Infinite escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 11
Assassina


Notas iniciais do capítulo

E aí? E aí? Animados? Eu sim. Gostam de interativas? Capa pronta, trailer saindo do forno... E o contexto está bem legal. Assim que acabar Infinite, vem a minha primeira interativa. Se já está com intenção de participar (na verdade, se estiver um pouquinho curioso), pode vir falar comigo por MP. Mas antes, leia e comente esse cap. Por favorzinho. Quero saber que você existe!



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“Liam, um humano está indo até aí”.

Assim que me ouve, Liam pega a arma e aponta para o alçapão. O lugar é pequeno, e não tem onde se esconder. A chance de Liam é limitada. Eu preciso fazer alguma coisa.

Deixo o celular e entro na casa de chás. Eu só tenho uma chance. Penetrando em sua mente, descubro que ele é geneticamente modificado. Um humano especial, que nunca dorme. O sonífero não vai adiantar. Mudo para o modo bala. Ele já está na escada, descendo. Aponto para ele, e atiro. Liam se assusta duas vezes. Com o tiro e com o estrondo do humano caindo no chão. Liam corre para a claraboia e olha para cima.

– Como você é teimosa! – Diz ele, sorrindo. Mas eu não estou sorrindo. Estou desesperada, tão desesperada que deixo a arma cair no chão. Não acredito no que acabei de fazer. Felizmente, Liam percebe meu estado e se apressa em terminar. Depois, ele sobe, e me encontrada sentada encostada na parede e com as mãos na cabeça. Ele se abaixa perto de mim.

– Amy, Amy, o que houve?

– Eu matei uma pessoa – sussurro. – Eu sei... Eu sei que isso não é nada para você. Mas pra mim é. Na minha cabeça, não faz muito tempo que eu deixei de ser humana.

Sei que Liam quer me explicar seus motivos, quer me convencer que os humanos são maus. Mas ele reconhece que não é o momento.

– Está tudo bem. – Diz ele, acariciando meu cabelo. Em seguida, percebe minhas lágrimas. Lágrimas? Um choro branco, que tenho certeza ser feito de seiva. Quando Liam as nota, fica completamente comovido e me abraça forte. – Ai, meu Deus, está tudo bem, meu amor.

Estou sendo confortada por seu calor e acabei de fazer uma coisa horrível. Mas eu realmente preciso sorrir. O que foi que ele disse?

– Você me chamou de quê?

Liam ri e me solta, me olhando nos olhos.

– De meu amor. Minha querida, meu anjo, minha princesa.

– E o que mais?

– Minha namorada. Pode ser?

Eu rio, afastando as lágrimas com as costas das mãos.

– Acho que gostei disso.

– Minha incrível namorada telepata, infinite e maravilhosa!

– Liam.

– O que foi?

– Eu te amo. E... Precisamos sair daqui. Estão chegando mais humanos. E o reforço também.

– Então vamos.

Liam me ajuda a levantar. Vamos em direção aos infinites no chão, cobertos da espuma dos extintores. Faltam alguns. Liam me ajuda a levar um dos amarelos, o mesmo que eu confundi na simulação. O levamos para o jardim. Infelizmente, a injeção de ânimo que Liam me deu dura pouco diante do caos que há ao nosso redor. O momento do resgate corre ao meu redor como se eu não estivesse ali. Lembro de levarem os feridos e me levarem. Lembro que eram esferas interligadas. Liam fica perto de mim tanto quanto pode, sendo comandante. A nossa divisão é levada por último, por não ter feridos, mas Liam vai primeiro por ser comandante. Todos estão chocados. Quando eu chego à sala de ejeção, Liam está me esperando com notícias quentes, que ele me fala enquanto andamos.

– Felizmente, voltamos inteiros. Ou quase. Bom, não temos nenhuma baixa e a contagem não registrou faltantes. Eu me certifiquei disso. Só que, fora a 7B, todos estão feridos, a maioria gravemente.

– É culpa minha. Eu deveria ter avisado...

– Amy, pare de se culpar. Se não fosse você, seria bem pior. Nós também estaríamos feridos, e provavelmente seríamos capturados. O fato é que, agora que sabemos do avanço humano na produção de armas, temos que desenvolver uma maneira de sobreviver a isso. E não vai ser fácil.

