Infinite escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 12
Guerra


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, boa tarde, boa noite e boa madruga pra você que está lendo! Eu peguei gosto nessa tal de nota inicial, hein? Enfim, espero que todos estejam bem. Agora, chega de ler essa nota sem graça. Vamos ler algo mais interessante.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/628839/chapter/12

Liam começou a mudar de memorizador. Tirou a caneta e a caixa sumiu. Ele devolveu a caneta ao recipiente redondo abaixo do vão, e digitou no minicomputador. Uma nova caixa foi selecionada e apareceu ali. Liam pegou no recipiente um novo objeto: um pedaço de corda chamuscado. Isso definitivamente não parece ser uma memória boa, a não ser que estejam tentando testar a qualidade de uma corda bem comum, o que eu duvido que seja o caso. Liam colocou a corda na caixa com o encaixe perfeito. A primeira fotografia era de uma pessoa conhecida: eu.

– Toda a nossa raça teve início com essa garota. Uma cientista chamada Amanda Cole. – A imagem muda, mostrando uma das trocentas fotos que foram tiradas quando Christina Mendez divulgou o sucesso do experimento, indo comigo a um programa de televisão. -Ela foi a primeira a testar o soro fotossintético, e a primeira infinite de todos. Mas isso causou problemas demais. Principalmente quando todas as outras pessoas, ou cobaias, que testaram o soro depois de Amanda, vieram a óbito – Muda para um vídeo, de pessoas se revoltando. Eu ia dizer japoneses, mas naquela época Tóquio já tinha deixado de ser “só japoneses”. Pessoas brigando na rua. Por minha causa. Em seguida, mostra uma foto de Christina em um pronunciamento. – Christina Mendez, a cientista que começou tudo isso, decidiu que era melhor mudar as coisas. Ela se pronunciou e divulgou que uma cápsula – aparece a foto da cápsula vazia - foi preparada para manter Amanda escondida e segura até que as coisas melhorassem. Ela não divulgou onde a cápsula ficaria, mas todos suspeitavam que era em Tóquio, de qualquer jeito. Mas isso não mudou nada. As coisas só pioraram. O soro, que ainda não funcionava, foi melhorado e testado por várias vezes, sem sucesso. Passou tempo suficiente para que Christina morresse de morte natural e Amanda e até mesmo a questão toda do soro fossem esquecidos pelos civis. Mas, a fórmula chegou a ter sucesso. – Aparece a foto de Marck Soltier, e eu me encolho um pouco. Leio o pensamento de Liam, que embora concentrado, está se perguntando por que a foto de Marck Soltier estava em uma das árvores. Ele percebeu desde a primeira vez. – Marck Soltier foi o cientista que aperfeiçoou a fórmula. Ele estava tão confiante de seu sucesso que ele mesmo se fez de cobaia. E deu certo. – A foto muda, mostrando a versão infinites de Marck – O soro foi testado em todos no laboratório, sem exceção, para só então ser testado em civis. Todos os cientistas aprovaram o soro, e selecionaram um casal de japoneses para serem os primeiros civis a testar. – A imagem muda, mostrando o casal. – Seiji e Kori Hime foram ao laboratório. Isso não foi divulgado até que eles tivessem sucesso. Seiji trabalhava com tecnologia de ponta, e adorou conhecer o laboratório. Chegou a conversar com Marck sobre toda