O Olho da Tempestade escrita por Eye Steampunk


Capítulo 7
O Baile


Notas iniciais do capítulo

Teremos um grande evento para esta noite, tudo organizado para o escolhido, Layer. O jovem terá que dizer o que realmente sente sobre o sacrifício a Grande Tempestade.



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O dia foi extremamente agitado para um escolhido, nesta manhã estava sentado a mesa de café com Spencer e minha mãe, trocávamos papos e simplesmente eu me sentia feliz. Entretanto veio a mórbida tarde, a seleção, a curta estadia no edifício e o passeio pelo hangar 9, parecia que o dia não teria fim.

A fim da tarde, voltei ao Edifício Kennedy, o Sr. Celsius encaminhou o traje para o baile do Escolhido. O baile era apenas uma festa privada com o prefeito, as família, alguns cientistas, militares, a minha família e amigos. Esperava encontrar Anne no baile, depois que me arrastaram da praça pública, não tive nenhum contato com meus amigos e familiares.

Estava deitado a minha cama, ainda havia alguns minutos antes do baile, ainda estava pensando em como viveria minha mãe, qual seria o seu futuro? Quem cuidaria dela? Spencer, meu grande amigo, não poderia concluir o ensino regular juntos, poderia desejar sorte. Eu odiava pensar em destino, mas mil caminhos se abriram a minha frente e nenhum estava livre de obstáculos.

Anne, querida Anne, você não merece viver sozinha, teria que terminar com você, é difícil, mas pelo menos farei com que este nosso último dia junto fosse o melhor. Desci pelo elevador, as portas se abriram, encontrei o Sr. Celsius ajeitando a gravata borboleta em frente ao grande espelho do salão de espera.

— Sr. Layer! O senhor ainda não está arrumado? — questionou me observando pelo reflexo do espelho.

— Mil perdões Sr. Celsius, mas gostaria de pergunta se existe algum lugar... Digamos que especial no palácio do Governador? — perguntei.

— Ah, entendo! O Sr. Layer precisa de uns tempos a sós, bem, existe um local! — respondeu se virando a mim — Como estou?

— Apresentável! — respondi. — Que local seria este?

— O Governador Pitchwar mandou criar um observatório em seu sótão, dizem que possui imagens reais do céu estelar de Júpiter, sem serem estas projeções fajutas no revestimento da estufa!

Eu absolutamente não sabia disto, o Governador lucrava com benefício próprio, era de se esperar, mas isso me deu uma ideia brilhante. Abracei o Sr. Celsius.

— Mas quais são os motivos deste abraço neste idoso? — perguntou o Sr. Celsius rindo.

— O Senhor merece algo melhor, deixe este edifício, patenteie o seu elevador hidráulico, viva experiências! — disse a ele. Aquele senhor não viveria para receber outro escolhido, e não gostaria que ele morresse ali naquele edifício.

— Vou seguir seu conselho! — ele riu — Aliás, eu acho que a Senhora Garddin gosta de mim, você sabe do que estou falando, todos os dias quando vou comprar batatas em sua mão, ela sempre põe dois tubérculos a mais. E o jeito como ela sorri, ou como segura minha mão quando recebo o troco...

— Sr. Celsius, respira! — digo.

— Me desculpe meu bom jovem, agora vá se arruma para o baile, você tem uma valsa esta noite.

— Está bem! — digo correndo de volta para o quarto, preparando-me para me arrumar.

A carruagem nos deixou em frente ao palácio do Governador, uma residência de três andares, uma abóbada e mais de quatro dúzias de janela ao estilo neoclássico, a entrada era guardada por dois leões de bronze em frente a pilastras que sustentava o teto da frente da recepção. Estavam trajando algo mais formal: uma cartola, gravata borboleta, camisa branca de manga comprida, cinto de utilidades dado pelo Sr. Júlio, colete brocado, casaco de gabardine, calções e bota de ouro.

Uma nova carruagem surgiu em seguida a nossa, as portas foram abertas e do seu interior surgiu Tia Petúnia, primo Geoff e minha mãe aos prantos.

— Layer! — gritou, descendo aos pulos da carruagem. — Ficará tudo bem, meu filho! Eu não deixarei que você morra, eu... Eu tenho que falar com o governador, talvez...

