Dois mundos, Dois corações, Uma espécie escrita por Tomoyo-chan


Capítulo 4
Capítulo 4 - O mundo sem cor (Final)


Notas iniciais do capítulo

Oláaa, tudo bem com vcs? Certo, certo! Demorei pra caramba e eu sinto muito por isso! >< Faz quase um ano agora, né? Mas eu realmente queria que esse final fosse ao menos interessante e não estava conseguindo isso direito...
A faculdade também não ajudou, estava difícil conciliar tudo o que eu gosto de fazer mais os estudos e aulas, aí sempre que eu parava nada de novo vinha pra continuar a história tamanho meu cansaço :( ... Hoje fooooi! o/ Então, espero que gostem! Boa leitura~



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No capítulo anterior...

— NÃO SE APROXIME DE MIM! – gritou e seu desespero era tamanho, o terror estampado em seus olhos era tanto que, num ímpeto, Hinata lançou sobre Kankurou um de seus poderes, uma rajada de ar cortante, tão forte que era capaz de matar aquele pequeno ser.

Um grito dilacerante foi ouvido e o sangue jorrou. A límpida água do rio foi tingida. Tingida de vermelho. E aquela mistura de água e sangue também levava consigo lágrimas.

 

 Lágrimas de um demônio que acabara de vir com seus próprios olhos a natureza de um anjo. Lágrimas que simbolizavam a perda precoce do sorriso, da inocência, da... vida.

— GAARA! GAARA! TEM MUITO SANGUE! – dizia Kankurou apavorado entre as lágrimas – VOCÊ ESTÁ SANGRANDO MUITO! A GENTE TEM QUE SAIR DAQUI! ELA É UM MONSTRO, PODE ATACAR DE NOVO!

O ombro esquerdo de Gaara exibia um corte profundo. Quem havia recebido o golpe de Hinata era Gaara que, com rapidez, protegeu Kankurou com seu próprio corpo. O ferimento doía. Doía muito. Mas mais do que o ferimento, havia uma dor muito pior que assolava seu peito. E ele olhava Hinata fixamente, sem se mover nem um centímetro, procurando entender o motivo de todo aquele medo refletido nos olhos dela minutos antes do ataque.

— Por... que? – sussurrou Gaara – Por que quis ataca-lo? – terminou por fim e encontrando forças, gritou – ELE É SÓ UMA CRIANÇA INOCENTE!

Agora ela via, com clareza: não era possível que aquele pequeno ser pudesse ser tão mal como lhe contaram. “As crianças demônio são piores que os demônios jovens, não confie na inocência delas! Nunca! Elas vão tentar te abraçar, não deixe! Use a força sem hesitar! Mate-a antes que ela te mate!”, dizia o “Manual de Sobrevivência dos Anjos”. Hinata sempre questionava tudo, mas naquele momento, seu medo venceu sua curiosidade. E agora se sentia arrependida pelo que fizera.

— Desculpe... – sussurrou Hinata em resposta, lágrimas de terror brotavam por sua face e a palavra “monstro” ecoava em sua cabeça – por favor, me desculpe... Perdão! – se virou e correu para dentro da floresta, rumo ao seu reino, deixando Gaara e Kankurou para trás.

Estava tudo tão claro para ela no dia anterior. Ela estava tão decidida a tocar nas mãos de Gaara. Estava tão feliz por ter finalmente se decidido. Estava tão ciente de tudo, não mais temia nada e, então... Tudo dera errado. Absolutamente tudo. Aquela criança mostrava a ela que não estava preparada para nada. “ELA É UM MONSTRO” aquela pequena criatura gritara e o pior era que aquelas palavras não foram infundadas. Um monstro.

Por causa de tantas desavenças, por causa de tanta ideia de superioridade dos Anjos, um livro fazia tudo dar errado em uma relação entre anjo e demônio. Esse era o ponto. Um livro para ela, um livro para ele. Dois livros opostos, de sobrevivência e com palavras tão semelhantes. Tão contrárias quando comparadas, tão... impuras. Escritas para que a relação demônio e anjo nunca dê certo. Hinata achava que esse era o ponto do “Manual de Sobrevivência dos Anjos”, mas agora tinha certeza.