a história do soro. Enfim, Seiji e Kori Hime receberam o soro, e o aceitaram – a imagem mostra Seiji e Kori como são hoje, infinites. – Bem depois, quando isso foi divulgado, a notícia não foi bem aceita. Os humanos se revoltaram a tal ponto que invadiram o laboratório para matar os cientistas. – Um vídeo da câmera de segurança mostra o momento do ataque. – Tentaram com pistolas e facas, mas descobriram que os infinites tinham resistência. Então os capturaram e prenderam. Eram muitos homens, cinco vezes o número de cientistas do laboratório, então não foi tão difícil, até mesmo porque os infinites foram pegos tão de surpresa que nem estavam reagindo. Mas havia alguém além de cientistas naquele laboratório. Um casal de infinites, que foi na verdade, o segundo casal a se transformar. – A imagem mostra outro casal, e meu coração se aperta. – Rupert e July Cole estavam ali para saber de notícias de sua filha. Eles já tinham se transformado bem antes. Mas, foram confundidos com Seiji e Kori Hime, os únicos civis infinites que haviam sido noticiados. E também foram capturados. Por muito tempo, eles foram apenas mantidos em cativeiro. As brigas e discussões por causa da polêmica infinite cresceram em uma proporção tão avançada que a população de Tóquio ficou claramente segmentada. De um lado, os humanos que aprovavam a evolução e ficavam do lado dos infinites. Do outro, os humanos que tinham, e até hoje têm medo de ser extintos, e condenavam os infinites. Esse grupo começou a ameaçar o outro de tal forma que ficou perigoso. Foi nesse momento que Seiji e Kori Hime, os únicos infinites que restavam além da primeira, que estava escondida, decidiram salvar sua nova espécie. Um dos grandes projetos tecnológicos de Seiji era uma imensa nave. Era lá que ele tinha se escondido com sua esposa, mas ele passou a esconder cada vez mais. Eles pegavam os humanos que eram a favor dos infinites e os levavam para a Nave Nyah, como foi batizada. Seiji adaptou toda a nave, e ainda conseguiu reproduzir o soro em grande escala, suficiente para transformar todos os humanos que estavam sob sua proteção em infinites. E assim, surgiu a população infinite. Mas havia um problema. Ainda havia alguns infinites em cativeiro. Os humanos passaram muito tempo pensando no que fariam. Eles chegaram à conclusão de duas coisas nocivas e fatais aos humanos. A primeira, falta de recursos. Assim como as plantas, infinites dependem de terra adubada, ar e sol. Por isso, parte dos cativos foi simplesmente jogada em uma cela escura de cimento, completamente vedada. Não havia terra, nem ar, nem água, nem sol. Eles morriam lentamente, como as plantas. A segunda, era o fogo. Assim como as queimadas são capazes de destruir a natureza em potencial, fogo é a forma mais rápida e eficiente para matar infinites. Por isso, a outra parte foi amarrada em pontos públicos para morrer pelo fogo. – A imagem mostra um grupo de três humanos. Uma mulher e dois homens. – Sarah Stone, Kyle Benner e Dylan Vane. Esses foram os humanos que assumiram o controle de tudo. Os humanos passaram a segui-los. Eles ordenaram os ataques, coordenaram as brigas e decidiram as punições aos infinites. No dia da queimada, eles fizeram um discurso que ficou marcado na história.

