A volta para casa foi estranha e silenciosa. Rony ainda não acreditava no que havia proposto para Hermione. E, o pior, não acreditava que ela havia aceitado.

Caminharam pelas calçadas do bairro em estado de catatonia. A única coisa que ele queria saber era o que se passava na cabeça dela, mas nem mesmo sabia o que se passava na cabeça dele mesmo.

Queria falar o quanto desejava que ela não fosse embora e como aquela ideia o assustava. Mostrar o quanto havia ficado triste pelo bebê. Deixar claro que não havia proposto o casamento pela ideia da criança, mas na esperança de viver ao seu lado para sempre.

Tinha vontade de compartilhar os muitos planos que havia alimentado diante daquela proposta e como havia sofrido ao saber que havia uma data marcada para que ela fosse embora.

Não conseguia dizer o quanto a amava. Nunca o dissera. Nem mesmo quando namoraram anos atrás. Não se sentia digno dela.

"Mas ela aceitou ficar aqui... Aceitou viver por um mês comigo. Sem cobranças. Sem planos... O que será que ela quer que eu faça? Como ela espera que eu aja daqui por diante?"

Apressou o passo e se adiantou até a porta, abrindo-a para que a moça passasse. Ela sorriu em resposta ao gesto e entrou, permanecendo de pé na sala, esperando que ele falasse algo ou, talvez, criando ela mesma coragem para começar a falar.

— Pensei em pedir uma pizza... — ele falou tentando quebrar aquele silêncio estranho e perturbador — E poderíamos ver um filme...

Hermione não falou nada. Olhou para ele e anuiu. Ela parecia estranha, fechada em seu próprio mundo e ele, angustiado.

Caminhou até o telefone da cozinha e observou a garota ir ao primeiro andar enquanto ele falava com o atendente e pedia a pizza.

Ouviu o barulho do chuveiro e sentou, se sentindo exausto. Imaginou que Hermione tivesse se arrependido.

Maldisse-se por ter proposto algo tão infundado e sem sentido. Aquela proposta não tinha sentido e, igualmente à morena, se arrependeu. Resolveu desfazer tudo durante o jantar.

Quando Hermione desceu, a pizza já estava sobre a mesa. Havia suco de limão. Rony, que estava no sofá, levantou assim que a viu descer as escadas.

Nunca deixaria de se surpreender com a beleza daquela morena. Foram juntos até a mesa e se sentaram ainda em total silêncio.

Ele observou Hermione encher seu copo com suco, em seguida fazer o mesmo com o dele. Depois, colocou uma fatia sobre o prato. Ele agradeceu o gesto e também pegou uma fatia. Tomou um grande gole de suco, sem sentir muito bem o sabor, mas o usando como combustível para falar tudo o que precisava.

— Precisamos resolver tudo.

Foi Hermione que falou antes que ele terminasse de engolir. Como mágica, as bochechas ficaram vermelhas e ela comeu velozmente, em resposta à vergonha que sentia, seus olhos brilhantes o observando com ansiedade.

— Como assim? — o ruivo perguntou surpreso, sem saber ao certo o que pensar.

— Ora... Como vamos viver esse mês que temos juntos — Rony sentia pontadas geladas a cada palavra dita.

— Então você... Não quer... Desistir? — ele perguntou receoso.

— Desistir...? — ela não entendeu muito bem a colocação e o observou curiosamente — Por que eu desistiria?

— Eu pensei... Você não falou mais nada...

A verdade era que a morena havia, sim, pensado em desistir, mas voltou atrás quando lembrou das palavras ditas por Molly Weasley.

Não perderia nada se tentasse viver aquele mês com ele. Tinha convicção de que terminaria aquele mês diferente. Provavelmente arrasada, mas estava decidida e pensaria depois sobre o que faria quando esses dias terminassem.

— Não falei nada porque estava pensando em tudo isso... Não quero mais discutir com você por bobagens, Rony...

— Nem eu.

— Quero que esse tempo seja bom para nós dois.

— Eu também...

— Mas não sei como faremos isso... Até onde ir.

Fez-se novamente um breve silêncio onde os dois se olharam, onde não comiam. Os dois pensavam onde aquela situação os levaria.

— Hermione... Se você quiser esquecer de tudo, se quiser...

— Desistir? Você quer desistir?

— Não. — falou sentindo um pouco de tristeza. Tudo o que menos queria era desistir dela — Mas não quero que se sinta mal... — mais um breve silêncio se fez antes que ele continuasse — E se mudarmos um pouco essa ideia?