Tropeçou em uma raiz de árvore e caiu sobre as folhas secas no chão, virou-se para olhar o céu, permanecendo deitada, e chorou mais ainda. Primeiro um choro de desespero, de solidão e depois, um sentimento que queimava em seu peito. Aquilo era raiva? Não sabia dizer. Mas tirou o “Manual de Sobrevivência do Anjo” do bolso e começou a rasga-lo. Rasgou com todas as suas forças, até que as páginas se misturassem com as folhas do início do outono espalhadas pelo chão.

— Por que? – perguntou olhando para os céus – POR QUE VOCÊ ME FEZ CONHECÊ-LO SE ERA PARA TERMINAR ASSIM, DEUS? – gritou para o seu superior, deixando-se levar pelas lágrimas.

Virou-se de lado e assim permaneceu por bastante tempo, tentando colocar suas ideias em ordem. O sol se punha quando uma das páginas arrancadas lhe chamou atenção. “Demônios são seres impuros”. Como poderiam ser impuros, não ter sentimentos, se eles se protegem entre si?

— Como será que você está agora? Será que amanhã, você vai vir? Eu quero muito te ver... Eu quero muito me redimir – pensando nisso, adormeceu.

A noite no bosque, foi silenciosa, apenas a melodia do vento batendo nas folhas de árvores poderia ser ouvida. Os animais dormiam, o bosque todo parecia na mais plena ordem e calmaria. Mas se os ouvidos fossem aguçados, passos que destoavam da melodia do vento poderiam ser ouvidos, ou então, rajadas de ar em direções diferentes a corrente de ar. Poderia parecer, entretanto, não era uma noite normal. Não aquela.

E o dia seguinte veio. As pétalas das flores dos lírios do Reino dos Demônios estavam por todos os lugares. Como? Estando tão longe, como poderiam estar tão perto do Reino dos Anjos? Como poderiam estar no bosque? O vento soprava com muita veemência naquela manhã da direção sul para a direção norte, ou seja, do Reino dos Demônios para o Reino dos Anjos.

O natural era ouvir pássaros pela manhã, mas nenhum dos pássaros acordou naquele dia. Nenhuma gota de orvalho se formou naquele dia. Nenhum animal saiu para caçar. Nenhuma flor de outono desabrochou. O bosque estava totalmente diferente naquela manhã.

Estava perdendo sua vida, era nítido. No dia anterior, as folhas das árvores ainda estavam nos seus devidos galhos, muitas ainda nem haviam mudado de cor, estavam verdes. As árvores estavam fartas de folhas, a estação do outono estava apenas começando. Mas, por algum motivo, a mudança do dia para noite foi drástica. E quando Hinata acordou e olhou aquele novo cenário, sentiu que algo de ruim estava para acontecer.

Correu em direção ao rio. Correu o mais rápido que podia. Aquela paisagem repentina do bosque era estranha e o medo assustava Hinata. Assustava porque aquilo tinha que ter alguma relação. “Por que, ao invés de mandar sinais, Você simplesmente não diz o que quer de mim?”, pensava, pois não tinha fôlego para falar em voz alta.

Avistou o rio, Gaara ajoelhado do outro lado da margem, parecia que não havia saído de lá desde o dia anterior. Parecia paralisado e então, chegando um pouco mais perto, ela viu: correntes em seus punhos e tornozelos o imobilizavam.

— Gaara! – gritou. Sem se importar com o fato de que havia algo errado. Sem se importar de ter alguém mais ali. Ela não via e nem queria ver mais nada além daquele demônio.

— Não se aproxime! – gritou Gaara em resposta quando Hinata fez menção de atravessar o rio, que os separava, pela primeira vez. Já era tarde. Hinata, assim como Gaara, foi acorrentada em seus punhos e tornozelos.

Foi só então que ela notou que eles não estavam sozinhos ali: Dois demônios seguravam as correntes que a prendiam e dois anjos seguravam as correntes que prendiam Gaara. Não era impressão dela que ele não houvesse se movido dali desde o dia anterior. Gaara realmente não se movera desde a tarde de ontem: houvera sido capturado, mas não antes de dizer a Kankurou para fugir e não contar nada a ninguém.

— Então, o que me diz? Se você sacrificar Gaara, nós acabaremos com a vida desse anjo, Kakashi. – disse um dos demônios que acorrentava Hinata.

