Infinite escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 16
Intervenção


Notas iniciais do capítulo

Sim, esse é o último capítulo, e o menor de todos. Aproveitem.



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No começo, ninguém percebe a movimentação. Não há muitas pessoas na redondeza. Mas alguns começam a notar as raízes se movendo sob a terra.

– Terremoto! - Grita um, mais desesperado.

Os movimentos aumentam. As raízes começam a subir completamente, ficam todas acima da terra. Depois, elas começam a se mover como patas de aranha, transportando as árvores. Quem está ao redor grita e sai correndo, apavorado. As árvores vêm de todos os lados. Ah, elas viram muita coisa durante esse tempão de vida! Elas se aproximam rápido. Aos poucos, chegam na batalha. Poucos atiram nas árvores para tentar detê-las. A maioria, ou está impressionado demais, ou sabe que é inútil. Elas passam pelas ruas, destruindo construções, rachando os asfaltos, quase esmagando as pessoas e fazendo um estrondo barulhento. Encontro Liam na multidão. Ele está boquiaberto. Na sala, eu e Marck começamos a ouvir o concreto ao redor rachar. Primeiro, algumas raízes surgem entre os corpos. Depois, toda a parede de trás desmorona. Dois galhos de árvores distintas nos agarram, e nos levam bem, bem alto. Consigo ver toda Tóquio de onde estou, e não encontro nenhum humano ou infinite que não esteja olhando para nós. Apenas alguns humanos pensam em atirar, mas eu inibo essa ideia da mente deles facilmente.

Uma vez, Liam me disse que seria difícil eu me aproximar de um humano sem que ele ficasse com medo ou tentasse me matar. Acho que agora consegui a atenção deles. E não há medo nem raiva. Apenas surpresa. Começo a falar, e de alguma maneira, a minha voz ecoa em Tóquio.

– Humanos! Infinites! Japoneses! Já é chegada a hora de mudar! Precisamos reparar nosso erros! Precisamos parar de nos tratar como inimigos! Todos nascemos iguais! Nascemos humanos. No começo, fizemos nossas escolhas. Os que escolheram ser infinites se tornaram infinites e a maioria permanece vivo até hoje. Os que escolheram continuar humanos morreram, mas seu ódio pelos infinites perpetuou. Hoje, vocês humanos, acreditam que nós, infinites, somos maus e crueis, não porque presenciaram isso, mas porque foi o que lhes disseram. Mas não há motivo para sermos mais crueis ou menos crueis que vocês. Por que seríamos? Só porque escolhemos tomar uma injeção que mudou nossos genes? Não. Isso é bobagem. A mais pura bobagem! Não podemos nos discernir por conta disso! Temos o direito de escolher, e até mesmo de não aceitar a escolha do outro. Mas fazer isso se tornar ódio? Induzir outras pessoas a isso? Quem é cruel, no fim das contas. Querem saber quem é superior? Absolutamente ninguém. Somos todos iguais. Vocês, soldados, por que querem nos matar? Porque mandaram vocês fazerem isso. Ou, para alguns, porque nos odeiam. Mas a pergunta é: Por que nos odeiam? O que fizemos a vocês? Nunca ameaçamos os humanos, nunca demonstramos nenhum sentimento ruim. E por que? Porque temos uma capacidade especial, que vem das plantas, de reconhecer que vocês são parte da natureza. Humanos, infinites, animais, árvores, a água, o solo, tudo é natureza! Somos todos natureza! E não podemos destruir a nós mesmos! Porque se fizermos isso, simplesmente morreremos! Por isso não podemos julgar nossos iguais! Porque estaremos nos julgando. Precisamos cuidar deles, cuidar do que é nosso, do que é parte de nós! Não discriminar, não destruir, não odiar! Chega de destruição! Chega de desrespeito! Chega de egoísmo! Humanos, infinites, nós somos a mesma coisa! Devemos nos tratar como tal! Chega de guerra! Queremos paz! Venham comigo, fazer o novo Japão, a nova Terra! Feita de seres iguais, que respeitam uns aos outros! Venha comigo, Tóquio! Quem está comigo?

No fundo, eu não sabia como eles reagiriam. Fiquei com medo de que começassem a atirar. Mas todos gritaram e aplaudiram. Todos. Toda a Tóquio. Os soldados largaram as armas e aplaudiram. Os civis saíram de seus esconderijos. Os infinites, boquiabertos, pousaram as Galaga e foram para o meio da rua. Em toda a parte, eles começaram a se abraçar. E eu suspirei de alívio. Era o começo. O começo de um novo tempo. O melhor de todos os tempos, que seria infinito.

