O Olho da Tempestade escrita por Eye Steampunk


Capítulo 5
O Hangar 9


Notas iniciais do capítulo

Layer será apresentado ao Hangar Nove, uma base de projetos dos cientista, engenheiros e principalmente o local de produção da Vitória II. Layer conhecerá amigos e experiências, principalmente um passado obscuro da tecnologia da Terra.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/628699/chapter/5

A carruagem atrelou em frente a um conjunto de hangares enfileirados, que antes servia para guardar as naves que pousaram nas ilhas, quando chegaram a Júpiter. Desci da cabine da carruagem, observei o espaço a minha frente, do lado de fora dos hangares pude notar carcaças das antigas espaçonaves enferrujando e envelhecendo.

Um fenômeno químico e trágico, a oxidação do ferro, a combinação de duas substâncias, o ferro e o gás oxigênio, com auxílio da água (umidade), os elétrons são trocados mais facilmente, formando uma nova substância, o óxido de ferro.

Um local ainda mantinha as luzes acesas em plena tarde, de dentro podia-se ver o barulho de metal contra metal, maquinas em funcionamento e motores roncando. O Hangar nove, diferente dos outros hangares, não estava corroído pela ferrugem, uma gama de operários, engenheiros e cientistas trabalhavam em seu interior.

A frente da entrada do hangar, encostado a uma das pilastras que sustentava o teto, estava Júlio, não o pai, mas o filho. Com óculos de soldador a testa, camisa branca sujas de graxa e óleo, calça jeans (tal matéria de confecção de roupa é bem rara em Júpiter); um visual totalmente novo do que usava durante a convocação do escolhido, menos formal.

— Boa tarde! Aventureiro! — disse exibindo um sorriso; por um momento pensei ser deboche, há algumas horas atrás, nós dois estávamos em berlinda na decisão do escolhido — Anime-se! Vamos, meu pai está lhe esperando!

Acompanhei Júlio pelo interior do hangar, o local parecia maior do que visto do lado de fora, o teto estava a quinze metros do chão. O hangar foi restaurado e reformulado, existiam corredores de metais acima de nós em forma de asterisco e ao meio parecia esta localizador o gerador de energia de todo o local.

Nas paredes do hangar encontrava os mais diversos conjuntos de ferramentas, em um canto estava reunindo alguns cientistas, eles olhavam para um grande projeto a parede, parecia ser o modelo de um barco no plano do papel. Os outros cientistas estavam espalhados pelas diversas bancadas de trabalho, fornalha para o derretimento de metal ou bigornas para dobrar placas ou produção de ligas metálicas.

— Demais não? — perguntou Júlio.

— Sim! Incrível! — respondi.

— Meu pai me traz aqui todos os fins de semanas, ele me mostra os rascunhos de máquinas, esboços de invenções, os planos e projetos para o futuro da ilha, sabia que querem construir uma linha ferroviária que liga o leste ao oeste?

Existia uma regra que permitia que os menores de dezoito não fossem ingressados ao trabalho, tendo liberdade ao ócio. O que não era tão seguido, alguns jovens, principalmente os da periferia da ilha, faziam alguns pequenos serviços terceirizados. Mas Júlio não era pobre, seu pai era engenheiro, e sua família de classe média igual a minha.

— Pensei que isso fosse proibido! — comentei.

— O que?

— Sabe... Jovens em meio a uma área de trabalho!

— Estarei fazendo dezoito daqui a duas semanas, e meu pai é o engenheiro sênior do hangar 9, ninguém quer dedurar o chefe! — depois se virou a mim e cochichou. — Ele também libera que os outros tragam seus filhos, mas sem que o governador saiba. Observe!

Ele apontou a um grupo. É verdade, existiam algumas crianças reunidas em torno de uma das bancadas e construíam algo.

— Venha, vou lhe apresenta-los!

— Mas e seu pai?

— Não se preocupe! Meu velho é paciente!

Quando me aproximei dos jovens notei a diferença de etnia e raça entre eles, alguns eram velhos, de quinze a dezessete anos, outros nem saíram das fraldas, um modo de falar. Um deles estava com uma ferramenta na boca como uma chupeta.

