O Olho da Tempestade escrita por Eye Steampunk


Capítulo 15
Medo e Pânico


Notas iniciais do capítulo

Layer e Élpis deixaram o templo de Prosochí e Sapiens. Entretanto os capangas de Dinamy ainda estão atrás dos dois, quais seria os medos mais obscuros de Layer e os segredos mais profundos de Élpis, aqui jaz os nossos sonhos.



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Não lembro como aconteceu, apenas girei a maçaneta da porta em que guardava o portador do cajado de rubi, uma força empurrou Élpis e eu à escuridão eterna, nós caímos ao infinito. Alcancei-a em plena queda. Sua forma voltou a de uma jovem em pânico.

— Segure-se! — gritei em queda.

Nossas mãos se entrelaçaram, nossos corpos se juntaram em um abraço, os olhos se cruzaram e eu a beijei. O segundo beijo condicional a minha sobrevivência, aquele não faria eu ganhar super força, ou voar ou mesmo teletransporte, porque isto era vida real... Mas o que é real em nosso mundo.

Caímos sobre uma cama elástica, infelizmente o tecido rasgou e rolamos sobre a encosta de uma montanha de peças sobressalientes; pura sorte aquele cama-elástica que amorteceu nossa queda de um tubo sobre nossas cabeças.

— Sorte... Não! — sussurrei.

— Onde estamos? — perguntou Élpis.

— Parece um ferro velho! — meus olhos não estavam concentrados ao espaço que me rodeava, mas aos olhos verdes de Élpis.

Ela soltou dos meus braços e levantou, sua forma voltou a de uma criança, odiava quando ela mudava de forma, parecia que ela estava fazendo de propósito.

— Venha idiota! Sua nave se encontra ali! — disse apontando com a lança.

Levantei em seguida, realmente o local era um ferro velho, montanhas de entulhos e lixos eletrônicos revestiam todo o local. Por onde caminhava, eu recolhia alguns objetos, molas, parafusos, hélices, etc. Enfiava nos bolsos do cinto ou encaixava na tira de couro.

Ao sopé de uma das montanhas de lixo, encontrei um livreto parecido com o que Prosochí portava, uma espécie de pedra estava incrustrada em sua capa, uma pedra laranja ladeada por ouro, guardei-a no bolso. Como Élpis disse, a Vitoria II se encontrava intacta no fim dos montes de lixos, Tsur-U ainda em sua gaiola grasnava.

— Freak!

— Quanto tempo nós estávamos no interior do templo Prosochí?! — perguntei.

— Por que a pergunta?

— Calisto está se pondo. — apontei a lua azulada.

— Qual o problema?

— Antes de entrarmos ao templo, Calisto ainda não havia estado nem aos céus!

Com esses cálculos, subimos a escada de corda ao convés. Élpis correu em direção ao painel de controle, enquanto eu corria para a jaula de Tsur-U. Ele não mudou muito, notei que o haviam alimentado enquanto estávamos fora, ele olhou para mim, suas listras vermelhas a costa ainda brilhavam, mas pareciam que algo brotava da região como espinhos.

— Você parece estranho! — comentei, depois de encher sua tigela com seu suprimento, voltei minha atenção a Élpis no painel de controle, mas sua atenção estava voltada a lua que estava se pondo.

— Quanto tempo?

— Dois dias, nós avançamos dois dias!

— O que significa?

— Significa que cruzamos o tempo necessário para sua captura por Prosochí e Filágeros! — disse Élpis exibindo um sorriso.

— Então, quem é o próximo?

— Ékatrea! — respondeu — Vamos, decole esta embarcação, temos muito que conversar!

As turbinas foram acionadas ao máximo; o balão foi preenchido com gás hidrogênio por mais uma vez, as cordas fixadas ao chão como ancoras foram cortadas com um canivete retirado do cinto, levantamos voo para fora do templo de Prosochí, o trem de pouso foi levantado, flaps acionados e piloto automático ligado; olhamos para trás ao templo se afastando, sua forma estava diferente da anterior esfera maciça.

— Dodecaedro pentagonal! — comentei.

— O que são isso? — perguntou Élpis de volta a sua forma juvenil. — Você vem dito estas palavras por cada hora! O que elas são?

— O templo de Prosochí é instável, significa que está sempre mudando de forma, no desafio da Esfinge era um tetraedro; depois veio o Cubo de Rubik, um hexaedro; Os trilhos surgiam de uma sala octaedro; e o desafio das portas em uma sala icosaedro.

— Por último um dodecaedro! — repetiu.

— Sim, e todas as faces e ângulos são congruentes, tais poliedros são conhecidos como Poliedros de Platão, o curioso é existir uma lenda grega que acreditava que cada um destes poliedros representava um elemento, tetraedro, fogo; hexaedro, terra; octaedro, ar; icosaedro, água; e dodecaedro era o quinto elemento, conhecido por representa a matéria que tudo se criava ou o universo.

