A Casa Caiu escrita por Andye


Capítulo 4
De Noite a Dentro


Notas iniciais do capítulo

Olá garotitos e garotitas que estão por aqui, boa noite!
Cá estamos nós com mais um capítulo de A Casa Caiu, e depois de muito encher o saco da minha pobre beta, dona Anne A., conseguimos betar.
Só avisando que ficou enorme, o que não deveria ter acontecido, mas me empolguei e extrapolei, porém, não esperem mais desses enormes por aqui porque quero uma fic mais gostosinha de ler, nada cansativo demais. Até pensei em dividir esse cap em dois, mas ficaria sem sentido, então ''voilá''. Divirtam-se e comentem!



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Hermione sentia o corpo cansado demais para fazer qualquer coisa além de ficar deitada, mas seu sono não chegava e ela revirava sobre o sofá-cama, irritada. Pegou o celular que estava em cima de uma das malas e olhou a hora: 00:22h. Colocou de volta no lugar, deitou, fechou os olhos e tentou se obrigar a dormir. Não conseguiu.

Ali perto, no quarto do andar de cima, Rony revirava na cama. Depois de passar quase uma hora no skype conversando com Harry sobre a ex que dizia agora ter posse em parte de sua casa, se convenceu de que havia realmente agido mal com ela. Não deveria ter gritado como gritou. Fora tão rude que até o vizinho pensou que a tivesse espancado. “Merlin, eu jamais encostaria um dedo que fosse para agredir a Hermione. De onde aquele cara tirou essa ideia? De onde? Das suas atitudes ridículas, Ronald Ogro Weasley.”.

Talvez fosse necessário uma trégua. Ele sabia que Hermione era cabeça dura o suficiente para não ir embora dali até que provassem para ela o contrário. Talvez quando o tal corretor resolvesse tudo, ela fosse de uma vez, até porque ele chegou primeiro, mas até lá, ele sabia: Hermione não sairia dali.

Decidiu aceitar dividir a casa com ela. Aquilo era irremediável. Decidiu se concentrar e dormir. Se arrumou na confortável cama e se perguntou se ela estaria bem no sofá-cama. Pensou se deveria ter deixado dois travesseiros em vez de um, mas se tranquilizou: para quem passou o que passou durante a caçada as horcrux, aquilo ali era luxo. Sabia o quanto Hermione era forte, decidida e corajosa. Não iria se abalar tão facilmente e, com a consciência tranquila, adormeceu.

Ao contrário de Rony, Hermione continuava acordada. Quase uma hora da manhã e o sono parecia ter decidido abandoná-la. O sofá-cama era muito confortável, e o travesseiro bem macio, mas sua cabeça fervilhava com tantas novas informações. Pensava desde o namoro frustrado á sua tentativa de fuga. Dava um passeio na decisão da compra da casa e parava em Rony, molhado, usando apenas uma toalha, na sua frente. Na sua casa. O legume insensível que tentou afastar da sua vida estava, agora, dividindo a mesma casa com ela. Sabia que aquilo não daria certo. Era uma alusão ao que viveram durante a caça as horcrux. Por que aquilo tinha que acontecer justamente com ela?

Respirou cansada e resolveu ir ao banheiro. Talvez assim, quando voltasse, conseguisse dormir de vez. Caso não, procuraria leite ou camomila, faria algo bem quente e o sono não seria mais capaz de resistir.

Subiu os degraus que a levariam ao banheiro silenciosamente. As pantufas eram boas para abafar o barulho dos passos. Deu uma olhada de relance antes de entrar no banheiro e viu que havia um quarto: o interditado. Lembrava dele quando o senhor Collins lhe passou as fotos “Quando será que aquelas fotos foram tiradas?”. Pensou em transformá-lo em uma minibiblioteca inicialmente, mas agora que a situação havia mudado, teve a ideia de fazê-lo ser o seu quarto.

Abriu a porta e deu uma olhada rápida. Estava sem luzes, mas conseguiu reconhecer algumas coisas. Precisaria reabrir a janela arrancando aqueles tijolos. Talvez uma pintura fosse necessária. Era bem espaçoso. Conseguiria colocar uma cama grande, um roupeiro e algumas prateleiras para seus livros. Compraria uma mesinha para o notebook ou poderia usá-lo mesmo sobre a cama, mesmo que soubesse que o danificaria... Pensaria nisso depois. Amanhã, na hora do almoço, começaria a resolver tudo.

