A Casa Caiu escrita por Andye


Capítulo 26
Uma Ligação


Notas iniciais do capítulo

Apareci, gente. Não morri nem fui presa... Muito menos expulsa do mundo bruxo. Apenas estava esperando Anne A betar o capítulo, mas ela não apareceu, então... Relevem quaisquer erros gramaticais.
Sobre o capítulo, estamos na reta final e teremos mais 3. Espero que não me odeiem por isso... Como diria meu professor de Estudos Clássicos: "Toda boa história precisa de reviravoltas". Mas prometo que de alguma forma as coisas irão se resolver.
Sem mais delongas, boa noite e bom feriado.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/628542/chapter/26

Tudo o que Hermione queria era permanecer deitada naquela quentura agradável que só aquele corpo seria capaz de emanar, mas precisava levantar. O Ministério a chamava para mais um dia de trabalho.

Antes de acordar o ruivo, ela o observou enquanto dormia e admirou o quanto ele era lindo. O quanto o amava. Ele ressonava profundamente e parecia estar em um sono agradável, pois havia um pequeno sorriso em seu rosto e, mesmo inconsciente, ele a segurava com firmeza contra o seu corpo.

Havia alguns dias que decidiram parar de remar contra a maré e foram dormir juntos de uma vez. E Hermione não podia negar que estavam sendo os melhores momentos de sua vida. Dormia tranquila, acordava leve. Era mais fácil do que, todas as noites, inventarem um motivo qualquer para invadirem o quarto um do outro. E fora ela quem propôs, de fato.

Recostou a cabeça sobre o peito dele e ficou divagando pelos muitos rumos que a sua vida tomava e se deu conta que faltavam poucos dias para o Natal. Exatamente cinco dias. Respirou profundamente pensando no que deveria fazer. A incerteza ainda machucava seus pensamentos, mas o desejo de estar com Rony fazia com que ela se decidisse a cada segundo.

Inspirou mais uma vez e sentiu a mão dele acariciando suas costas nuas. O coração de Rony batia melodicamente e ela adorava ouvir.

— Um beijo por seus pensamentos — ele disse e sem esperar resposta, beijou o alto da cabeça dela.

— Só pensando que temos que ir trabalhar — falou sorrindo de leve.

— Tem certeza que é só isso? — ele perguntou certeiro. Sua mão acariciava o braço da moça.

— Hmmm — ela pensou novamente como Rony podia conhecê-la tão bem. Saber que ela não estava sendo franca com ele.

— Hmmm? — ele não se intimidou.

No fundo, Rony pensava se Hermione estava ponderando o mesmo que ele. Queria tocar naquele delicado assunto, mas não sabia como começar. Queria que Hermione ficasse com ele para sempre e, mesmo que não fosse o cara certo, aquele que ela realmente merecia, se esforçaria ao máximo para que ela fosse feliz.

— Faltam só alguns dias para o Natal... — ela começou e se calou.

— Sim… — ele aproveitou a deixa — Cinco dias, para ser mais preciso.

— É… Acho que sim — ela continuou — Eu recebi uma ligação do senhor Collins sexta passada.

Rony não gostava quando o nome daquele homem era citado entre eles e, em resposta, se moveu desconfortavelmente sobre a cama. Era como se aquele nome fosse o presságio de coisas ruins. Quase tão mal quanto a maldição do tabu.

— O que ele disse? — perguntou tentando aparentar tranquilidade.

— Ele disse que eu fui ressarcida — ela começou — E que o dinheiro da indenização já foi depositado em minha conta.

— Isso é ótimo — ele tentou parecer entusiasmado, mas sabia que ela ainda não havia completado a informação. Por isso, se calou e esperou que ela continuasse quando achasse conveniente.

— Sim… É, sim — ela parou um instante — Ele também falou que minha casa está disponível.

Seguiu-se um silêncio constrangedor no qual nenhum dos dois sabia como reverter. Ela suspirou novamente, e bem mais profundamente que antes, enquanto Rony tentava assimilar todas as notícias e falar algo que parecesse maduro o suficiente para encobrir sua tristeza iminente.

— O que pretende fazer? — saiu sem que ele conseguisse controlar e se maldisse por isso.

— Ainda não sei… — ela ficou novamente em silêncio, como se esperasse algo dele.

— Mione… Eu já te disse — continuou enquanto lhe fazia cafuné — Sei que essa não é a melhor das casas, mas ela é sua também. Até mais sua do que minha, afinal, você pagou bem mais por ela do que eu.

— É… — ela sorriu falsamente irritada e ele sentiu a quentura de sua respiração contra o peito — Isso é bem verdade. Mas ainda não sei.

— Não quero que vá embora… Sem motivos. Podemos viver muito bem por aqui. Ninguém se mete em nossas vidas e fazemos o que nos dá vontade.

— Sim… É verdade.

Ela concordou, mas não gostava do fato de viverem naquele segredo. Estava pendendo a ficarem juntos. Estava pensando realmente em dividir a vida com ele, mas daquela forma, em segredo, não lhe parecia o melhor.

