O Olho da Tempestade escrita por Eye Steampunk


Capítulo 4
Edifício do Escocês Kennedy


Notas iniciais do capítulo

A Ilha de Nemo esconde um museu repleto de cultura, Layer depois de se torna o Escolhido, ele é encaminhado ao Edifício Kennedy, onde encontra grandes personalidades e relíquias do passado.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/628699/chapter/4

Depois que meu nome foi anunciado pelo Governador Pitchwar, uma pequena caixa de madeira entalhada a arte barroca italiana, nas mãos de um dos grandes militares sentados a primeira fileira foi encaminhada pelas assistentes presentes ao palco e aberta a minha frente. De dentro observei forrada com seda e ao fundo uma insígnia de honra ao mérito, moldada em bronze sobre aço.

Os tambores da banda entoaram uma música heroica, os militares e cientistas a primeira fileira levantaram e posicionaram a mão ao peito como sinal de respeito, o governador pegou a insígnia e prendeu a roupa na área do coração, que batia acelerado. Medo? Não. Coragem? Talvez... Abriu um sorriso e me abraçou sussurrando: “meus parabéns, jovem! Você está agindo como um homem!”. O governador voltou à multidão.

— Uma salva de vivas a Layer Olyver, nosso desbravador dos setes ares! — bradou. O certo seriam “os sete mares”, mas creio que não existirá água por toda a extensão da atmosfera de Júpiter.

Ao fim da apresentação todos voltavam as suas atividades rotineiras, com alguns sussurros e murmurinhos sobre o seu escolhido. Fui conduzido por dois engenheiros-militares em uma carruagem ao edifício do Escocês Kennedy, mas conhecido popularmente como edifício “última viagem”.

O edifício possuía dois andares, ao térreo o saguão-recepção, no primeiro andar o quarto do escolhido. Na recepção de braços abertos e com um sorriso forçado no rosto estava o Sr. Celsius, que me deu um abraço seguido de um aperto de mão.

— Senhor Layer! Bem vindo ao Edifício Escocês Kennedy, estava esperando o senhor há anos, preparei a sua acomodações, já mandei os mensageiros em busca de seus pertences, à tarde o senhor encontrara com a oficina, a noite haverá uma cerimônia à véspera do lançamento! Mil perdões senhor por está falando muito, eu deveria lhe mostrar o seu quarto. Por aqui, por favor! — disse, quase perdendo o folego entre as palavras.

Sr. Celsius era o único morador e síndico do edifício, a ele foi dada a tarefa de preparar e conduzir o escolhido ao conforto e suas funções antes do lançamento. Como o único residente, ele possuía o grande fardo de conduzir todos os preparativos e recepção à única e última estadia no edifico Kennedy.

Tinha setenta e dois anos terráqueos de vida, provavelmente eu era o segundo escolhido em toda sua vida, ganhava uma quantia considerável para manter-se e preservar o edifício junto, não é casado e vive pacatamente com o restante da vila.

Ele me direcionou a um elevador movido por roldanas e metros de corda, os portões eram de bronze, ornamentados com desenhos de engrenagens, a um aperto de pistão as portas se dobraram simetricamente perfeitas pela horizontal.

— Magnífico não? —perguntou Sr. Celsius — projetei no meu tempo livre!

Entramos no pequeno espaço cúbico, Sr. Celsius acionou uma das alavancas do painel, o elevador sacudiu, o som de polias rangeu, vapor surgiu aos cantos e começamos a subir ao som do atrito das cordas entre si.

— Ainda precisa de alguns ajustes! — comentou abrindo um sorriso nervoso.

— Bela invenção! — mostrei-me simpático.

— Obrigado!

Fui deixado a sós no quarto, um cubículo no primeiro andar, o pé direito do quarto deveria medir aproximadamente uns três metros de comprimento. O quarto possuía uma porta que conduzia ao banheiro, uma cama encostada na parede da esquerda, um mural na parede da direita e ao fundo um vitral espelhado circular com vista para todo o canto “Norte” da ilha de Nemo, duas cadeiras e uma mesinha.