Partiu, enfim, para o banheiro e passou uma água no rosto. Estava melhor agora. Sentiu-se realmente cansada. Procurou o botão de descarga e o acionou. Pronto. a. Agora poderia tentar dormir de uma vez.

Deu as costas e começou a sair, mas antes que pudesse passar à porta, ouviu um som familiar de água vazando cansada daquele dia. Antes de se virar, o mantra ecoava em sua mente: “Não pode ser... Não pode ser...”. Mas era.

O banheiro estava começando a ficar alagado e ela correu até a descarga sentindo as pantufas fofinhas encharcarem. A água vazava pela lateral do objeto com uma pressão forte. Ela segurou a mangueira de passagem que havia se soltado e sua primeira reação foi tentar colocá-la de volta no lugar. Não deu certo. “Cadê minha varinha? Droga! Sem varinhas aqui.

A água espirrou com força em seus cabelos e corpo. Sentiu frio com o jato forte, mas, mesmo com vários outros esguichos contra ela, tentou colocar a mangueira novamente. O pijama começava a encharcar e ela a se angustiar.

Soltou a mangueira, irritada, e olhou ao redor procurando o registro, podendo, assim, fazer aquele início de enchente parar para que pudesse reparar o estrago com calma e se livrar daquele tormento. Não o encontrou. Mais irritada do que poderia ficar, concluiu que não conseguiria fazer aquilo só e que precisaria pedir a ajuda do Legume Mais que Insensível existente na face da Terra.

— Ronald! - falou alto o suficiente para ele ouvir. Esperou alguns instantes. Nada. — RONALD! Por Merlin, que merda!

Havia esquecido do sono de pedra que o ex namorado tinha e se enfureceu por isso. Quando começava a dormir, nem mesmo uma explosão nos arredores da casa seriam capazes de acordá-lo. Pensou que depois do treinamento para Auror ele ficaria mais esperto, mas se enganou mais uma vez.

Deu uma olhada rápida ao redor e percebeu logo ao lado, na altura da saída da mangueira da caixa da descarga, a haste da cortina que separava a área de banho. Se conseguisse fazer a mangueira chegar até ali poderia direcionar os jatos de água naquela direção. Se esticou na ponta dos pés e, elevando os braços o máximo que pode, jogou a mangueira como planejado. Porém, antes que pudesse sentir alívio, a pressão da água fez com que a mangueira se movesse e voltasse a molhar a área que devia estar seca, obrigando-a a ficar segurando. Irritada, ela olhou ao redor e notou uma camisa do ruivo jogada no chão. Usando os dedos dos pés, ela puxou a camisa pra si e a usou como uma corda, prendendo aquela maldita cobra de plástico na haste.

Se levantou com toda altivez que apenas Hermione Granger seria capaz de manter em uma situação como aquela e, com as pantufas pesadas de água, foi arrastando os pés até o lado de fora do banheiro. Antes de sair definitivamente dele, olhou mais uma vez para a pequena enchente percebendo que tudo estava “normal”.

Caminhou a passos pesados - devido as pantufas molhadas e a sua ira pelo ruivo surdo, e, sem nenhuma cerimônia, abriu a porta e entrou no quarto onde ele dormia muito profundamente, como era de se esperar. Se aproximou dele e chamou num tom firme e irritado.

— Ronald.

Ele se moveu sobre a cama, sem acordar de fato. Virou para o outro lado balançando a mão sobre o rosto, como se espantasse um mosquito ou algo do tipo. Hermione se enfureceu ainda mais lembrando da comparação que ele havia feito com ela, insinuando que era irritante como um mosquitinho.

— RONALD!

O ruivo se sobressaltou afastando o lençol e ficando em posição de ataque sobre a cama. Olhou para todos os lados rapidamente, acostumando os olhos à penumbra antes de se dar conta que era Hermione à sua frente, em seu quarto.

— Por que diabos você veio gritar no meu quarto, garota? E a essa hora da noite? - falou claramente irritado, apoiando o peso do tronco sobre os braços, relaxando.

— Se você fosse mais vigilante, não teria sido necessário que eu precisasse ter o desprazer de vir até este quarto acordar você - falou igualmente áspera e aborrecida.

— Então pode se retirar, quero dormir - falando isso, se jogou novamente sobre a cama, cobrindo todo corpo e a cabeça com o lençol.

