O Olho da Tempestade escrita por Eye Steampunk


Capítulo 25
Espelhos e traições


Notas iniciais do capítulo

Com Auras e Tsur-U inúteis a combate por estarem amaldiçoados a se matarem, Layer se encontra com uma Élpis a beira da morte, e tudo sendo culpa de Luz, mortes e traição ocorrerão e como poderá lidar tudo isto, até mesmo a perda de um amor.



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Carreguei Élpis pelas costas, seu estado estava debilitado, eu não tinha nenhuma arma, não sabia onde estava meu martelo gigante, ou mesmo Vitória II. Tsur-U e Auras nos olhavam com olhar assassino e faminto, estavam prontos para receber as ordens de ataque.

— O que fazemos agora? — pergunto a Élpis.

A massa corporal de Élpis parecia está se esvaziando, senti sua essência sumir lentamente, seu brilho desaparecer. Ela expirava e inspirava pesadamente.

— Élpis? — pergunto.

— Sinto muito Layer, mas esvaziei todas minhas forças para lhe salvar da maldição dos cavaleiros. Eu mesma fui afetada pela maldição, a de Mortem!

— Não! — sussurrei.

Élpis deslocou seu corpo a minha frente, eu a segurava nos braços. Ela estendeu as mãos ao ar, a uma coluna de partículas sólida, poeira que levitava pela luz provinda da abertura feita pela mesma no vitral da Catedral, a matéria se dobrou a realidade e tornou-se uma lança.

— Minha mãe estava certa, a morte é inevitável... Mas nunca duradoura! — Élpis entregou a lança a mim e começou a brilhar pela última vez.

Lágrimas escorriam em meu rosto como rios sinuosos, repetia infinitamente “Não”. Élpis perdia a cor e tornava-se fria, o brilho cessou e Élpis apagou, enfim seus os olhos esmeraldas se fecharam, em prantos deixei seu corpo inerte ao chão.

— Não! Não! — gritava.

Luz surgiu a minha frente brilhando, seus olhos de cores caleidoscópicas brilhavam e me encaravam. Ela balançou a mão como se limpasse uma poeira e o corpo de Élpis se dissolveu e sumiu.

— Fez um bom trabalho! — comentou Luz — Seus amigos podem ser curados e você deve prosseguir!

Luz estalou os dedos, Auras e Tsur-U despertaram a realidade.

— O que aconteceu aqui? Eu estava lutando contra um dragão?! — perguntou Auras

— Freak! — Guinchou Tsur-U ainda com três metros de altura e asas.

— Ela destruiu Élpis! — disse.

Luz fraquejou e caiu sentada ao chão.

— Tem algo errado? — comentou Luz.

— Sim! O errado é que você consumiu a essência de Élpis! — levantei com a lança de Élpis e apontei ao rosto de Luz.

— Não! A Luz ainda não venceu o Caos, mas ela morreu, ela era a Sétima! — exclamou Luz.

— O que? — perguntou Auras e eu em uníssono.

— Ela era a Sétima! — Ela é a Sétima! — A Sétima morreu! — disseram as esferas de luz surgindo em torno da mãe — Mas a Sétima morreu! — Mas a profecia não está concluída! — A Sétima não morreu!

Peguei Luz pelo seu vestido e a suspendi ao ar. Ela havia matado Élpis e agora diz que ela é a Sétima, mas Élpis esteve ao meu lado desde o começo, me auxiliou, eu a ajudei, nós batalhamos lado a lado.

— Diga a profecia completa, sem entrelinhas? — ordenei.

— Eu sou a Luz, eu estou ao fim do túnel, eu sou a portadora de sabedoria, eu sou a crença humana! — disse a Luz — A portadora da Grande Profecia; eu pereço, eu fracassei.

Luz, assim como Élpis brilhou e esfriou, sua cor se esvaziou, Luz fechou os olhos aos meus braços e desapareceu em um conjunto de poeira cósmica cintilante, voando livremente aos ares.

— Tenha fé escolhido, ela é divina! — retumbou a voz de Luz pela catedral.

Luzes vinham do fundo da catedral, onde havia um altar, um braseiro semiesférico queimava fogo e exalava o cheiro do óleo pelo salão. Incensos rodilhavam sete estátuas que reconheci, em ordem: Dinamy, Prosochí, Filágeros, Ékatrea, Justa, Luz e...

— Não pode ser! — exclamou Auras — É Élpis!