Liam se cala. O vídeo começa a ser reproduzido. É possível ver vários humanos gritando e comemorando. No meio da multidão há um palco de pedra. Sarah, Kyle e Dylan estão lá, e quatro infinites estão amarrados em peças de madeira. Sarah, aparentemente, é a grande líder, porque é ela quem fala as palavras com todo tom de liderança, segurando uma tocha.

– Hoje, meus amigos, devemos deixar claro que não concordamos com os atos dessas aberrações! Eles estão tentando nos destruir! Querem fazer com que a raça humana desapareça e seja esquecida! Mas não vamos permitir que isso aconteça! Eles chamam isso de evolução. Mas nós nos recusamos a aceitar! Isso não é evolução! É extinção! Nunca permitiremos que isso aconteça! Esses vegetais imundos devem ser destruídos um por um! Porque a raça humana dominou por anos, e não vai se deixar ser dominada por monstros verdes que se acham superiores! Agora, meus amigos, é hora de mostrar quem somos!

Todos os humanos gritam em comemoração. Começo a apertar minha cadeira. Começo a reconhecer os infinites. Dois deles eram colegas de laboratório relativamente próximos. E dois deles... São meus pais.

– Liam...

– Assista.

Sarah se virou para trás, e colocou fogo no primeiro infinite. Ele gritou e agonizou, pediu por ajuda, disse que os infinites não são superiores, qualquer coisa em sua defesa, mas suas palavras foram ignoradas como se nunca tivessem sido ditas. Apenas seus gritos eram ouvidos e apreciados. Os humanos se deliciavam com isso. Sarah colocou fogo no segundo. Este já era mais realista. Sabia que os humanos não o ouviriam, então nem tentou. Apenas agonizou em sua dor. Os suportes de madeira ainda foram jogados de cima do palco. Dava pra ver que os humanos abriram espaço, e depois pisar nos corpos em chamas, tendo prazer em lhes transmitir a dor. A essa hora, eu já estou tão desesperada que minhas lágrimas brancas encharcam o rosto. Imagens horríveis e repugnantes. Não sei como consigo suportá-las. Só que não acabou. Mais atrás, estão os meus pais. E fazem a mesma coisa. Do mesmo jeito. Meus pais gritam, agonizam, imploram por misericórdia. Mas os humanos são surdos às suas palavras. Aos seus pedidos. Como eles podem ser tão crueis?

– Você entende agora? – Murmura Liam. – Os humanos começaram isso tudo. Poderiam ter aceitado a evolução. E mesmo que não quisessem ser infinites, poderiam simplesmente continuar sendo humanos e perpetuando com a raça. Mas eles queriam ficar sozinhos. Humanos sempre foram essencialmente egoístas. Não importava quantos animais estivessem matando, queriam seu casaco de pele. Não importava quantas árvores caíssem, queriam lucrar com a venda de madeira. E ainda se recusaram a evoluir. Se recusaram a conviver com uma nova espécie, que deriva deles. Poderiam viver muito mais. Poderiam não precisar procurar comida. Mas escolheram ficar sozinhos. O problema não está apenas nos líderes, Amy, pois todo líder precisa de seguidores. Você viu o que fizeram? Voluntariamente capturaram os infinites. Eles festejaram nossa queda. Nossa dor. Nossa morte. Se alegraram com nosso sofrimento. Nos julgavam maus sem conhecer nossas intenções. Até hoje dizem que somos crueis. Mas a verdade é o oposto. Os humanos é que são maus, crueis, egoístas. Querem o mundo pra eles. Esses quatro não foram os únicos a sofrer. Foram os primeiros, mas outros cientistas foram condenados a esse método. Os primeiros pacificadores foram condenados a esse método. Vários combatentes foram capturados e condenados a esse método. E eu nem estou mencionando o primeiro método, que não parece, mas é horrível. É como um humano morrer de fome, sede e falta de ar ao mesmo tempo. Os humanos mataram tantos infinites que nem temos a contagem, e de formas horríveis. E você está se culpando por ter matado um humano. Um único humano! Você viu o que fizeram seus pais? Você entende que qualquer coisa que façamos aos humanos para garantir o sucesso da missão é pouco?

Enxugo as lágrimas com as costas das mãos.

– Eu preciso de um tempo.

– Tá. Eu sei que eu te bombardeei com essas informações, e com essas imagens, mas é o único jeito de você entender. Eles querem ser nossos inimigos, e deixaram isso bem claro. Por que não atender?

– Não podemos nos igualar a eles. – Quem me influencia a dizer isso é uma parte sensata de mim, que não quer permitir que a raiva tome conta de minhas decisões. Mas a maior parte de mim quer matar todos os humanos existentes na terra.

– Devemos nos igualar. E quer saber por quê? Porque já tentamos ser diferentes, ser superiores, compreender suas razões, pacificar... E não funcionou. Só piorou as coisas. Eles ignoram nossas tentativas. Eles matam seus semelhantes para garantir que estamos afastados. E matam os nossos semelhantes de forma completamente cruel. Sei que nem todos os humanos de última geração nasceram com esse ódio no coração, mas são influenciados a isso. Desde pequenos, nos entendem como monstros. Têm raiva de nós. E isso não vai mudar! Tentamos protege-los, evitamos mata-los, mas às vezes temos que fazer isso. Temos que revidar. Sabemos que isso não melhora as coisas, mas o contrário também não. Vivemos em um mundo de guerra, Amy. Um mundo de dois lados. E simplesmente não podemos ter pena deles, porque eles não têm pena de nós. Eu sei que você chegou agora, e é difícil de entender. Mas as coisas mudaram. E temos que ser perseveran...

– Liam, para de falar. Eu já entendi. Humanos são maus. E nós temos que ser igualmente maus. Se não, morremos.

– Essa é a minha garota.

– Agora, precisamos descobrir como sobreviver às armas de fogo. Se não, não adianta. Você tem alguma ideia.

– Eu, não. Os meninos, talvez. Acho que precisamos convocar uma reunião da Divisão 7B.