Hermione bufou. A claridade da rua criava uma pequena penumbra no quarto de janelas sem cortinas. Ela tateou a parede próxima da porta e encontrou o interruptor, acendendo a luz; em seguida, puxou o lençol de uma vez, descobrindo o ruivo e sentindo o corpo arrepiar ao constatar que ele estava apenas de cueca box preta. “Mas que droga!”, se recriminou enquanto ele virava de frente e sentava.

— Você está ficando louca ou o que? - vociferou, parando assim que a viu — Choveu aqui dentro e eu não percebi?

Quando Rony focou em Hermione a sua frente, teve vários pensamentos percorrendo sua mente. Ela estava molhada, quase pingando. Os cabelos molhados de um jeito que ele achava muito sensual, o pijama colado contra o corpo, quase transparente, revelando detalhes dela que ele não havia esquecido como pensou.

Ela, não diferente dele, estava um pouco sem foco observando o ruivo descamisado, a observando com aqueles olhos que ela só conseguia classificar como famintos. Se apressou em clarear a mente e passou as mãos sobre o cabelo, tentando recuperar um pouco da concentração. O ato não passou desapercebido pelo ruivo, que o achou muito provocante.

— Preciso da sua ajuda - ela falou de uma vez, sem olhá-lo diretamente, tirando a água do cabelo.

— Da minha ajuda? - ele arqueou a sobrancelha, sorrindo marotamente e relaxando sobre a cama — Pra quê? Pra se enxugar?

— Arhh… Como você é irritante, garoto - ela falou aborrecida, ainda mais por ele estar conseguindo deixá-la ainda mais desconcentrada com aquela conversa — Tem um vazamento no banheiro e eu não consigo fazer parar.

— Hum… - ele avaliou a informação — O que você fez?

— Eu não fiz nada - respondeu grosseiramente — A descarga está vazando e enquanto você fica com esse seu joguinho idiota de sedução, a minha casa está sendo alagada.

— Sério? - desdenhou — “Sua casa” está sendo alagada? Então vá consertar, oras. Afinal, não queremos que a “sua casa” seja prejudicada - e se deitou, de costas para Hermione, que observou afobada as costas largas e o bumbum tão bonito antes de continuar, soltando o ar pelo nariz.

— Rony, por favor - pela primeira vez ela se desarmou — Eu preciso da sua ajuda. Não sei o que fazer ali.

— Tudo bem, agora que me pediu com educação, vou ver o que posso fazer.

Ele se levantou de uma vez, pegou uma camiseta jogada em um lugar qualquer e bem longe dali uma calça velha e folgada de lã e vestiu-os. Hermione ficou levemente chateada por isso, mas o seguiu quando ele se encaminhou ao banheiro.

— Não acredito que ‘você’ quebrou a descarga – ele disse em um tom condescendente.

— Eu não quebrei a descarga. Já estava quebrada - respondeu com grosseria, a voz saía entre os dentes.

— E como eu usei antes de dormir e nada aconteceu? - perguntou, mas não esperou a resposta enquanto se aproximava do vazamento.

Se abaixou olhando a parte de trás da caixa de descarga sem se importar com a água que vazava dela. Olhou o jato de água caindo do outro lado da cortina e achou muito engenhoso da parte dela ter feito aquilo.

— Por que usou a minha camisa pra fazer isso? - perguntou sem nenhuma reação aparente.

— Foi a única coisa que encontrei por perto pra prender a mangueira.

— E ainda reclama por eu ser um pouco desorganizado - falou um pouco brincalhão — Se não fosse isso, jamais teria conseguido amarrar essa mangueira.

— Rony, por favor, vamos nos manter focados no que realmente é necessário - ela concluiu.

— Certo. Vou tentar uma coisa aqui, mas preciso da sua ajuda. Pode ser? - ele continuou, mais amigável.

— Sim. Sim, é claro. É só dizer o que eu tenho que fazer – Hermione também foi solícita à situação.

— Pra começo, você podia simplesmente desistir e ir embora, mas como já conheço sua teimosia, sei que de nada adianta eu falar isso, então só procura a chave de passagem de água mesmo - ele falou enquanto desamarrava a camiseta, o jato o atingindo em cheio no rosto, fazendo com que ele engolisse um pouco de água e engasgasse.

Hermione soltou uma risadinha.

