Havia passado três semanas desde o dia em que Rony e Hermione haviam feito amor.

Ela queria ter falado com ele, pedido desculpas, mas ele não lhe dava chance alguma. Parecia realmente ter esquecido tudo o que aconteceu entre os dois, ou fazia aquilo propositalmente, e ela se achava uma boboca por estar no meio do expediente ainda pensando nele.

Naquela tarde sentia uma dor de cabeça forte, além de dores do corpo. Tinha vontade de abandonar o setor e ir para casa deitar em sua cama.

Queria dormir até conseguir nascer de novo, ou ter suas memórias alteradas. Pensou até em se enfeitiçar com um obliviate, mas isso já seria demais, ainda mais agora que sua menstruação estava atrasada já fazia três dias.

Talvez a dor de cabeça fosse o excesso de preocupação por aquela incerteza que se tornava maior a cada novo dia de atraso, mas ela não falaria nada.

Não agora. Ainda tinha medo de assumir essa responsabilidade e tinha esperança que fosse tudo causado por seu psicológico.

Sentia-se estúpida por não ter se prevenido. Tantas vezes sua mão conversou com ela sobre o assunto e ela fizera tudo do jeito que não deveria ter feito.

"Sou uma idiota irresponsável mesmo. Talvez devesse usar mais adjetivos com i pra mim mesma..."

Por outro lado, estava satisfeita por viver na mesma casa que Rony sem se matarem, mas depois daquela noite, tudo estava mais complicado.

Havia assumido para si mesma que não era possível ter o ruivo apenas como seu amigo no instante em que ele fechou a porta de seu quarto e ela sabia que dificilmente ele mudaria de opinião.

Ela até tentou, mas não conseguia falar com ele sobre o assunto.

Rony parecia ter impregnado em sua pele as palavras ditas por ela e desde então ele a tratava como ela achou que queria: apenas bons amigos.

— Como sou idiota — se repreendeu batendo na cabeça, sentindo latejar ainda mais.

Esperou aquela tarde se arrastar até o fim do expediente e sentiu alegria pela primeira vez naquele dia: poderia ir para casa.

Encontrou com Rony, Harry e mais alguns aurores no Átrio e o ruivo a olhou com certa preocupação.

Antes que ela saísse, percebeu que ele pediu licença ao grupo e se aproximava dela rapidamente.

— Hermione, está tudo bem? — perguntou preocupado assim que a alcançou.

— Estou sim, obrigada.

— Não está não — falou colocando a mão sobre a testa da garota — Você está com febre.

— Que nada, Rony. Só estou cansada...

— Hermione, o que você tem?

— Hmmm — se rendeu — Passei o dia com dor de cabeça e com dor no corpo. Acho que estou resfriada — concluiu fazendo bico. Rony olhou para o grupo de aurores antes de continuar.

— Vá pra casa, tome um banho e se deite. Eu vou pra casa em seguida e te faço companhia, tudo bem?

— Claro... — ela sorriu agradecida. Não queria ficar sozinha naquela noite — Reunião importante?

— Não... Na verdade não. Só estamos definindo algumas ações pra semana que vem. Chego em meia hora, certo?

— Certo — ela sorriu novamente — Até mais tarde.

Já em casa, depois que tomou banho foi que Hermione percebeu o quanto estava mal. A ideia de fazer o jantar foi rapidamente substituída pelo desejo de se deitar.

Colocou um pijama quentinho e se escondeu sob as cobertas. Sentia um pouco de frio.

Ela não percebeu o quanto dormiu até que sentiu um toque carinhoso sobre a sua testa.

O seu subconsciente a induziu a abrir os olhos e, ao fazê-lo, viu Rony sorrindo para ela com a mão ainda tocando seu rosto. Sorriu de volta.

— Oi... — ele falou assim que percebeu a morena acordada — Ainda está com febre.

— Ainda? — a morena perguntou levemente confusa.

— Sim. Já é a terceira vez que venho aqui verificar — ele continuou se levantando até a escrivaninha — Se não tivesse acordado agora, ia ter que passar por cima das minhas forças e te acordar. Precisa tomar os remédios.

