Enquanto o táxi nos levava pra casa, eu ficava observando Calebe. Gostava de fazer isso porque se ele notasse que eu estava olhando pra ele, dava aquele sorriso meio bobo. Gostava quando ele sorria. Gostava muito mesmo.

Mas, quando percebeu que estava sendo observado, ele simplesmente tentou sorrir. Mas, a única coisa que eu pude ver, foram seus olhos preocupados, e não o sorriso torto pelo qual me apaixonei.

Quando chegamos em casa, ele se sentou no sofá e me chamou. Fui, sabendo o que me aguardava. Ele iria querer saber de, tipo, tudo. E eu teria que contar. Contar sobre o que eu sentia por ele, sobre os dias sem comer, sobre os vômitos... e sobre algo que eu não queria que ele soubesse, de jeito nenhum.

–Eaí? - disse, me olhando ansioso.

–Eaí? - perguntei, querendo ganhar tempo.

–Não foge do assunto, me conta Ally. Você sempre me conta tudo, por que agora vai ser diferente?

Reparei em seu olhar por um momento. Ele realmente queria uma resposta.

–Calebe, olha pra mm. - comecei. Ele me olhou. Era melhor começar pelo mais difícil não? - Você tem quatro sorrisos.

–O que? - ele me olhou perdido. - Não queira ganhar tempo, não vai adiantar.

–Não quero ganhar tempo. Essa é a maneira mais rápida de te contar tudo. - disse.

–Tudo bem, tudo bem. Eu tenho quatro sorrisos. Eaí?

–Você tem quatro sorrisos: um que você da quando se sente sozinho e pede, com o sorriso, por um companhia. Outro quando você quer dizer algum coisa, mas simplesmente não sabe como. Tem aquele seu sorriso bobo que você dá quando acontece alguma coisa que te deixa sem graça, e tem seu sorrio torto. Você usa ele simplesmente pra dizer "eu tô legal" ou "gostei disso".

Ele me olhava, incrédulo, mas com um brilho nos olhos. Um sorriso do tipo quatro. Será que ele tinha gostado disso?

Suspirei, e continuei.

–E eu... Calebe eu sou apaixonada por cada um deles. Eu sou apaixonada por você!

Primeiro ele me olhou, desconfiado. Deu um sorriso bobo, meio que dizendo "é brincadeira né?". Mas esse sorriso logo sumiu, e em seu rosto eu pude ver a preocupação que me assombrou por todo esse tempo.

–Ally... Acho que eu não entendi. Você... Quer dizer que...

–Quer dizer exatamente isso, Calebe. Você não é simplesmente meu melhor amigo, eu sou apaixonada por você!

Ele ficou calado, por uns breves momentos. Mas logo começou a falar.

–Ally, me escuta. Você é...

–Eu já sei o que vai dizer Calebe, e não estou a fim de ouvir. Vai me dizer que sou sua amiga e que sou incrível mas que não sente nada além disso. Não é?

Calebe se calou.

–Não é? - disse mais alto. Agora eu precisava que ele confirmasse, pra que eu deixasse de ser estúpida.

–Não. Não é assim que as coisas funcionam, Ally. Eu... Eu sempre senti a mesma coisa, só... - mas eu não acreditava.

–Só? - ele me olhou. Seus olhos procuravam esperanças nos meus, mas tudo que ele viu foi lágrimas. - Só que não né? - ele estava assustado. Seu rosto, sério. - Fala Calebe. - gritei.

–Não tenho nada pra falar, Ally. - gritou também. - Não quero perder você!

O quê? Sério? Eu sonhava com ele todas as noites, mas a cada dia que acordava sentia aquele medo de saber que se tentasse qualquer coisa, não teria chances, e poderia perder meu amigo. Ele nunca me perderia... Nem de um jeito, nem de outro.

–Me perder? Sério? - olhei, não acreditando no que ele dizia. - Você não sabe o que é medo de perder alguém!

Ele me olhou, com o rosto ainda sério. Quando disse que estava apaixonada e contei sobre seus quatro sorrisos, um brilho intenso tomou conta de seus olhos, mas agora, ele não estava mais lá.

Calebe ficou em silêncio por alguns minutos, e eu já estava cansada daquele clima que havia se formado.

–Quer saber, foi uma péssima ideia te contar isso. - disse, me levantando do sofá e secando minhas lágrimas, quando as dele começaram a cair. - Vou pro meu quarto.

Disse, e sai.

Ele ficou na sala, acho. Ou em algum momento foi pro seu quarto, assim como eu.

Passei o resto da tarde trancada no quarto, com os fones de ouvido. Dizem que algumas músicas entram pelos ouvidos e escorrem pelos olhos. Naquele dia, ouvindo a música "gaveta" de Fernando e Sorocaba, descobri que isso era verdade!