Infinite escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 14
Cativa


Notas iniciais do capítulo

Vocês estão sumidinhos hein... Cadê vocês? Espero que terminem de ler, porque as coisas estão REALMENTE ficando interessantes.



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Liam nos conduz para as ruas. Andamos devagar por elas, e não demora muito para surgirem tiros. Atiramos na origem de cada tiro que recebemos, e os soldados caem aos montes. Eu atiro neles mais por medo que eles me matem do que pelos valiosos ideias infinites e todas aquelas coisas que Seiji falou. Por algum motivo, tudo está fácil demais. Acho que os humanos realmente não contavam com nossas novidades. Quando os humanos começam a notar que as coisas estão diferentes, fazem formações do lado de fora das lojas, mas não duram muito. Os humanos caem como gotas de chuva. Rapidamente, eles começam a brotar de todos os lugares. As portas se abrem e fazem surgir vinte, trinta humanos de cada vez, mas eles morrem tanto quanto surgem.

– Incrível! – Diz Liam. – A Guerra está praticamente ganha.

– Você está se esquecendo de uma coisa. A causa disso tudo. São os líderes. São eles quem devemos matar!

– O quê?

– Se matarmos os líderes, os humanos nos ouvirão.

– Não acho. Agora que estamos mantando a todos, os humanos estão aterrorizados. Eles nos veem exatamente como os líderes dizem que somos. A chance de pacificação foi pro espaço, Amy.

– Não. Não podemos desistir assim! Precisamos dos humanos, Liam!

– Não! Não precisamos de seres crueis e ignorantes! Temos tudo o que precisamos.

– Quero saber exatamente que parte de mim você não está escutando. A cientista que sabe todas as necessidades da natureza ou a infinite telepata que, assim como as plantas, sente a natureza ameaçada a uma parede de distância?

– Amy, agora não. Mesmo que precisemos dos humanos, já os perdemos. Mas você está certa. Precisamos matar os líderes. Como os covardes que são, devem estar escondidos. Consegue encontra-los?

Meu coração parece parar.

– Eles estão no laboratório.

– O que destruímos?

– Não... O meu laboratório, Liam.

– Divisão 7, todos em direção ao laboratório de Christina Mendez. Os líderes estão lá.

As seis esferas rumam em direção ao laboratório destruído. Vagamos pelos escombros, mas estão exatamente como estavam quando eu os deixei.

– Onde, Amy?

– No subterrâneo. A entrada é ali.

– Não dá pra entrar com as esferas – diz Kaline. – Devemos sair?

– Não. Temos ordens bem definidas quanto a isso.

– E o que vamos fazer? – Pergunta Ty.

Escuto alguns tiros ricocheteando na minha esfera. Me viro e encontro um humanos bem frágil, ferido e...

– Vulnerável. Muito vulnerável. – Mando o rapaz largar a arma, e ele obedece. – Crianças, eu tenho um plano.

Com um pouco de esforço, Louis – descobri que o rapaz se chamava assim – consegue levantar o pedaço de madeira que cobre a entrada do esconderijo dos líderes. Assim que consegue, ele desce, desesperado. O lugar é pequeno, escuro, e não cheira nada bem. Logo, encontra os líderes, que estão sentados em canos e no chão imundo. Assim que Louis entra, eles se levantam e pegam armas, apontando para o pobre coitado que levanta as mãos em sinal de rendição.

– Por favor, me ajudem! Meu irmão ficou preso nos escombros, está muito ferido!

O garoto parece desesperado. Mas os líderes possuem corações duros como diamante.

– Pode considerar seu irmão morto, rapazinho. – Diz o que parece ser o grande líder do momento. Passo um pouco de compaixão para eles, na esperança de fazer eles se importarem ao menos um pouco.

– Stan – diz a única garota. – Acho que devíamos ajudar. Não estamos fazendo nada aqui.

– Estamos nos protegendo, Nissa! – Argumenta Stan.

– Eu não quero ser esse tipo de líder. Que se acovarda e se esconde enquanto os outros morrem. Eu vou ajudar, é o mínimo que posso fazer. – Ela anda até Louis. Começo a pensar que Nissa tem salvação, mas penetro em seus pensamentos e descubro que ela está apenas atuando. Quer fazer o papel da boa líder para o pobre Louis. Ela não se importa com ele.

– Nissa, não ouse dar mais um passo!

– Stan – O garoto mais jovem que estava bem no canto finalmente se pronuncia, e começa a se levantar. – Acho que Nissa tem razão.

– Vai mesmo concordar com isso, Wesley? Os vegetais imundos estão lá fora, você sabe que é perigoso.

– Os vegetais imundos só estão lá fora porque você declarou guerra.

– O que queria que eu fizesse? Queria que eu fingisse que estamos aceitando ver nossos humanos morrerem?

– Não. Nem de longe. Mas um deles está prestes a morrer agora. – Wesley se aproxima de Stan, e começa a cochichar de modo que Louis não ouve. Mas eu ouço. – Stan, eu sei que você não se importa, eu também não me importo. Adoraria ficar aqui dentro escondido, mas se fizermos isso, seremos considerados heróis. Os humanos vão nos amar, acreditarão em tudo o que dissermos, farão tudo por nós. Imagine o que isso vai representar!