~

– Marck!

As árvores o colocam gentilmente sobre a grama, e eu corro até ele. Estou tão desesperada que quase caio sobre ele quando me ajoelho.

– Marck, fale comigo!

– Oi. – Ele mantém seu sorriso bobo, e eu rio disso, embora continue sobressaltada.

– Como você está?

– Morrendo.

– Mas… Agora… Você pode respirar. Por que está morrendo.

– Foi muito tempo sem ar. Nem todo o ar do mundo vai me bastar agora. Amy... Quero muito que você fique com isso.

Marck estende seu pequeno cubo de luz solar. Eu nem sei o que dizer.

– Mas... Foi você quem fez...

– Não será útil pra mim quando eu morrer. Mas pode ser útil pra você. Por favor, aceite.

Hesitante, pego o cubo.

– Obrigada, Marck.

– Eu é que agradeço. Muito obrigado. Muito, muito obrigado.

Lentamente, Marck fecha os olhos. Seus braços pendem. Sua vida se vai.

Eu começo a chorar. Minhas lágrimas de seiva branca caem em seu corpo sem vida. E eu choro por alguns minutos. Então, o corpo dele começa a afundar na grama. A terra simplesmente o engole.

– O quê? Não! Marck! Marck!

Logo, a terra se cobre de grama, e uma pequena plantinha nasce ali. Eu mal consigo controlar a respiração de tanta felicidade. Eu começo a rir sozinha, por longos segundos, e depois agradeço às árvores, com os braços abertos.

– Obrigada! Muito obrigada por tudo!

E continuo rindo sozinha.

~

– Amy! - Olho para trás. Eu estava tentando achar minha esfera, mas ouvi a voz dele.

– Liam. - Corro para seus braços. Ele me envolve calorosamente, e parece que nunca vai me soltar. Ele mantém a cabeça enterrada em meu ombro.

– Céus... Eu fiquei tão preocupado com você... – Ele me solta e segura meus ombros. Suas palavras são seguras, cheias de certeza. – Eu estou muito orgulhoso de você. Minha menina.

Sorrio. Em seguida, pergunto.

– Você tem notícias da Nave?

– Não. É melhor voltarmos pra lá.

– É. Eu... Tenho que fazer uma coisa no Jardim.

~

– Eu pensei várias vezes em como as coisas iriam terminar. Pensei no fim dos humanos, pensei no fim dos infinites... Mas eu não cogitei uma pacificação. Muito menos dessa maneira.

– Eu também não esperava por isso, Liam. Mas aconteceu, de um jeito que eu não imaginava.

Estamos na Galaga, voltando para a Nave Nyah. Alguns já subiram. Outros, ficaram tentando arrumar a bagunça toda e recolher as armas, para garantir que nenhum soldado nervosinho colocasse tudo por água abaixo. Assim que chegamos à Sala de Ejeção, encontramos Kaline de pé, olhando para o monitor de Anne. Todos parecem estranhamente fixados em seus monitores. Mesmo assim, Anne nos nota.

– Vocês precisam ver isso.

~

– Chega de guerra! Queremos paz! Venham comigo, fazer o novo Japão, a nova Terra! Feita de seres iguais, que respeitam uns aos outros! Venha comigo, Tóquio! Quem está comigo?

O que acontece depois, nós conhecemos. Mas quem estava na Nave Nyah, a não ser o pessoal do controle, não viu o que estava acontecendo. Mas Seiji mandou que o vídeo – sim, tudo o que acontece em Tóquio é gravado por ele – fosse reproduzido para toda a nave. As reações das pessoas de Tóquio ao meu discurso são mostradas no vídeo. O pessoal da sala está admirado.

– Parabéns! – Eles começam a me dizer aleatoriamente, alternando entre outras congratulações. Depois de receber todas elas, eu e Liam saímos pela nave, em direção ao meu quarto. No caminho, fomos parados várias vezes por pessoas que queriam me parabenizar. Certamente, ninguém esperava pelo que aconteceu.

Finalmente, chegamos ao nosso quarto, e vamos logo para o subconsciente. Enquanto atravessamos a floresta, Liam me pergunta:

– O que você tem para fazer aqui?

– Você já vai saber.

Atravessamos o Jardim e subimos para a casa. Eu corro na frente de Liam, pego o memorizador e coloco sobre a mesa, completamente empolgada.

– Você achou a chave?

– Eu recebi.

Faço meu tronco se abrir, e pego o pequeno cubo. Liam fica surpreso.