— Ora, ora, Sasuke, faça-me o favor. Quem invadiu o rio e manchou as águas de sangue impuro foi ele, ele quem merece ser punido. Hinata não fez nada além de se proteger – respondeu Kakashi, um dos anjos que acorrentava Gaara.

Não precisavam dizer mais nada para que Hinata entendesse o que estava acontecendo. Gaara ainda sangrava, estava mais fraco do que antes, Hinata tinha a sensação de que se Gaara não morresse pelas mãos de Kakashi, morreria por perda de sangue.

— Parem com isso! Deixem-no em paz! Ele precisa ser tratado agora! – Hinata esbravejava e tentava se soltar da corrente, parecia impossível - A culpa é minha, me desculpa, por favor! – suplicava com a face tomada pelas lágrimas.

— Mas ora, ora. O que vemos aqui? Está vendo, Kakashi, até ela concorda que fez algo errado! Vamos, solte Gaara! – o demônio Sasuke disse, sem afrouxar por nenhum segundo as correntes.

— Tenho certeza que se eu soltar ele, você não vai soltar Hinata. Não confio em criaturas da sua espécie. Não vou solta-lo – disse Kakashi, aumentando a tensão nas correntes, fazendo Gaara conter um grito de dor.

— Para, Kakashi! Por favor! Vai machucar ele ainda mais! PARA! – o terror estava estampado naquelas palavras.

— Ih, mas o que é isso? Vai dizer que se apaixonou por um demônio, Hinata? Mas é patética mesmo. – o outro anjo que também segurava a corrente de Gaara se pronunciou, tinha cabelos cor de rosa – Acha mesmo que a gente não saberia que vocês se encontravam aqui? Acha mesmo que aqui você estava em segurança? Que ninguém iria ouvi-los? – riu com sarcasmo – Até parece! Temos olhos e ouvidos por todos os lugares, não é Kakashi?

— Sim, Sakura. Pena que ninguém avisou essa jovem. Estávamos esperando a sua desistência nessa história toda de “não acredito no que me contam” para dar um fim nesse cara.

Hinata estava confusa. Tinha certeza que nunca fora seguida em suas andanças pelo bosque, sempre se certificava disso. Repreendeu-se mais uma vez por ter fugido sem dar explicações a Gaara. Repreendeu-se por ter dado as costas para ele. Repreendeu-se por tê-lo abandonado. Se nada daquilo tivesse acontecido, Hinata e Gaara não estariam naquela situação.

Os presentes nas margens do rio ouviram passos vindos do lado do Reino dos Demônios. Em poucos minutos, Kankurou surgiu correndo.

— Gaara, eles vieram ajudar! Olha! – atrás de si, alguns demônios apareceram em busca da liberdade de Gaara.

— Por que você os trouxe? Eu disse para você não contar a ninguém! – gritou Gaara para Kankurou.

No entanto, Kankurou não teve tempo de responder. Outros passos foram ouvidos do lado do Reino dos Anjos. E alguns Anjos apareceram.

— Ouvimos que eles viriam, então viemos correndo ajudar – disse um dos anjos.

— Soltem Gaara! Apesar de tudo ele é um de nós, não podemos deixar vocês o matarem – um dos demônios disse.

— Ele foi hipnotizado por um anjo, afinal é isso que vocês fazem, né? Trazem a gente para a armadilha e depois executam – outro disse.

Gaara havia dito a Hinata que não se podia confiar em nenhum outro demônio, pois esse tentaria lhe matar. Matar? Para sua surpresa, não era o que parecia. Eles tinham noção de que eram fracos, noção da desconfiança entre eles. E acima de tudo, noção de como precisavam se unir em horas como aquelas. Querendo ou não, tinham ideia de que eram uma unidade.

— Não soltem não! É só mais um demônio, mate-o de uma vez – outro Anjo recém chegado proferiu.

— Ele está sujando a água com o sangue imundo dele, não merece viver – mais outro.