No mural encontrei algumas folhas com trechos de poemas, página de livro, pequenos lembretes, colares, crucifixo, mapa, e alguns objetos muito raros, como uma foto de máquina fotográfica, disco de vinil e papeis adesivos, são pequenos e raros objetos da Antiga Era que não se produziam mais.

— São... História do nosso povo ou do antigo povo, memórias daqueles que já partiram! — disse uma voz atrás de mim.

Movimentei meu corpo em uma meia-volta e observei um homem alto, cabelos escuros curtos, pele negra, trajando calça com suspensório, camisa de botão com a manga dobrada e uma boina a cabeça.

— Mil perdões pelos meus modos, senhor. Meu nome é Júlio Verne Agnosth, sou o seu tutor da oficina e gostaria de conhecer melhor o aventureiro que embarcará nesta odisseia suicida! — disse.

— O escritor?

— Como?

— Não... Você é o pai de Júlio Vicente e seus nomes devem ser uma homenagem...

— A Júlio Verne! — completou — Sim, Júlio Verne, escritor das Viajem Extraordinárias, grandes aventuras em busca de respostas e mais pergunta! Você é um bom observador, por isso sempre foi o meu preferido!

— Seu preferido? — perguntei.

Júlio andou em direção ao vitral, sentou em uma cadeira, me convidou a senta na outra cadeira a sua frente, obedeci e atentei a explicação. Por um bom tempo, os olhos de Júlio fixaram ao subúrbio da ilha.

— Senhor Layer, eu venho observando sua turma há semanas, sou o avaliador técnico da Academia, avaliando a capacidade educacional e psicológica de cada um de vocês! Os mais hábeis em exatas, os mais sábios em humanas, os mais ágeis nas atividades motoras. E você demonstrou uma capacidade observadora fascinante!

— Não sei se tenho coragem de prosseguir nesta missão, sempre me considerei medroso e o sabe-tudo da turma.

— Todos os homens têm os seus medos e enfrentar esses medos é ter coragem, em nenhum momento que você desceu daquele palco você enlouqueceu ou criou algum incômodo, você me faz lembrar August Herrera! — ele disse, observando em meus olhos.

August Herrera foi o décimo terceiro escolhido, vinha de uma linhagem nobre da ilha de Nemo, era mudo, e mesmo deficiente e abastado, não quis que seus pais pagassem para escapar da berlinda. Um erro. Foi selecionado para escolhido, ficou conhecido por ser extremamente observador e perspicaz, graças a sua capacidade de ouvir e observar mais do que falar.

— É verdade, talvez porque não tenho voz para transmiti os meus horrores, os meus sentimentos.

— Autocontrole emocional, outra habilidade sua! E sim você tem voz, você tem o dom de dizer sempre as palavras certas, sendo sincero e verdadeiro com seu amigo, com sua namorada, com seus familiares! — disse.

— Ok, mas não sou o mais forte ou o mais ágil da minha turma!

— Layer, você irá navegar até um olho de tempestade, não estará carregando pesos ou fazendo flexões, eu vi suas habilidades atléticas em quadra, como desviava da bola, como agia pensando antes de realizar tal tarefa; você é mais esperto que imagina ser, você sempre quer descobrir mais, sempre busca respostas, não tenha medo de suas curiosidades!

Raciocinei sobre todas suas palavras, eu era curioso? Sempre pensava em tudo antes de falar ou realizar algo? Controle emocional e observador? Eu não conseguia acreditar que isto poderia ser verdade, acredito que ele esteja dizendo tudo isto para estimular a prosseguir na missão.

— Você esta fazendo de novo! — exclamou ele.

— O que?

— Pensando antes de falar! — respondeu. Ele se levantou e retirou um relógio do bolso da calça, conferiu as horas. — Está ficando tarde, talvez seja melhor dormir um pouco Sr Layer, você teve muitas emoções por hoje, encontro-o hoje à tarde na oficina.