— Mudar? Como? — ela novamente largou a fatia de pizza, se mostrando interessada. Bem mais do que ele poderia imaginar.

— Se deixarmos a ideia de amigos coloridos de lado e fizemos outra coisa?

— Tipo o quê?

— Sem forçarmos situações... Apenas continuamos como já estávamos antes disso tudo acontecer. Tentamos continuar nos dando bem como estávamos...

"Vamos viver bem, em conjunto. Vamos viver sem reprimir o que venhamos a sentir. Sem recriminar. Sem mentir...

"Vamos tentar esquecer as coisas que nos aconteceram nas últimas semanas e sermos francos, vamos nos ajudar progressivamente... O que acha?"

— Perfeito!

Hermione concordou convicta. No fundo, tinha medo do tamanho do estrago que faria por livre vontade em seu coração.

Rony queria apenas abraçá-la. Convencê-la de que a amava. Queria dizer, mas ainda não se sentia seguro, então resolveu, naquele momento, aproveitar cada segundo que os dois tivessem juntos. Decidiu convencer Hermione de que só poderiam ser felizes se estivessem juntos.

— E que tal um filme depois da pizza? — ela começou depois de mais um breve silêncio.

— Acho que dá pra rolar — ele sorriu para ela e os dois terminaram um pouco mais tranquilos.

Ajudaram-se na organização da cozinha e, em seguida, foram para a sala ver um filme qualquer.

Em um canal o filme Amizade Colorida passava sugestivamente. Concordaram, em silêncio, em mudar de canal e o filme Dez coisas que eu odeio sobre você ainda estava começando.

Sentaram-se como antes, Rony deitado sobre o sofá e Hermione na poltrona. Suas mentes não estavam por completo naquele lugar.

Em resposta ao filme, Hermione começou a lista dos vários is que identificavam o ruivo ao seu lado, mas percebeu que aqueles adjetivos não faziam mais tanto sentido quando o Rony que agora se apresentava para ela era destemido, determinado, envolvente e totalmente apaixonante.

Olhou para ele de relance e os olhos azuis cruzaram-se com os dela. Rony queria entender o que se passava na cabeça de Hermione. O que ela pensava, o que ela queria.

Seus desejos estavam embaralhados, mas ele queria tê-la em seus braços agora mesmo. Pensou que ela se assustaria com tanta ousadia e seu peito queimava com tantos desejos reprimidos.

— Acho que já vou dormir — Hermione falou assim que o filme acabou — Foi um dia corrido... Estou cansada.

— Tudo bem... Também vou.

— Parabéns pelo novo sobrinho, Rony... — ela sorriu — E pela grande demonstração de afeto do Harry e da Gina ao te convidarem para ser o padrinho.

— Obrigado...

Ela se levantou e ele levantou junto, por impulso. Os dois se olharam por breves instantes e se abraçaram timidamente ao se desejarem boa noite.

Ele queria desvendar o que aquele brilho nos olhos da garota queriam dizer, mas ficou em silêncio.

Dias depois, durante uma tarde de descanso onde Hermione, sentada em sua habitual poltrona, lia um livro que Rony achava grosso demais para ele, e o ruivo via uma partida qualquer de basquete na TV, se pegaram interrompidos com estranhamento.

Um barulho na porta de entrada chamou a atenção dos dois que observaram com as mãos em suas varinhas o mexido na fechadura até que ela se abriu.

Era um casal. Uma mulher loira, com olhos muito verdes, os observava em estado de choque. O homem, que fechava a porta e falava algo com ela, parou em seguida, ao observar os outros dois.

— Quem são vocês? — o homem de altura mediana e cabelos escuros perguntou em tom de curiosidade, se colocando à frente da mulher, como quem protege de algo.

— Pergunto o mesmo. — Rony respondeu, mas sem se colocar à frente de Hermione. Sabia que ela não precisava, e não gostaria nada, daquele tipo de atitude.

— Como assim quem somos? — o homem continuou — Exijo que saiam daqui agora ou vou chamar a polícia.

— Como é? — Hermione parecia não entender — Como querem que a gente saia? Essa casa é nossa!

Rony sentiu o peito queimar. "Essa casa é nossa!". Se não fosse aquela situação, abraçaria Hermione nesse momento e a beijaria até perder o fôlego.

— Que história sem sentido é essa? — o homem continuou — Essa casa é nossa, e vamos ficar aqui.