Kitty's Pride escrita por Bree


Capítulo 8
Uma reputação




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— Não vejo como isso poderia melhorar a situação. – Respondeu ela, sentindo-se sem ar. Uma sensação desconhecida que a fez pensar em quão segura estaria em casa com os sobrinhos.

— Está em minha casa. Isso mudaria nosso quadro. – Devolveu ele.

— Sua casa? – Questionou Kitty, sem fazer qualquer ligação entre o belo cavalheiro na sua frente e a família singular que deixara no salão de baile.

— Sebastian Höwedes. Seu criado. – Apresentou-se ele, com uma reverência, o que fez a curiosidade da moça gritar dentro de seu peito.

— Certo. – Ela respondeu com um sussurro.

— Certo? Apenas isso? Não posso receber seu nome em troca? – Quis saber o homem, que a cada frase se aproximava mais alguns centímetros.

— Catherine Bennet. De Goldenshaw. Encantada por conhecê-lo. – Disse ela, tentando manter o ritmo de sua voz e preocupada com o que Jane e Charles pensariam se a encontrassem ali, na penumbra e na companhia de um rapaz.

— Ah, uma das convidadas de honra. Não parece tão encantada, devo observar. – Disse ele, estreitando os olhos, sem a menor preocupação com o decoro.

— Está errado em ambas as afirmativas. Não houve qualquer distinção entre os convites, e lhe asseguro que são uma família maravilhosa e...

— Poupe seu fôlego, bela dama. Os elogios são mais bem administrados por minha tia Amanda. – Interrompeu ele. – Eu me satisfaço mais com a verdade.

— Não sei o quer ouvir de mim. – Disse Kitty.

— Comentários sobre o clima e talvez sobre o quão incrível é o condado. – Disse ele, irônico.

— Não tenho tal inclinação. – Devolveu ela.

— Isso me deixa verdadeiramente encantado. Obrigado. – Respondeu ele, dramaticamente, levando a mão ao peito e suspirando. Kitty se virou para sair, mas parte de seu ego estava abalada, e ela não pôde evitar voltar a conversa.

— Todos os membros de sua família tratam desconhecidos com intimidade? Estou curiosa. – Questionou ela, em tom de desafio. Se censurou imediatamente. Estava deixando que as palavras e a confiança do cavalheiro a deixassem mal educada.

— Não. Apenas eu fui agraciado com tal qualidade. O resto de nós se contenta em sorrir e agir com polidez. – Respondeu ele, rindo. Kitty percebeu com amargura que seu sorriso era ainda mais exuberante que seus belos olhos. – Peço desculpas se fui indecoroso. Tomei algumas taças de vinho a mais que o indicado. Posso a ter lhe escolhido indevidamente como ouvinte.

— Não é bom se embriagar em uma festa importante como essa. É uma sociedade sensível, ainda mais quando se trata de um recém chegado, pronto para seu julgamento. – Alertou ela, receosa quanto a possível sanidade do cavalheiro.

— As palavras da sociedade são como poeira pra mim. – Começou ele, dando as costas para ela, um gesto mais que indelicado. – Não se preocupe demais, Srta. Bennet.

— Existe um comportamento esperado... – Começou ela.

— Por quem? Vocês ingleses são criaturas muito apegadas aos detalhes.

— Não quer impressionar? – Questionou ela, quase erguendo a voz.

— Só a quem eu escolher. Não preciso ser amado por toda alma infeliz. – Devolveu ele, voltando seu rosto para ela e estampando um sorriso inquietante.

— E consegue isso envolvendo pessoas que acaba de conhecer em diálogos pessoais? – Quis saber ela. – Hábito interessante.

— Peço perdão novamente. – Disse ele, sem mostrar nenhum sinal de sinceridade. – Posso me redimir lhe convidando para a próxima dança?

— Acaba de assumir que não está completamente são. E eu, infelizmente, não me encontro capacitada. – Respondeu ela. Seus pés ainda doíam, mas além disso, não havia possibilidade de ela aceitar o convite de um homem de tão pouco bom senso.

— De certo ainda tem dois lindos pés. – Observou ele, acenando demoradamente na direção dela.

— Sim. Eu tenho pés e o senhor não tem modos. – Disse ela com rispidez. Para sua surpresa, sua insolência foi recebida com certo prazer pelo cavalheiro. Era quase como se ele a estivesse desafiando a perder a compostura.

— Isso poderia nos tirar dessa situação complicada e garantir a integridade de sua reputação. – Sugeriu ele.

— Não quero ser vista sozinha com o senhor e muito menos em público. Sem ofensas. – Respondeu a jovem.

— Srta. Bennet, sei que quis me ofender. E não me importo. Por acaso tem os pés machucados? – Perguntou ele.

— Sim, tenho. Logo vou procurar um lugar para me sentar. Foi bom conhece-lo, Sr. Höwedes. – Começou ela, firme na intenção de nunca mais ter de se ver presa em uma conversa com o rapaz.

— Uma jovem como a senhorita deveria evitar as mentiras. – Comentou ele.

— Não faltei com a verdade em momento algum. – Devolveu ela, ainda mais incomodada. – Faz um juízo muito degradante de mim.

— Faço o melhor dos juízos da senhorita. Mas não das suas desculpas para evitar uma contradança. Contradança essa que me deixaria muito feliz.

— Em uma outra oportunidade, Sr. Höwedes. – Respondeu ela, sentindo um desejo insano e nada recomendado de gritar com o inoportuno cavalheiro.  

— É uma promessa? – Questionou ele, avançando alguns centímetros na direção da moça.

— Não faço promessas tão vulgarmente. – Garantiu ela.

— Está visivelmente tentando me magoar agora, Srta. Bennet. – Respondeu ele, erguendo sua mão na direção dela. Como um reflexo, Kitty se esquivou de um possível contado, mas o fez rápido demais e acabou por se apoiar em um dos muitos ferimentos em seu pé direito. Uma dor alucinante dominou seu corpo e ela pôde ver a preocupação do estranho diante de sua expressão.

— Srta. Bennet? – Ele se adiantou.

— Por favor, mantenha uma distância saudável. – Pediu ela, resistindo ao impulso de se livrar dos sapatos e se desequilibrando por um momento.

— Não me permitiria tal ousadia, lhe garanto. – Disse ele, ainda com um semblante preocupado. – Pelo menos sei que não me mentiu. Posso pedir que venham lhe ajudar?

— Ficarei bem, não se preocupe. – Garantiu Kitty, se recompondo e pigarreando duas vezes. O cavalheiro permaneceu calado analisando as feições da moça, que posicionava aflita as mãos frente ao corpo e olhava ao redor, certamente procurando uma forma de sair dali. – Bem...acho que estão me esperando.

— Acredito que sim. – Respondeu ele, para espanto dela. – Posso acompanhá-la?

— Obviamente. – Disse Kitty, por cortesia. A moça tomou a direção da porta, mas foi atrasada pelo braço oferecido por Sebastian. Sem qualquer reserva, ele indicou com o olhar o lugar onde a mão de Kitty deveria pousar. Quase paralisada e com receio de ser tomada como tola pelo cavalheiro, Kitty aceitou o que lhe foi oferecido, não sem antes corar e olhar para chão. Ao seu lado, Sebastian Höwedes sorriu levemente e iniciou o caminho deles.

Uma vez lá dentro, alguns olhares se viraram na direção deles. Kitty foi invadida por um pânico irracional e poucos passos depois soltou o braço de Sebastian. Ele não fez nenhum comentário em protesto, mas não deu qualquer indicação de que pretendia deixa-la a partir dali.


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