Auras apontou a quatro vitrais, o primeiro se iluminou revelando uma imagem semelhante a mim, trazia Tsur-U nos ombros como um animal de estimação, em uma mão um martelo gigante, em outra o compasso de Hanki. Escrita em latim havia: “Aos terceiros de três milênios chegaria...”.

O segundo vitral, estava ao lado de Auras, sobre Tsur-U no jardim de Éden com a inscrição em latim: “O herói que nos libertaria.”. O terceiro vitral era um conjunto de seis imagens, eu na cabine de Dinamy com os piratas, no colo de Prosochí, Filágeros e eu conversando em seu jardim, eu entregando a jarra a Ékatrea, a partida de xadrez com Justa e por fim aos meus braços Luz desaparecendo.

— “Dos setes vitus enfrentaria.” — pronunciei a inscrição.

O último vitral era o mais chocante, a cena de uma batalha e o local era a Ilha de Nemo, com martelo gigante eu duelava contra Élpis com sua lança. “A Grande Tempestade, ao seu fim teria!”, li. Os vitrais explodiram, fomos completamente surpreendidos pela escuridão absoluta, uma risada ecoou e fumaça negra esverdeada invadiu a catedral, mais vidros se estilhaçaram.

A névoa nos cercou, Auras, Tsur-U, As esferas de luz e eu. Manipulei a lança de Élpis ainda em minha posse, mas a mesma lançou uma descarga elétrica sobre a haste, deixando-a cair ao chão.

— Élpis, apareça e revele-se! — gritou Auras com adaga em mão.

Um raio surgiu da névoa, atingiu Auras no abdômen e a lançou a névoa. Tsur-U em auxílio rugiu e seguiu pelo caminho em que Auras fora lançada. Alguns minutos e nada do retorno de ambos. As esferas de luz se ariscaram a enfrentar a névoa, ao adentraram seu brilho cessou e pude ouvir o som do que pareciam ser pedras caindo ao chão.

— Élpis, escute, nós podemos conversar, se você está aí, me escute! — pedi.

A névoa recuou e a catedral sumiu. Uma sala de vidro refletor (espelho) seria a descrição exata do local, um dos espelhos revelando uma passagem, vapor emergia do solo, entre o embasamento do espelho, surgiu a frase: “ Venha até mim”. Seguir pela passagem e caminhei por horas a corredores de espelhos, todos me refletiam, mas nenhum possuía diferença.

Um corredor se abriu a uma sala octogonal com moldura de ferro com espelhos em cada canto, o cômodo era extremamente gigante, poderia estacionar uma baleia no local. Palavra havia escrito em quatro espelhos de quatro paredes separadas por dois a dois: Espaço, tempo, destino, alma. Olhei ao teto e havia a palavra “Eu” escrita. Um pentágono com um pentagrama inscrito, e cada lado do pentagrama havia um retângulo de ouro. Posicionei-me ao meio do pentagrama.

— Correntes! — disse uma voz feminina atrás de mim.

Virei-me ao mesmo tempo em que ouvi a voz, mas não vinha Élpis e sim da névoa negra, correntes surgirão das cinco extremidades do pentágono, prendendo cada vértice um membro e o pescoço. Cai de costa, as correntes apertaram meu corpo contra o chão, esticando os braços e pernas.

— O que irá fazer comigo?

A névoa se solidificou e tornou-se uma garota, Élpis mais ao inverso, seus olhos continuavam a cor verde, este mais maligno, não usava o rotineiro vestido; Élpis trajavam um vestido branco a altura dos joelhos, preso ao espartilho, sua pernas usava um par de meias até os joelhos e terminando por botas de couro. A caixa misteriosa encontrava-se ao seu lado.

— Não Layer, este futuro você não tem escolha...

— Por que está fazendo isso?

Élpis estendeu a mão e surgiu sua lança elétrica. Um pano a sua mão limpava um icor dourado, esperava que aquele não fosse o sangue de Auras ou Tsur-U.

— Por que estou fazendo isto? Simples, a humanidade não idolatrava as virtudes igualmente, vocês eram irados, avarentos, preguiçosos, invejosos, gulosos, orgulhosos e sedutores, não prezavam mais as virtudes. Eu vi a Fé ser perdida, eu presenciei a Moral cair, o Equilíbrio pendia ao caos, o Amor era apenas sedutor, a Sabedoria foi menosprezada e a Valentia se encontrava na criminalidade.

— Sim, eu entendo! Você explicou isso, por isso você e Sapiens sussurraram aos ouvidos dos humanos, e nós mudamos para Júpiter, criamos uma nova vida, mas e a Grande Tempestade?

Élpis revirou seus olhos furiosos a mim e me interrompeu em meio a um discurso.