Rony não propunha falar, nem mesmo para Harry, que era o seu melhor amigo, e ela, por vezes, se sentia como se fosse apenas uma conquista dele. Ela não gostava de pensar assim, mas, por mais que quisesse ficar ao seu lado, tinha dúvidas quanto ao seu sentimento.

— Acho melhor sairmos dessa cama e irmos trabalhar — ela começou a levantar tentando desviar os pensamentos, mas foi deitada novamente por Rony que a beijou languidamente depois de olhar o horário e constatar que teriam tempo o suficiente para se amarem um pouco mais antes do trabalho.

No Ministério, Hermione não se concentrava. Havia uma infinidade de novas leis a serem analisadas pelo bem das criaturas mágicas e ela não conseguia juntar as palavras em sua frente. Os memorandos voadores chegavam aos montes e ela tinha vontade de sair correndo daquele lugar, descabela e sem sapatos. Apenas fugindo daquele turbilhão de sentimentos que a desfocavam.

— Senhora, está tudo bem? — a prestativa secretária perguntou ao ver como ela estava e que a mesa estava repleta de leis e memorandos, alguns deles ainda intactos.

— Ah… Oi Donna. O que disse? — Hermione perguntou um pouco desconcertada.

Sua secretária era sempre tão amável e a ajudava na maioria das vezes. Donna Blessmann era mestiça e bem jovem. Havia saído de Hogwarts há pouco mais de um ano e ainda não conseguira emprego.

Hermione a conheceu em Hogsmead um pouco depois de aceitar o cargo no Departamento para a Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas e a achou excelente. A jovem vislumbrava a proteção aos seres ainda considerados "inferiores" e, por esse motivo, Hermione lhe ofereceu o cargo de secretária, pois precisaria de uma.

— Tudo bem, Hermione — a chefe jamais permitiu que ela a chamasse de senhora. Sempre disse que não era nenhum pouco maior que ela — Só perguntei se estava tudo bem.

— Acho que sim… — começou um pouco desorientada — Pra falar a verdade, não. Eu não estou bem.

— E eu posso ajudar de alguma forma? — ela perguntou solícita, sentando na cadeira à frente de Hermione.

— Só se você me explicar como a gente deixa de ter medo de correr riscos… — Donna olhou para ela esperando que continuasse. Ao perceber que ela não falaria mais, começou:

— Não sei bem como se consegue isso. Nossos medos são bem complicados, mas podemos encará-lo de frente.

"Eu lembro que enfrentamos um Bicho Papão no terceiro ano e o meu se transformou em um maldito palhaço que minha mãe insistia em contratar sempre que eu fazia aniversário. Eu odiava aquele palhaço - sorriu pensativa e continuou — Mas eu o enfrentei e fiz com que ele se transformasse numa enorme biruta — ela sorriu ainda mais — Tive que explicar pra mais da metade da turma o que era aquela biruta, mas, no fim, consegui, e isso me deixou extremamente feliz porque parei de ter medo de palhaços".

Hermione olhava a moça atentamente, esperando o que ela falaria em seguida, gostando da história e se identificando com ela.

— Eu não sei se você compreendeu o que eu quis dizer — Donna continuou — Mas, no meu caso, lutar contra o meu medo me deu forças para superá-lo e fui muito mais feliz depois que vi que aquele medo só estava dentro de mim.

"Enfrentar nossos medos é bom porque nos deixa mais fortes e, Hermione Granger, aquela que ajudou Harry Potter e Ronald Weasley a derrotar Voldemort, sabe muito bem o que significa enfrentar medos".

— Acho que sim… — Hermione sorriu — Obrigada pelas palavras, Donna. Me ajudou.

— Que prazer ajudar Hermione Granger — sorriu — Vou levar alguns desses memorandos. Vou analisar e responder pra você.

— Obrigada, Donna. Você é maravilhosa — depois de receber um abraço agradecido de Hermione, Donna saiu e, com ela, a maioria dos memorandos.

— Então é isso… — Hermione falava consigo mesma — Enfrentar meus medos. Você é Hermione Granger, enfrentou Voldemort e seus comensais. Você é Grifinória. Como pode ser tão medrosa? — se recriminou — Vou alugar a casa. Vou sim — começou a sorrir feliz com a decisão — Vou viver com o Rony e, um dia, quem sabe, podemos assumir tudo e sermos muito felizes! — estava satisfeita — Eu te amo, seu legume insensível. Não conseguiria ficar longe de você de novo.

Decidida, Hermione terminou o expediente bem mais animada e concentrada do que estava antes. Ao sair, passou no setor dos Aurores e procurou por Rony, mas ele já havia saído e ela não pode evitar achar estranho. Rumou para o Átrio e aparatou na praça que levava à casa deles.

Aquela forma de ir e voltar para o Ministério era bem mais cômoda e já havia perdoado o ruivo por ter escondido aquele acesso e fazê-la molhar os pés na privada por quase duas semanas.

Estavam em pé de guerra naquela época e, pensando agora, parecia fazer tanto tempo daquela situação.

Conversaria com Rony ainda naquela noite. Não havia mais o que esperar.

— Rony? — chamou assim que entrou na casa. A cozinha exalava um cheiro delicioso de molho.