– O que é isso?

– Um cubo de luz solar. Para caso falte. Vem, me ajuda.

Liam e eu tiramos todos os quadros da parede em frente ao sofá. Colocamos o memorizador sobre ele, e sentamos um de cada lado. Juntos, encaixamos o cubo na fechadura. A caixa se abre, e começa a projetar as imagens na parede, como uma televisão. Ao contrário dos memorizadores que Liam me mostrou, esse produz uma música, ao som de piano, como uma caixa de música. As imagens que aparecem são de um vídeo, que mostra a minha cápsula fechada e guardada na estufa. Logo, Marck aparece. Ele abre a cápsula, faz os experimentos com cuidado, passa algum tempo simplesmente olhando para mim. Depois, ele faz testes. Por fim, deixa a foto, beija minha testa e fecha a cápsula, indo embora em seguida. No final de tudo, estou chorando. Explico a Liam toda a situação. Sobre o laboratório, a foto, a sala, a morte de Marck. Ele compreende e tenta me confortar. Depois, tiro a chave e guardo a caixa, com o cubo ao lado. De repente, sinto uma coisa estranha, como se sentisse que estamos caindo lentamente.

– O que foi? – Pergunta Liam.

– Acho que a Nave está descendo.

~

Quando chegamos ao quarto, vejo através da janela de vidro que estamos perdendo altitude.

– Tem alguma coisa errada – diz Liam.

– Não, não há nada errado – sorrio. Estou lendo o pensamento de Kaline. Todos na nave foram avisados. – Nós vamos pousar. Não há motivo para ficar no alto agora. Liam, as coisas finalmente vão ser do jeito que sempre sonhamos.

~

Um tremor percorre a nave quando ela toca o chão. As portas laterais se abrem, e uma multidão de infinites sai comemorando por Tóquio, depois de anos praticamente aprisionados na Nave Nyah. Eles abraçam cada humano que encontram, e estão admirados em rever Tóquio ao vivo. Por causa dos vídeos, eles sabiam que Tóquio estava diferente, mas é difícil não ficar surpreso. Os humanos nos recepcionam bem.

– Amanda Cole, aceita um passeio por Tóquio?

Pela primeira vez, passeamos sem nenhuma preocupação, medo ou pressa estamos livres para admirar a cidade e nos divertir.

O que aconteceu depois? Bom, a adaptação demorou um pouco. Seiji devolveu tecnologia aos humanos, e juntos, humanos e infinites restauraram a cidade, fazendo novas casas para todos. A Nave Nyah passou a funcionar como uma central. Humanos podiam ir até lá e receber o soro fotossintético. As esferas Galaga foram readaptadas para voltar ao modelo original. Afinal, armadura de água e armas embutidas não eram mais necessárias. Claro que guardaram algumas para emergência. Mas as esferas viraram simples meios de transporte pessoais, como carros. Começou a haver maior preocupação com a natureza por parte da população. Isso se tornou prioridade. Passaram a usar os recursos naturais apenas para sobrevivência, e da melhor forma possível. Tóquio voltou a ficar linda. E eu?

Bem, demorou algum tempo para que Liam tomasse vergonha na cara e me pedisse em casamento. Foi uma linda cerimônia na floresta, celebrada por Seiji e Kori Hime. Tudo ao estilo do Jardim Secreto. Infinites, humanos, árvores e animais estavam presentes. Entre os padrinhos, Christian e Kaline, Tyler e Anne. Pois é, dois casais de namorados. Acho que tudo dependeu de mim mesmo. Foi só eu causar uma pacificação para os meninos tomarem coragem, veja só!

É, assim as coisas se desenrolaram. Ao menos no pequeno mundinho de Tóquio, as relações eram perfeitas. A natureza estava em harmonia. A vida era tudo o que se poderia esperar. A história do que aconteceu foi passada pelos humanos através das gerações, para que ninguém se esquecesse do que foi aprendido com toda a bagunça que foi causada. Tudo por causa de um soro! A história se tornou o segundo aspecto mais importante a ser mantido na sociedade japonesa, logo atrás da natureza, que vem acompanhada de respeito e igualdade. Assim como eu tinha previsto, esse tempo, que foi um tempo perfeito para Tóquio, se tornou, assim como razão disso tudo, algo infinito.


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Notas finais do capítulo

A você que leu até o final, MUITO OBRIGADA!
O que achou desse final? Comenta aí! Pelo menos no final, né, gente...
Agora que acabou, hora de concentrar na interativa que vem por aí.



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