~

– Combatentes, a situação está crítica. Antes de começarmos a falar, é melhor pararmos de nos tratar como se nem nos conhecêssemos. Evans e Butterfield, estou com vocês há alguns anos, e nem sei o nome de vocês.

– É Caleb. Caleb Butterfield.

– Meu nome é Finley Evans. Mas me chamam de Finn.

– E eu, que não faço parte da Tropa, mas fui convocada por questão de emergência, sou Anne Liberton, colega de dormitório da Amy.

– É, vocês podem me chamar de Amy. É bem mais fácil.

– E, espero que todos saibam que meu nome é Liam, e que podem me chamar assim.

– Bom, eu nem sou da 7, mas estou aqui, por sorte. Ou, como diz Liam, por uma sorte chamada Kaline. Eu a conhecia, assim como Liam e Anne. Meu nome é Tyler, mas podem me chamar de Ty.

– Que bom, todos apresentados. Agora, o assunto desta reunião. Precisamos sobreviver às armas de fogo. Nossas armaduras não vão servir. Alguém tem alguma ideia?

– Eu – disse Evans, quer dizer, Finn. – Bom, precisamos de uma armadura feita de algum material que acabe com o fogo.

– Tipo um extintor de incêndio? – Pergunta Ty.

– Claro – disse Liam. – Finn, está sugerindo uma armadura de água?

– Isso.

– É uma boa ideia, e seria muito eficaz... Se tivéssemos como fazer.

– Achei que tivéssemos tecnologia pra isso – opino.

– Temos tecnologia, só não temos tempo – explica Liam. – Com toda a liberdade de movimentos que temos, vai ser difícil adaptar uma armadura com água. Dá pra fazer, mas vai demorar muito.

– Então sei de algo mais rápido – digo.

– Compartilhe conosco, Amy. – Diz Liam.

– Pelo que estão dizendo, podemos fazer muito bem uma armadura de água em volta de algo que esteja parado, ou tenha movimentos completamente limitados.

– Sim – diz Anne. – Mas o que seria?

– Pensem. Algo que nos proteja completamente, esteja ao nosso entorno...

– A Nave? – Pergunta Caleb.

– Não – diz Liam, com um sorriso no rosto. Ele já entendeu. – Esferas. Amy, você é um gênio.

– Sou uma cientista, é diferente.

– Mas e quanto às armas? – Diz Ty. – Quero dizer... Estaremos protegidos, poderemos nos locomover... Mas e quanto à luta mesmo?

– Já ouviram falar de Galaga? – Pergunta Anne. – Um jogo tão antigo que, na nossa época de humanos, já era completamente antigo. Ou seja, hoje em dia jogar Galaga é como desenhar com carvão na parede de uma caverna. Por que estou falando de Galaga? Bom, não só porque fui viciada durante toda a minha humanidade, mas porque Galaga tem pequenas naves que atiram. Tá, eu poderia ter usado qualquer outra referência, como tanques de guerra, mas o fato é que podemos adaptar a esfera para possuir armas em seu exterior, armas controladas no painel da esfera.

– Tudo bem – disse Liam. – Então vamos sugerir a Seiji que comece, com urgência, a desenvolver esferas cobertas de água e com armas embutidas ao estilo Galaga?

– Não precisa falar a parte do Galaga, - disse Ty, - mas é isso.

– Então tá. Concordo, é nossa melhor decis... – De repente, um tremor estrondoso percorre toda a nave, passando por nós. Imagino que o vidro da sala só não se quebra por causa da alta tecnologia. - Mas o que foi isso? – Grita Liam, desesperado. Minha mente vaga, e encontro um imenso buraco incendiado na parte inferior da nave. Ele foi feito a partir de uma espécie de canhão, que vem da terra. Disparado por... Adivinha?

– Fomos atacados por humanos. É uma declaração de guerra.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pois é, senhores. Guerra chegando. Você que ainda não me disse se quer paz ou guerra entre infinites e humanos, segunda chance. Eu sei, vocês acabaram de ler "declaração de guerra". Mas, no final, você quer que os humanos finalmente tome jeito ou que sejam dizimados? Lembrando que você provavelmente seria um infinite nessa história toda.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Infinite" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.