie de reservatório cheio de terra. Suponho que sejam camas, pois na da esquerda há uma garota deitada, lendo um livro. O livro não é feito de papel, Parece um E-book de vidro muito mais avançado, e ao mesmo tempo parecido com um livro físico. A parede dela é incrível. O papel de parede é um céu azul com nuvens que se movimentam em direção à parede de vidro, como se o vento as estivesse levando. Mas é mais incrível que isso. Cada nuvem é uma espécie de estante, pois elas levam vários e vários livros que passam a cada segundo. No canto da parede, há a figura de uma árvore, onde uma mãe pássaro alimenta seus filhotes, que ocasionalmente voam entre os livros.

A garota que está deitada na cama não tem o cabelo longo e preso como o meu. O cabelo dela é curto e solto. A roupa de casca consiste em topper e short. Ela levanta e deixa o livro de lado na cama. Nos recebe com um sorriso.

– Oi, Liam!

– Oi Anne. Essa é a Amanda Cole, a primeira infinite...

– Sério? Que máximo! Eu sou muito sua fã! – A garota parece realmente entusiasmada com isso.

– Não precisa contar isso para todo mundo, Liam. – Eu o repreendo.

– Ah, fica fria! – Diz a Anne. – Isso é muito legal.

– E, bom... Amy, essa é a Anne Liberton, sua colega de quarto.

– Estou feliz em conhece-la, Anne.

– Eu também, Amy – diz ela. – Posso te chamar de Amy?

– Claro!

– Então, eu pretendia fazer um tour no quarto, mas aposto que o senhor Henz quer mostrar a nave antes.

– Não me entenda mal, srta. Liberton. Acho que tem pessoas importantes querendo conhecer a srta. Cole.

– Aposto que sim. Te vejo mais tarde, Amy. Bom passeio para os dois.

– Achei ela bem simpática.

– Dificilmente vai achar alguém nessa nave que não seja simpático.

– Essa nave é engraçada. Não tem lâmpadas nem janelas, mas é clara mesmo assim.

– Como a sua cápsula. A Nave Nyah foi construída sob os mesmo princípios. Capta a luz do sol, que é emanada e armazenada para ser usada de noite, além de ser usada para abastecer a nave em forma de energia. As paredes fazem esse trabalho.

– Interessante. Você disse a Anne que havia pessoas importantes querendo me conhecer. Quem?

– Você vai saber logo. Estamos indo para a sala de controle.

Paramos em frente à última porta do corredor. O código é C001. Suponho que seja a sala de controle. Liam toca o símbolo, e uma pequena câmera aparece no meio dele.

– Liam Henz e Amanda Cole.

– Achei que você fosse falar “a primeira infinite”. – Sussurro.

A câmera é substituída por uma placa na forma de mão. Liam coloca a mão no lugar indicado, que faz a leitura. Em seguida, a placa é recolhida. O contorno de luz da porta surge e ela se abre. Assim, posso ver a sala de controle, que parece com a sala de ejeção, só que é maior, com mais controladores, e com quase todas as paredes de vidro. Pelo formato basicamente triangular da sala, noto que ela está localizada na parte frontal da nave.

Bem na frente, sobre um círculo luminoso, posso ver um casal de infinites com roupas feitas de folhas. A mulher usa um vestido longo e tem cabelos compridos. O homem usa um sobretudo. Não preciso que Liam me diga quem eles são para descobrir.

O casal se vira e sorri para nós.

– Finalmente somos agraciados – diz Kori Hime. – Temos esperado por você, Amanda Cole.

Eu tento me enconher. Estou completamente constrangida, não esperava por isso. Tento sorrir. Mas não sei o que falar.

– Fico feliz que tenha obtido sucesso em sua missão, senhor Henz. – Diz Seiji. – E dou as boas vindas à nossa nova tripulante.

– Obrigada, Senhor.

– Faremos de tudo para acolhê-la aqui. Imagino que o Senhor Henz tenha lhe mostrado seu dormitório.

– Mostrou sim senhora – digo.

– Ótimo – diz ela. - Senhor Henz, está responsável pela senhorita Cole até que ela esteja completamente independente aqui na Nave Nyah. Por favor, quero que treine suas habilidades e ensine tudo o que ela precisa saber.

– Farei isso, senhora.

– A Kori Hime quer que eu treine?

– Claro! Amy, você faz parte da Nave Nyah, agora. Temos inimigos, e precisamos estar preparados. Entende isso, não entende?

– Claro.

– Vamos. Você vai conhecer o salão de treinamento.

Liam vai em direção à outra extremidade do corredor, onde fica a porta do salão de treinamento.

– P de quê? – pergunto, me referindo ao código da porta, P905. Já tinha notado o D de dormitório e o C de controle nas outras salas.

– P de Público. Lugares acessíveis a qualquer pessoa tem a letra P.

