Kitty's Pride escrita por Bree


Capítulo 12
Um chá de pensamentos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/628622/chapter/12

— A Srta. Audrey Höwedes lhe espera hoje à tarde. – Informou Jane, calmamente. Kitty quase se esquecera do compromisso que havia assumido com a nada sã Srta. Audrey. – Isso é uma manobra típica de alguém interessado em uma dama. Pedir a prima que a convide para um chá. – Concluiu ela, fitando Bingley com um olhar amoroso e muito significativo.

— Se engana, minha irmã. – Começou Kitty. – A Srta. Audrey me convidou antes mesmo que eu tivesse conhecido seu primo. Esperem ai! Vocês leram minha correspondência?! Que absurdo!

—– Não conseguimos resistir. Aliás, em nossa defesa, o envelope não veio selado. - Garantiu Lizzie, tomando um longo gole de sua xícara. - As Bolton vão enlouquecer quando souberem.

— Quem contaria a elas? – Quis saber Kitty, tentando se concentrar em seu café, mas sem deixar seu descontentamento de lado. Como as irmãs poderiam ser tão curiosas?

— Eu mesma, ora. Na primeira oportunidade. Kitty! Até parece que não cresceu comigo. Meu passa tempo predileto é contrariar. – Garantiu Lizzie, entre um de seus sorrisos característicos. Kitty quis subitamente acertar a irmã mais velha com a louça da mesa.

— Não me importo. Fim. – Assumiu Kitty, balançando os ombros levemente. – Podemos mudar de assunto? – Pediu ela, cortando um generoso pedaço de queijo e o levando a boca. A conversa entre Bingley e Darcy parou inesperadamente e os dois se levantaram. Darcy tinha um semblante pensativo, mas parecia cansado demais para dar explicações, então Charles se encarregou de justificar a partida deles.

— Senhoras, temos alguns assuntos para resolver no meu gabinete. Se não se importam. – Disse ele. Todas as damas presentes assentiram e os dois desapareceram por uma das portas laterais.

— O que está acontecendo? Darcy parece preocupado. – Questionou Kitty, olhando impaciente para Lizzie, que se servia de alguns biscoitos de nata.

— Ele voltou hoje cedo muito incomodado com as notícias de Londres. – Começou a explicar a irmã. – Parece que houve uma desestabilização do comércio e isso afetou algumas empresas.

— O que quer dizer com isso, Lizzie? – Interrompeu Jane.

— Darcy me pediu sigilo, pois queria tratar disso apenas com Bingley, mas acho justo que saibam. Ele quis vir aqui para ter a aprovação de Charles... – Continuou ela.

— Aprovação? Pelos céus! Desde quando seu marido pede a aprovação de Charles para alguma coisa? Sem ofensas. – Tornou a interromper Jane, quase se debruçando sobre a mesa para poder ouvir melhor.

— Jane, deixe-me terminar! – A repreendeu Lizzie, atenta para que nenhum dos criados entrasse e ouvisse algo da conversa.

— Alguma das empresas de Bingley está envolvida, não é? -  Interveio Kitty, não demorando a ligar os pontos.

— Não exatamente. Mas ele será afetado. – Informou Lizzie, fazendo Jane lamentar em voz alta e cobrir a boca com a mão. – Darcy me disse que não devemos ficar alarmados, pois já encontrou uma solução.

— Charles não me disse nada! Como pôde esconder isso de mim. – Choramingou Jane, tomando cuidado para que o marido não a ouvisse. Kitty acariciou o ombro da irmã e lhe sorriu com doçura.

— Acho que já até imagino qual a natureza dessas complicações. – Começou Kitty. – Se posso opinar, foi um erro dar a Charlotte Bingley e ao marido o controle de um empreendimento. – Criticou Kitty, três anos antes, em virtude do casamento de Charlotte, a parte da irmã na herança foi entregue a ela e o marido, Victor Grant. Mas o vício do homem pelo jogo e pela vida luxuosa em poucos meses os deixaram em situação crítica, e Bingley, como um bom irmão, havia doado a eles uma de suas muitas empresas para que pudesse se reerguer. Kitty não precisava da confirmação da irmã, mas ela veio com um breve aceno de cabeça.

— Darcy acha que não é tarde para salvá-los da miséria. Além do mais, ele já encontrou um investidor. – Anunciou Lizzie, enquanto Jane se recompunha e ouvia com atenção. Kitty havia esquecido de todos os bailes, danças e chás.

— Quem seria? – Questionou Jane.

— O Visconde Bridgerton. – Respondeu Lizzie. – Ele é um bom amigo de Darcy e aceitou fortalecer o negócio em troca de uma porcentagem da propriedade.

— Porque Bingley não pôde ajudar a irmã? – Quis saber Jane. Uma das empregadas entrou na sala e as três irmãs pararam de falar. Quando a mulher se retirou, Lizzie prosseguiu.

— O marido, nosso querido Sr. Grant, declarou que não aceitaria. – Disse ela. – Como podem ver, o homem continua tão soberbo e orgulhoso como sempre foi. Fico triste ao imaginar que Bingley perderá o sono por conta disso.

— Pobre Charles. Tem o coração tão bom! Mal consigo imaginar vê-lo passar por esse martírio de novo! Ele ficou muito mal com a primeira falência de Charlotte, não imaginávamos que aconteceria de novo. – Lamentou Jane, à beira das lágrimas. Kitty suspirou ao seu lado.