Os anjos estavam ali por “só mais um demônio”, só mais uma prova de se mostrarem superiores. Ninguém estava ali por ela, ninguém clamava por sua vida. Ninguém. De repente, Hinata se sentiu vazia e uma única lágrima caiu de seus olhos. Uma única lágrima fruto da realidade que agora ela via. E Hinata tomou uma decisão crucial:

— “Nunca toque em um demônio...” – todos ao seu redor pararam de gritar e ficaram em silêncio, dispostos a ouvir aquele fiapo de voz – “... pois demônios são seres impuros. Se um anjo tocar em um demônio, perderá suas asas e não mais poderá ser um anjo”.

E para Gaara, aquela frase tiniu em seus ouvidos, era a resposta que procurava para Hinata ter atacado Kankurou. “Por isso você sentiu tanto medo”, concluiu em pensamentos, apenas olhando para Hinata tristemente.

— Por que, como punição, vocês não me deixam simplesmente toca-lo? – continuou Hinata – A verdade é que a culpa é minha. Se eu não tivesse vindo sempre andar pelo bosque, nunca o teria encontrado, vamos concordar.

Nem por um segundo Hinata deixou de fitar a grama verde aos seus pés. Nem mesmo quando Gaara discordou a plenos pulmões.

E por mais insano que aquela ideia pudesse parecer, por mais estranho que a perda de um anjo deveria significar. A ideia foi acatada. E colocava em evidência, novamente, o egoísmo dos anjos.

Ao mesmo tempo, Gaara e Hinata foram soltos. Ele não se moveu um dedo se quer do lugar em que estava, no meio daquele rio, onde o sangue ainda tingia um pouco as águas. Hinata, com seu vestido branco, adentrou e o tecido foi tingido de um vermelho claro.

Gaara e Hinata, agora, se encaravam. O redor parecia ter sumido. Era como se apenas os dois estivessem ali. Ela tinha decidido isso desde antes, mas não imaginava que seria daquela forma. Tinha medo, mas sabia que era o certo a fazer.

— Hinata, você não tem que fazer isso – disse Gaara.

— Mas eu quero. Vamos provar que essa frase também está errada? Vocês demônios não são nada imundos. Não são nada disso que sempre me contaram.

Devagar, sem pressa nenhuma, Hinata tocou nas mãos de Gaara pela primeira vez. Pelo que lhe ensinaram, ao fazer isso, o Reino dos Anjos não a perdoaria e ela seria expulsa. Perderia suas asas e, assim, se perderia por completo. Fechou os olhos e se lembrou de seu primeiro voo sob o céu azul. De passar pelo meio das nuvens, de sentir aquele vento que tocava seu rosto gentilmente. “Se tudo isso for verdade, nunca mais poderei voar”, pensava e outra lágrima caiu.

Gaara apenas a observava. Ele sabia o que aquele único toque significava e que aquela única lágrima que escorreu carregava todo o peso da dor. E ele se odiava por isso, por terem nascido de lados conflitantes, por terem se conhecido, por estarem apaixonados. Apaixonados? Talvez, a palavra simplesmente surgiu em sua mente. Seria possível que conseguiria amar algo? Nunca antes havia gostado de nada, amar, então...

Mas havia tempo que Gaara desejava sentir a pele de Hinata. Havia tempo que queria diminuir a distância. Que queria transpor aquele rio e odiava o fato de serem opostos. Era um desejo que crescia a cada dia que se encontravam. Ele não sabia como nomear aquele sentimento. Apenas sentia.

O mesmo valia para Hinata, não é? O medo era maior, mas sentia as mesmas coisas que Gaara. E agora, era o momento, imposto pelas circunstâncias, mas era o momento. E foi o momento.

E... Nada aconteceu. As asas de Hinata continuaram no lugar. Hinata ainda era Hinata. Gaara ainda era Gaara. Hinata abriu os olhos e com ele, um sorriso também.

— Viu? Nada aconteceu! – disse Hinata – Provamos que o livro não está certo.

Gaara nada disse, apenas levantou a outra mão que estava livre e esperou o toque de Hinata que enlaçou seus dedos aos dele. Ele sorriu e diminuiu ainda mais suas distâncias, suas testas se tocaram e ambos fecharam os olhos novamente, como que em sinal de alívio.

Antes não tivessem fechado, pois poderiam ter visto a cena que os demais presenciavam boquiabertos, aquilo com certeza não estava nos planos: as pétalas de lírio, guiadas pelo vento, dançaram ao redor de Gaara e Hinata.

