Rony se remexeu sobre a cama languidamente. Algo o incomodava e lhe tirava de seu sono. Abriu os olhos e deu de cara com Hermione, dormindo ao seu lado tão profundamente que parecia estar sob um encantamento.

Não conseguiu conter o sorriso que se formou, mas o pequeno instante que a observou foi quebrado novamente por aquele barulho irritante.

Olhou por cima da garota, em direção ao criado-mudo, e viu o celular remexendo sobre o móvel enquanto piscava.

Levantou rapidamente, mas com cuidado para não acordar a morena, e apressou-se até o celular, saindo do quarto em seguida. No corredor olhou para o visor e viu o nome da irmã piscando. Atendeu rapidamente.

— Oi Gina — falou naturalmente.

— Até que enfim… — reclamou a ruiva do outro lado da linha — Pensei que tivessem morrido os dois.

— Ligou pra Mione? — perguntou displicentemente.

— Sim. É claro que eu liguei — ela parecia irritada — Mas ela não atendeu, o que estranhei…

— Deve estar dormindo… Aliás, por que está me ligando tão cedo? Eu também estava dormindo, sabe?

— Preciso da sua ajuda — ela falou parecendo tensa — Preciso da ajuda de vocês dois. E não está cedo. Já passam das dez.

— Tá, tá! Tudo bem! Precisa de ajuda pra quê? — ele perguntou percebendo que se meteria em uma enrascada.

— Preciso que fique com o James por duas ou três horas — ela falou tranquilamente.

— Como? — ele pareceu ansioso com a ideia.

— Por favor, Rony… São poucas horas. Preciso sair com o Harry… O primo dele, o Duda… Bem, é aniversário da tia do Harry e o Duda inventou um almoço de aniversário. Não quero que o Harry vá sozinho, você sabe como são as coisas por lá… E ele não quer que eu leve o James.

— E por que não deixam com a mamãe? — Rony sugeriu certeiro.

— E você acha que já não falei com ela? — falou irritadiça — Mas não quis abusar. Ela já está com a Vick e com a Molly. Por favor, Rony… É por pouco tempo.

— E o que eu vou dizer pra Mione? — ele agora parecia preocupado.

— Tenho certeza que ela não vai se importar tanto assim.

— Gina… — falou em tom de súplica.

— Oh, Ron… Eu te amo tanto, irmão querido. Por favor — a outra seguiu o mesmo tom suplicante.

— Isso não vai dar certo — ele concluiu — Mas é meu sobrinho… Não tenho como negar…

— Não mesmo. E você é o padrinho. Na nossa falta, a responsabilidade é toda sua, então comece desde já. Chego aí em quinze minutos.

Dizendo isso a ruiva desligou. Rony ainda ficou por alguns instantes olhando o visor do celular.

Pensou em chamar Hermione, mas achou que daria conta de James sozinho até que ela acordasse naturalmente. Afinal, ele tinha pouco mais de um mês e provavelmente só comia e dormia.

O ruivo sequer tomou banho. Voltou ao quarto quando se deu conta que estava sem roupas e colocou a calça de dormir. Hermione ainda dormia profundamente e ele ficou alguns instantes observando a morena tão relaxada.

Parecia mesmo um sonho ver Hermione ali, em sua cama, mas nem só de sonhos os bruxos vivem.

Respirou fundo e desceu os degraus para esperar a irmã. Pouco depois ouviu a batida na porta.

— Por que não usou a campainha? — Rony falou assim que viu a irmã do outro lado da porta — Bom dia, Harry.

— Bom dia.

Harry respondeu e Rony percebeu que o amigo estava tenso. Ele segurava James, que aparentemente dormia, nos braços, enquanto Gina emburacava na casa com uma mala nas mãos.

— Pensei que seriam poucas horas — o ruivo observou enquanto ela passava.

— Sim… — ela respondeu sem dar muita atenção — E serão poucas horas. Logo se vê mesmo que você não tem filhos… — abriu a mala sobre o sofá e mostrou o básico para o irmão — Trouxe fraldas e mamadeiras. Não precisa fazer leite, esse é do peito — Rony fez uma leve careta ouvindo a irmã continuar — Você tem que dar o leite a cada duas horas. Eu dei uma antes de vir pra cá e espero voltar antes de precisar novamente. Mesmo assim, eu trouxe duas. Tem um pacotão de fraldas, roupas, meias e luvas, caso queira passear com ele. Trouxe a toalha e a banheira — ela mostrou a pequena banheira para Rony — É um feitiço de extensão. O Percy disse que bloquearia pra mim diante dessa situação. Fiz o mesmo com o berço e lancei feitiços nas mamadeiras para ficarem na temperatura normal — com um leve aceno da varinha, o berço tomou o seu tamanho normal, assim como a banheira — Por favor, Rony… Não mate o meu filho.

— Como assim? — o ruivo pareceu indignado — Acha que eu seria capaz de matar meu sobrinho e afilhado?

— Não conscientemente — ela continuou — Onde está a Hermione?