Em sua voz havia tristeza, ela não conseguia pronunciar as palavras por completo, ela começava a ajeitar minha gravata borboleta, seu estado estava péssimo, a sombra em seus olhos borravam, ela trazia um lenço a mão.

— Mãe, por favor, não há volta! — disse — eu já aceitei o meu caminho!

— Não Layer! Eu não posso perdê-lo!

— Mãe! — digo a ela, limpando-a com seu lenço a sua maquilagem borrada. — Por favor, me prometa que irá se cuidar! Prometa que irá viver com a sua irmã Petúnia! Prometa-me que depois que eu partir, a senhora será feliz, buscará algo para fazer, que tal seguir a carreira de decoradora de ambientes, ou voltar a ser uma grande engenheira como um dia você foi! Você me promete?

— Sim Layer, meu querido, você se tornou um homem como seu pai! — elogiou — eu lhe prometo!

— Agora vamos entrar neste baile, e vamos aproveitar que a noite é curta! — digo.

— É disso que estou falando! — disse alguém atrás de mim.

Virei-me para dar de encontro com Spencer e Júlio, ambos vieram ao baile do escolhido; Spencer me abraçou, disse que gostaria de convidar alguém da taverna, mas parecia que todas as garotas estavam “indisponíveis”; Júlio trazia consigo sua namorada que se apresentou como Lessa, possuía traços orientais e cursava o penúltimo ano letivo.

O Salão de festa estava abarrotado por mesas decoradas ao pano de seda dourada bordado e flores decorativas, sentados a mesa posterior encontrava a mesa do Governador Pitchwar, a governanta e suas duas filhas; Sr. Celsius se sentou com uma senhora encantadora com seu turbante rosa berrante e seu colar de pérolas; Spencer e Júlio se sentaram junto com Sr. Júlio; Eu me acomodei a uma mesa com minha mãe, Tia Petúnia e Geoff.

Um espaço a dança ficava ao centro das mesas, seu piso era uma representação talhada da visão plana do planeta Júpiter, logo em cima preso ao teto, um grande lustre de cristal. As paredes eram enfeitadas com coroas de flores e todas as cortinas foram abertas e presas. As portas do salão mantinham-se abertas para a recepção dos convidados.

— Uau! — exclamou Spencer na mesa ao lado.

Virei-me para observar o que ele admirava. Anne, lá estava ela na entrada do salão, radiante e bonita. Um vestido longo bege, espartilho por baixo de seus trajes, um leque a uma das mãos e os cabelos presos a uma presilha em forma de flores. Uma vez a elogiei por ser tão encantadora naturalmente, foi no dia em que nos conhecemos; a gincana de ciência, nós pertencíamos à mesma equipe e ficamos sozinho juntos no laboratório do instituto, onde rolou nosso primeiro beijo.

Anne se sentou com sua família a duas mesas de distância de mim, eu olhei para ela e nós trocamos uma conversa silenciosa entre nós. “Eu te amo”, disse apenas mexendo os lábios, sem sair um som; “Eu também”, respondeu ela, sua expressão parecia de alguém preste a explodir.

— Senhoras e senhores, civis e militares, eu gostaria de dizer algumas palavras ao Sr. Layer antes de sua partida amanhã! — disse o Governador levantando com uma taça a mão. — O Sr. Layer foi estudante da Instituição Verne III, e estava predestinado a ser o Escolhido, suas notas é orgulho de qualquer filho da Ilha Nemo, o Sr. Layer ficou em segundo lugar no concurso de soletrar ao segundo ano, levou a sua equipe à vitória três vezes na gincana estudantil de Ciências...

Quero lhe poupar dos detalhes, mas o discurso não foi apenas algumas palavras, durou quase quinze minutos. Eu não conseguia entender como o Governador conseguiria todas esta informações de minha vida, e algumas vezes me questionava se eu poderia ter sido escolhido antes da convocação.

— Chato... — sussurrou Spencer à mesa ao lado.

Uma vez, eu e Spencer criamos um próprio código nosso quando éramos crianças, servia para colarmos na prova sem que ninguém pudesse descobri, funcionava da seguinte forma, utilizamos de uma palavra como exemplo: ENGRENAGEM. Mantínhamos as duas primeiras e a última letras intacta, com as restantes nos escrevíamos de trás para frente, logo ENGRENAGEM tornaria ENEGANERGM.

