Hermione não tinha mais noção do que fazer. A dúvida assolava sua mente e agora ela já se desesperava.

Não conseguia imaginar como poderia ter sido tão idiota ao ponto de não ter se prevenido naquele momento.

“Mas como iria me prevenir? Eu nem sabia que isso ia acontecer...”

Havia decidido, dois dias antes, que compartilharia a informação de seu atraso com o ruivo no final de semana.

Deu-se esse período como escape para um, talvez, atraso por estresse, mas como nunca havia acontecido antes, já estava tentando lidar com a situação: seria mãe, e de uma criança feita com o Rony. Era estranho e... assustador.

Desceu para a cozinha na intenção de preparar algo rápido para comer, mas encontrou o ruivo em seu lugar.

A reação foi de surpresa, em seguida ela se animou e até sorriu. Rony usava o avental e duelava com a frigideira.

A cozinha não estava organizada como ela sempre mantinha, mas o cheiro de ovos mexidos estava preenchendo o ambiente com tanto prazer que ela nem se importou.

— Se arriscando na cozinha... E só! — ela observou divertida, se encostando na bancada do armário, cruzando os braços.

— Ah... A gente tem que tentar uma hora — ele respondeu com um gracejo, sem desconcentrar do seu serviço — E queria te surpreender de alguma forma...

— Por quê? — ela perguntou sem muita certeza se queria saber.

— Você sempre faz tudo aqui em casa e percebi que está um pouco tensa esses dias... Pensei que seria bom pra você relaxar um pouco...

Ele parou de falar quando um pedaço generoso de ovos caiu no chão. Hermione achou cômico e gargalhou.

Rony segurava a escumadeira em uma das mãos, a frigideira na outra, e estava tentando passar os ovos para um prato sobre a bancada. Ele olhou para a garota com animação.

Esses momentos entre os dois se repetiam com maior frequência a cada dia e já haviam se acostumado com eles.

— E sorrir também — ele continuou e ela gargalhou ainda mais, ele se juntando a ela.

— Eu agradeço muito o seu entusiasmo — ela falou controlando o riso — E agradeço pelo café da manhã — completou quando ele colocou o prato com ovos sobre a mesa.

— Não é a melhor das refeições como aquelas que você costuma preparar, ou a mamãe, mas foi feito com carinho — e apontando cada alimento, indicou como um verdadeiro chef — Senhorita, pão assado, queijo em fatias, suco de ameixa e ovos mexidos. Espero que esteja à altura.

— Estará, senhor — ela sorriu com um leve gracejo e sentou na cadeira que ele havia puxado — Está com uma cara ótima.

— Então, bon appetit!

Os dois comeram em silêncio. Hermione havia esquecido por um breve instante das suas dúvidas e incertezas, mas quando lembrou, não pode deixar de observar: Rony parecia ser o melhor homem com quem se construir uma família.

Sabia que dificilmente ficaria triste, e suas raivas não durariam mais do que alguns minutos. Se conheciam tão bem havia tanto tempo. Decidiu que era a hora de contar sobre suas preocupações.

— Rony...

O ruivo parou o garfo em caminho à sua boca. Olhou para ela e avaliou sua expressão.

Parecia em ponto de explodir, mas fingia muito bem. Sentiu pelo timbre da voz e pelo olhar dela que a conversa tenderia a ser longa, então decidiu colocar aquele garfo na boca e comer de uma vez antes que tivesse uma indigestão.

— Diz... — ele incentivou depois do silêncio dela.

— A gente precisa conversar sobre algo muito sério... — ela parou e ele a olhou, em silêncio, esperando que ela continuasse — E eu quero que fique claro que nada foi proposital, que eu realmente não queria que as coisas acontecessem assim e que eu não sei o que pensar... Só que estou com medo.

— Hermione... O que você tem? Por que está com medo? — perguntou preocupado.

— Você sabe que eu sempre fui sincera e objetiva e não seria diferente agora, então prefiro falar de uma vez do que ficar tentando passar mel pra adoçar.

— Então fala... — ele incentivou novamente. Ela estava calada, mexendo nos ovos com o garfo.

— Rony... é sobre aquela noite...

Nesse momento Rony entendeu que o assunto parecia mais sério do que ele pensava.

Acomodou-se sobre a cadeira e recostou as costas no encosto. Olhou para ela, a incentivando a continuar.

— Aquele dia gerou alguns atritos entre a gente e não minto que foi muito bom — Hermione percebeu um sorriso discreto se formar no rosto do ruivo, mas continuou — Porém... Está acontecendo algo que tem me incomodado e eu não sei como você vai reagir, mas decidi não guardar pra mim e te contar de uma vez... Eu acho que estou grávida.

Hermione observou o sorriso discreto de Rony se transformar em um O silencioso.

Os olhos do ruivo passaram de um azul-turquesa claro para um tom intenso e escuro.

Ele olhava para ela de uma forma que Hermione não conseguiu identificar, um pouco catatônico, e ela se espantou quando ele levantou e, sorrindo, a tomou em seus braços, lhe dando um abraço forte e cheio de carinho.

— Eu acho que não ouvi direito — ele sorria enquanto falava com ela — Vamos ter um bebê? Um bebezinho... Eu não posso acreditar — ele gritou, dando um soco no ar em comemoração, abraçando Hermione, que permanecia espantada — Eu vou ser pai? Vamos ter um bebê, Hermione. Essa é a melhor notícia que você poderia me dar.