— Dormindo — ele falou distraidamente, tentando disfarçar.

— Ainda? — Gina estranhou.

— Sim… Final de semana, Gina. As pessoas costumam dormir até tarde.

— Não a Mione… Você fez alguma coisa com ela? — perguntou astutamente.

— Eu? — indignou-se ainda mais, falando um pouco alto, mas reduzindo o tom quando a irmã fez um gesto de silêncio com o dedo indicador sobre os lábios — Se pensa tudo isso de mim, deveria levar o James para outro lugar.

— Só é estranho… — ela pareceu desconfiada.

— Vamos, Gina — Harry se meteu na conversa — O Rony já está fazendo demais por nós — ele continuou colocando o pequeno no berço — James é tranquilo, dorme muito. Tenho certeza que não dará trabalho algum.

— Espero mesmo. Nunca cuidei de um bebê.

— Mas é bom ir treinando… — Gina soltou e o irmão a olhou irritadiço — Mesmo assim, obrigada, Cenoura — falou dando um beijo na bochecha do irmão — Voltamos logo.

Rony se sentia intimidado com aquela situação. James era só uma criança e não deveria ser tão difícil passar umas duas ou três horas cuidando dele.

Olhou para o garoto e ponderou se seria prudente deixar o menino só enquanto preparava algo para ele e Hermione comerem. Então concluiu que sim e foi até a cozinha, observando o menino, atento a qualquer movimento que ele fizesse.

E ele fez não demorou muito tempo. O choro alto e estridente veio cinco ou dez minutos depois dos pais terem ido embora. Rony deixou tudo o que estava fazendo e correu até o berço.

O menino estava com o rosto vermelho pelo esforço de chorar e todas as suas tentativas de fazê-lo parar foram inúteis.

— O que está acontecendo, Rony? — Hermione apareceu instantes depois. Seria impossível que ela não acordasse com tamanho berreiro.

— É o James — Rony parecia desesperado balançando uma revista na frente do menino — Não para de chorar. Já tentei de tudo — Hermione se apressou até eles enquanto Rony continuava falando — Já fiz careta, cantei pra ele. Balancei essa revista e o controle da TV. Ele não para — Hermione parou ao lado dele e sorriu do desespero do ruivo.

— Já tentou pegá-lo nos braços? — ela falou enquanto pegava o bebê e o aninhava em seus braços — Talvez ele esteja com fome.

— Não… — Rony parecia mais tranquilo e encantado com aquela cena, mesmo diante do barulho — Gina disse que ele acabou de mamar…

— Pode ser a fralda — ela falou verificando a fralda e se certificando que ela estava molhada — Me ajuda a trocar?

— Eu? — ela sorriu do espanto que ele demonstrou.

— Sim… Você mesmo — ela o olhou divertida — Pega alguma coisa que sirva de lençol na maleta dele e uma fralda, por favor — ela dava as instruções enquanto acariciava o bebê que, incrivelmente, havia parado de chorar.

— E agora? — ele parecia abobalhado com o que via.

— Coloca a toalha sobre o sofá que eu vou trocar o James.

Ela falou sentando-se sobre o sofá. Rony se aproximou e estendeu a toalha desajeitadamente, tirando os amarrotados com as mãos. Em seguida Hermione deitou o pequeno que praticamente já dormia sobre o móvel.

Ela abriu a roupinha dele — Rony jamais imaginaria que havia botões ali — e começou a trocar a fralda.

Ele concluiu que não conseguiria tomar conta do menino sozinho e não percebeu o sorriso abobalhado que tinha em sua face.

— Ele está bem, agora — Hermione falou pegando o menino novamente em seus braços — Quer segurar?

— Não… — falou convicto, mas tinha um desejo de tentar.

— Ron… É só segurar… — ela estimulou.

— E se ele cair? — parecia assustado.

— Olha o tamanho dos teus braços, Rony… Você não vai deixar ele cair.

E falando isso, colocou o menino nos braços do ruivo, instruindo como e onde segurar.

Rony estava encantado com aquele pequeno em seus braços. Era tão minúsculo e indefeso, e ele jamais imaginou ser capaz de ter um bebê em seus braços sem que ele escorregasse por suas mãos.

— Ele é tão pequenininho — ele comentou abobalhado, só não tanto quanto Hermione estava.

— É sim… — ela sorria. O menino dormia nos braços do tio — Mas o que o James está fazendo aqui? Seria interessante que me explicasse.

Enquanto explicava, Hermione o ajudou a colocar o pequeno no berço. A morena sequer se opôs ao fato de ajudarem o amigo e explicou para Rony que havia aprendido um pouco sobre bebês quando passou algumas semanas na casa de uma prima que tinha uma filha pequena.

Gina e Harry, por outro lado, não voltaram tão rápido quanto haviam prometido para o ruivo, e Rony e Hermione tiveram a rotina de seu dia totalmente alterada.

Não tocaram no assunto da noite passada em nenhum momento, apenas aproveitaram aquela loucura de ter um bebê em casa, muitas vezes pensando distintamente se teriam aquele futuro algum dia.