— Interessante! — disse ela, acredito que aquela história a deixou entediada. — E como resolveu o desafio da porta?

— Quando perguntei a um dos guardas qual porta o seu irmão apontaria para a saída, imaginei o caso em que: a) se fosse o guarda da verdade, saberá que seu irmão mente, então ele apontaria para a sala de Prosochí; b) se fosse o guarda da mentira, ele deveria apontar a saída, mas como ele mente, ele aponta para a sala de Prosochí. Conclusão, qualquer que fosse o guarda que eu perguntasse ele apontaria para a nossa morte, resultado seria seguir o caminho oposto ao apontado.

— Brilhante! — comentou Élpis com um sorriso, ela beijou em meu rosto — Entretanto, se me beijar novamente, mesmo que provavelmente estejamos a caminho da morte, eu lhe entregarei pessoalmente a uma das sete virtudes! Eu sou uma virtude Layer, eu não sinto amor a um simples humano.

Aquelas palavras pesaram mais que pedras em meu coração, por certo ponto ela estava certas, ela não era humana, ela é apenas um resultado do meu senso metafísico. E talvez eu ainda tivesse alguns sentimentos por Anne, mas e... Não Layer, não há “se”.

— Me desculpe!

— Está desculpado.

— No desafio do trem, realmente era a minha mãe e meus amigos? — perguntei.

— Sim e não, Prosochí os trouxe para avaliar suas escolhas, mesmo que você escolhesse mata-los eles apenas acordariam vivos na sua vila sem se lembrar de nada. — disse Élpis. Aliviei.

Por um tempo apenas ficamos na amurada do convés enquanto o sol nascia ao leste; Vitória deslocava ao Noroeste, fiquei de costa a proa, me sentando as grades, pouco me importando aos perigos. Olhei para a cabine, o timão, o painel de controle, a mochila que de algum modo voltou à embarcação, a porta que levava ao convés inferior e a estátua do ferreiro portando a caixa.

— Élpis?

— Sim?

— O que há naquela caixa?

— Eu sabia que você perguntaria! — exclamou Élpis sem se virar para trás — Entretanto eu não lhe posso contar mais detalhes antes de chegarmos ao fim da grande tempestade!

— Pelo menos posso saber o que ela guarda e...

— Não temos tempo, aliás, precisamos acelerar agora! — comandou.

— Você disse que cada virtude tem um tempo, então por que...

— Layer! — gritou ela enquanto socava o meu ombro.

— Ai! — olhei para onde ela olhava, dois corpos negros se aproximavam de nós, um exalava fumaça negra, o outro cinzas em fagulhas por onde passava. Seus rostos estavam cobertos pelos mantos que os cobriam, mas já tinha os visto antes na embarcação de Prosochí. — Droga!

Corri em direção ao painel, desliguei o piloto automático, acionei as turbinas no modo máximo e girei o timão para direcionar a embarcação a bombordo. A nave por toda inclinou a 45°, desviando do Noroeste ao Norte.

— Prepare-se para o impacto! — gritou Élpis.

— Impacto do que?

Duas munições se chocaram contra o casco da Vitória II. Poeira negra e peças voaram por toda a direção, um dos capangas de Prosochí estava a minha frente, era o que exalava cinzas e fagulhas, seus olhos eram roxos, ao tira o capuz revelou um rosto tatuado com imagens tribais de demônios, do queixo a cabeça raspada.

— Hora do pesadelo! — disse o garoto-fagulha.

Do seu manto surgiu um cetro com a ponta em forma de caveira com olhos em orbita fumegantes. Meus músculos adormeceram, já tinha sentido aquela sensação anteriormente com Dinamy, mas aquela fraqueza parecia mais poderosa.

Minha visão tremulou, meus joelhos tocarão ao chão, logo em seguida o rosto, perdi todos os sentidos, minhas últimas imagens foram de Élpis batalhando com o outro demônio antes de também cair e ser perfurada por uma espécie de cetro, este com a ponta em forma de lança curva.

— Élpis...

Em meus sonhos, eu estava sentado com meus habituais trajes cotidianos, bermudas com suspensório, camisa de botão de linho e uma boina a cabeça, estava em posição de pernas cruzadas sobre o branco da praça. Anne estava radiante com seu vestido azul, espatilho afinando sua cintura e segurando seu guarda-sol ao ombro.

— Eu te amo! — disse.

— Eu... Também! — gaguejou Anne, por um momento a grama do canteiro da praça, parecia mais interessante que meu rosto.

— O que houve, aconteceu algo que deseja compartilhar? — perguntei, uma mecha ruiva cobria o seu rosto, com delicadeza deslizei de frente dos seus olhos.