Wesley se afasta e Stan fica pensando no que Wesley falou.

– Vamos logo com isso – diz ele, por fim.

Os quatro começam a subir. Louis conduz Stan, Nissa e Wesley pelas ruas de Tóquio. De repente, os quatro são atingidos por uma saraivada de tiros, que vêm de vários pontos diferentes. Não demora para que caiam mortos no chão. Eu, Liam e os outros conduzimos nossas esferas Galaga para fora dos estabelecimentos onde estivemos escondidos. Liam manda uma mensagem para a Sala de Controle.

– Os líderes dos humanos estão mortos.

Sendo como sou, talvez devesse ficar com a consciência pesada por ter sido responsável pela morte dos líderes. Mas eu entrei na mente deles. Eu senti a raiva, a crueldade, a ambição, e toda a gama de sentimentos horríveis que compunha aqueles seres. A memória da morte dos meus pais e de tantos outros também ajudou. Aqueles três são pessoas horríveis, descendentes de pessoas piores ainda.

Após a morte dos líderes, decidimos voltar ao que estávamos fazendo. Continuamos encontrando humanos e mantando, mas dando preferência aos soldados. Nos separamos, mas continuamos em comunicação. Atiro nos soldados que tentam me atingir com balas e fogo, mesmo que eles estejam vendo que claramente não há chances de me vencer enquanto eu estiver dentro da Galaga. De repente, percebo algo que parece importante. Eu outra rua, Liam está a caminho de uma mãe com uma criança e um bebê. Elas estão no meio da rua, e apavoradas. Liam já está se aproximando.

“Liam, pare”!

Ele hesita, e parece confuso.

– O quê?

“Elas são inocentes. Nunca tiveram a intenção de nos fazer mal. Apenas têm medo”.

– Muitos de nós eram inocentes e pagaram mesmo assim.

“Vingança contra inocentes não vai nos levar a nada. Mas a misericórdia vai. Os humanos nos verão como piedosos e bons, Liam. É isso que vai adiantar”.

Liam continua hesitando. Eu decido ir até ele para impedir caso ele não concorde. Mas nem preciso. Liam aperta um botão que faz sua voz ser projetada para fora.

– Vocês não fazem parte dessa guerra. Não queremos lhes fazer mal. Escondam-se até que tudo se resolva.

– Obrigada. – A voz da mulher tremula de tanto desespero. – Muito obrigada.

A mulher vai com suas crianças para dentro de um estabelecimento qualquer. Liam vira sua Galaga para mim.

– Você é um heroi, Liam Henz.

A batalha continua em Tóquio. Humanos tentam atirar em nós, mas todo seu esforço é em vão. Às vezes, me pego com receio de mata-los, mas seus pensamentos são sujos. Eles não têm medo de nós, simplesmente nos acham nojentos demais para compartilharmos o mesmo espaço. Por isso, continuo seguindo as ordens. Não por que são ordens, mas porque elas fazem sentido pra mim. A luta segue por horas, os soldados humanos continuam caindo. A frequência dos aparecimentos diminui, mas sei que há muitos humanos por aí.

Mais uma vez, algo começa a chamar minha atenção. Um pequeno garotinho que parece desnorteado em uma esquina. Não sabe o que fazer. Mas, apenas algumas ruas depois, um combatente da Divisão 3, que assim como quase todos, não faz distinção entre soldados e civis, está chegando à principal. Ele pretende virar à direita, mas se fizer isso, com certeza o avistará e tentará mata-lo. Eu preciso fazer alguma coisa.

“Sai daí, rápido!”, sopro na mente do garoto, mas ele está paralisado de medo.

“Esquerda”, sugiro ao combatente. Não sei se ele ouvirá.

Entro rapidamente em uma loja com o vidro quebrado. Segui as regras até onde as julguei prudentes, mas agora eu preciso desrespeita-las. Abro a Galaga, desfazendo a camada de água. A água vem de uma espécie de projetor. São dois, em cima e em baixo, e outra camada será construída assim que eu voltar. Visto armadura completa e corro até o menino. O pego no colo e o levo para dentro de uma loja mais segura. Em seguida corro para a nave e...

Pow. Um tiro nas minhas costas. Que, sinceramente, nem faz cosquinha. Mas é o alerta de um soldado humano vindo até mim. Ainda estou longe da esfera. E desarmada, que ótimo! O soldado chega perto o suficiente e muda a arma para o modo fogo. Eu sei que telepatia pode não funcionar tão bem, então ergo as mãos para frente e apelo para o modo tradicional.

– Não atire! – Grito. Eu sei como me defenderei. Só tenho que torcer para que a notícia dos líderes mortos não tenha se espalhado. – Eu sou Amanda Cole. A primeira infinite. A cientista que projetou o soro fotossintético que transformou centenas de humanos em infinites. A garota que originou tudo isso.

– Está tentando me confundir, vegetal insolente!