— Viu só? Se prestasse atenção no que está fazendo não teria acontecido isso, mas não, prefere ficar ai falando o que não deve e logo vem o castigo - Hermione falou convicta.

— Acho melhor você parar com a ladainha e fechar logo a circulação da água - ele respondeu irritado, cuspindo a água enquanto segurava a mangueira que o molhara quase que inteiro.

— Eu não sei onde é o registro, eu já havia procurado antes de você ter essa grande ideia, mas não tive como olhar com calma - respondeu com altivez.

— Então vai procurar de uma vez - se irritou, fechando a cara para ela e depois se voltando para a descarga

Enquanto Hermione se abaixava e se apressava para encontrar a chave, sentado na borda da banheira, Rony a observava enquanto segurava a mangueira da descarga, os pensamentos chegando a sua mente. Ela ainda tinha aquele velho pijama que ele havia lhe dado enquanto ela passava um final de semana na Toca. A noite estava muito fria e ela e não queria voltar em casa para buscar, então, gentilmente, ele cedeu um dos seus preferidos.

Parecia velho e gasto, o que era um bom sinal. Mostrava que ela realmente havia gostado do presente. O tecido deixara de ser azul-claro e era quase branco agora. Ainda tinha algumas poucas imagens de gnomos e abóboras, bem mais largo do que era antes. Estava realmente muito gasto.

— Não encontrei – ela se virou e Rony reparou melhor agora que estavam mais próximos. O tecido claro do pijama revelava o contorno dos seios de Hermione sem mostrá-los por completo. Ele percebeu que ela estava com frio naquele momento, e ela percebeu que ele olhava para onde não devia. Cruzou os braços sobre o busto.

— Certo - sorriu novamente, o sorriso de canto que Hermione adorava e, ao mesmo tempo, odiava — Então abra o chuveiro e a torneira da pia – continuou em um tom de quem tem controle total sobre a situação. Hermione gostou dessa convicção — Vamos ver se isso diminui o fluxo.

— Certo - Ela se adiantou e fez o que ele pediu. Até serviu, mas muito pouco. Ela ainda pensava onde ele havia aprendido a ser tão seguro — Vou procurar na cozinha - E desceu.

Quando voltou ao banheiro, Rony já mexia na mangueira e na caixa de descarga. Finalmente o fluxo da água havia parado.

— Consegui encontrar a chave - falou simplesmente enquanto fechava as torneiras.

— É... Eu percebi - Rony respondeu sem muita alteração — Estou terminando aqui.

— Não sabia que tinha dons como encanador - Hermione comentou tentando não mostrar muito interesse.

— Tem muita coisa que não sabe sobre mim, Hermione – ele parou de falar por um momento, concentrado no que fazia. Hermione o observou, estranhamente encantada com esse Rony desconhecido — Isso acontece quando nos afastamos das pessoas por muito tempo.

Ela não respondeu e ficou apenas observando, encostada na pia, com os braços cruzados sobre o peito e o frio chegando ainda mais forte. Sentiu as pernas começarem a tremer levemente.

— Quando fui em treinamento para a Austrália, morei sozinho em uma casa trouxa. O bairro inteiro era trouxa. Era como aqui, sem magia. Tive que aprender algumas coisas pra me virar por lá.

— Sei…

— Esse pijama ainda fica bem legal em você – comentou sem tirar os olhos do que fazia. Hermione se sentiu envergonhada. Esqueceu da história daquele maldito pijama antes de colocá-lo.

— Gosto dele. É confortável – ela tentou soar desapercebida.

— É bom quando temos algo que nos faz bem – ele continuou, com um sorriso enigmático.

— É sim... – ela respondeu com um tom meio baixo, baixando os olhos, pensando em coisas que não devia lembrar.

— Você pode ir abrir a água, por favor?

— Sim.

E num instante Hermione desceu. Mesmo demorando um pouco a subir, reapareceu a tempo de ver Rony puxando toda a água para o ralo com um rodo.

— Onde conseguiu esse rodo? - ela perguntou surpresa.

— No quarto ao lado do meu. Tem umas tranqueiras por lá – respondeu sem parar o que fazia, deixando Hermione ainda mais perplexa — Eu fiz um arranjo. Vai dar pra segurar até amanhã - e ele fez uma breve demonstração, acionando o aparelho, mesmo que Hermione não prestasse atenção, tentando identificar os músculos do peitoral e abdômen do ruivo, expostos pela camisa branca molhada.