Quando nos aproximamos da porta, ela se abre sem que Liam toque o símbolo. Em seu interior, encontramos um ambiente bem diferente. O salão é bem grande – deve ser por isso que se chama salão. Nas paredes próximas à porta estão balcões com armas. A distribuição é comandada por infinites. As demais paredes possuem divisórias, como se fossem salas particulares. E bem no centro, há uma sala quadrada de vidro, que ocupa a maior parte do salão. Lá dentro, é possível ver infinites de armadura de casca e portanto armas. Também há, pedras, onde eles se escondem durante a luta. Começo a andar em direção à sala.

– Não, não, não! – Liam coloca seu braço entre mim e a sala.

– Que foi? Ah, é, tenho que pegar uma arma...

– Quê? Você já pegou em uma arma?

– Não, mas...

– E quer ir para o campo de batalha?

– É só um treinamento.

– As saletas servem para isso. Vamos aprender. Quando achar que sabe, pode ir pro simulador.

– Ok. Posso pegar uma arma agora?

Liam suspira. Eu continuo sem entender bem o que ele quer que eu faça.

– Amy... Lembra que você tomou vários tiros e não se feriu?

– Sim, mas o que isso tem a ver com treinamento?

– Nossa especialidade não é ataque. É defesa. Quando você estiver pronta para se defender, pode pegar numa arma.

– Que chatice. Mas você é quem sabe.

– Vamos.

Liam dá um tapinha no meu ombro e anda em direção a uma saleta. Presumo que devo segui-lo, então, é o que faço.

– Você já deve ter reparado sua roupa. Não é feita de tecido, mas de... casca de árvore. Mas essa não é uma simples madeira. É uma madeira extremamente forte. Nenhuma bala que os humanos tenham desenvolvido é capaz de perfurá-la.

– Então eles não podem nos matar?

– Não assim. – Ele diz. Eu penso em perguntar como eles podem nos matar, mas prefiro não saber. Faço outra pergunta.

– E não podem invadir a nave?

– Poderiam, se tivessem tecnologia para isso. Mas o pouco que lhes resta, eles não conseguem desenvolver, por causa da falta de matéria prima. Hoje, os humanos vivem na miséria. Porque queriam tudo só para eles.

Aceno com a cabeça. Não gosto de falar sobre os humanos, porque eu sinto que os conheço muito bem, e ao mesmo tempo, não sei nada sobre eles. Liam continua a explicação.

– Bom, como eu estava dizendo, o nome dessa madeira forte é defesa, por uma razão óbvia. Você pode controlar onde ela nasce. Pode fazer uma armadura.

– Como a que você fez quando os humanos nos atacaram.

– Isso – ele diz. Com um rápido movimento com os braços, sua estrutura de madeira muda completamente. Várias camadas de madeira eriçadas, em toda a parte frontal do corpo, inclusive na cabeça. – Viu o que eu fiz? Ativei minha armadura. – Liam faz o mesmo movimento e volta ao normal. – Vamos, tente. Comece devagar. Mude seu tronco primeiro.

Olho para mim mesma. Minha blusa não vai até a calça. Acaba antes em forma de bico. Eu me esforço para fazer a pele exposta da barriga virar casca. Ops, defesa. Aos poucos, ela vai mudando, como numa onda de pequenas escamas devastando a pele. A sensação é engraçada, quase como cócegas. Finalmente, a onda se une à calça.

– Ótimo. Parte superior do tronco.

Meu decote é em formato coração. Faço a onde de escamas subir até o pescoço, se espalhar para os ombros. Bem lentamente.

– Siga para os braços.

A onde se divide em cada braço, simétrica. Toma conta do cotovelo, do pulso, chega ao dorso da mão e às pontas dos dedos.

– Ótimo – diz Liam. – Quero que tente proteger parte do seu rosto.

As pequenas ondas começam próximas ao canto de dentro do olho e se espalham pela bochecha. Depois, uma onda única da união do nariz com a testa se espalha pela testa, ultrapassa o limite do cabelo e forma três camadas salientes.

– Perfeito. Agora você está pronta para a defesa. Mas tem que treinar para fazer isso mais rápido. Vai, tenta fazer um pouco mais rápido, voltando ao normal.

Me esforço. A onda percorre o caminho de volta com uma velocidade moderada. Consigo voltar tudo em sete segundos.

– Ótimo. Mais rápido.

Reformo a armadura. Leva só quatro segundos. Na volta, tento ser mais rápida, mas também dá quatro segundos.

– Está melhorando, Amy. Acha que consegue fazer mais rápido?

Decido me arriscar, e tentar fazer tudo de uma vez, como Liam. Abro os braços em um movimento veloz, e a armadura se forma cheia de erros. Há pequenas falhas onde a pele aparece em vários lugares. Apenas três pontos no rosto estão com defesa, e as mãos estão nuas. Liam ri de mim.

– Vai com calma, Amy. Tá querendo fazer tudo de uma vez.

– Foi você quem me mandou ir rápido. – Digo, com um pouco de raiva do último comentário.

– Tudo a seu tempo, moça. Por hoje é só. Tente ir treinando com calma. Nos vemos amanhã.


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