– Eu sei. Como está Kaline?

– Dormindo, como os outros. Os primeiros socorros dos infinites incluem sonífero, para que as vítimas parem de sentir dor. Agora estão cuidando deles. Devo dizer, Amanda Cole, que a medicina evoluiu o suficiente para que tudo dê certo. Vítimas de queimaduras são tratadas e completamente curadas em 12 horas.

– É um excelente prazo. Pode haver sequelas?

– Não nesse caso. Foi grave, mas o fogo foi apagado logo. Imagino que o emocional esteja afetado mais do que o físico.

– Eu sempre tive medo de fogo. Mesmo sendo cientista. Sei que é uma idiotice, mas...

– O fogo machuca, Amy. Pessoas que não temem fogo ou eletricidade são malucas. Medo é uma questão de segurança. Agora... – Liam para e fica de frente para mim. – É melhor você descansar. Eu queria ficar com você, queria mesmo, mas... Eu tenho muitos problemas para resolver. Sou o único comandante inteiro.

– Sei disso. Eu vou ficar bem, meu amor.

– Me chamou de quê?

– Meu amor, meu anjo, meu príncipe. Eu te amo, Comandante Henz.

– Eu também te amo, combatente Cole.

Ali mesmo, no corredor, nos beijamos. Depois, ele dá meia volta em direção à sala de ejeção, e sigo sozinha para meu quarto.

– Graças aos Céus. Cadê o Liam? Por que ninguém se preocupa em avisar a amiga antes de ir para uma missão extremamente perigosa.

– Liam está bem. A missão foi concluída. Ao menos eu acho que já explodiram aquele laboratório idiota.

– E você? Está inteira?

– Que eu saiba.

– E o Ty? Eu soube que ele ia...

– Conhece o Ty?

– É, eu tenho um pezinho na Tropa, sabe?

– Entendi. Ty está bem, isso porque deu sorte de ficar na nossa equipe, mesmo sendo da 8.

– Então ele não estava agindo com a 8?

– Não.

– Mas... Se ele estivesse?

– Estaria na enfermaria.

– O que aconteceu?

– Coisas ruins. Muito ruins. Fora eu, Liam, Ty e mais outros dois combatentes, todos foram queimados.

Anne levou as mãos à boca.

– Oh, Céus. Como foi isso, Amy?

Conto tudo para Anne. Ela parece chocada, e com razão.

– Matou um humano?

– Obrigada por lembrar.

– Você deve estar péssima.

– É, estou. Foi horrível. Eu... Não queria ter feito isso.

– Mas é isso que os combatentes fazem.

– Não, os combatentes deviam defender os infinites.

– Ah, minha amiga, sinto muito, mas é meio óbvio que está incluso.

– Eu não achei que chegaria a esse ponto, Anne!

– Tudo bem, esquece isso, vai.

– Tudo o que eu preciso agora é esquecer. Eu... Vou para a parede. Preciso ficar sozinha.

– Está certo. Boa sorte, amiga. Ah, a propósito... Alguma coisa mudou.

Subo na minha cama e olho para a parede. Quando Anne fala, noto. Antes, a cama e a floresta ficavam no mesmo nível. Agora, preciso descer um degrau. O papel de parede abaixou.

– Peso na consciência – digo, e entro.

Caminho por toda a floresta, devagar, tentando abraçar a mim mesma. Nesse momento, ela não parece muito acolhedora. As árvores parecem me olhar e me julgar. Afinal, mesmo através de uma parede, as plantas sentem a natureza sendo ameaçada. E os humanos, assim como as plantas, os animais, os infinites... Humanos fazem parte da natureza. E eu a destruí. Eu sou uma assassina. Agora, toda a floresta me cerca, e parece me culpar. Aquele humano não sabia o que estava fazendo. E eu sei disso. A tormenta me cerca, e as flores parecem gritar de medo. Não aguento mais. Corro pela floresta, esbarrando em galhos que me machucam. Finalmente alcanço o portão, e o abro de uma vez só. Quando piso no jardim, desacelero. Ele continua lindo, mas está calmo demais, como se tivesse acabado de amanhecer e todos os animais ainda estivessem dormindo. Fecho os portões, para que a tormenta da floresta não entre. Meus pés fazem barulho nas pedras. Caminho pelo silencioso jardim, que não me dá medo, apenas tristeza. Não duvido que todas aquelas criaturas tenham se escondido, com medo de mim.