— Obrigada – tentou parecer indiferente, mas não conseguiu e percebeu sua falha.

— Se não precisa mais de mim, vou dormir. Estou cansado. E tente, por favor, não quebrar mais nada enquanto durmo – ele comentou sem se alterar com o olhar irritado que ela lhe dava.

— Eu não quebrei essa coisa - ela se armou.

— Hermione, me poupe de suas ladainhas sem sentido a essa hora da noite. Não estou com paciência - falou com grosseria.

— Mas você é mesmo um ogro, não é?

— Peraí! Você quebra a descarga e eu sou o ogro? Precisamos rever algumas coisas por aqui, senhorita Nada Delicada Granger. - a voz saiu grossa enquanto tirava a camisa molhada e a jogava no chão, irritado, exibindo o peito.

— Olha aqui, seu... Seu... - as palavras se perdiam. Hermione havia perdido totalmente o foco.

— Seu o que? - insistiu, se aproximando ameaçadoramente dela, observando a garota avermelhar.

— Saia da minha frente! - passou com força, empurrando o ruivo.

Hermione desceu as escadas de uma vez. Estava descompassada. Fechou os olhos com força apoiando as mãos na bancada da cozinha. Os pensamentos a mil por hora relembrando momentos acalorados com o ruivo quando ainda eram namorados.

Por um momento, pensou que não ia resistir. Por um momento, pensou que o ruivo fosse agarrá-la ali e ansiou por isso. “Droga. Droga. O que está acontecendo comigo?” Aquilo era demais para ela. Muito exibicionismo para uma só pessoa. “Não vou aguentar isso por muito tempo.” Pensou, frustrada. “Preciso de um chá. Preciso de um chá de camomila. Mas que droga de dia. De noite. Que droga!”.

Procurou uma panela na qual pudesse ferver um pouco de água. Deveria estar com frio pela roupa encharcada, mas sentia o corpo queimar. “Que droga!”. As panelas faziam um som característico enquanto ela procurava alguma menor.

— Mas que merda, Hermione. Agora vai quebrar as panelas também? - Rony bronqueou assim que chegou à cozinha, guiado pelo barulho.

Ela não respondeu, mas olhou de relance para ele, que havia retirado a camisa molhada e tinha uma toalha enrolada no pescoço. “Muito sexy. Muito sexy. Controle-se, Hermione.” Sentiu a panela cheia de água escapar das mãos, e o barulho foi grande na pia, espirrando mais água sobre ela.

— Mas que grande merda! - ela se irritou.

— Olha só – ele desdenhou se aproximando — Hermione Certinha Granger falando palavrão.

— Vá se ferrar, Weasley. - quase gritou.

— Ui, ui, ui!!! - continuou irritando a morena, ficando atrás dela que evitava se virar e olhar para ele — Estou morrendo de medinho de você, Granger. Não sabia que tinha mudado o seu vocabulário durante suas férias de mim - o rosto dele estava muito próximo da nuca dela, fazendo com que ela se arrepiasse. Ele percebeu.

— Ronald, me dê um tempo! - gritou ao se virar — Será que não posso, sequer, fazer um chá em paz? Preciso de espaço - o empurrou com as mãos, saindo daquele perigo iminente.

— Como você pede paz se não me dá a paz que eu preciso, garota? - ele perguntou com grosseria, tentando disfarçar com o tom irritado a tensão que sentia por estar tão perto dela e não poder encostá-la na parede e descobrir se as coisas fluiriam do mesmo modo que no passado.

— Vai embora! Suma dessa casa. Por que não volta para a casa dos seus pais e me deixa quieta aqui?

— Porque essa casa é minha, caso tenha esquecido. Paguei por ela e é meu direito ir e vir no meu lar. Agora você chega aqui, com essa sua mania irritante de mudar tudo, e se apodera do que é meu sem nem ao menos pedir permissão... Isso me irrita e me deixa de mau humor – gritou de volta, se aproximando dela novamente. Ambos não se davam conta que era madrugada.

— Não estou me apoderando de nada seu, se não percebeu – ela aumentou o tom, aproximando-se também.

— Sim, está. Sempre está. Basta você aparecer pra tudo virar de cabeça pra baixo.

— Ah... ótimo – ela balançava as mãos freneticamente — Agora a culpa de sua vida ser uma bagunça é minha?

— Sim, é – ele a encarou. Os rostos bem perto.