Somente quando, por força daquele vento, sentiram seus pés sob a água perderem o chão, abriram os olhos para ver ao redor. Não só ambos estavam flutuando em direção aos céus pelo vento e pelas pétalas como também todos os presentes ali, anjos e demônios. Voltaram os olhos um no outro novamente, sorriram e se abraçaram.

Os olhos fechados novamente os impossibilitavam de ver, mas lá estavam eles: não mais existia o branco e o preto, a luz e a escuridão, o bem e o mal. Ao invés dos opostos, uma cor se tingira a outra até que restasse apenas o cinza. Todos no bosque, todos no reino dos demônios, todos no reino dos anjos. Todos. Flutuando em direção aos céus rodeados pelas pétalas de lírio e tingidos da mesma cor.

E naquele momento algo despertou dentro de cada um. Um fragmento de memória que fazia com que todos entendessem porque havia tanto ódio entre anjos e demônios, aquelas desavenças cegas que por anos continuava.

A história que Gaara contara sobre Naruto não estava totalmente correta. Eles não eram todos anjos, essa nomeação não existia. Eram todos um só reino, mas sem títulos, eles não eram necessários num mundo de igualdade.

Essa igualdade era ilusória. Logo existiu alguém capaz de coloca-los em hierarquia dizendo assim ser mais fácil conviver. Logo existiu alguém contra essa hierarquia. Logo existiu uma guerra. Logo a perda de Naruto. E logo uma punição que sobrepunha o poder do criador de todos, que contrariava suas ideias, que criava dois mundos. Logo, a ira de Deus.

 

“Isso é um castigo, um livro para um, um livro para outro, vocês não vão se lembrar porquê os têm, mas todos vão segui-los! Já que não querem viver juntos por bem, então que se odeiem! Tudo isso não parará enquanto não houver coragem suficiente para romper as regras, não precisam todos ter essa coragem, apenas dois: um anjo e um demônio. Se para aprenderem que são todos iguais vocês preferem pelo modo mais difícil, que assim o seja!”

 

É claro que houve um sacrifício nesse caso e a nova classe denominada demônio acabou sendo a mais prejudicada. A verdade é que Deus queria ver até onde o poder que os Anjos achavam que tinham poderia ir.

Dividir em dois reinos, nunca fora necessário, mas talvez fosse a única forma, apesar de mais difícil, de conseguir fazer com que todos aqueles seres entendessem o quanto eram iguais, o quanto eram apenas uma espécie, apenas um mundo, apenas um.

Assim, todos voltaram ao chão e visualizaram a nova paisagem que se instalara: o rio não mais era uma divisa, corria por entre as árvores, de norte a sul; o bosque não era mais tão denso que impossibilitava ver os dois lados; o reino dos anjos e reino dos demônios eram um só.

Era hora, então, de viverem em paz não é? Era hora de perdoar ao outro e a si mesmo. Ou deveria sê-lo. Como era possível que a paz pudesse trazer consigo tamanha tristeza e dor para os demônios e tamanho asco e rancor para os anjos?

Hinata e Gaara entenderam na hora esses sentimentos e a preocupação vazou por suas feições, fazendo-os se afastar sem se soltarem as mãos. Agora, aqueles que antes eram opostos se encaravam, na mesma margem do rio.

Silêncio. Ninguém sabia o que falar. Ninguém queria falar. Sentimentos conflitados, uma confusão. Os ex-anjos se perguntando se deviam pedir desculpas, os ex-demônios avaliando se perdoariam. Mas ao menos alguns não estavam ligando para nenhuma daquelas dúvidas.

— Woooow! Eu tenho asas? – disse Kankurou maravilhado, tentando pegar as pequeninas asas que surgiram nas suas costas, fazendo-o rodopiar como um cão atrás do próprio rabo – EU TENHO ASAS! Isso significa que eu vou poder voar? Me ensina, moço? – tocou nas mãos de Kakashi que não teve tempo para recuar e olhou assustado para aqueles olhos pidões.