— Não! Você não entende. Eu não sou a Consciência, ela foi apenas uma peça do meu jogo, eu precisava de alguém que me substituísse. Com a promessa realizada pelo sangue dos quatro cavaleiros, nós Setes juramos criar uma tempestade para que o desequilíbrio humano não se repetisse, o Caos sempre acontece na humanidade, guerras e batalhas são as principais características de sua espécie... — Élpis ajoelhou ao meu lado e começou a desbotoar o meu colete.

— O que está fazendo? — perguntei.

— Relaxe e deixe que eu complete a história antes de lhe matar! — sussurrou Élpis colocando o dedo a meus lábios. — Para ocupa-los de guerrear nós lhe pedimos sacrifícios a cada vinte e sete anos, no começo foi melhor puni-los destruindo as quatro ilhas, depois a oferenda. O “x” da questão foi nossa ordem, o primeiro a receber os escolhidos...

— Dinamy! — adivinhei.

— Sim, ela se alimentava de boa parte dos escolhidos, só precisavam ser fracos; depois Prosochí e seus testes, infelizmente seu gosto eram mais peculiares, ela se alimentava dos sábios, o que lhe deixou fraca. Filágeros era um idiota que conseguia convencer boa parte dos escolhidos com sua promessa de vida eterna ao seu lado, Ékatrea caçava junto com o filho e seguidores os escolhidos; Justa em parte vencia boa parte dos Escolhidos, Luz e eu éramos as últimas, mas ainda ela tinha chances de receber escolhidos, enquanto eu definhava.

— Mas porque você não os matava antes?

— E esta foi minha ideia, um juramento nos impedia de caçar o escolhido, até que certo ponto que ele adentra o nosso templo ou vença os nossos desafios proposto. Eu era a Esperança, a última, ficava aqui ao meu templo de espelho presos a uma caixa, e só pude sair quando um escolhido abrisse.

— Sinto...

— Você sente, mas as outras seis não, por isso aguardei meu plano até que fosse liberto, um erro, quando solta tenho grande poderes sobre as outras virtudes, esperava ser um escolhido, entretanto foram os três primeiros rebeldes: Sapiens, Hanki e a Consciência. Eles me procuraram, acreditando que eu poderia ajuda-los a por fim a Grande Tempestade, já que eu era a única que não recebia escolhidos.

— E você os traiu! — disse.

— Sim, a Consciência eu a troquei de lugar comigo a prisão, ela ficou presa à caixa — disse Élpis apontando a caixa — A Hanki, eu absorvi sua essência como alimento a sustentar minha liberdade; já a Sapiens, eu o poupei de uma punição, em troca ao seu poder de manipulação, e o chantageando pela sua amada esposa Consciência. Logo sendo a única com habilidade de mudar os pensamentos, eu manipulei a mente de todas as virtudes, apagando o meu nome e o do verdadeiro nome de Consciência de suas mentes, logo, eu Élpis pude substitui-la.

Lágrimas escorriam ao meu rosto, Élpis terminava de desbotoar minha camisa de manga longa e deslizava o dedo em do meu peitoral ao umbigo, em movimento de vai e vem.

— Eles iam lhe salvar. Eles escolheram salvar a humanidade destes suicídios, eles...

— Eles foram idiotas! O dever da Esperança é da ao homem o momento de Ordem, e infelizmente... — disse Élpis vendo o meu corpo. — está havendo uma guerra de virtudes a fora, os Cinco dos setes e conservadores da Tempestade, contra Filágeros traidor e as virtudes rebeldes, e sua morte me dará força para trazer a Ordem novamente. A profecia jamais irá acontecer por que eu Élpis não a deixarei!

Élpis me beijou a contra a minha vontade e suspirou ao meu ouvido.

— Sinto muito! Eu realmente o amei, mas o que tem de ser feito, deve ser feito.

Élpis se levantou com sua lança ao ar e abaixou. O barulho de apito e motor roncou pelo seu templo, os espelhos quebraram, um casco atingiu Élpis e quase esmagou sobre mim, felizmente a embarcação deslizou para o outro lado da sala sobre o meu corpo sem nos tocar.

— Vaca! — disse uma voz à proa, Auras. Seu rosto surgiu na amurada — Carona?


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Notas finais do capítulo

Sentiu dúvida em alguma palavra ou sobre algum cunho cientifico no livro, pesquise, busque resposta, ou deixe seus comentários abaixo. Espero que tenha gostado do início desta aventura... Nos vemos nos próximos capítulos *-* By: Eye Steampunk



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