— Oi… — ele sorriu para ela da cozinha — Estou terminando aqui. É espaguete com molho rosê.

— Onde aprendeu a fazer tudo isso? — ela perguntou espantada, indo ao seu encontro e o saudando com um beijo sobre os lábios.

— Internet — sorriu — Só segui o passo a passo.

— Essa sua versão informatizada é estranha, às vezes — ela comentou brincalhona — Precisa de ajuda?

— Não. Já está quase tudo pronto. Vai lá tomar um banho. É o tempo que termino aqui.

Seguindo o conselho do ruivo, Hermione foi até o banheiro e se demorou um pouco mais do que de costume. Em seu quarto, escolheu uma bela lingerie vermelha, cor que ele gostava e, pensando no que aconteceria depois que dissesse que ficaria, colocou um vestido florido e comportado sobre a peça provocante.

Ela desceu as escadas e estancou no meio dos degraus ao ouvir um "eu te amo" pronunciado por Rony. Estranhou e, com curiosidade, desceu mais um degrau para ter certeza de com quem ele falava. Não havia ninguém e ela percebeu que aquela conversa era pelo celular.

A cabeça girou e ela sentiu as pernas fraquejarem enquanto ouvia distante de seus sentidos as frases que ele falava "nunca deixei de te amar", "nunca houve nada entre mim e qualquer mulher", "você sabe que é o único amor da minha vida", "quando isso tudo se resolver, eu quero casar com você".

Subiu as escadas em direção ao seu quarto tão rápido quanto aquelas palavras martelaram sua mente. Sua cabeça doía e os olhos queimavam segurando as lágrimas que ela tentava conter, imaginando quem poderia ser a tal mulher com quem ele conversava.

Ela agora entendia o porquê de Rony nunca ter dito que a amava. Nunca poderia pronunciar essas palavras para ela se o amor que ele sentia estava direcionado a outra mulher. E foi com essa certeza que ela começou a arrumar uma mala.

"Estúpido. Imbecil. Canalha." O ruivo era depreciado a cada novo segundo em sua mente. "Nunca deixou de ser um legume insensível. Hipócrita. Me fez sentir todas essas coisas pra nada. Me enganando." 

Sentou-se sobre a cama e respirou profundamente. Iria encerrar de uma vez por todas aquele capítulo de sua vida. Um capítulo onde era feita de idiota e miseravelmente enganada pelo homem que sempre amou.

"Não voltei pra isso. Não vou sofrer de novo, seu idiota."

Quando voltou a descer as escadas, viu um Rony completamente assustado ao observar que ela carregava uma mala. Ele não entendeu o que acontecia. Não sabia o que dizer, mas viu Hermione puxar aquela mala pela sala em direção à porta e se sobressaltou.

— Depois eu peço pra alguém pegar o resto das minhas coisas.

— Hermione, o que está acontecendo? — ele parecia realmente confuso. Apressou-se até ela.

— Só estou indo pra minha casa. Acho melhor que cada um viva a sua vida em paz — ela falou e abriu a porta.

— Mas, Mione…

— Obrigada por dividir sua casa comigo esse tempo, Rony. Agora já vou. O táxi já deve estar chegando.

Rony estava atônito. Não sabia o que dizer, muito menos o que pensar. Viu Hermione atravessar a porta e fechá-la atrás de si. Pouco depois, ouviu o carro partindo. Sentou-se sobre o chão depois de focar a pequena mesa redonda da cozinha. Sobre ela estava o macarrão em uma bela travessa de vidro, dois pratos distribuídos com talheres. Uma garrafa de hidromel dentro de uma bandeja com gelo e duas taças sobre os guardanapos.

Preparara tudo para que aquela noite fosse especial. Explicaria finalmente o sentido da pulseira que lhe dera em seu aniversário, mas agora não poderia fazer nada. Ela havia ido embora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

¹ Para as que não lembram, tabu é o feitiço que literalmente amaldiçoa a fala, delimitado normalmente a pequenos dizeres. Quando uma determinada palavra amaldiçoada é pronunciada, qualquer um que a pronunciou se torna rastreável. Outros recursos do feitiço como quebrar encantos protetores e causar uma espécie de perturbação mágica completam os efeitos poderosos dessa magia avançada.

http://wiki.potterish.com/index.php?title=Tabu

Para quem não se lembra, esse feitiço foi usado Depois do golpe do Ministério da Magia em 1997. Pronunciar o nome "Voldemort" chamaria Comensais da Morte por Aparatação. Isto era usado para encontrar aqueles que iam contra as regras de puro sangue se ousassem falar seu nome. Foi deste modo que Harry, Rony e Hermione foram encontrados na Rua Tottenham Court e levados à Mansão Malfoy.

— SOBRE O CAPÍTULO
E agora, José? O que fazer? O que acham que aconteceu?
Com quem será que o Rony conversava? A quem ele estava se declarando?
E a Mione, o que acham que ela vai fazer agora? Fugir? Sumir?
Não percam. Encontro marcado na próxima sexta e não deixem de comentar. :***



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Casa Caiu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.