— Remédios? — ela parecia confusa. Falou enquanto sentava sobre a cama — Não lembro de ter comprado remédios...

— Não, não... — ele falou se aproximando novamente — Você não comprou.

— Mas então... — ela o observou com um copo de água na mão. A outra em forma de concha.

— Eu comprei quando saí do Ministério — falou se sentando sobre a cama, entregando o copo para ela — Você não parecia bem e não sabia ao certo o que você tinha, então fui em uma farmácia trouxa e a moça me indicou analgésicos e antitérmicos.

"Depois passei no Beco Diagonal e trouxe uma poção revigorante. E não se preocupe, a curandeira disse que não vai ter nenhum efeito colateral se usar com os remédios trouxas — ele entregou os remédios para que ela tomasse, e continuou enquanto ela o observava com espanto — A moça da farmácia disse que os remédios devem ser tomados a cada 8h, mas a poção é sempre que você sentir necessidade.

— Rony... Quando ficou tão atencioso? — ela tinha uma expressão engraçada, de espanto.

— Na verdade, sempre fui. Talvez você não tenha percebido ou eu nunca tenha mostrado de fato, pra você — ele sorriu complacente — Vou comprar alguma coisa pra gripe. Com essa sua voz sensualmente rouca, tenho certeza que é um resfriado — ela sentiu o rosto corar — Mas depois do jantar.

— Mas não fiz nada pra jantarmos... — pareceu novamente aflita.

— Eu sei. Pedi sopa de carne no restaurante da praça. Está quente ainda, mas se quiser eu coloco no microondas.

— Que hora é? — perguntou perdida no tempo.

— Quase nove — ele respondeu com simplicidade.

— E por que não jantou, Rony? — repreendeu claramente preocupada com ele — Já está muito tarde...

— Tive a esperança de que acordasse pra jantarmos juntos — sorriu novamente.

— Rony... O que está acontecendo com você?

O ruivo não respondeu, apenas a ajudou a levantar da cama e a acompanhou enquanto ela descia as escadas.

Enquanto jantavam, Rony falou sobre o seu dia de trabalho e ouviu sobre o dela. Hermione falou com ele sentindo algo realmente estranho. Era novidade esse Rony atencioso e cuidador.

— Como está se sentindo? — ele perguntou enquanto tirava os pratos.

— Me sinto melhor... Obrigada. — ela respondeu levemente acanhada.

— Ótimo! — ele pareceu realmente animado — Agora eu quero que você se deite novamente que eu vou até a farmácia comprar algo pra seu resfriado.

— Rony... Onde conseguiu dinheiro trouxa a essa hora?

— Ah... Essa foi a parte mais fácil — sorriu — Mandei um patrono pro Gui um pouco depois que você saiu. Quando passei lá, só deixei os galeões com um dos duendes.

— Por que está fazendo isso tudo?

— Porque você está aqui comigo, Hermione. E eu sempre vou cuidar de você.

Hermione não falou nada, mas se lembrou do ruivo, anos atrás, ainda na guerra, falando que sempre cuidaria dela.

O coração se encheu de alegria e ela observou, entre o encanto e o espanto, Rony lhe cobrir sobre a cama e verificar mais uma vez a sua temperatura com a mão.

Ela sentiu novamente aquele formigamento estranho no corpo, correspondente ao que a presença dele sempre fazia.

Se deixou cuidar, ainda que em silêncio, e não respondeu quando ele pediu que ela o esperasse voltar da farmácia.

Também não reclamou quando ele voltou, na madrugada, para lhe medicar novamente, e ficou feliz quando ele falou que sua febre havia, finalmente, diminuído.

A morena não se lembrava de ter ficado tão feliz por faltar ao trabalho dois dias seguidos.

As ligações no horário do almoço e as mensagens preocupadas durante o dia faziam com que ela sentisse o corpo quente, mas não de febre, mas sim de alegria.

Naqueles dois dias Hermione se sentiu cuidada. Naqueles dois dias, Hermione percebeu o quanto era bom se sentir amada.