Infelizmente o plano falhou por alguns motivos: 1. Não conseguíamos embaralhar palavras com menos de quatro letras; 2. O Senhor Fault nos flagrou durante a aula, ele identificou apenas algumas palavras e jurou que se trocássemos bilhetes novamente nós repetiríamos o ano e 3. Nós crescemos.

Eu tinha um lápis de projeto ao bolso jaleco, puxei um guardanapo da porta-guardanapo de metal da mesa e comecei a escrever uma mensagem secreta, passei para Spencer. Ele expressou um sorriso em seu rosto, depois se concentrou em decifrar a mensagem.

—... Um brinde ao Senhor Layer! — comentou o Governador, todos os presentes no salão aplaudiram — E agora, convidados, mestre cerimônia e jovens, peguem os seus pares e ocupem o salão para a valsa!

Bradou o governador, com um movimento de braço a orquestra começou a tocar, vários casais se levantaram e começaram a dançar. Tia Petúnia se levantou para dançar com seu filho Geoff, Júlio acompanhou Lessa ao salão. Spencer continuou sentado sem par, enquanto bebia uma taça de vinho.

Mas o que me surpreendeu enquanto levantava para pedir a mão de Anne a dançar a valsa, foi encontrar com o Sr. Júlio caminhando em direção a mesa em que estava sentada a minha mãe. Ele sorriu para minha mãe e a convidou para ser o seu par.

— A senhorita gostaria de acompanhar este homem a beira da morte para sua última valsa? — pergunto a Anne.

— É claro! — diz ela estampando um sorriso.

Posicionamos ao meio do salão, segurei a sua cintura com delicadeza, a sua outra mão a conduzi pelo salão. Em seu pescoço havia um colar com o pingente em forma de coração com pequenos detalhes de peças sobressalentes.

— Você está usando!

— O que?

— O colar que lhe dei em nosso primeiro encontro! — respondi.

Por alguns minutos ficamos com os nossos rostos encostados ao som da valsa, pude sentir sua respiração e como estava nervosa. Parecia que o tempo havia desacelerado para nós dois, ficamos naquele silêncio eterno até que a música cessou.

— Sr. Layer, gostaria de dizer algumas palavras aos nossos convidados? — perguntou o governador.

Todos voltavam a suas mesas e foi posicionado um pedestal com um microfone a minha frente, com um extenso fio acoplado as caixas de som em todo o salão.

— Gostaria de agradecer aos elogios feitos pelo governador... — disse, pensando nas palavras antes de falar — Mas como sou um jovem de poucas palavras, gostaria que todos os presentes se orgulhassem do que estarei fazendo; porque eu não me orgulho do que irei fazer para mantê-los vivos, e não digo generalizando a vila, mas um grupo de porcos que controla toda a ilha e promove este baile apenas para festejar um sacrifício humano, isso é tão Antiga Era para os nossos padrões de “Nova Era”! Vocês são Minos neste planeta, espero sinceramente que pense em algo menos suicida no futuro em vez de jogarem os filhos desta terra para leilão e a melhor carne entregar para o Minotauro! Lembro que a primeira frase que aprendi nos livros da instituição era: “você não precisa pensar no futuro, pois nós já o vivemos”, não, eu não vivo em um futuro onde a única opção seja o abatimento de uma vida.

A seriedade tomou conta de todos no baile, ninguém ousou aplaudir ou dizer algo, o próprio Governador estava com o rosto tão vermelho; alguns sorrisos, Spencer, Júlio, Anne e até mesmo a Lessa que conheci esta noite. O Sr. Júlio não transmitia raiva ou vergonha, apenas ficou me avaliando o quanto perigoso eu era.

— E se não si importar Senhor Governador de nossa amada ilha! — debochei — gostaria de visitar o seu sótão particular, houve boatos que existe uma magnífica biblioteca em seu interior!

Governador Pitchwar não tinha reação a minha pergunta, nem mesmo a sua família. Ele estaria avaliando se aquilo fosse verdade, e apenas respondeu.

— É claro!


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Notas finais do capítulo

Sentiu dúvida em alguma palavra ou sobre algum cunho cientifico no livro, pesquise, busque resposta, ou deixe seus comentários abaixo. Espero que tenha gostado do início desta aventura... Nos vemos nos próximos capítulos *-* By: Eye Steampunk.



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