"Precisamos contar aos nossos pais. Vamos chamar o Harry para ser o padrinho, claro que se você concordar. Vamos precisar organizar a casa e reformar pra que o bebê tenha um quarto.

"Se for menino, ele vai ter que ser goleiro como eu era em Hogwarts... Não que uma menina não possa ser goleira, mas ela vai ser artilheira, como a tia.

"Você tem ideia de como os nossos pais ficarão felizes quando souberem? MERLIN!!! EU VOU SER PAI!"

Hermione foi pega de surpresa. Entre as muitas reações que imaginou que Rony teria, aquela foi a mais estranha.

Ele a abraçava enquanto falava. Conversava consigo mesmo, ora se dirigia a ela. Seus olhos brilhavam com ansiedade, com alegria.

“Ele realmente está feliz com a ideia de termos um filho?”

— RONY! — ela gritou tentando chamar sua atenção — Eu disse que acho. Não tenho certeza.

— Mas eu sei, Hermione. Nós vamos ter um filho. Vamos casar e seremos felizes. Essa é a melhor notícia que já recebi desde a minha carta de Hogwarts.

Hermione esperou que Rony se acalmasse e contou o motivo de suas dúvidas e preocupações.

Em todo o tempo, Rony foi atento e atencioso, o sorriso de satisfação fixo em seu rosto. A ajudou, apoiou e garantiu estar ao seu lado.

Ela o impediu de enviar patronos aos seus pais e a Harry. Também pediu que ele tentasse se controlar e fosse mais racional, mas não mentia que sentiu uma alegria crescente em seu peito.

Ele estava com ela e ela podia contar e confiar. Nunca poderia imaginar que fosse daquele jeito.

Mais tarde, Hermione estava deitada em seu quarto. Não se sentia muito bem. A dor de cabeça novamente se apoderando dela.

Quando começou a cochilar, foi despertada pelo movimento do seu celular, que vibrava sobre o criado-mudo.

— Alô! — a voz saiu tão pastosa que ela se repreendeu mentalmente.

— Senhorita Granger?

— Sim... Quem é?

— É o senhor Collins, o corretor...

— Ah... Senhor Collins — ela respondeu sem muita animação — Pode falar.

Hermione ouviu atentamente tudo o que o senhor Collins tinha para lhe falar. Quando desligou, sentia um peso sobre suas costas.

Entristeceu-se e não sabia ao certo o motivo daquele sentimento. Ao deitar, sentia os olhos formigarem e lágrimas solitárias escaparam, molhando seu rosto. Dormiu.

Já era noite quando ela acordou. Depois de passar no banheiro, foi até o andar de baixo e encontrou Rony sentado no sofá.

Ele se levantou assim que a viu, e se prontificou a ajudá-la a descer as escadas. Ela recusou e sentou na poltrona em frente a TV.

— Você está bem? — Rony perguntou preocupado.

— Sim... Mas preciso te falar uma coisa.

— Diz... — ele sabia que ela não estava bem e estimulou para que ela continuasse.

— O senhor Collins me ligou.

— Quem é o senhor Collins?

— O corretor. O meu corretor — ela respondeu sem muita emoção.

— E o que ele disse? — Rony perguntou um pouco apreensivo.

— Eu vou ser ressarcida... Foi um erro de venda. A casa já era sua quando me repassaram a documentação.

— E o que vai acontecer agora?

— Vou receber uma quantia em dinheiro e uma casa...

— E...?

— E o senhor Collins disse que devo me mudar até dezembro.

— O que isso quer dizer? — Rony parecia aflito.

— Quer dizer que tudo se resolveu. Que a casa é sua por direito e que eu vou embora.

— Hermione, não é bem assim. Essa casa não é só minha, é nossa. Vamos casar, Hermione. Seremos uma família.

— Eu não vou ficar, Rony...

— Hermione, nem fala isso! Vai ficar tudo bem — ele falou se aproximando dela, se ajoelhando em sua frente, colocando as mãos sobre suas pernas. Ela o encarou sem muita expressão — Tudo vai ficar bem, eu prometo.

"Você pode pegar essa indenização e investir em seu projeto com os elfos. A casa que vai receber, podemos alugar, ou vender. Vamos construir nossa vida aqui, seremos felizes e..."

— Não vou ficar aqui.

— Hermione, você não precisa ir. Aqueles problemas do início ficaram pra trás. Não tem mais motivos.

— Mas eu vou...

— Hermione, eu... Eu... — a frase ficou presa — Vamos ter um bebê e...

— Não vamos ter um bebê.

A voz de Hermione era baixa e triste. Ela não olhou para o ruivo quando falou. Viu Rony sentar sobre o chão, aparentemente triste, sem reação.

Respirou profundamente e se levantou, caminhando em direção as escadas.

— Foi um atraso... Não era nada — respirou novamente e continuou — O senhor Collins disse que resolveria tudo até dezembro, então eu gostaria de ficar aqui até lá. Falta um pouco mais de um mês e... eu não teria pra onde ir de toda forma. Claro, se você permitir que eu fique...

— Claro — a voz de Rony era rouca. Ele parecia prender o choro.

— Obrigada.

Dizendo isso, Hermione subiu para seu quarto. Rony, ainda sentado sobre o chão, sentiu o peito afundar.

Havia tantos anos que não se sentia daquela forma. Queria dizer que a amava, pedir que ela ficasse ao seu lado, mas não conseguiu.

Deixou que a tristeza tomasse conta dele e chorou, depois de muitos anos, chorou.