Júlio Verne caminhou em direção à porta, suas palavras ainda ecoavam em minha mente. Uma janela, um vitral ou qualquer vidraça que possamos observar tal paisagem tão exuberante quanto à vista da Ilha Nemo, faz o ser humano raciocinar.

— Sr. Júlio? — chamei antes de sair.

— Sim, Sr. Layer?

— Todas estas palavras são comoventes, mas... São todas para encorajar a seguir viagem?

— Talvez! O seu destino esta a sua mão! — disse ele, depois observou o mural — Estranho não? No local que abandou as religiões ainda a vestígios desta — disse apontando ao crucifixo.

Sim, um crucifixo interessante, um objeto de madeira em forma da letra “T” com algumas marcas antigas, talvez gregas, latinas ou estoicas. Quando voltei a olhar o Sr Júlio, a porta já estava fechada, um som de metal ao piso do quarto; caminhei e observei o pequeno objeto circular, uma moeda.

— Cara ou Coroa? — lancei a moeda ao ar.

A tarde chegou, e não consegui pregar os olhos em nenhum momento, estava deitado e observando o teto, algo estava desenhado nele, parecia ser a planta da cidade projetada sobre a madeira que compunha o teto, mas não prestei atenção a tal detalhe. Sr. Celsius bateu a porta.

— Sr. Layer, a carruagem para a oficina lhe aguarda, trinta minutos!

— Entendido. — gritei de volta.

Depois de realizar as necessidades biológicas e higiênicas, trajei uma calça com suspensório, camisa branca e um chapéu coco. Desci pelas escadas, por mais que a invenção do Sr. Celsius fosse espetacular, não queria arriscar utilizar aquela engenhoca em fase de teste.

Sr. Celsius estava sentado a bancada de atendimento, vendo alguns papéis, o que era estranho, pois parecia que seu trabalho era o mais simples de todos. Ele sorriu e saiu de trás do balcão.

— Sr. Layer, espero que o senhor esteja bem! — disse dando voltas em torno de mim, arrumando alguns detalhes — Se prepare para as explicações senhor, como guiar o leme? Como velejar ao ar? E...

— Sr. Celsius, não se preocupe, a Academia Verne... — curioso; a própria academia possuía o sobrenome do escritor!

— O que dizia? — questionou Sr. Celsius, provavelmente eu estava “pensando antes de falar” como disse o Sr. Júlio Verne.

— Eu dizia que a própria academia nos ensinou anos a como navegar a Vitoria, nos treinou para isto, desde os primeiros anos; ensinou-nos sobre as parte de uma embarcação, comando e ordens. Só preciso saber que veículo eu estarei conduzindo e seu funcionamento.

— Mas revisar sempre é importante Sr. Layer!

— Obrigado pela dica Sr. Celsius. — pensei no que observei ao teto — Sr. Celsius, o que são aqueles desenhos no teto do meu quarto?

— Bem observado Sr. Layer, tem uma boa visão; todo este edifício foi meramente construído com partes das naves que vieram a Júpiter, aquele era o desenho entalhado em madeira do casco interno de uma das naves, nele estava desenhado as plantas de todas as ilhas antes da primeira Grande Tempestade. — disse, quase sem fôlego, de novo.

— Obrigado pela explicação!

— Foi um prazer!

Júlio Verne tinha razão, aquele edifício tinha história, cultura e religião; tal nome, edifício “última viagem” deveria ser dito por alguém ignorante que não conhecia o local direito, mas isto é ótimo, o tesouro está preservada graça a não interferência dos outros habitantes da ilha. As portas do edifício se encontrava uma carruagem que me aguardava, subi a carruagem e disse que partisse a Oficina.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sentiu dúvida em alguma palavra ou sobre algum cunho cientifico no livro, pesquise, busque resposta, ou deixe seus comentários abaixo. Espero que tenha gostado do início desta aventura... Nos vemos nos próximos capítulos *-* By: Eye Steampunk



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Olho da Tempestade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.