Quando me aproximei deles, notei o que estavam montando, eram autômatos. Autômatos são pequenos robôs de corpo humano operados de formas autônomas. As crianças deram cordas no brinquedo e uma pequena banda metalizada começou a tocar uma música.

— Muito bem garotos! — disse Júlio se aproximando comigo. — uma banda musical, eu creio que o Sr. Finnik da loja de brinquedos adoraria o seu brinquedo!

— Sensacional! — comentei.

A estrutura dos autômatos era impressionante, pequenas engrenagens dentadas giravam sobre haste que movimentavam outras engrenagens, molas, rodas e sistemas, toda a energia mecânica combinada transformando em energia cinética dos movimentos dos autômatos.

—Perdão... Eu nunca vi autômatos.

— Dos mais velhos aos mais novos! — disse Júlio — Edward Fitherback, Mark Coper, Harley Olyver, Stephen Brendon, Miranda Moorcock, Willian Sterling e nosso pequeno Michael Mignola! Jovens, este é Layer, o escolhido.

— Oi! — disseram em distinção de som diferente, quase em uníssono.

As crianças riram. Alguns rostos eu reconhecia, outros nem tanto. Todos com as roupas sujas com graxas e materiais de conserto as mãos. Um deles tinha óculos de soldador estranho, com várias lentes dobráveis, outro tinha um passarinho de metal nos ombros que batia as asas e girava a cabeça, mas não cantava nenhuma nota; Júlio o chamara de Harley.

— Agora que descobrimos como instalar música nesses autômatos, será que meu pássaro poderia ganhar um canto? — perguntou Harley.

— Creio que os outros poderão lhe ajudar, preciso levar ele a meu pai! — se abaixou para bagunçar o cabelo de Harley e sussurrou algo em seus ouvidos.

Harley exibiu um sorriso, depois olhou para mim.

— Ok. Boa sorte na viagem Sr. Layer — disse feliz e voltou aos outros no projeto da banda musical.

Afastamos do grupo de crianças, o hangar assim como tão alto, era tão comprido, não sei o porquê, mas minhas pernas doíam de tanto andar. Em meio ao caminho vi uma pessoa vestida com roupa hermética pegando fogo enquanto outras a apagavam com uma substância líquida (Júlio disse ser Bicarbonato de Sódio). Logo à frente observei uma pessoa parada em um fundo preto enquanto outra portava uma máquina de flash (Júlio disse que estavam tentando capturar a imagem da pessoa em uma superfície fotossensível).

— O que você disse àquela criança? — questionei.

— Você vai ver! — respondeu. — Sabe, por mais que alguns jovens estejam “trabalhando”... — esta última palavra foi dita enquanto fazia gesto de aspas com as mãos —... Existe um local que não é autorizado à entrada deste, somente eu e Harley. Uma longa história envolvendo uma criança sapeca bisbilhotando escondido, temos permissão de adentrar este local! Chegamos!

A nossa frente existia uma grande cortina vermelha com o símbolo da cidade, um compasso aberto sobre uma carta marinha exibindo as estrelas da constelação de Órion, e o modelo atômico de Rutherford-Bohr entre a abertura do compasso em um fundo verde. O barulho por detrás das cortinas eram maiores que os sons produzidos no restante do hangar. Olhei para Júlio em busca de alguma explicação, ele apenas fez gesto com os braços para que eu entrasse a frente.

Como descrever em palavras o que via, era muitas situações e ações em plena harmonia agindo e processando ao mesmo tempo. O casco de uma grande nave* estava diante dos meus olhos, operários soldavam placas de metais sobre aros de ferro, outros levantaram o que parecia ser o mastro da embarcação, ou seria apenas um suporte para a cabine de comando. Parte do casco da frente estava feita e sendo revestida por tinta branca por pintores.

— Revestimento. — disse alguém ao meu lado. Virei-me para observar o Sr. Júlio Verne — Aqui estará escrito o modelo da embarcação!

— Vitória segundo. — respondi.

— Exatamente! — Sr. Júlio se virou a Júlio; corrigindo, ao seu filho. — Está dispensado!

— Sim senhor! — disse Júlio, olhou para mim e piscou. — Boa sorte!