Subo devagar as escadas que levam à casa na árvore. Tudo está como deixamos. Eu me jogo no sofá e me encolho tanto quanto posso. Quero me esconder, quero me esquecer. Mas eu não posso. Parece que quanto mais eu tento não pensar em nada, mais a memória vem à minha cabeça. O tiro parece ter sido disparado dez, cem vezes, e não uma. Começo a entender que preciso me distrair. Preciso fazer alguma coisa, algo que demande minha concentração, de tal modo que eu não possa pensar em meus atos. Ando pela casa, saio, passeio pela sacada e volto para dentro. Observo a estante, e encontro um pequeno e peculiar objeto. Parecido com um cubo mágico, feito de madeira. Mas não era o tradicional cubo mágico.

Sento de novo no sofá e fico cerca de uma hora e meia brincando com o objeto, até que sinto uma presença muito forte em minha parede, tentando entrar. Liam está batendo na parede. Faço a parede se diluir o suficiente para ele entrar. Pouco depois, ele surge na porta e corre para perto de mim.

– Ei, querida, como você está, hein? – Seu tom sereno me deixa feliz.

– Melhor. Um pouco.

– Isso é um cubo mágico? – Liam olha para o objeto cúbico de madeira em minhas mãos.

– Não o que você conhece. – Seguro as pontas do cubo e o desmonto. Desmontado, ele forma uma linha em zigue-zague. O cubo é feito de pequenas peças de madeira, e dentro tem um elástico. O objetivo, claro, é fazer essa linha virar um cubo. – Quer tentar?

– Acho que é muito avançado pra mim. Amy... Agora que está melhor... Quero conversar sobre o que aconteceu.

De repente, fico muito, muito interessada no cubo.

– Você acha que isso vai mudar as coisas. Só vai me lembrar do crime que eu cometi.

– Eu sei como fazer sua culpa desaparecer.

Olho para ele.

– Duvido muito que consiga.

– Senhorita Cole, eu tenho tentado evitar apelar para esse método, mas chegou a hora de você ver. De você saber.

– Saber o quê?

Liam estende a mão para mim.

– Venha comigo.

Hesito, um pouco, mas decido dar a ele uma chance. E não me arrisco a ler seu pensamento. Liam me leva de volta para a Nave Nyah, e andamos por seus vários corredores, enquanto conversamos.

– Lembra do memorizador que te mostrei na Casa da Árvore?

– Lembro.

– Bom, temos uma extensa coleção aqui. Memórias importantes que conseguimos guardar, são usadas para explicar nossas origens aos que não entendem.

– Como eu. Está me dizendo que eu não entendo as origens infinites? Hello, quem ficou por anos trancada em um laboratório desenvolvendo o soro fotossintético que nos originou?

– E quem ficou ainda mais anos dormindo em uma cápsula? Você conhece a origem, mas não conhece a história depois da origem.

– Conheço. Você me contou quando nos conhecemos, esqueceu?

– Aquilo foi muito pouco. Um resumo. Além disso... – Liam para em frente a uma porta: R023. R de Restrito. Ele a abre. – Vai ser muito mais real se você assistir com seus próprios olhos. – Liam entra na sala, e eu vou atrás. A sala tem algumas cadeiras de terra. Três paredes são repletas de memorizadores. A parede direita é branca, e no centro da esquerda tem apenas um espaço vazio. – As memórias são guardadas em forma de documentário sem som, porque a narração é contada ao vivo por alguém que a conheça.

– Você.

– É. Sente-se. – Obedeço Liam, enquanto ele mexe no pequeno computador que há no espaço vazio. Uma das caixas na parede onde fica a porta desliza para dentro, some, e reaparece no espaço vazio. Liam encaixa um pequeno objeto para abrir o memorizador. Uma caneta esferográfica. A caixa se abre, e projeta imagens na parede contrária. São fotografias de um menino, um jovem humano.

– Quem é esse?

– Maxwell Silverton. Lembra que eu disse que você não seria a primeira a tentar pacificar humanos e infinites?

– Sim. Esse garoto foi o primeiro, não foi?