Anne era uma das poucas garotas que não usavam delineadores, pó de arroz ou grandes quantidades joias para demonstrar beleza, ela era bela naturalmente, sua única marca era o colar em forma de coração em seu pescoço.

— Não é que... Estou feliz por você ter desistido de enfrentar a Grande Tempestade!

— Espere... Você disse que eu desisti?

— Sim, por quê?

Observei para as paredes da estufa e as simulações celestes espaciais entravam em curto circuito, o solo começou a tremer, houve gritos vindos das ruas, vasos em sacadas de janela despescavam, as luminárias públicas balançavam e caíam.

— Cuidado! — gritei empurrando Anne para o lado antes que um dos postes caísse sobre nós. — Vamos! Temos que encontrar um local seguro!

No exato momento em que disse estas palavras, uma rachadura se formou na estufa ao lado norte, o ar era sugado para o exterior ao mesmo tempo em que os ventos e chuva ácida invadiam o interior da ilha. Anne e eu corremos entre as ruas, vimos pessoas gritando, a tempestade levando objetos aos ares.

— Deve haver algum sótão em que possamos no abrigar por aqui! — apontei para um prédio residencial.

Antes que pudéssemos entrar, outra rachadura se formou no lado Oeste da estufa, o prédio inclinou e suas paredes despencaram facilmente. Como peças de dominó, os edifícios despencaram sucessivamente. Anne demonstrou pânico, tivemos um acordo silencioso e corremos em direção contrária.

Os sinos da torre do governador soaram, os moradores corriam de vários becos em direção ao prédio. Encontrei algumas pessoas ao chão, e não pude sentir nada que terror. Então me lembrei de minha mãe.

— Anne! — gritei a parando em meio caminho. — Corra em direção à prefeitura, tenho que salvar minha mãe!

— Não, Layer! — gritou Anne.

— Eu vou ficar bem! — a beijei — Eu prometo! Agora vá!

Anne retirou seu cordão de coração e entregou a mim, fechou-o entre meus dedos, uma lágrima deslizava pelo canto do rosto, depois correu a caminho da prefeitura.

De volta as ruas de Nemo, eu dobrei a avenida principal sobre a linha de bonde que cruzava o noroeste ao sudeste, em direção a nossa casa ao fim da rua. Moradias estavam em chamas, e houve uma explosão que jogou entulho a todos os lados.

— Droga! — disse caindo ao chão, tossi por um tempo até que a poeira baixasse, então vi um corpo inerte ao lado, reconheci o jaleco — Não! Não, não, não...

Comecei a retirar os entulhos enquanto seu rosto surgia, era Spencer, o mastro da bandeira da Ilha havia cruzado o seu peito, talvez causado pela força do vento.

— Não! — sussurrei levantando, então alguém tocou o meu ombro, me virei assustado, era Júlio.

Ele estava chorando também, talvez seu pai estivesse morto na tempestade. Apenas movimentou com a cabeça positivamente para confirmar minha suspeita. Mesmo o momento não sendo conveniente, nos abraçamos e agora compartilhamos a dor de perder pessoas especiais em nossas vidas.

— Vamos! — disse — Precisa seguir ao prédio do Governador, seu pai queria que você estivesse seguro, vá!

— Mas e você?

— Tenho que encontrar a minha mãe!

Seguimos caminhos oposto, seguindo o percurso que provavelmente minha mãe faria em meio à tempestade de ciclone que começava a se forma sobre a redoma, encontrei nossa casa. Arrombei a porta e subi ao andar superior.

— Mãe! — gritei, metade de seu corpo estava por baixo de uma grande prateleira, ela tentava se levantar. — Eu vou ajuda-la, acalme-se!

— Layer, meu querido!

— Espere... — suspendi o armário de suas costas e virei para o outro lado da sala, na região esquerda de sua cintura havia um grande pedaço de vidro a perfurando. — Vai fica tudo bem!

Segurei-a pelo ombro esquerdo, os primeiros passos para fora do cômodo quando houve uma explosão que nos jogou para trás, a potencia foi tão extraordinária que sinto que perdi a audição. Meu senso de direção não se enganou, aquela explosão veio do prédio do Governador.

— Mãe?! — perguntei vendo seu corpo caído no piso ao meu lado. Virei-a para mim e seu rosto estava desfigurada, sua face esquelética estava exposta.

— Por que nos deixou morrer, Layer? — disse.

Luzes.


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Notas finais do capítulo

Sentiu dúvida em alguma palavra ou sobre algum cunho cientifico no livro, pesquise, busque resposta, ou deixe seus comentários abaixo. Espero que tenha gostado do início desta aventura... Nos vemos nos próximos capítulos *-* By: Eye Steampunk



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