— Venha por aqui Layer! Tenho algo a lhe mostrar!

Sr. Júlio me conduziu a uma sala, escrito a porta estava “sala de teste”. A sala era revestida com material não inflamável. Um grupo de engenheiros estava rodeado algo que transmitia uma luz intensa, eu não pude observar o que era.

— Ande! Aproxime-se! — disse Sr. Júlio, encostou-se aos ombros dos engenheiros para que os mesmo me dessem passagem.

A minha frente estava algo espetacular, uma tela de toque digital, com projeção holográfica em três dimensões, aquele aparelho era raríssimo, simplesmente não existem outras daquela em toda Ilha de Nemo. Em sua janela principal, estava aberta a planta de um motor, escrito na barra lateral, Nautilus.

— Isto é... — gaguejei — Isto é tecnologia da Terra, mas isso é bastante avançado!

— Sim, Layer! — bravejou Júlio — Isto é um computador!

— Computador?

— Os computadores eram bastante populares na Antiga Era, uma máquina com memória incrível, a capacidade de armazenamento permitia transformar pulsos elétricos em comandos. O computador possuía várias funções, uma delas era a Internet!

— O que é Internet? — perguntei curioso.

— Isto não é o momento Sr. Layer!

— Por favor! Dr. Júlio! — disse um dos engenheiros — o garoto não terá mais seus dias de vida futuro, mate a curiosidade dele!

Esta bem Dr. Nervedj! Mas é uma explicação longa — disse, abriu uma janela na tela e mostrou algumas imagens, principalmente de combinação de símbolos que não entendia — Isto é a internet. Uma rede que ligava os computadores na Antiga Era. Sua capacidade de está em qualquer parte fez o ser humano evoluir, se adaptar, transformar, se expressar, e até mesmo falar a mesma língua, graças a ele a Terra entrou em uma paz utópica! — comentou e mudou as janelas da tela para imagem de guerra, fome e miséria — Entretanto esta paz durou pouco, a Terra passou a ter um único governo, uma única unidade monetária, uma única religião, uma única língua. Foi bom por um tempo, mas os humanos possuíam diversas divergências em se torna tudo igual e único, a alienação simplesmente se tornou mais fácil, o controle do governo sobre os terráqueos tornou-se plena, a ordem era consumir e destruir!

— Com a política universal, ficou mais fácil burlar a lei, cometer alguns crimes, o estrupo, a violência, roubo se tornaram mais frequentes, principalmente praticados por grupo de hacker, nome dados aos vilões da rede de Internet. — disse um dos engenheiros.

— Exatamente! Os anarquista-cientistas enfrentaram muitos hackers a comando do governo antes de deixarem a Terra, três das naves perdidas em meio caminho foram invadidas pelos computadores da nave, as naves só puderam enfim está segura, quando saíram da área da rede de internet da Terra, na época já alcançava Marte. — complementou outro engenheiro.

— Puxa! Isso são coisas que não aprendemos em nossos livros de História — comentei.

— Quando chegamos a este planeta, destruímos qualquer resquício de que existissem computadores, mas mantemos este intacto até hoje! — comentou o Sr. Júlio — desenvolvemos nossa própria tecnologia, mais limpa, por isso temos moinhos de trituração de alimento e somos abastecidos por geradores que se utilizam da força dos ventos e da atração gravitacional do planeta Júpiter! Viemos a este planeta para preserva-lo e não destruí-lo!

Sua última fala soou como se ele tivesse entre os primeiros habitantes de Júpiter. Mas talvez fosse apenas orgulho dos que os nossos pioneiros fizeram a nós, era inspirador ouvir aquela história, talvez eu devesse me lançar no olho da tempestade e salvar a vida de milhões.

— Ok, chega de história por hoje! — disse pondo a mão no meu ombro — Hora de entendermos a sua nave!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sentiu dúvida em alguma palavra ou sobre algum cunho cientifico no livro, pesquise, busque resposta, ou deixe seus comentários abaixo. Espero que tenha gostado do início desta aventura... Nos vemos nos próximos capítulos *-* By: Eye Steampunk



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Olho da Tempestade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.