– Primeiro e único. Desde que nasceu, ele discordava do que diziam sobre infinites. Divulgavam, e ainda divulgam, que nós somos maus, crueis e nascemos para extinguir a raça humana. Max nunca acreditou. – As imagens mudam, mostrando fotografias diferentes. Max tinha o cabelo castanho claro e olhos cor de mel. Em uma das fotografias, ele estava debruçado sobre uma escrivaninha em um quarto escuro, iluminado apenas por uma pequena lamparina pendurada na parede. Ele escrevia em um bloco de folhas amareladas. – Mas ele era esperto o suficiente para manter sua desconfiança em segredo. Mesmo assim, ele planejou o dia em que contaria a todos os humanos, começando por sua vila, sua real opinião sobre nós. Max sabia que precisaria de ajuda, mas se contasse à pessoa errada, tudo estaria arruinado. No entanto, Max escolheu a pessoa certa: Jane Howley, sua melhor amiga. – Aparece uma fotografia de Jane. Ela é loira e usa coque lateral. Os olhos azuis combinam com seu rosto. – Max chamou Jane ao pequeno cubículo onde morava e lhe contou tudo, desde sua desconfiança até o plano. Jane concordou com ele, e aceitou ajuda-lo. No fim de tarde, Max e Jane começaram a confeccionar cartazes. – A digitalização de um dos cartazes aparece. É possível notar sua precariedade, feito à mão com tinta, lápis de cor e outros itens baratos. – Eles diziam frases curtas e simples, como “infinites são bons”. Às vezes, vinham acompanhados de talentosos desenhos de Jane. De madrugada, eles espalharam os cartazes pelas paredes da vila. Mas não pense que foi fácil. – Surge uma fotografia de uma rua japonesa atual, com humanos armados andando como se patrulhassem, bem parecidos com os que cercavam a Casa de Chás. – Os humanos não são tão bagunçados como parecem. Possuem líderes, que são os responsáveis pela impressão errada que eles têm de nós. Há também uma Guarda, que é como a polícia de antigamente. Além de outras coisas, eles patrulham as madrugadas. Mas Max e Jane tinham passado algum tempo observando até entenderem como eles agiam, e conseguiram colar os cartazes. – Outra imagem, mostra as paredes cheia dos cartazes de Max e Jane. – Pela manhã, os guardas arrancaram, mas demoraram o suficiente para que vários humanos vissem os cartazes. Alguns ficaram em dúvida, outros condenaram a frase, e aqueles que concordaram, ficaram quietos. Os líderes ordenaram que a patrulha fosse mais rigorosa. Jane ficou com medo, mas Max não desistiu. Eles repetiram o processo, e conseguiram não ser pegos. Mesmo assim, não chegaram à terceira noite. Um dos garotos da vila reconheceu os desenhos de Jane e a denunciou aos líderes. Jane foi levada, e Max foi salvá-la. Ele se entregou como culpado. Mas os líderes não tinham feito nada a Jane. Eles tinham outros planos. Os líderes mandaram a Guarda divulgar que Max e Jane seriam enviados em uma tentativa de paz. Mas isso não aconteceu. Max e Jane foram levados para bem longe e assassinados pelos próprios humanos. Depois, com uma montagem simples, fizeram parecer que os infinites tinha feito isso. – Aparece a horrível imagem dos jovens mortos. As manchas verdes em sua pele e o traço de suas feridas dá muito bem a entender quem são os culpados. – Os humanos se aterrorizaram de tal maneira que passaram a usar a história dos herois para se lembrar de nunca tentar algo parecido. Você consegue ver, Amy? Os humanos preferiram matar seus semelhantes do que tentar conviver conosco.

– Não é possível. Nem todos os humanos são crueis assim, Liam. Foram os líderes quem fizeram isso. E você mesmo disse que havia quem concordasse...

– Eles deixaram de concordar. Passaram a nos odiar ainda mais. Mas, se isso não é suficiente pra você... A história de Maxwell foi só um aperitivo. Só para você saber que essa tentativa de pacificação já foi tentada e fracassada. Mas prepare-se, Amanda Cole. A pior parte sobre os humanos ainda está por vir.


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Notas finais do capítulo

Não esquece daquele comentário se tiver gostado, daquela MP se quiser saber mais sobre a interativa ou se quiser dizer oi. Amo vocês!



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