— Você que bagunça tudo por onde passa – ela manteve o olhar e sentiu a quentura do peito dele próximo demais.

Mais uma vez, naquele dia, perderam a fala. Não havia condições de continuarem se ofendendo quando estavam tão próximos. Hermione sentia o coração batendo descompassado. Não era possível estar passando por tudo aquilo em menos de vinte e quatro horas. Sentia um desejo súbito de abraçar e beijar o ruivo, e por um breve momento, novamente achou que ele o faria, até que ouviu a campainha.

— Ótimo – Rony se afastou — Lá vem o vizinho defensor de mulheres indefesas me acusar novamente.

— Se ele se preocupa tanto, talvez seja porque você tem dado motivos - ela acusou.

— Ah... Legal. Agora a culpa é minha – um novo toque — Vou atender de uma vez e espero que ele não esteja com a polícia, “querida esposa” - desdenhou antes de se afastar.

Hermione sentiu o rosto queimar de fúria ao ouvir o ruivo chamá-la de esposa. Sonhou em ser esposa dele por um bom tempo, mas a frase dita assim lhe deixou possessa. Respirou fundo e colocou, depois de reunir toda a sua dignidade perdida, a panela com água sobre o fogão, se aproximando da porta também, percebendo uma pequena discussão vinda da sala.

— Então pergunta pra ela – Rony se afastou, liberando a passagem para que o senhor Brand pudesse entrar, mas ela já estava atrás do ruivo e, pelos calafrios, percebeu que aquele peito nu estava provocando sensações estranhas nela.

— Boa noite senhor Brandt — ela o saudou num tom baixo e amigável, ignorando as más sensações ao estar próxima do ruivo.

— Boa noite, senhora Weasley…

— Não sou... — ela tentou, mas o homem continuou.

— Minha esposa e eu fomos acordados por seus gritos e de seu marido e, sinceramente, senhora, não tem como acreditar que era um desentendimento inocente como ele falou.

— Senhor Brandt, nós estávamos apenas… — ela pensou um pouco tentando achar um termo adequado, sem conseguir — debatendo algumas divergências, de verdade.

"Não houve nada de grave além de gritos depois de um dia estressante e um cano estourado. Só estamos cansados e peço desculpas novamente por nossa falta de bom senso em gritarmos a essa hora da madrugada. Nos perdoe, de verdade, e muito obrigada por sua gentileza e preocupação, mas está tudo bem, realmente".

— Acredito na senhora, não sei porquê – o senhor falou dando novamente aquele olhar ameaçador por debaixo de um pijama listrado para Rony. Ele não se conteve dessa vez e sorriu.

— Me desculpe novamente — ela falou lançando um olhar ameaçador para Rony que engoliu a risada — Vai ficar tudo bem agora. Boa noite.

— Boa noite, senhora Weasley.

Hermione fechou a porta e encarou o ruivo. Ele estava vermelho, mas dessa vez não era de raiva, e sim de divertimento. A gargalhada que ele deu em seguida foi mais que suficiente para que Hermione se soltasse também, lembrando da cara ameaçadora do senhor à porta.

— Precisamos controlar a altura de nossas discussões — ele comentou ainda entre risos.

— Eu prefiro não ter que discutir mais —– ela comentou, começando a se acalmar.

— Como quiser. Basta não me provocar…

— Eu? Te provocando? Me polpe, Weasley.

— Hermione, por hoje chega — o ruivo encerrou aquela noite — Se não está com sono, eu estou. Acordo cedo e vou ter um dia daqueles, então, boa noite.

— Digo o mesmo — respondeu altiva, sem querer ficar por baixo, se encaminhando para a cozinha.

— Ah! E antes que me esqueça — ela parou para ouvi-lo — Não estou com nenhum joguinho de sedução com você, okay?

Ele se afastou sem esperar a resposta. Subiu as escadas em silêncio enquanto Hermione o observava desaparecer pelo corredor. Podia até não ser intencional, mas a verdade era que ele estava mais provocante do que nunca, ela não poderia negar, e sabia que teria que colocar todo o seu bom-senso e autocontrole em prova durante os meses em que dividiria a casa com o Weasley.


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Notas finais do capítulo

Então terminamos por essa semana. Missão cumprida!
Espero que tenham gostado e tenham ficado com gostinho de quero mais huahuaua
Bom final de semana a todos e até sexta que vem.



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