– Pense um pouco – dizendo isso, já começo a induzir o rapaz através da telepatia. – Sou importante demais para os líderes. Eles certamente não gostarão de saber que eu fui morta por uma arma de fogo. Eles querem que minha execução seja muito mais gloriosa.

– Por que você me ajudaria?

– Ora, meu caro soldado, você sabe muito bem que os infinites nunca tiveram a intenção de matar vocês, ou de lhes fazer mal. Mas, quando se declara guerra, não há muito o que fazer.

Começo a me arrepender por tem mandando o combatente para o outro lado. Estou precisando dele. Estou precisando de Liam. Enquanto o soldado começa a considerar a proposta, penso na melhor solução. Se eu correr, recebo um tiro de fogo. Começo a chamar por Liam, mas o soldado tem uma ideia genial. Ele simplesmente muda para o modo sonífero e atira.

Imediatamente, sinto um incrível cansaço. Meu corpo começa a amolecer. Minhas pálpebras começam a se fechar. Sem saber quando vão se abrir. Começo a cair. Desabo no chão, lembrando das palavras de Christina e meus pais, antes de fechar a cápsula, palavras que se transformaram nos sussurros do meu eterno pesadelo.

– Você vai acordar logo, querida.

– É só um instante.

– Durma, durma.

– Silêncio, silêncio.

– Até amanhã!

– Nos vemos logo, anjo querido.

– Você é mais, mais, mais do que pensa ser!

– A garota infinita.

– Ela dorme, dorme para sempre.

– Lute, lute.

– Não pode acordar!

– Está presa! No infinito!

– Socorro, socorro!

– Grite, grite!

– Não pode, só dorme!

– Sono, o poderoso sono.

– Sono profundo, profundo sono.

– Presa, em você mesma. Não pode se soltar.

– Nunca vai se libertar!

– Sonho e pesadelo. Quando vai acabar?

– Nunca, nunca!

– Por que, Senhor? Por quê?

– Ora, afinal de contas... Você é infinita.

~

Acordo sobressaltada. Onde estou? E há quanto tempo? É difícil dizer, porque não enxergo nada. Consigo sentir que uma batalha se segue em algum lugar do lado de fora. A mesma batalha, não muito depois de eu ter desmaiado. Suspiro de alívio, e começo a tentar identificar o lugar onde estou. Apalpo cegamente o chão, que é completamente irregular e estranhamente macio. Mas, afinal, o que é essa coisa horrivelmente familiar sobre meus dedos?

Quando me dou conta, começo a arquejar. Sinto que todo o ar sumiu, e uma dor começa a tomar conta do meu coração, tão horrenda é a minha conclusão. Começo a senti-los, sobre mim, ao meu redor, tão numerosos que se tornam o próprio chão. A natureza está sendo ameaçada, e isso é algo completamente doloroso. Ainda mais quando a ameaça recai sobre os meus semelhantes. Os que ajudei a criar. Minhas lágrimas de seiva começam a se desprender dos meus olhos, como os gritos que se desprendem da minha boca com meu desespero.

A sala onde estou é quadrada, escura, completamente feita de concreto. Só preciso dessas informações para identificar o lugar que Liam me descreveu. O segundo método humano para assassinato de infinites: Falta de recursos. Sem sol, sem ar, sem terra, sem água. Assim que uma planta morre. Assim que os infinites morrem. E é assim que eu vou morrer. Esse será o meu fim. Jogada em meio aos vários que já se forma do mesmo jeito.

De repente, a escuridão não é assim tão escura. Uma tênue luz começa a se formar no canto da sala, vinda de alguma fonte inimaginável. Eu mal consigo compreender. Mas tenho a imensa vontade de encontrar essa luz, de segui-la e não deixa-la morrer. Porque eu tenho a certeza de que essa luz vem do sol. Me sinto completamente hipnotizada. Eu me ergo e ando, tentando não pisar nos outros, o que é impossível. Mas ando até a luz indescritível, tentando de todos os modos alcança-la. Enquanto me aproximo, percebo que a luz vem de um pequeno cubo, menor do que meu cubo mágico. Deve ter uns três centímetros de lado. O cubo brilhante está nas mãos de um infinite. Eu sei, eu sinto que ele, apesar de estar alaranjado em vez de verde, como as folhas quando começam a morrer, é o único na sala além de mim que está vivo. Mas, o que é ainda mais admirável do que ter alguém que ainda esteja vivo nessa sala, é o fato de que eu conheço esse homem. Seu rosto me é familiar, e sua expressão também. Um sorriso leve, como se estivesse contentado com a morte. Como se esperasse alegremente pelo apocalipse. A mesma expressão estampada em uma foto sobre uma árvore dentro da parede de uma nave que está a muitos milhares de metros de atitude. Minha respiração é ofegante.

– Marck Soltier.

O jovem garoto em seu leito de morte abre seu sorriso de orelha a orelha.

– Olá, minha garota infinita.


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Notas finais do capítulo

Agora que terminou de ler, me dá um sinal de vida, vai? Por favorzinho. :D



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