— Me preocupo com ele mas me reservo o direito de não me importar além disso. – Disse a Srta. Bennet, com sinceridade. Jane lhe lançou um olhar severo. – O que foi? Quer que eu minta e chore por Charlotte e suas dívidas. Não consigo ser tão fingida.

— Mostre compaixão. – Pediu Lizzie.

— Tudo bem. Ela tem minha compaixão. – Disse Kitty, sarcástica. A tragédia financeira de Charlotte era uma história anunciada para ela, cuja a única preocupação era não ver a irmã de Bingley sob o mesmo teto que ela, para infernizar sua vida com seu ar superior. Com amargura, Kitty percebeu que ela também estava ali na condição de agregada, e engolindo suas ideias sobre Charlotte, afastou o assunto de sua mente. Lizzie e Jane continuaram no tema por mais alguns instantes, e nesse tempo, Kitty percebeu o elegante envelope preso debaixo da xícara de Jane. Com um gesto curto, que as irmãs ignoraram, ela o retirou dali e o abriu com os dedos trêmulos. Não haveria nada demais escrito ali, se houvesse, Jane e Lizzie a teriam aborrecido e rido dela com toda a certeza. Em uma letra caprichada se lia:

“Cara Srta. Kitty Bennet.

Espero poder ter a honra de sua presença hoje, para o chá. Mal posso descrever nossa satisfação.

Atenciosamente, Audrey Höwedes.

Ottercrow.”

As palavras eram simples mas fizeram a mente de Kitty flutuar. ‘‘Nossa satisfação”? Quem mais estaria lá? A Srta. Bennet pedia em uma prece silenciosa que o plural não se referisse a Sebastian. Respirou fundo e repetiu em voz baixa “Não. Não será.’’

— Disse alguma coisa, Kitty? – Quis saber Lizzie, atenta ao murmúrio da irmã. Kitty as olhou assustada e balançou a cabeça duas vezes, abrindo a boca por curtos instantes antes que pudesse de fato produzir som.

— Er...não. Estava pensando alto. Por favor, continuem sem mim. Tenho que me aprontar para... – Ela começou, olhando nervosa para o papel que segurava. – Isso.

— Coloque um vestido bonito. – Pediu Jane, enquanto Kitty se levantava e deixava as duas sozinhas sem muita formalidade. A jovem apertou o envelope contra o peito ao subir as escada, e no seu quarto, vasculhou entre as centenas de vestido que as irmãs e os cunhados haviam lhe dado só naquele ano. Encontrou por fim uma peça discreta e muito elegante. Era o que a ocasião pedia, e ela ficou muito satisfeita por não ter enlouquecido na procura.

Mais tarde naquele dia, Lizzie e Darcy retornaram a Pemberley. Ficou acertado que o Visconde poderia conceder o empréstimo à irmã de Bingley, e que Darcy deveria transmitir os mais sinceros votos de gratidão a família Bridgerton. Infelizmente o marido de Jane não soube pensar em nada além disso durante todo o dia. A mulher andava de um lado pro outro tentando fazê-lo se ocupar com outras coisas, mas sem sucesso. Kitty, graças ao grande respeito que sempre nutrira por Charles, não fez nenhum comentário sobre a má sorte de Charlotte e o orgulho do marido. Ao invés disso, ficou reclusa no quarto reunindo coragem para a tarde que tinha pela frente.

Jane acabou mandando duas criadas para ajudarem Kitty a se aprontar. Quando a jovem já estava devidamente vestida e penteada, a carruagem foi chamada e a irmã mais velha fez questão de acompanha-la até ela.

— Não esqueça de ser simpática e amável. – Pediu Jane, com um sorrisinho nervoso. Kitty soube que por mais ansiosa e curiosa que estivesse sobre o chá com os Höwedes, Jane estava triste por Charles.

— Eu sempre sou simpática e amável. – Retrucou Kitty, fingindo olhar a irmã de forma indignada e ofendida.

— Nós duas sabemos que não, Kitty Bennet! Agora entre logo. – Pediu a irmã. Kitty deu a mão a um dos criados e se acomodou na luxuosa carruagem da irmã, a tempo para ouvir as últimas instruções da mesma. – Ele é um rapaz muito bonito, Kitty. Pense na possibilidade.

— Não há nenhuma possibilidade. – Disse Kitty, quando a carruagem começou a andar. Ela repetiu aquela frase durante todo o trajeto até Ottercrow. Que destino caprichoso seria o seu? Se Jane soubesse o quão leviano era o homem que ela acreditava ser ideal para Kitty, ela teria uma síncope. Sentada ali no balanço insistente da estrada irregular, a jovem se perguntou se todos os homens seriam assim na intimidade. Afastou o pensamento. Albert Walters certamente não seria. O futuro Lord era tão polido que era difícil imaginá-lo fazendo comentários com duplo sentido e observações afiadas à uma dama. Mesmo que fosse sua esposa. Kitty se perguntou então se esses pequenos detalhes não eram o que faziam homem e mulher cúmplices, e não apenas um casal. Mas no que ela estava pensando? Não queria ser cúmplice de Sebastian, não queria pensar em nada que envolvesse casamento e ele e queria parar de usar seu primeiro nome como se fosse muito próximos. O homem certamente cairia em gargalhadas ao saber de tais ideias. Afinal, mal se conheciam. Quão estúpido era aquilo! Para sua sorte, havia chegado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!