A resposta não veio, dando lugar a risada de todos os presentes que a partir daquele momento começaram a conversar entre si, a lamentarem tudo o que ocorreu até aquele dia e a reunir aqueles seres tão iguais. Como num piscar de olhos mais e mais seres apareciam de todos os lados. Se cumprimentando, se fazendo notar, alguns até mesmo se reconheceram. As crianças, com a inocência intacta já a muito se consideravam iguais e agora corriam e brincavam entre elas. Ah, se elas tivessem se conhecido ainda anjos e demônios... Talvez tudo tivesse se resolvido bem antes.

Mesmo assim, Gaara e Hinata não se misturaram. Permaneciam apenas observando e aparentemente ninguém ali sentia a falta deles. A serenidade se fazia no sorriso do rosto deles. Naquele momento, Gaara percebeu que suas feridas haviam sido curadas o que o deu coragem para prosseguir mais um pouco naquele dia. Quando olharam um para o outro, Gaara disse:

— Tem um lugar que eu quero te levar.

Hinata apenas acenou com a cabeça, suas mãos ainda continuavam unidas e Gaara alçou voo pela primeira vez. Mas não parecia a primeira vez, fora fácil demais, como se já fosse experiente no assunto de voar. E talvez fosse, as memórias retornavam aos poucos.

Juntos, do céu, puderam perceber que o Reino dos Demônios, ganhara vida e se assemelhava de todas as formas com o Reino dos Anjos. “É, agora somos uma unidade”, pensou Gaara. E por um instante achou que o lugar que ele procurava não estaria mais lá. Mas vendo do alto era fácil detectar a alvura das dunas de areia. E ali desceram dos céus. Ainda olhando para a grandiosidade do novo reino.

— Sabe a primeira vez que nos encontramos no bosque?

— A primeira vez que nos vimos?

— A frase certa é “A primeira vez que VOCÊ me viu” – respondeu Gaara, recebendo como resposta um olhar confuso de Hinata – porque a primeira vez que eu te vi, foi daqui de cima! E muito antes de eu tomar coragem e ir falar com você. Antes da clareira onde sentávamos para conversar no bosque, era aqui que eu refletia sobre tudo o que nos era passado. Era aqui que eu tinha as mesmas dúvidas que você.

— E você teve coragem de ir até lá! – sorriu Hinata – Então, se não fosse por você nada teria acontecido, nada teria se resolvido!

— Acho que nada foi por acaso. Assim como acho que aqueles lírios não nasceram aqui por acaso.

— Lírios no deserto?

Até então, Hinata não havia notado, pois dos céus a alvura dos lírios se misturava a da areia, mas quando virou as costas para o horizonte, ela notou. E apesar de todas aquelas pétadas, ainda havia muitas e muitas flores ali intactas. Maravilhada, Hinata caminhou até elas e começou a entender.

— Elas não estavam aqui antes?

— Não – respondeu Gaara – começaram a surgir depois que começamos a conversar um com o outro. Se a gente considerar uma nova flor por dia que nos vimos, foi muito tempo, não é?

— Muito tempo – se agachou para tocar alguns dos lírios e ainda de costas para Gaara, continuou – Acha que se começar a dar errado de novo e as hierarquias começarem de novo, os lírios vão morrer?

— Acho.

Hinata se levantou novamente, virou-se para Gaara com um sorriso de tranquilidade. Gaara aproximou-se dela e frente a frente se deram as mãos.

— Mas não vamos deixar isso acontecer né? – Perguntou Hinata.

— Não, definitivamente não – e rindo por dentro com a ideia, Gaara completou – Acho que vamos ter que vir aqui para checa-las.

— Todos os dias? – Hinata não conteve o riso.

— Todos os dias.

E para selar aquele acordo, trocaram o primeiro de muitos beijos.

— Amanhã? – disse Hinata.

— Amanhã. – confirmou Gaara.


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Notas finais do capítulo

Nesse caso, eu queria um final simbólico, sabe? Mas será que eu consegui?
E aí? O que achou? Deixe um comentário pra eu saber!
Toda vez que vou terminar uma fic me sinto insegura, nunca parece bom, aí demoro a postar :( Por isso, sua opinião é importante pra mim!
Viu só? Eu não matei a criança não, gente! hahaha xD
Muito obrigada por me acompanharem até o fim!!
BjoQjo, até uma próxima quem sabe! ;)
CamiTiemi



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